sábado, 1 de outubro de 2011

DOSSIÊ “ESCRAVA ISAURA” 35 ANOS



Por Aladim Miguel




Blogueiro Convidado
Fada? Anjo? Deusa? O que essa escrava tem que hipnotizou os telespectadores do Brasil e de mais de uma centena de países mundo a fora em uma novela tão simples? Neste dossiê produzido para um pool entre os blogs especializados em teledramaturgia: ““Posso Contar Contigo?” de Isaac Abda, Eu Prefiro Melão” de Vitor de Oliveira, “No Mundo dos Famosos” de Jéfferson Balbino, e “Zappiando” de Paulo Ricardo Diniz, vamos desvendar os mistérios e segredos dessa fórmula que resultou em um verdadeiro fenômeno da teledramaturgia mundial. A seguir “Escrava Isaura” Especial 35 Anos.

Links dos blogs para o pool:

POSSO CONTAR CONTIGO?

EU PREFIRO MELÃO

NO MUNDO DOS FAMOSOS

ZAPPIANDO

A Adaptação Para a TV:

O romance “A Escrava Isaura”, de 1875, do mineiro Bernardo Guimarães (1825-1884) é um romance romântico com pretensões a abolicionistas. Seu enredo conta a saga de Isaura, uma escrava branca, que após a morte da mãe passa a ser criada e protegida pela senhora da fazenda onde nasceu. Quando essa senhora morre, Leôncio, o filho dela, insiste em tentar seduzir a escrava a todo custo, como ela resiste, ele parte para castigos e ameaças de violência física e psicológica. O romance apresenta uma seqüência de peripécias ao estilo dos folhetins de época, recheados de personagens unidimensionais (O bom é sempre bom, e o mau é sempre mau). O novelista Gilberto Braga seguiu os conselhos de uma antiga professora do colégio e fez uma adaptação primorosa e muito fiel ao romance original, ele soube captar toda a essência do drama da escrava para criar novas tramas e personagens que pudesse sustentar os 100 capítulos da novela. A novela estreou em 11 de Outubro de 1976 e ficou no ar até 05 de fevereiro de 1977.

A Direção:

A novela foi toda armada e dirigida por Herval Rossano (1935-2007), grande responsável pelas adaptações literárias do horário das seis da TV Globo nos anos 70 e 80, até o capitulo 24, em parceria com o ator Milton Gonçalves, depois Herval viajou e Milton tocou a novela até o final. No processo de escalação da protagonista, Herval chegou a pensar nas atrizes Nívea Maria, sua esposa na época, e Elizangela para o papel de Isaura, enquanto Gilberto Braga pensava em Louise Cardoso. O nome de Lucélia Santos surgiu depois de ela ter tido o reconhecimento dos críticos de teatro do “Jornal do Brasil” como uma grande promessa de atriz que estava surgindo no cenário nacional.



As Gravações:

As externas da novela eram feitas, no Rio de Janeiro, na antiga Embaixada da Argentina e em fazendas de Conservatória, Vassouras e Santa Cruz. Algumas cenas de estúdio foram realizadas na extinta TV Educativa do Rio, em decorrência de um incêndio que a TV Globo sofreu na época das gravações da novela.

A Abertura e sua Trilha Sonora Original:

Produzida por Hans Donner, utilizando figuras clássicas do pintor francês Debret, a abertura de “Escrava Isaura” mostra um total entrosamento entre imagens e a forte canção “Retirantes”, um poema de Jorge Amado e Dorival Caymmi. O famoso “Lerê, Lerê”, abria a novela e nunca mais desgrudou do inconsciente coletivo, quem nunca se pegou cantarolando essa canção que virou o hino dos explorados? Uma curiosidade da abertura era uma vela posta por trás de um dos quadros de Debret para que desse o efeito de um poste de rua acesso. Pura criatividade!


Guerra Peixe foi o responsável pela trilha sonora incidental com várias canções da trilha sonora original em versões instrumentais, ele utilizou somente instrumentos de percussão, uma vez que nem se pensava em acrobacias musicais tecnológicas, tudo era feito artesanalmente.  Por motivos inexplicáveis o compacto da novela não trazia a versão de “Retirantes” que era apresentada na abertura da novela com a Orquestra e Coral Som Livre. Uma pena...

Os Protagonistas:

Rosto completamente desconhecido da TV, a jovem atriz paulista Lucélia Santos, então com 19 anos, foi resgatada pelo diretor Herval Rossano do teatro, muito influenciando pela grande propaganda feita pelo saudoso ator Milton Moraes. Lucélia já havia feito testes para outras produções da TV Globo como: “Gabriela” e “Estúpido Cupido”, quando foi convidada pelo diretor Borjalo para assumir a protagonista da novela. Seu carisma e talento foram fundamentais para o grande êxito da trama. Se de um lado Lucélia transbordava pureza na pela da submissa escrava branca, o imbatível Rubens de Falco (1931-2008) tocava o maior terror em todos os personagens, seu Leôncio entrou para a galeria eterna de grandes vilões. A química entre os dois atores foi instantânea e fulminante. Uma dobradinha de sucesso absoluto.
Os mocinhos e galãs Roberto Pirillo, o Tobias, e Edwin Luisi, o Álvaro, tinham torcida por seus personagens. Como o Tobias não existia no romance original e foi um personagem querido do público, foi muito difícil ter que retirar o personagem de Pirillo de cena, isso aconteceu em um incêndio, muito realista para os padrões da época, os telespectadores não acreditavam que ela fosse morrer, é bom lembrar que naquela época não existia o “boom” de informações que temos hoje em dia com internet e centenas de revistas sobre novelas. Já Álvaro, o segundo amor de Isaura marcou a estreia de Edwin na TV Globo em um papel bem ao estilo príncipe encantado, tanto que foi recebido sem ressalvas pelo público que estava “órfão” de Tobias.
Outra que dominou sua personagem de uma forma incrível foi a veterana atriz Norma Blum. Sua linda e delicada Malvina chegou a fazer sombra a Isaura. Era uma sinhazinha que não se conformava com a condição da escrava e fazia de tudo para tentar conseguir a sua carta de alforria. Infelizmente não conseguiu e ainda acabou queimada no mesmo incêndio, provocado por Leôncio, que matou Tobias.

Os Anjos de Isaura:

Duas personagens bastante carismáticas também foram grandes destaques na trama: D. Ester, a madrinha de Isaura, interpretada pela atriz Beatriz Lyra, foi responsável por momentos de grande emoção como na cena da sua morte antes de poder contar à escrava que havia conseguido sua carta como último desejo de sua vida. Já Januária, a mãe preta de Isaura, um show de interpretação de Zeny Pereira (1924-2002), tinha um que de Mamãe Dolores do clássico “O Direito de Nascer” e foi, sem dúvida, o personagem mais popular da novela com suas tiradas pra lá de inspiradas.


O Mau é Mau Mesmo:

Os ótimos desempenhos dos atores Léa Garcia e Isaac Bardavid também deixaram marcas. Os vilões Rosa e Francisco, os dois braços de Leôncio, seguiam o mesmo caminho da maldade do vilão titular. Rosa era uma escrava pra lá de invejosa que não se conformava de jeito nenhum com as mordomias de Isaura e fez de tudo para acabar com ela, chegando até a tentar envenena – lá, mas por um golpe do destino, acabou provando do próprio veneno e morreu no final. Francisco, o terrível feitor da fazenda, também não deu trégua para escrava e chegou a mandá - la para os canaviais em uma cena inesquecível.


Os Subprodutos da Novela:

O sucesso de “Escrava Isaura” foi tão grande no exterior que vários sub produtos foram lançados no rastro da novela. O romance homônimo de Bernardo Guimarães ganhou tradução para todos os idiomas por onde a trama foi exibida e ganhou uma versão em quadrinhos no Brasil. Em Cuba, foi lançado um álbum de figurinhas que fazia parte de uma campanha de reciclagem do país, as figurinhas eram trocadas por lixo reciclável. A trilha sonora, com pequenas alterações, chegou a ser lançada em Portugal e na Venezuela.


Uma Escrava Made in Brazil:


Vários países tiveram suas rotinas alteradas pela passagem de “Escrava Isaura” em suas terras. Cuba mudou o horário de voos e do racionamento de energia para não atrapalhar a transmissão da novela. Na Rússia a palavra “fazenda” foi incorporada ao seu vocabulário. Na Bósnia, aconteceu um cessar fogo nos horários da novela. Em Portugal, o comércio fechava portas. Na China havia sessões tipo cineminha nas ruas para que a população pudesse ver em alguns aparelhos de TV a novela e a população elegeu Lucélia Santos a atriz do ano e lhe deu o troféu “Águia de Ouro”, primeiro prêmio concedido á uma atriz estrangeira. Na Polônia chegaram a fazer “vaquinhas” para libertar a escrava e também fizeram concursos de sósias de Isaura. Na Itália os muros eram pichados com dizeres de libertação a escrava. Na Alemanha a novela foi exibida 5 vezes e 7 vezes na França tamanho o sucesso. Talvez por identificação ao tema da liberdade, os telespectadores dos países comunistas – China, Rússia e Cuba - tenham sido atraídos pelo drama da escrava. Até hoje “Escrava Isaura” continua sendo uma das campeãs de exportação da TV Globo e conseguiu abrir as portas de todas as emissoras do mundo para os produtos da TV Brasileira.

A Campeã de Reprises:

“Escrava Isaura” mantém o recorde de novela mais exibida no Brasil, foram 5 exibições em horários diferentes. Em 1976, 1977, 1979 – de novo no horário das 18 horas –, 1982 – dentro do programa TV Mulher – e em 1990, como encerramento do Festival 25 anos da TV Globo, com vários astros da novela na apresentação dos capítulos. A versão mais conhecida da novela contém 30 capítulos e foi essa a versão mais exportada.

Outros Personagens Inesquecíveis:

Não poderíamos deixar de citar as participações de outros atores que mandaram muito bem na novela como: Átila Iório (Miguel, o pai de Isaura), Haroldo de Oliveira e Maria das Graças (os escravos André e Santa), Mário Cardoso (O gentil Henrique), Carlos Duval (O jardineiro Beltrão) e Gilberto Matinho (O severo Comendador Almeida). Duas participações especiais marcaram a novela: Lady Francisco como Juliana, a mãe de Isaura e Henriette Morineau como a atriz francesa Madame Bensançon, que conseguiu comprar Isaura, mas na hora H, a escrava recuou em nome do amor, tem coisa mais romântica que essa atitude dela?

A Volta da Escrava Isaura:

A Globo Marcas, em parceria com a Som Livre, já anunciou na mídia o lançamento do DVD “Escrava Isaura” para este ano ainda, agora novas gerações vão poder comprovar a força e o carisma desse grande sucesso da teledramaturgia brasileira que se ouve falar há 35 anos. Feliz Niver, Escrava Isaura!

Visite também o Arquivo Lucélia Santos:

4 comentários:

  1. Por conta de minha pouca idade (ownnn) não pude acompanhar, mas já tinha um noção do seu sucesso. Só não esperava que era tanto...É uma pena que a Record conseguiu me deixar com uma impressão errada da novela.
    Parabéns pelo texto!!!

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  2. eu assisti em reprises, e constatei o sucesso da novela... a Record foi feliz em sua versão, mas embora um remake, de fato não há que se comparar com a versão original, rs.

    valeu pela visita, Guto!

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  3. pra mim essa novela é uma obra-prima, melhor que o livro que não deixa grandes impressões, com intepretações ímpares , uma trilha sonora maravilhosa...pena que o proprio Gilberto Braga desdenha dessa versão. Da versão da Record não desgosto tb, mas essa novela é uma das dez melhores feitas pela rede Globo...Lucélia em estado de graça...em Estúpido Cupido ela fez testes pro papel que foi da Djenane Machado, pelo que sei.

    P/ EDUARDO VIEIRA

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  4. Ótima novela. Gosto das duas versões; ambas foram marcantes para mim.

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