segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Entrevista com o Edwin Luisi - Multifacetado Ator

É sempre uma honra poder entrevistar pessoas interessantes, solícitas e que nos deixam à vontade para formularmos perguntas que valham a pena. E quando se trata de um famoso, mas sobretudo talentoso ator e dono de um currículo irretocável, tendo feito importantes trabalhos na TV, no Teatro e no Cinema, a experiência torna-se ainda melhor. O Edwin Luisi faz jus isso, nós o convidamos e ele prontamente aceitou. Confiram!  

Por Júnior Bueno, Brunno Duprat e Isaac Abda
Júnior Bueno - Teatro, cinema e TV. Qual a importância de cada um deles à sua formação como ator?  

Edwin Luisi - Cada veículo te aprimora de um jeito ou de outro, mas acho que o teatro com suas peculiaridades, tem a capacidade de um mergulho mais profundo na formação do ator.

Júnior Bueno - De Nelson Rodrigues, de mocinho romântico a vilão, você já fez todo tipo de personagens, inclusive um assassino misterioso que nem tinha nome (em Suave Veneno). Como ator, existe algum personagem que você ainda não realizou? E qual o seu tipo preferido?

Edwin Luisi - Em tantos anos de profissão fiz os mais diversos personagens seja em novela, teatro ou cinema. Os que me deram maior satisfação foram aqueles que tive que pesquisar e estudar  por estarem longe da minha realidade ou temperamento . Os papeis que mais me instigam são os que tem muito conflito existencial, os atormentados, os que passam por uma grande mutação durante a ação da trama. Não há papéis hoje que sonho em fazer. Prefiro não ter projetos pro futuro e sim que eles venham a mim de uma maneira natural.

Júnior Bueno - De volta ao ar na reprise do grande sucesso Mulheres de Areia. Quais as lembranças mais marcantes que você tem dessa novela?

Edwin Luisi - Com toda a sinceridade não tenho quase lembranças dessa novela. Não marcou minha vida. Era um papel burocrático sem nenhum desafio para mim. Minhas grandes lembranças ou marcas se deram mais no teatro.

Brunno Duprat - Você fez muitas novelas na Rede Globo, mas também em outras TV’s. É possível que emissoras que não tenham assiduidade nesse tipo de produto, consigam se equiparar às outras? Como ator profissional é válido essa opção a mais?

Edwin Luisi - Difícil a curto e médio prazo alguma concorrente superar a Globo, devido ao tempo, know-how adquirido em todos esses anos. Não houve muita ingerência da família, o Roberto Marinho delegou poderes ao José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o “Boni”, ao Walter Clark, e eles competentes, souberam honrar a confiança. Com relação às demais emissoras, acho que todo o esforço é válido, não só pelo fato de haver abertura de mercado para a classe artística em geral, mas principalmente por possibilitar aos novos atores, diretores, cenógrafos, profissionais enfim, a oportunidade de mostrarem seu trabalho. No entanto, o grande problema está em duas TV’s (SBT e Band) que por fatores estranhos ainda têm um desempenho tímido ou quase nulo, na área da teledramaturgia. A única que tenta se equiparar é a TV Record com altos investimentos.

Isaac Abda - Você parece se sentir à vontade quando menciona a TV Record, sua atual emissora. O seu vínculo com a mesma é de longo prazo?

Edwin Luisi – Desde que comecei a fazer Televisão não gosto de contratos longos, sou independente, livre, prefiro e opto sempre por estar assim. Gosto de estar perto de coisas novas, novos desafios, então estou sempre aberto às propostas e posso escolhê-las ou não, sem me sentir constrangido. Lembro de ter sido convidado pelo Ary Coslov para fazer a primeira novela da Rede manchete, achei instigante e aceitei.

Brunno Duprat - Em 1976 você participou de um dos clássicos da teledramaturgia mundial, “A Escrava Isaura” interpretando o Álvaro, ‘mocinho’ da história. Atualmente esse tipo de personagem além de não fazer tanto sucesso como antes, vem conquistando a antipatia de grande parte do público. A quem ou a que se atribui isso: Mudança de conceitos na sociedade ou má condução do personagem pelo autor?

Edwin Luisi - Não sei responder exatamente porque não sou sociólogo, antropólogo, mas talvez a exacerbação do politicamente correto fez com que nos policiássemos tanto que a gente tem um prazer enorme em ver um vilão fazer tudo e mais um pouco daquilo que não ousaríamos. Além disso, os vilões de boas novelas são construídos sobre uma excelente estrutura, exercem um fascínio enorme, alguns agem sob uma “justificativa” histórica que conseguem ao longo da trama despertar no telespectador até mesmo a sua compaixão, o seu perdão. O mocinho é maniqueísta, bonzinho ao extremo, são poucos os autores que fogem desse perfil, tamanho o risco da rejeição pelo público. Eu pude viver em épocas mais libertárias, mas infelizmente a geração atual é careta.

Isaac Abda - Talvez até por isso uma parte do público tenha estranhado o estilo da versão atual de O Astro. Você tem acompanhado os capítulos?

Edwin Luisi - Assisti ao primeiro capítulo, mas não tenho visto, aliás eu não vejo TV, nem aquilo que faço. Odeio ficar amarrado. Quando vejo é apenas para pontuar a minha atuação e logo paro novamente. Mas registre aí que achei digno o gesto do Henri Castelli, telefonando e me pedindo conselho sobre como poderia ser a sua interpretação do Felipe. Eu o respondi que ele deveria seguir a sua intuição, tem talento para isso, e que iria torcer para que tudo fosse positivo.

Brunno Duprat - É compreensível a postura do Henri Castelli te perguntando sobre o Felipe. Em 1978, você deu vida ao mesmo personagem, a resposta de “Quem matou Salomão Hayalla?”. Se não me engano o 1º ‘quem matou’ a mobilizar todo o país. Você já sabia que seria o Felipe? Como foi para você se descobrir o assassino? Lembra-se como foi a gravação dessa cena?

Edwin Luisi - Sim, eu sabia desde antes de começar a novela. Eu tinha feito duas novelas na Globo e estava sendo preparado para ser galã, mas numa festa na casa da Janete Clair, ela me chamou em particular e fez ali o convite para um papel contrário ao que a Globo propunha. A Janete disse que seria um desafio pra mim, pois a minha personagem mataria a personagem do Dionízio Azevedo, mas que eu deveria guardar esse segredo até quando fosse revelado. Até confesso que sendo jovem inexperiente na época, eu achava que ela fosse mudar de ator para a solução do assassinato, colocar alguém com mais expressividade, porque não se falava em outra coisa. Sair às ruas era ter certeza de ouvir o “quem matou Salomão Hayalla?”, então um certo dia liguei e perguntei, ela me respondeu: “Sim, vai ser você mesmo, eu não te disse? Continue discreto e confie”. Curioso é que muitos atores já tarimbados pensavam que seria um deles o escolhido. E de fato foi uma surpresa enorme o capítulo da revelação, naquela época TV não tinha controle remoto, o Brasil parou e eu nem vi no exato momento porque estava indo ao Teatro. Mas acredite, naquele dia nem teve a peça, não havia público para isso. (risos)


Isaac Abda - O Felipe interpretado por você também era Homossexual/Bissexual?

Edwin Luisi - Achei estranho quando li recentemente que o Felipe era homossexual. Você conhece o caso da Cláudia Lessin Rodrigues? Pois então, essa jovem foi vítima de um crime hediondo e que chocou bastante o país em 1977. Descobriu-se os responsáveis por tamanha barbárie, o Michel Frank, filho do empresário milionário Egon Frank e o cabeleireiro Georges Kour, que tinha salão no hotel Le Méridien, onde escovava muitas madeixas de socialites cariocas. O Michel fugiu do país, anos mais tarde foi assassinado na Suíça, o Georges cumpriu pena e ainda é vivo. Por que estou lembrando disso? Porque a Janete se inspirou levemente nesse caso e pôs na história um rapaz que tinha um amigo cabeleireiro. Aliás, o Felipe tinha era uma amante, pois era um jovem bonito, atraente e perigoso, toxicômano. Ocorre que o ator José Luiz Rodi, intérprete do Henri, optou por fazê-lo com certa afetação, mas nunca nem houve cena em que ao menos parecêssemos interpretar dois homossexuais tendo um caso e não recebi nenhuma orientação da autora e/ou da direção sobre isso. Portanto se na atual versão esse é o perfil dos personagens é algo novo.

Isaac Abda - Mas e se a orientação fosse fazer o Felipe como um homossexual?

Edwin Luisi - Não teria problema algum. Eu fiz “O Portador”, uma minissérie da Globo, em que interpretava um homossexual, mas numa linha séria de interpretação, pois tratava-se ali de um assunto de extrema relevância, a AIDS. E anos antes, numa época em que a Globo apresentava programas especiais de teledramaturgia, eu fiz “O Fantasma de Canterville”, dirigido pelo Fábio Sabag.


Brunno Duprat - É notório que a audiência das novelas vem caindo ao longo dos anos. Muitos apocalípticos de plantão contam os dias para o fim do gênero, coisa que particularmente eu não acredito que aconteça. Que mudanças podem ser feitas na produção destas, para atrair mais a atenção do público?

Edwin Luisi - Eu sou tão desligado de novela que nem saberia te responder essa pergunta de modo abalizado. Eu vejo muito TV por assinatura. Mas esse anúncio de que as novelas podem ser extintas é antiquíssimo e não há de se concretizar, nós vivemos num país de noveleiros e os autores, o pessoal envolvido nas produções têm sempre buscado meios de continuar a surpreender o público.

Júnior Bueno - Se você tivesse o poder de escolher a programação da TV por 24 horas, o que assistiríamos? E o que não seria exibido de jeito nenhum? 

Edwin Luisi - Diversidade é a melhor coisa. “FM” na Televisão é sempre uma opção inteligente, mas há quem goste de “AM” e vai continuar vendo coisas inúteis, sensacionalistas, enfim produtos que não valem à pena. Mas o controle remoto é uma arma contra isso, se não quer mude ou desligue.

Brunno Duprat - Na peça teatral “Tango Bolero e Cha Cha Cha, você interpreta uma transexual que volta para casa de sua ex-mulher se passando por uma prima dela. Teria sido este o maior desafio da sua carreira em se tratando de algo diferente?

Edwin Luisi - Um grande desafio por ser algo diferente do que eu faço. É realmente uma mulher e eu queria fugir dos estereótipos. Tem gente menos informada que ao assistir a peça, pensa que de fato sou uma mulher e eu tenho horror a pagar mico, sou discreto. Não faço uma elegia da minha personalidade como alguns colegas o fazem. Para mim o importante é que eu desapareça como pessoa e a minha personagem brilhe, gosto de ser reconhecido por isso. É gostoso a cada novo trabalho poder adquirir personalidades diferentes. Para essa peça a Bibi Ferreira, que a dirige, nem me queria por ser um ator mais dramático, mas consegui convencê-la de que poderia, e o público aprovou. Mas desafio maior teria sido em “Eu Sou a Minha Própria Mulher”, peça de teatro em que eu fazia 29 personagens.

Brunno Duprat - São quase 40 anos de uma carreira bem sucedida entre palco cinema e TV.    Hoje, por aparecer durantes 03 meses num reality show, muitos participantes fazem uma ‘oficina de atores’ e saem por aí atuando, ocupando um espaço de alguma pessoa com mais talento, mas sem tanta visibilidade. Como é para você? É a banalização da profissão?

Edwin Luisi - Desde que comecei e lá se vão quase 40 anos, sempre teve esse tipo de colocação. São tantos os que tiveram um início repleto de críticas, mas depois se firmaram na carreira, vide a Bruna Lombardi, Vera Fischer, Mila Moreira, Reynaldo Gianecchini, Silvia Pfeifer, Grazi Massafera e outros dos quais não lembro. Óbvio que há também aqueles que não fazem jus as oportunidades e logo são esquecidos. Mas a TV precisa disso, sempre tem que se falar desse ou daquele assunto, a cultura pop é descartável, é vazia. Vive desses bochichos.  E no mais é importante que se diga que o bom ator sempre será diferenciado.

Júnior Bueno - Qual a melhor e a pior coisa da sua profissão?

Edwin Luisi - Saber viver com a perda da privacidade, perda do anonimato, mas cruel mesmo é voltar a ele. Eu graças a Deus virei o queridinho do Brasil com 29 anos. É bom Olhar para trás e ver que tudo valeu à pena.

Júnior Bueno - Atualmente você pode ser visto em Rebelde, adaptação da Record para uma novela mexicana voltada para o público teen. Como ator, você percebe um certo preconceito da classe a este tipo de produção? E como telespectador o que você acha dessas adaptações?

Edwin Luisi - No passado havia esse sentimento com relação às novelas mexicanas no SBT, de características exageradas, teatrais. A proposta de Rebelde é outra, portanto, não tenho percebido esse preconceito atualmente. A novela é um sucesso de audiência e de crítica. Estamos todos muito contentes por isso.

Isaac Abda - Como tem sido dar vida ao divertido Genaro e suas peripécias com o seu irmão gêmeo? Surpreendeu-te a receptividade do público à novela Rebelde? Pode nos contar alguma novidade sobre a personagem?

Edwin Luisi - Genaro foi um presente da Margareth Boury (autora da novela) para mim. Ela o criou pensando em mim, homenagem a minha família italiana, da Mooca em São Paulo. Ainda ontem (na última sexta) fiz uma cena muito prazerosa, assim que acabei fui à sala de edição dar uma conferida. E o clima é esse, caprichamos para que o público corresponda.

Isaac Abda - Quais os seus projetos?

Edwin Luisi - Continuar a fazer TV, Teatro e Cinema.

O “Posso Contar Contigo?” agradece a gentileza e deseja ainda mais sucesso.

Edwin Luisi - Sucesso ao Blog!

Fotos: Portais Globo.com e R7.com
Vídeo: You Tube

8 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Realmente! Uma entrevista show, perguntas muito bem elaboradas!
    Parabéns meninos!!
    Por isso que podem sempre contar comigo por aqui!!
    Beijos

    Fábio
    www.ocabidefala.com

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  3. valeu Lip, tamos juntos e misturados, brother!

    Fábio, queridão... conte sempre com a gente tb, amigo! bj

    O Edwin vale muito a pena... curti de montão entrevistá-lo!

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  4. Gostei da sinceridade do Edwin...outro ótimo entrevistado! Não fica em cima do muro. Parabéns ao blog!

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  5. Gui, querido!

    muito legal receber suas críticas, pois conheço as suas habilidades como entrevistador lá no Agora, sempre com ótimas entrevistas.

    abração!!!

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  6. Muito bom ver a entrevista no ar, Isaac, o Edwin é muito querido, zero em estrelismo e enorme talento. Todo sucesso do mundo a ele.

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  7. Uma entrevista realmente muito boa, parabéns a todos. Edwin Luisi é um ator que desempenha bem todos os papéis que aparecem, mesmo os burocráticos e sem maiores voos como o Dr. Munhoz de Mulheres de Areia - mais um elogio aqui à sinceridade e falta de papas ao falar nele (rs). Mocinhos românticos como Álvaro (Escrava Isaura), Daniel (Dona Xepa) e Júlio (Pão, Pão, Beijo, Beijo) - nessas duas novelas como filho do mesmo Dionísio Azevedo que matou em O Astro (rs), o cego Rubens (Sétimo Sentido), o filho que não correspondia ao que o pai esperava dele, Silveirinha (Terras do Sem Fim), tipos controversos como Felipe e o vilão Lovato (Pacto de Sangue). O tipo do ator que dá dignidade ao personagem. Sucesso e saúde, Edwin!

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  8. Edwin Luisi é um gentleman, um apaixonante ator, que vai desde o drama mais denso ao humor mais sofisticado, como pude constatar na reprise de A Muralha no Viva (ótima parceira dele com Cláudia Ohanna). Entrevista rica e instigante, adorei a eloquência e sinceridade do ator.
    Parabéns ao entrevistador e ao ótimo entrevistado.
    Sucesso a todos.

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