quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Gabriela: um clássico em progresso...


Por Eduardo Vieira

Certo, não é um remake da novela, mas sim outra leitura do livro de Jorge Amado, Gabriela Cravo e Canela. Li o livro bem depois de assistir à obra prima de Walter George Durst, no horário das 22h00min na Rede Globo. A obra escrita é mesmo um mosaico de relações entre o coronelismo e outros estratos sociais como a igreja, o bar, o cabaré, a imprensa e a família, lugares os quais notamos as diferentes atuações dos personagens de acordo com o espaço.


Na novela, a personagem título aparece aos poucos, paralelamente à trama já em andamento, enquanto no livro a personagem surge mais abruptamente, sem uma apresentação minuciosa. Na verdade, o título parece mais um símbolo, uma metonímia das chamadas “mantéudas” daquela classe eminentemente masculina. Tanto na novela como no livro, um caso é um pretexto para que a ação se desenvolva: um coronel assassina sua esposa a sangue frio, uma mulher acima de qualquer suspeita, por legítima defesa da honra, o que acarreta uma discussão sobre os velhos costumes. Ao mesmo tempo, surge um engenheiro em Ilhéus, vindo de Salvador, que enfrenta o poderio de Ramiro Bastos, o líder dos coronéis, uma espécie de padrinho e benfeitor de todos, conquanto sua vontade seja feita, obviamente.

Mundinho Falcão (José Wilker), o engenheiro, vem se opor ao modo retrógrado como o líder lida com a economia do cacau, sugerindo mudanças um tanto radicais, tornando-se o líder da oposição.


Há na novela uma clara divisão, uma primeira parte em que antes da chegada de Gabriela, quem lidera o principal papel feminino da novela é Dina Sfat com sua inesquecível Zarolha, prostituta que deseja sair na procissão junto com as chamadas senhoras de família, o que causa uma estranheza, mexendo com o falso moralismo das pessoas na cidade. Ela também é o interesse romântico de Nacib (Armando Bogus), turco, dono do bar Vesúvio. Terminado esse início, a personagem de Dina, mesmo amada pelo público, despede-se tendo o seu destino cumprido.


Quem viu várias vezes a novela, como eu:  a primeira vez, os compactos, tem aquele medo “reginesco” do que pode vir de uma nova adaptação, ainda mais sendo de um autor que vem fazendo trabalhos bem mais ingênuos, o que já se pode afirmar ser uma característica dele. Falamos de Walcyr Carrasco.

Entretanto, a seu favor, há uma brilhante adaptação do livro ”Xica que manda” de Agripa Vasconcelos, transformado em uma novela que é um clássico da Rede Manchete, Xica da Silva, o que lhe confere uma certa credibilidade em tocar em temas mais sérios.

Importante dizer também que no romance, a personagem Jerusa (Nívea Maria), neta de Ramiro Bastos, um estupendo Paulo Gracindo, em um trabalho de composição, tem tanta ou mais importância que a rebelde Malvina, por se relacionar com o principal oponente de seu avô; porém, na novela, esta última, feita com perfeição pela jovem Elizabeth Savalla conquistou todos que vibravam a cada atitude voluntariosa da personagem contra o pai, o coronel Melque Tavares, como o primeiro ato que choca a cidade: Malvina comparece ao enterro de Sinhazinha, a mulher adúltera do início da história  e joga uma flor no caixão.


O que eu acho muito difícil de transpor, será além do elenco perfeito da novela que contava com nomes como Armando Bogus, Paulo Gracindo, Gilberto Martinho, Eloisa Mafalda, Dina Sfat, além da perfeita Sônia Braga, atriz que se confundia com a personagem, o clima que se traduzia pela excelente trilha sonora, uma das mais belas que já se ouviu em telenovelas, com temas cantados e instrumentais.


Acredito que por ser uma trama compactada, a tal novela das onze, o autor irá centrar-se mais no romance Nacib e Gabriela, com cenas um tanto ousadas, já que à época da novela vivíamos ainda uma censura, mesmo assim com cenas bem corajosas como as do casal central, outra cena de nu com os atores Pedro Paulo Rangel e Cidinha Milan, muito bem feita por sinal, em que apenas se entrevê e imagina-se a nudez dos dois e ainda as cenas da personagem Sinhazinha com o dentista Osmundo Pimentel, respectivamente, a grande Maria Fernanda e o ator João Paulo Adour, habituée nas novelas da época, em uma das cenas-chaves da história.


Penso que o autor não vai ser o mesmo Walcyr das novelas de época, com parentesco com as comédias de costume como as do brazuca Martins Pena e do francês Moliére, de quem ele fez uma adaptação excelente de “O Doente Imaginário”, mas deve trazer um pouco daquilo que aprendeu com Walter  Avancini, diretor da novela, com quem trabalhou em Xica da Silva, ou seja terá que ter uma mão mais pesada para fazer uma obra que não seja covardemente comparada à obra prima original. Quem ganha com isso, além dele, são os espectadores que têm vontade de saber um pouco desse universo de Jorge Amado. Torçamos, pois!


A Equipe de Gabriela se "inspirando"!
Imagens: Portal Globo.com
Google Imagens
Vídeos: Canal Mofo TV (You Tube)
Canal Baú da TV (You Tube)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O FUNDAMENTAL EM UMA NOVELA

Por Denis Pessoa

No Brasil, novelas sempre tiveram espaço entre as conversas do dia-a-dia, fosse com parentes, amigos, ou colegas de trabalho. Anos atrás, elas moviam grande parte do público, que, em massa, não conseguia falar sobre outra coisa, como as maldades de Maria de Fátima, a identidade do assassino de Odete Roitman, ou sobre como terminaria o embate entre Clara e Ana em Barriga de Aluguel, ou a luta do bem contra o mal encarnado pelas gêmeas Rute e Raquel, de Mulheres de Areia. A novela parecia um formato sólido a ponto de ser seguro e eterno, que emocionava e divertia  todas as camadas da população, em todas as suas classes sociais e faixas etárias.
Elenco de A Vida da Gente em cena
           

Porém, com o passar dos anos, muita coisa mudou. A novela tornou-se um produto muito mais comercial, o público, mais exigente, – ou menos, de acordo com algumas opiniões – e a absorção de cultura mais ágil. Tudo passou a ser descartável, e com a entrada permanente internet na vida das pessoas, e das novas possibilidades que vieram com ela, como downloads de filmes e seriados, a novela, de repente pareceu perder sua força, e seu público, de certa forma, ficou disperso entre tantas opções de entretenimento. Ao menos, aparentemente. Tornou-se difícil por um momento encontrar pessoas dispostas a conversar sobre o assunto. Não somente para discorrer sobre o que acontecera no capítulo anterior, mas para falar seriamente a respeito, avaliar a obra como um todo, e não somente em sua unidade. Novela, de uma hora pra outra, passou de popular à popularesca, e não parecia digno de qualquer pessoa que se considerasse razoavelmente culta falar sobre este assunto com outras pessoas. O mesmo preconceito que acompanha a novela, desde o seu surgimento. Pela primeira vez em muito tempo, a estrutura da telenovela chegou a ser ameaçada, e muitos cogitaram, em um futuro próximo, o fim do formato.

João Emanuel Carneiro, novelista

            Então, essas pessoas, então, de repente espalhadas pelo Brasil, que costumavam se reunir em qualquer lugar para falar sobre este assunto, ainda tão apaixonante, migraram para as recém-lançadas redes sociais, na época, o Orkut, que pouco dinâmico para nossa cultura atual, era, então, a melhor opção para grandes discussões, onde era possível dar opiniões, emitir julgamentos, discutir com grande embasamento, ou não, a respeito do tema. Nos dias atuais, algumas comunidades ainda resistem à migração em massa do Orkut para o Facebook e Twitter, onde o fórum não é uma opção, e todas as opiniões precisam ser sintéticas. Qualquer coisa que possua mais de 140 caracteres, dificilmente será lido. Temos pressa, sempre.
            Porém, uma destas redes em especial, o Twitter, as pessoas parecem reviver aquela época onde era possível ver qualquer pessoa falando de novela a qualquer momento, em qualquer lugar. Hoje, em tempo real, podemos fazer comentários sobre o figurino de um personagem, sobre a música chata da abertura, sobre o gancho surpreendente, ou sobre o ator canastrão. Tudo em tempo real. E com isso, voltaram também os “especialistas” em novelas, aqueles que, de mera opinião, passam a exprimir, sem perceber, ultimatos e pensamentos arbitrários.
É como falar sobre futebol. Existe sempre ator melhor para determinado papel, existe sempre gancho melhor, existe sempre direção melhor. Isso não é condenável, pois todos somos assim. Gostamos não apenas de opinar, mas sim de impor, de nos provar corretos. Mas em se tratando de novela (ou de futebol), será que existe mesmo o certo?
            Uma novela é um mecanismo complexo demais para ser separado em pequenas partes. Ou seja, depende muito da parte em voga para podermos avaliar se esta prejudica o todo ou não. Um ator com mau desempenho dificilmente prejudicará os colegas, porém, um texto mal escrito, ou uma direção relapsa provavelmente afastarão a audiência rapidamente. Mas até isto é questão de opinião.
            E entre uma opinião e outra, surgem pequenas indiretas, calorosas discussões, quando os pensamentos divergentes não fazem com que as pessoas partam para as vias de fato, trocando agressões sem sentido em função de algo que serve para nos entreter, e nos divertir. De todos os “noveleiros” que conheci, pude perceber inúmeras diferenças no que estes consideram relevante ou irrelevante.

Aqui, peço licença para me usar como exemplo. Em uma novela, o mais importante para mim é o texto. Quando me refiro a texto, digo que pode ser uma novela que conte uma história aquém de minhas expectativas, porém, se ela possui um bom texto, eu passo a encará-la com outros olhos. Um exemplo disso é a novela Tempos Modernos. Era estranha, para dizer o mínimo, no entanto, possuía diálogos, e alguns personagens tão interessantes, que eu não podia deixar de acompanhar. Mas ainda assim, não considerava a novela boa. Por quê? Porque mesmo com um bom texto, faltavam inúmeras coisas para mim: um enredo que fizesse sentido, bons cenários, bons figurinos, personagens agradáveis. A proposta futurista da trama não combinava com o aspecto antiquado do Centro de São Paulo que a novela retratava.
            Quando eu assisto a um capítulo de novela, não presto muita atenção em determinado ator. Costumo olhar através dele, e enxergar o texto que foi escrito para ele, portanto, independente do intérprete, ou da novela que estou assistindo, gosto de ver o que foi escrito por seu autor, imaginar as razões disso, e também imaginar como seria a novela, caso tivesse sido escrito por mim.
            Um outro detalhe primordial para mim: gosto de novelas longas, assim como livros longos. Novelas (as que eu gosto, claro), quanto mais longas, para mim, melhor. Já, sei de muitas pessoas que preferem as tramas mais curtas.
            Muita gente não pensa como eu, o que é ótimo. Converso com muitas pessoas que priorizam os romances nas novelas. Outras dão grande importância ao que eu considero detalhe, como abertura, índices de audiência, ganchos, publicidade, trilha sonora, e uma infinidade de outras coisas, que chamam completamente a atenção de alguns, e são sumariamente ignoradas por outras.
            Porém, todas são fundamentais. Se dão certo em conjunto, tanto melhor. Porém, existe um consenso – pelo menos nisso – em que isso tem estado cada vez mais difícil. Agradar a todos, então, é impossível.
            No fim das contas, todos estes elementos devem ser levados em conta. Novela precisa ser boa de se ver, e boa de se ouvir. Não pode existir dissonância entre todos estes fatores. Fatores estes, que dão às novelas as suas características únicas.

Trilhas sonoras: indispensáveis

            Uma boa história, seja ela uma comédia, ação, drama ou suspense, tem de ser bem contada, dentro de suas características e limitações. Precisa de uma boa direção, que mantenha o elenco em sintonia. Não precisamos apenas de rostos conhecidos, mas também de bons atores, em sua essência, sem ignorar a necessidade da beleza. Ou seja, condenar artistas jovens por serem bonitos e pouco talentosos soa um despropósito. Ninguém começa experiente. Alguns melhoram com o tempo, outros não. Como em qualquer trabalho. Precisamos sim, de ganchos, que nos motivem a assistir a novela no dia seguinte. Precisamos de audiência, não necessariamente como um norte, que determine se a novela é boa ou ruim, mas para saber se nosso investimento de tempo está sendo válido, para sentir a temperatura da novela. Os números não necessariamente ditam se a novela é boa ou ruim, mas alerta ao público sobre os problemas existentes na obra. O texto dita o ritmo e os diálogos que iremos escutar durante meses. E todo corpo precisa de seus órgãos trabalhando em conjunto.
            Novela perfeita não existe, mas, com muito trabalho em equipe, muitas foram e são tão boas, que os erros tornam-se perdoáveis.
            Encerro este pedindo a vocês que contem o que consideram fundamental em uma novela. Pergunto, também, qual novela, para vocês, chegou o mais perto possível de ser a sua novela perfeita.
            Até a próxima!

sábado, 26 de novembro de 2011

QUERIDOS AMIGOS: A VIDA TEM A COR QUE A GENTE DÁ A ELA!

Thiago Ribeiro


Eu queria fazer dessa nossa reunião de família um elogio ao afeto, a tolerância e a solidariedade”.

LÉO

“Amizade (do latim amicus; amigo, que possivelmente se derivou de amore; amar, ainda que se diga também que a palavra provém do grego) é uma relação afetiva, a princípio, sem características romântico-sexuais, entre duas pessoas. Em sentido amplo, é um relacionamento humano que envolve o conhecimento mútuo e a afeição, além de lealdade ao ponto do altruismo. Neste aspecto, pode-se dizer que uma relação entre pais e filhos entre irmãos, demais familiares, cônjuges ou namorados, pode ser também uma relação de amizade, embora não necessariamente”.



Exibido em fevereiro de 2008, QUERIDOS AMIGOS foi uma minissérie escrita por Maria Adelaide Amaral, com a colaboração de Letícia Mey.



O mote da minissérie era o reencontro Léo (Dan Stulbach), Lena (Débora Bloch), Tito (Matheus Nachtergaele), Vânia (Drica Moraes), Ivan (Luiz Carlos Vasconcelos), Lúcia (Malu Galli), Rui (Tarcísio Filho), Benny (Guilherme Weber), Flora (Aída Lener), Pingo (Joelson Medeiros), Raquel (Maria Luísa Mendonça), Pedro (Bruno Garcia) e Bia (Denise Fraga), que nos idos dos anos 70 eram um grupo de amigos que se intitulava “a família”. Os anos se passaram e os amigos acabaram se separando. E é nesse ponto, em 1989 que a minissérie começa.

“Tô com uma saudade dilacerante de nós, do que a gente era, do que a gente queria, de sentir esse afeto que nos unia”.
LEO

Léo descobre estar gravemente doente. Resolve então reunir os antigos amigos para sentir de novo aquele afeto que imperava no grupo, mesmo com as divergências comuns a toda família. Só que nenhum dos amigos é mais igual ao que era antes. Flora, sua ex-mulher, se recusa a falar com ele, magoada pelo fim do casamento, já que Léo nunca foi um bom marido, muito menos um bom pai para o filho Davi (André Luiz Frambach).



Lena renunciou ao casamento com Guto (Emílio de Mello), abrindo mão da filha Marina, para ser feliz com Ivan, que não teve a mesma coragem de se separar da esposa, Regina (Regina Remencius).

“Eu não me sinto traindo a Regina quando estou com você, eu me sinto traindo você quando estou com ela. E traindo a mim mesmo quando chego em casa e ela está a minha espera. Traindo todas as promessas que fiz e de quem não consegui cumprir, mas que dizem respeito a você e aos meus projetos sempre adiados”.
- Ivan, para Lena.


Tito e Vânia se separaram logo após eles voltarem do exílio, devido ao desleixo de Tito para com a esposa, que tempos depois se casa com Fernando (Tato Gabus Mendes). Tito é um idealista, que vê seus sonhos de revolucionário destruir seu casamento. Vânia se cansou do marido relapso, ela queria alguém que lhe confortasse, que estivesse do seu lado nos momentos de angústia, e Tito raramente estava do seu lado, sempre ocupado com reuniões políticas e etc. Já Fernando, além de rico, dava a ela carinho e atenção, e era um ótimo padrasto para os filhos dela.

“Às vezes a gente tem que ceder para ganhar”.
- Fernando


Pedro era um escritor famoso e de sucesso que vê sua vida degringolar após a morte da mulher, Márcia (Lulli Muller). Mantém uma paixão secreta por Lúcia. Outrora autor de grandes best sellers, hoje ele trabalha como free-lance na mesma revista na qual trabalham Ivan e Tito.

“A vida não é só felicidade, diversão. Você não é assim. Basta ver o seu trabalho. Isso é uma traição aquilo que fomos, as coisas pelos quais lutamos. Foi por isso que o Léo te mandou o vídeo, pra você não se esquecer do que você fez, quem foi, de quem é Vânia. Você não sabe a emoção que foi resgatar a emoção da volta de vocês. Vocês voltaram pro Brasil. Vocês voltaram pra nós.”
- Pedro


Benny, outrora bem humorado e feliz, se tornou uma pessoa fria e sarcástica, que se relaciona com vários garotos, sem se envolver afetivamente com ninguém. Benny se droga, se agride e agride quem está do seu lado. Amigo de infância de Léo sofre por ter sido rejeitado pela família da mãe, a quem sempre se refere como “a bela hebréia”.

“Bendito seja você Léo que habitou entre as sombras. Bendito seja você na sua arrogância, na paranóia, no delírio de criar a obra definitiva. Bendito seja tua luz que tanto brilhou na minha vida. Bendita tua coragem de cagar para a vida. Bendito seja você que escolheu a morte. Bendito todos os loucos, todos os palhas de todas as ordens. Bendito a solidão. Bendito a sua decisão de cometer o gesto mais grandioso da sua vida. Bendito seja você meu amigo.”
- Benny




Raquel é uma dona de casa devotada à família. É casada com Luís Maurício, ou Pingo, professor universitário que mantêm um caso com Lorena (Fernanda Machado), sua aluna. Têm juntos quatro filhos. É a típica mulher que se anula em favor dos filhos, do marido. Seu mundo cai quando Pingo resolve sair de casa. Ela cai em depressão profunda, mas é salva por Léo. Quando sai da depressão Raquel radicaliza: deixa os filhos mais novos sob a responsabilidade do pai, corta os cabelos e vai viajar. Vai em busca da sua felicidade. Nessa viagem ela conhece Fausto (André Frateschi), vocalista de uma banda de rock, segue com ele tentando ser feliz.

“A morte só é uma solução quando a vida tá por um fio, e este não é o seu caso”.
- Léo, para Raquel



Bia não deu certo na vida, segundo os dizeres de sua mãe, dona Iraci (Fernanda Montenegro), que deseja ver a filha casada e feliz. Quando jovem, Bia foi presa pelo DOPS, torturada e estuprada. Ela busca na astrologia um refúgio para seus medos. Uma certa noite Bia reencontra seu torturador numa boate e entra em choque, tentando se matar logo em seguida, mas é salva por Léo. Uma das cenas mais emocionantes é quando dona Iraci enfrenta o homem e lhe conta todo o mal que a tortura resultou em sua filha. Iraci mantêm um caso com Alberto (Juca de Oliveira), pai da Lena. A maior diversão dos dois é dançar em bailes da terceira idade.

Bia: Léo, eu sei o que você vai fazer. Por favor, me leve junto com você.
Léo: Bia, Bia querida. Onde está o seu Buda? As suas estrelas? Você precisa de uma viagem intergaláctica.

“A sua mãe sabe o que você faz com os filhos adorados de outras mães?” ·- Dona Iraci ao torturador da Bia

Avessos a isso, apenas Rui e Lúcia parecem ter encontrado a felicidade. Isso até Lúcia descobrir que Rui tem uma filha como uma colega médica, fruto de uma única noite, já que a gravidez foi uma produção independente. Sentindo-se traída ela passa a rejeitar o marido!

“As pessoas raramente se envolvem com quem vale a pena”.
- Lucia



Baseada em seu livro “Aos Meus Amigos”, Maria Adelaide contou em entrevista que a idéia da minissérie veio quando seu projeto de minissérie sobre Maurício de Nassau foi cancelado. Durante uma visita, o ator Dan Sulbach lhe sugeriu que adaptasse o livro que daria um bom projeto para a tv. Sendo uma adaptação, algumas alterações foram feitas ao transpor o livro para a tv, como por exemplo, os personagens Adônis e Lauro, que foram suprimidos da história. Já a modelo Ucha, mudou de nome e virou Karina, personagem de Mayanna Neiva. No livro, Lúcia sofrera de um câncer.

Ao longo dos 25 capítulos, a autora Maria Adelaide Amaral desenvolveu a relação dos amigos, mostrando seus medos, suas ambições e principalmente, suas frustrações com tudo que não deu certo em suas vidas.

“A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar, ao amigo, de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades”.



quinta-feira, 24 de novembro de 2011

É, só tinha de ser com você, havia de ser pra você...

Brunno Duprat
Sabe aquele personagem que de tanto sucesso que fez, de tanta identificação com o ator|atriz, simplesmente não conseguimos conceber em nossa mente outra pessoa interpretando??? -  São os Deuses das Artes conspirando a favor, mas tem um pouquinho de rejeição também. Muitos desses papéis foram especialmente criados para determinados atores que por algum motivo declinaram do convite e... Jogaram no lixo personagens inesquecíveis. Azar de uns, sorte de outros. C' est la vie, meus amours, rs!
Mas que fique combinado assim: não é uma lista oficial, varrendo tudo e todos. E aquele que lembrar de mais um caso, que declare em seu comentário ou se cale para todo o sempre!!!

Se é para começar que seja com um mega sucesso: ao criar "Dancing Days" (primeira novelas das 20 hs fora do eixo Janete Clair - Lauro Cezar Muniz), Gilberto Braga tinha em mente Beth Faria para fazer a mocinha, a sacudida ex-presidiária Julia Matos. Beth, que preferiu estrelar o programa Brasil Pandeiro, teve de se contentar em aplaudir Sonia Braga dando o nome na novela, numa protagonista moderna, bem resolvida e errante: humana. Sem contar que adiava assim o que seria seu primeiro grande "encontro-embate" com Joana Fomm, fato que aconteceria 11 anos depois em "Tieta" (1989). 

E vocês acham que Beth aprendeu? Que nada! - Em 1985, ao reativar o projeto "Roque Santeiro", vetado pela censura em 1975, Beth fora novamente convidada a viver Porcina, mas declinou do convite. Errou por ser uma personagem fascinante, do tipo irrecusável. Mas acertou pois não vejo Viúva Porcina de posse de um outro corpo que não seja o de Regina Duarte, fato! 

Francisco Cuoco também preferiu não participar desta nova versão, ficando a cargo de Jose Wilker o personagem-título. Por falar em Regina, a atriz por duas vezes recusou papéis que caíram feito uma luva para Suzana Vieira: a mãezona Ana de "A Próxima Vitima" (1995) e guerreira Maria do Carmo em "Senhora do Destino" (2004). E alguém admite outra atriz dizendo que "... tá varada de fome..." ???

Colecionando formidáveis desempenhos e obtendo sucesso de público e crítica, principalmente em relação a Capitu, Giovanna Antonelli tem enfim o reconhecimento e é elevada à mocinha da novela das oito. Sua Jade, uma 'muçulmana-tupiniquim' tomou conta do país, apaixonando a todos que acompanhavam a sua saga. Defendeu como poucas uma mulher movida por amor. Impossível não torcer por um final feliz. Giovana nos envolveu com todo o seu carisma. Carisma esse que também não faltaria à Ana Paula Arósio, 1ª opção para viver a personagem. Após sua recusa, Letícia Spiller foi sondada e também recusou o convite. Ainda que sejam duas belas e competentes atrizes, é inadmissível aceitá-las no papel. Giovanna e Jade tiveram um encontro perfeito na hora marcada. Como eu disse lá no começo: os Deuses das Artes conspirando a favor...

Impossível falar de personagens quase interpretados sem mencionar a minha amiga Cacau - Claudia Abreu para vocês que não são íntimos. Cacau é recordista com direito a medalha de ouro, pódio e hino nacional. Extremamente lisonjeada pelo convite recebido de Gilberto Braga, a atriz bateu o pé com a emissora carioca e preteriu protagonizar uma novela para se dedicar ao projeto de Giba. Mas pelo bem geral, ela fez de maneira magistral a militante Heloísa em "Anos Rebeldes", sendo assim consagrada com o Troféu APCA de melhor atriz de 1992, aos 22 anos. 

Tempos depois rejeitou também o principal papel feminino de "A Indomada", que acabou ficando com Adriana Esteves, que arrasou. 
Já na Era 2000, mais precisamente em 2005, rejeita a personagem Sol, protagonista da novela "América", adiando assim o reencontro com a autora que lhe projetou ao estrelato. 
Mas nem tudo foi rejeição. 
Foi pensando nela que Gilberto Braga criou Paula e Taís, mas como a cegonha foi mais rápida que o convite, coube a Alessandra Negrini interpretar as irmãs gêmeas que não se conheciam.

“... Batidas na porta da frente, é o tempo. Eu bebo um pouquinho para ter argumento.Mas fico sem jeito calado, ele ri. Ele zomba do quanto eu chorei. Por que sabe passar e eu não sei...”

É difícil ouvir estes versos na voz de Nana Caimmy e não lembrar da abertura de "Hilda Furacão". Mais difícil ainda é tentar entender como Letícia Spiller deixou escapar um presente como esse. Se bem que ao assistir as cenas de Ana Paula Arósio debutando como Deusa Furacão, apenas penso: É, só tinha de ser com você, havia de ser pra você...

Mais recente e não menos marcante temos Bebel, uma piranha truqueira que ela só, cheia das artimanhas na vida e na cama, vivida com todo o charme do mundo por Camila Pitanga
Pasmem-se: Bebel foi escrita para Mariana Ximenes, que preferiu 'dar um tempo e descansar a imagem' - Bom descanso, bebê!!! 
Camila reinou absoluta e fez de sua Bebel o grande destaque da novela, numa química explosiva com Wagner Moura (Olavo Novaes), escalado para o papel após a recusa de Selton Mello. Ainda em "Paraíso Tropical", devido a problemas de saúde a grande Joana Fomm, que tanto já brilhou em textos 'gilbertianos', não pôde viver a socialight decadente e trambiqueira, Marion Novaes. Vera Holtz assumiu o seu lugar e foi coesa como sempre, defendendo muito bem a mãe de Olavo e Ivan.


Então é isso, ficamos nós por aqui. Até a próxima, beijos com sabor de sapoti, rs!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Aquele Beijo: Uma Surreal Comédia Romântica


 Emerson Felipe

Miguel Falabella é conhecido por seu estilo de humor ferino, pouco convencional e ácido, emplacando novelas de razoável e/ou considerável sucesso na faixa das 19 horas, como Salsa e Merengue e A Lua Me Disse. Após a má recepção de sua Negócio da China às 18 horas no ano de 2008, o autor retorna às origens, no horário que o consagrou, com a desafiadora missão de manter as 19 horas em alta, após o sucesso da popularesca Morde e Assopra.
E nessa conjuntura veio Aquele Beijo, que revela um Miguel Falabella mais folhetinesco, com uma pitada a mais de romantismo na trama central, homenageando o gênero telenovela, que completa 60 anos em 2011, sem deixar de lado a sua tradicional comédia rasgada surrealmente sofisticada.

Miguel Falabella na festa de lançamento de sua novela Aquele Beijo.
O mote de Aquele Beijo é simples e já há muito conhecido: Cláudia (Giovana Antonelli), mulher independente de classe social inferior, pretende se casar com um homem mais rico, Rubinho (Victor Percoraro), esbarrando na reprovação da opressora e esnobe mãe do rapaz, Maruschka (Marília Pera). Num momento de crise do relacionamento, Cláudia conhece outro homem numa viagem de negócios, Vicente (Ricardo Pereira), e após um beijo, ambos percebem-se completamente apaixonados. Em outra aresta, temos o mesmo Vicente ainda apaixonado por uma antiga namorada, Lucena (Grazi Massafera), que o abandonou e se casou com outro homem, sendo que, por motivo ainda desconhecido do público, o casamento não deu certo e ela volta ao convívio de Vicente, grávida, aparentemente com más intenções e disposta reconquistá-lo. Além desse quadrilátero amoroso, outros enlaces românticos cercam a maior parte das tramas paralelas, a exemplo de Alberto (Herson Capri), que abandona um casamento de décadas com Maruschka em nome de uma nova paixão, a jovem Sarita (Sheron Menezzes).

A protagonista Cláudia (Giovana Antonelli) dividida entre o amor de dois homens.
Giovana Antonelli, super à vontade, carismática e segura como a protagonista Cláudia, forma um belo e simpático casal com Ricardo Pereira, com muita química e digno da torcida do público: a canção "Exato Momento", de Zé Ricardo, pontua com muita beleza as cenas em que ambos se encontram ou pensam um no outro.  A antagonista principal da trama, Maruschka, está sendo impecavelmente vivida pela sempre impecável Marília Pera, deliciosamente esnobe, prepotente e chique, e que promete ser uma grande pedra no sapato da mocinha Cláudia e da rival Sarita, por quem o marido a abandonou. 
Destaque também para Fernanda Souza, convencendo como a deslumbrada mulher desgostosa da vida de casada e do papel de mãe de dona-de-casa; o mesmo em relação a Maria Zilda, a interesseira e perigosa Olga, que trata com crueldade as crianças do orfanto que dirige a contragosto com a irmã. Frise-se também o trabalho da ótima Zezé Barbosa, bem diferente do arquétipo cômico e popular que a marcou: em Aquele Beijo, encontra um terreno mais dramático, vivendo uma sofisticada condessa que volta ao Brasil após anos de cárcere privado na Europa, a fim de recuperar o amor da filha Grace Kelly (Leilah Moreno), que não a perdoa pelo suposto abandono na infância.
Victor Percoraro e Fiuk, entretanto, parecem distantes do universo de Miguel Falabella e Aquele Beijo: o primeiro, apesar da boa intenção, não convence como protagonista, pois ainda destituído de desenvoltura para segurar um personagem de peso como Rubinho; o último, por sua vez, limita-se a repetir os trejeitos equivocados e desnecessários já exibidos em Malhação, soando extremamente forçado em cena com seu Agenor.

O casal em crise Maruschka (Marília Pera) e Alberto (Herson Capri).
Outros temas frequentes da teledramaturgia são abordados em Aquele Beijo, como romance entre pessoas de classes sociais distintas, os opressores patrões explorando os desamparados empregados,  a arrogante  antagonista que possui um tenebroso segredo no passado conhecido pela empregada, a pessoa que assume a identidade de outrem para obter alguma vantagem, aquele que cresce sem mãe e tenta encontrá-la, etc.
A comédia rasgada e politicamente incorreta típica de Miguel Falabella, em meio aos enlaces amorosos, encontra amplo espaço nas tramas paralelas: temos o divertido núcleo do restaurante português, comandado pela esquentada Dona Brites (Maria Vieira); Cláudia Jimenez hilária como a falsa vidente Mãe Iara, utilizando seus "banhos de descarrego" como pretexto para "tirar uma casquinha" de belos garotões; o travesti Ana Girafa (Luis Salém) que, apesar de viver o drama de desconhecer sua mãe, fez o público rir com seu hilário vestido de carne em homenagem à cantora pop Lady Gaga; a trambiqueira Violante (Thelma Reston) que volta à casa da filha para atazanar a vida do genro e apronta as maiores confusões com a família e com a vizinhança a fim de obter vantagem.

Mãe Iara (Cláudia Jimenez) em um de seus hilários e cheios de segundas intenções "banhos de descarrego".

Não poderiam deixar de ser citada as referências de Miguel Falabella às novelas mexicanas: a golpista Mãe Iara engana os clientes dizendo receber uma entidade mexicana chamada Hermanita, desde que a sua mãe morreu enquanto assistia a uma novela mexicana; e a mãe de Maruschka, Mirta (Jaqueline Laurence), usa um tapa-olho cuja cor combina sempre com a de sua roupa, tal qual a vilã Catarina Creel da novela Cuna de Lobos, exibida no Brasil nos anos 90 pelo SBT sob o título Ambição. Mais interessante é a razão pela qual a personagem usa o acessório: o mundo é muito feio e injusto e, com o tapa-olho, ela vê apenas metade desse mundo!

Mirta (Jaqueline Laurence) e seu inconfundível tapa-olho.
 A marca registrada do Miguel Falabella de batizar seus personagens com nome esquisitos e diferentes continua operante em Aquele Beijo, a exemplo de Locanda, Eveva, Belezinha, Íntima, Brites, Mirta, Taluda, entre outras alcunhas bem peculiares!
Também chama a atenção a abertura da novela, que presta uma homenagem aos marcantes beijos da teledramaturgia brasileira, exibindo beijos tanto de novelas consagradas (Irmãos Coragem, O Bem Amado, O Astro, Locomotivas, Top Model, O Salvador da Pátria) como de novelas mais recentes (Cordel Encantado, Insensato Coração, Mulheres Apaixonadas, O Clone, Laços de Família, O Cravo e a Rosa). E a narração em off de Miguel Falabella em algumas cenas da novela, revelando intimidades ou pensamentos dos personagens, também se mostra um interessante e charmoso recurso.
Com o clássico folhetim amoroso na trama central e os surreais núcleos e entrechos cômicos, Aquele Beijo é um ótimo entretenimento: uma típica comédia romântica, traduzida num despretensioso humor inteligente, prestando uma singela homenagem aos clichês da teledramaturgia. Com o diferencial de divertir sem ofender a inteligência do telespectador.




domingo, 20 de novembro de 2011

Nossas opções de cinema em casa - As sessões de filmes da TV aberta

Por FÁBIO COSTA



É difícil encontrar alguém que diga não gostar de cinema. Assim, mesmo em tempos em que é possível baixar filmes ainda em cartaz nos cinemas, comprar filmes "impossíveis" pela internet e ver clássicos antigos e modernos em vários canais da TV por assinatura, a maior opção de cinema na TV que muita gente tem são as sessões de filmes da TV aberta, com seus intervalos e na grande maioria apresentando versões dubladas em português.

Desconsideradas ocasiões como os recentes feriados em que SBT e Record abriram mão de suas grades normais para exibir filmes e quando os longa-metragens são usados como tapa-buraco pelas emissoras (Cinema Especial ou coisa o que valha), de longe a emissora que mais exibe filmes na TV aberta é a Rede Globo, uma vez que o SBT já há alguns anos ocupa suas madrugadas (faixa em que exibia filmes, inclusive alguns com som original e legendas em português) com séries de sucesso na sessão Tele Seriados.

Somente entre segunda e sexta-feira a "Vênus Platinada" (apelido que tem caído em desuso, salvo impressão errada) exibe pelo menos doze filmes de longa metragem. Cinco na Sessão da Tarde (que já teve dias melhores), outros cinco no Corujão, um na Sessão Brasil (na madrugada de segunda para terça-feira, depois do Programa do Jô) e um na Tela Quente, no ar nas noites de segunda-feira desde 1988.

A sessão dedicada ao cinema nacional tem uma gama variada de gêneros em suas atrações, passando por comédias, dramas e filmes "cult", dos mais variados diretores e épocas. Por exemplo, a atração programada para a última segunda (dia 14) era É Proibido Fumar, de Anna Muylaert, com Glória Pires e Paulo Miklos. Enquanto isso a Tela Quente investe em filmes de apelo, em geral restringindo-se a comédias e filmes de ação.

 Na Sessão da Tarde, cujas chamadas aludindo a "uma galera da pesada que vai se meter em grandes confusões e viver altas aventuras em clima de muita azaração" ou variantes já viraram piada entre os telespectadores, costumam ser programados filmes que agradem ao público infantil e feminino, que se supõe estejam em frente à TV na hora (mais ou menos entre quatro e seis da tarde). Assim, haja histórias de bebês superdotados que conversam entre si, animais antropoformizados (ou seja, com características humanas, como falar) como nos desenhos animados e alguns dos próprios, em versão de longa metragem. "Dos estúdios de Walt Disney" também é uma frase recorrente dita por Dirceu Rabelo nas chamadas da sessão.

Logotipo do Corujão, companheiro dos notívagos.
As melhores opções de filmes na Globo costumam ficar mesmo pelas madrugadas. Além da Sessão Brasil, o Corujão costuma apresentar boas produções, conhecidas ou não, mas relegadas a horários ingratos. Com a classificação indicativa de horários que voltou com força total em 2000, muitos filmes antes apresentados cedo só têm sido reprisados no Corujão. Há ainda o Domingo Maior (final da noite) e na sequência a Sessão de Gala, o primeiro geralmente com filmes de ação e suspense e a segunda com vaga para dramas e comédias românticas mais sofisticadas. As tardes de domingo têm a Temperatura Máxima, com comédias e filmes de aventura em lugar dos muitos filmes de ação que lhe renderam o título, e de vez em quando a Sessão de Sábado cobre vagas deixadas pelo calendário do futebol, com perfil semelhante.

Nas noites de sábado, logo após o humorístico Zorra Total, vai ao ar o Supercine, que infelizmente não tem feito muita justiça a esse título. Criada em 1983, a sessão primou anos a fio por exibir grandes produções do cinema até então inéditas na televisão, e com o passar dos anos começou a programar diversos filmes "baseados em fatos reais" e dramas familiares, com poucos momentos que lembrem os áureos tempos em que era possível até adiar por algumas horas a noitada de sábado para ver antes o Supercine.

Logotipo do Cine Espetacular (SBT, terças)
O SBT, que como já foi dito passava as madrugadas exibindo filmes e há alguns anos passou a exibir séries americanas tarde da noite (em geral inéditas, tendo conquistado audiência cativa no horário tanto dos fãs das séries desde a TV paga quanto daqueles que não possuem TV paga e têm na emissora de Silvio Santos sua única opção para ver várias dessas séries), atualmente exibe poucos filmes por semana. Não existem mais (por ora) as clássicas Sessão das Dez (que ia ao ar aos domingos depois do Programa Silvio Santos) e Cinema em Casa, e os longa-metragens vão ao ar nas sessões Cine Espetacular (terças), Tela de Sucessos (sextas), Cine Família e Cine Belas Artes (sábados). As duas primeiras vão ao ar logo após a novela das 22h30, Amor e Revolução, enquanto as outras duas ocupam a faixa das nove da noite à uma da manhã, já que no sábado a novela não é exibida. Relembre abaixo a antiga abertura da Sessão das Dez nos anos 80:



O Cine Belas Artes, que já fez mais jus ao nome levando ao ar produções "cult", "artísticas", tem apresentado até filmes de ação e aventura, mas ainda assim em geral boas pedidas. O Cine Família foi criado recentemente e condiz com o título, apresentando comédias e filmes leves que a família pode ver reunida. Dramas, outras comédias, filmes baseados em fatos reais e outras fitas de ação preenchem as sessões da semana.

Logotipo da sessão de sexta à noite na "Band".
A Rede Bandeirantes, que recentemente tirou do ar sua famosa sessão Cine Privé (que exibia filmes eróticos nas madrugadas de sábado para domingo), exibe em seu lugar o Cinema na Madrugada, com filmes de gêneros variados. No Cine Band vão ao ar produções muito boas, dos clássicos como Taxi Driver, de Martin Scorsese, a filmes recentes, nas madrugadas de domingo para segunda. Nas sextas às dez e quinze da noite vai ao ar o Top Cine, com filmes de ação e comédias. Já domingo é dia de Domingo no Cinema, às com filmes variados segundo a emissora dedicados à família como um todo, embora produções de ação e suspense também tenham lugar.


Na Rede Record, as únicas opções de cinema fixas na grade são a Supertela, atualmente levada ao ar nas noites de quarta-feira por volta das onze horas, e o Cine Aventura, que antecede O Melhor do Brasil nas tardes de sábado. Em feriados e como tapa-buraco a emissora exibe o Cine Record Especial, primando pelas comédias e filmes de ação.

As TVs públicas são as opções para os que buscam filmes de qualidade, de procedência europeia ou oriental, produções menos conhecidas, mas muito conceituadas pelos críticos especializados. A TV Cultura exibe às dez da noite de sexta-feira a Mostra Internacional de Cinema na Cultura, transposição do projeto do recentemente falecido Leon Cakoff para a televisão. Filmes dos mais variados gêneros e origens passam pela sessão, sempre boa opção aos cinéfilos de carteirinha que não se restringem aos filmes campeões de bilheteria, com astros e estrelas de Hollywood.

Outra opção é o Festival Internacional de Cinema Infantil, exibido de segunda a sexta-feira às 17h25 e aos domingos às 12h45. Nele são exibidos tanto filmes de longa metragem quanto apanhados de episódios de séries de animação dedicadas à criançada, como Shaun, o Carneiro. A TV Cultura exibe ainda Mestres do Riso, às onze da manhã de domingo, com clássicos nacionais de Dercy Gonçalves, Mazzaropi, Ankito e produções da Atlântida, e o Cine Brasil, nas noites de sábado, com produções nacionais de todos os gêneros, do drama ao documentário. Por último, mas não menos importantes, as sessões DOC TV e Cultura Documentários, em horários variados (geralmente no fim da noite, início da madrugada), cujos nomes entregam o ouro.

A TV Brasil exibe o Programa de Cinema (às sextas, dez da noite, e aos sábados, dez e meia), que exibe geralmente dramas e documentários, e o Cine Ibermedia (domingos, onze da noite, com reapresentação do filme às sextas, após o Programa de Cinema), dedicado à produção latinoamericana.

Há ainda a Rede Brasil de Televisão, que em geral chega ao público por frequência UHF ("em São Paulo, canal 50", como dizem as vinhetas), que exibe diversos filmes nos sete dias da semana em sessões como o Cine Rede Brasil (dez da noite), Sessão da Madrugada (diariamente), Alta Tensão (de sexta para sábado), Sessão Faroeste (de sábado para domingo) e Clássicos do Cinema (de domingo para segunda).

A única emissora aberta que não exibe filmes é a TV Gazeta, desconsiderados os canais segmentados como MTV, Mix TV e outros, de conteúdo direcionado, o que é compreensível. Também se enquadra nesse conceito a Rede 21, que atualmente exibe cultos evangélicos quase 24 horas por dia e que já teve tempos ótimos para os fãs de cinema e séries com sessões como Sessão das Oito (diariamente às oito da noite).

Logotipo modernizado do Festival de Sucessos.
Saudade dos tempos em que a Sessão da Tarde exibia só os preferidos de todo mundo (e tinha um concorrente à altura, o Cinema em Casa do SBT, recentemente ressuscitado, recentemente tirado do ar de novo e que quem sabe em breve novamente volte ao ar), a Tela era mesmo Quente e o "cine" de sábado era mesmo "super". Saudade também de quando a Record exibia seus eternos faroestes, a Globo tinha ótimos filmes separados por gênero a cada dia da semana na madrugada (e bem mais cedo que hoje em dia, em sessões como Classe A, Sessão Comédia, Festival de Sucessos, Campeões de Bilheteria e Cineclube)... Ou é puro saudosismo e tudo continua na mesma, eu é que cresci?

P.S.: Agradeço ao leitor Israel Carneiro, que chamou minha atenção num comentário para o fato de eu ter esquecido a Rede TV!, que assim como a Gazeta também não exibe filmes em sua programação. Curioso é lembrar que, em seus primeiros tempos a partir da estreia oficial em 15 de novembro de 1999, a emissora tinha diversas (e boas) sessões de filmes em sua grade, além das ótimas séries A Feiticeira, Jeannie É um Gênio (de segunda a sexta-feira às 12h45 e tapando eventuais buracos noutros horários) e Friends (exibido com legendas às 21h45 de sábado com reprise às 20h de domingo).

Logo após as comédias clássicas da bruxinha que queria ser apenas uma boa esposa, mãe e dona-de-casa e do gênio da lâmpada que enlouquecia seu amo astronauta, havia o TV Magia, sessão de filmes para toda a família que tinha a versão TV Magia Especial aos sábados, após uma sessão "normal". Na estreia foi exibido o premiado drama Kramer Versus Kramer, de Robert Benton, com Dustin Hoffman e Meryl Streep disputando a guarda do filho pequeno após a separação e a saída dela de casa. De terça a sexta-feira às dez e meia da noite ia ao ar o Cine Total, com Rubens Ewald Filho apresentando duas opções de filmes para o público escolher. O crítico de cinema fazia o mesmo numa sessão tripla aos domingos, das duas da tarde às oito da noite: era o TV Escolha. No fim da noite do domingo havia ainda o TV Arte, com filmes "cult", e às 22h15 de sábado era a vez do TV Terror, que exibiu clássicos do gênero como Sociedade dos Amigos do Diabo e alguns da série Sexta-feira 13.
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