sexta-feira, 11 de novembro de 2011

GOLPE BAIXO - Novela de David Vallério e Lucas Nobre (4º Capítulo)



CAPÍTULO 4

Cena 01 – Casa de Zezé – Quarto da casa dos Fundos - Int – Dia

Zezé abre a porta da edícola de sua simples casa. Bruna e Maitê com malas na mão.

ZEZÉ - Isso é tudo que puedo ofrece pra vocês. (cabisbaixa) Não repare que é casa de pobre.

Maitê e Bruna olham para o quarto horrorizadas.

MAITÊ - De pobre ou de miserável?
ZEZÉ – (ignora Maitê) Não temo de luxo algum. (tenta empolgá-las) Mas tem uma beliche! (constrangida) O banheiro pode usá só pra xixi.
MAITÊ - Oi?
ZEZÉ - É que a descarga da patente tá quebrada e meu  Jerômo nunca dá jeito de consertá.
MAITÊ – (indignada) Eu aqui tô toda estropiada e ainda por cima vamo tê que ficar embretadas nessa bicheira no meio das vila?
BRUNA - (repreende Maitê) Cunhada, por favor!
MAITÊ - Sabe como é que se chama isso? Uma baita chi-ne-la-gem, tchê!
BRUNA - Cunhadinha, esqueceu que não temos pra onde ir?
MAITÊ - Mas precisava a gente vir parar em um lugar como esse?

Bruna teme que Zezé expulse as duas.

BRUNA - (para Zezé) Zezé, não te apoquente com minha cunhada, tá bom?
MAITÊ - Não dá, não dá mesmo! Não nasci pra viver nas vila ou nas favela, não mesmo! (encosta mão em uma prateleira e tira rapidamente) Bah, que nojo!  
BRUNA - (impaciente) Mais uma palavra e te prendo o relho!
MAITÊ - Te atreve que eu te cago a pau até teu fiofó dizer chega!

Maitê e Bruna escutam um soluço de Zezé. Zezé tenta segurar o choro. Bruna ignora Maitê e vai em direção a Zezé. Zezé olha para Bruna e a abraça, caindo no choro.

BRUNA – Ô  Zezé, que se passa?
ZEZÉ – Bah, Dona Bruna, é tão difícil... (soluça) tava fazendo recuerdos dos anos e anos indo todos los dias de manhãzita naquele palacete, chimarreando com o Seu Tarcísio, vendo tu e o Francisco crescê.. até os entrevero de vocês duas por lá começo a senti falta. (olha para Bruna) Nós era feliz e não sabia! (chora)

Bruna seca as lágrimas de Zezé com as mãos.

BRUNA - É verdade, é verdade Zezé. Éramos muito felizes.
ZEZÉ - Não acredito que Seu Francisco e a Gisele fizeram isso com vocês... que barbaridade!
MAITÊ – Nem nós acreditamos que aquela ninfeta maligna fez tudo isso! E o meu Momozão? Levou todo o nosso dinheiro! Deixou a gente sem nenhum pila sequer pro esmalte.
BRUNA - Dinheiro, terras, imóveis... ficamos sem nada.
ZEZÉ – (seca as lágrimas) O pior é essa humilhação em querer ajudar vocês em consideração ao seu Tarcísio, (sinal da cruz) que o Patrão véio lá de cima o tenha! E o máximo que posso ofrecer é uma beliche e um banheiro quebrado.
BRUNA – (abraça Zezé) Não se preocupe, Zezé! Muito obrigada pela sua acolhida. Sei muito bem que após uma boa faxina sua esse quartinho ficará um pouco mais habitável.
MAITÊ – Deixa de ser lambe-espora da Zezé, cunhadinha! É possível um ser humano ficar mais de cinco minutor por aqui?
ZEZÉ – (ignora Maitê) Fiquem à vontade. Agora preciso cozinhá a bóia do meu hôme que ele chega morrendo de fome da lida.
MAITÊ – E eu vou tomar um banho que eu tô precisando.
ZEZÉ – O encanamento do chuveiro estragou Dona Maitê.
MAITÊ – E como se toma banho aqui?
ZEZÉ – Vo esquentá água no panelão pra vocês e misturo com água fria. É só usá a caneca.
BRUNA – (incrédula) Caneca?
ZEZÉ – É, anos e anos tomei banho de caneca. Chuvero aqui é luxo. Mal comprei um e puf... faleceu. (para Bruna) Bem que se diz que alegria de pobre dura pouco, né não Dona Bruna?
MAITÊ – (contida) Zezé!
ZEZÉ – Fale.
MAITÊ – Vai cozinhar!

Corta para:

Cena 02 – Casa de Zezé – Quarto da casa dos Fundos – Int - Dia

Ao som instrumental de Retirantes, de Dorival Caymmi, Maitê e Bruna fazem uma desajeitada faxina no quarto. Maitê pára com a vassoura em mãos.

MAITÊ - Tu viu como são as coisas? A gente que teve que fazer faxina. Dar intimidade pros empregados dá nisso. (indignada) Que desaforo. É só a gente tá um poquito na pior que eles mostram bem as garrinhas.
BRUNA - Cala a boca e continua limpado, sua infeliz.Não tá vendo que estamos aqui de favor? Acorda, cunhada! (t) Limpa aquele canto que tá cheio de poeira.(resmunga) Se eu soubesse que Zezé mantinha esse quarto nessa imundice, teria despedido ela em dois tempos. Onde já se viu?

Maitê  continua sem nenhuma habilidade com vassoura. Maitê coloca sujeira na pá e espirra, espalhando todo o pó de novo. Bruna bate os lençóis, abre as janelas e se assusta com uma lagartixa em meio ao mofo. Pânico.

Corta para:

Cena 03 – Casa de Zezé – Banheiro da casa dos Fundos – Int - Dia

Ainda com o som instrumental de Retirantes, Maitê está com nojo de tirar a roupa no banheiro pobre e sujo. Olha de maneira estranha para a caneca. Simula o banho com a caneca sem usar a água e fica apavorada com isso. Música sobe. Maitê toma coragem e toma banho de caneca rapidamente para acabar logo com a tortura. Termina o banho cansada.

Corta para:

Cena 04 – Casa de Zezé – Quarto da casa dos Fundos – Int - Noite

Bruna está se esticando de tanta dor nas costas. Maitê sai do banheiro.

BRUNA – Mas já? Pensei que a beldade iria ficar pro resto da vida tomando banho de caneca!
MAITÊ – Bah, é difícil viu... vai lá tomar banho para tu ver só.

Alguém bate na porta.

MAITÊ – Será a Zezé?

Mais batidas na porta.

BRUNA – Ela entraria direto. Deixa eu atender.

Bruna abre a porta e vê o másculo Jerônimo (37) sem camisa e com uma bandeja.

MAITÊ – Mas creeedo!
JERÔNIMO – Buenas! Minha senhora mandou umas bóia pras guria.
BRUNA – Desculpa, mas quem é a tua esposa?
JERÔNIMO – A Zezé.
BRUNA - (surpresa) Mas que bah! Sério?
MAITÊ – (para si) Umas com tanto e nós, com nada!

Corta para:

Cena 05 – Casa de Zezé – Fachada do casa dos Fundos – Ext - Noite

Ouve-se gargalhadas de Maitê, Bruna e Jerônimo. Vemos Zezé se aproximando com cautela. Zezé abre frestinha da porta e vê os três dentro do quarto. Quando Maitê passa a mão no ombro de Jerônimo, Zezé entra.

Cena 06 – Casa de Zezé – Quarto da casa dos Fundos – Int - Noite

ZEZÉ – (entra) Con permisso! (t) Só vim vê se não tinham matado meu marido.
MAITÊ – (provocativa) Ele é que quase nos matou. (ri)
ZEZÉ – Posso saber qualé a graça?
BRUNA – (disfarça) De rir, Zezé! Ele quase nos matou de rir.
MAITÊ – (cochicha para Bruna) Queria que me matasse no cansaço mesmo!
BRUNA - Nossa, muito! Ele veio trazer o nosso jantar e começou a nos contar umas prosas que.../
MAITÊ – Que se me contassem eu diria que é trova, uma baita mentira. O Jerônimo tava aqui falando sobre uma vez que acharam que tu era a mãe dele!
ZEZÉ – (passa mão nos cabelos brancos) Eu tava com as raiz branca das crina naquele dia, que nem tô hoje. (para Jerônimo) E tu, xirú véio, vai já botá uma camisa de física que as guria não tão acostumadas com baguais que nem tu.
JERÔMINO – (para Zezé) Minha flor de truco, vo tomar um banho que tô numa baita caatinga.
ZEZÉ - (para Jerônimo)  Vai logo que tô sentindo daqui o teu cheiro ruim.
JERÔNIMO - (para Bruna e Maitê) Hasta luego, gurias.  

Jerômino sai.

MAITÊ – (para si) Eu faria de tudo para ser a canequinha que ele vai usar agora!
BRUNA – (para Zezé) Zezé, eu te conheço. Sei muito bem que quando tu tá com essa cara é porque quer dizer alguma coisa.
ZEZE – Passei o dia fora pra procurar serviço, mas o novo proprietário me manteve como funcionária do palacete.
BRUNA - Que bueno, Zezé!
ZEZÉ - É.. mas veja só o que encontrei em um canto da casa.

Zezé mostra  um jornal de classificados para Bruna e Maitê.

BRUNA -  Mas isto daqui é um classificado de...  (surpresa) São Paulo? (folheia) E com apartamentos assinalados.
ZEZÉ- Não seria o paradero de Francisco e Gisele?
MAITE – Maldito! O quanto eu pedi pra ele comprar um apê pra gente nos Jardins!
BRUNA – Só pode ser Zezé! O safado do meu irmão pegou toda a nossa grana e tá em São Paulo, faz todo sentido. (determinada) Temos que nos encontrar com ele já!
MAITÊ - Eu e tu, (desconfiada) juntas?
BRUNA - Temos que nos unir, cunhada! Agora somos só eu e tu na mesma chalana furada. Vamo esquecer nossas diferença e apear pros pagos de São Paulo!
MAITÊ - Com que dinheiro?
BRUNA – (ironiza) Até que você pensa...
MAITÊ – Cunhadinha, vou fazer de conta que não ouvi porque minha vontade de fazer aquele maldido engolir uma brasa quente queimando do coco ao... fiofó, sabe, é muito maior do que gastar energias contigo.
ZEZÉ – Gurias, eu tenho uma pequena economia. Posso dar o que juntei nos último tempo pra vocês.
BRUNA – (emocionada) Zezé, tu já tá fazendo tanto por nós. Tá sendo um anjo.
ZEZE – Pois é, Dona Bruna, como prefiro continuá sendo um anjo sem guampa (encara Maitê) e como vi a senho... (corrige), quer dizer, senhorita nascê, vô ajudá com o pouco que tenho. Em memória do Seu Tarcísio.
BRUNA – (com ternura) Pode ter certeza que quando eu e minha cunhada pegarmos aquele meu irmão traidor eu irei retribuir toda essa sua bondade.
ZEZÉ – Não precisa!
BRUNA – Como não?
ZEZÉ - Só faço o que acho certo. Agora me dão licença que vo cuidá do (encara Maitê) meu marido.

ZEZÉ se retira

BRUNA – Sua desfrutável... dando mole até pro proletariado? Aposto que meu irmão fez tudo isso por causa de suas traições!
MAITÊ – Eu? Dando em cima daquele popular bonitão dos pampas? Que eu saiba quem sempre teve a perigo foi tu. Pensa que eu não percebi a tua saudade de sentir o peso do corpo de um macho, é?
BRUNA – Tá com saudades do peso da minha mão, é?

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Cena 07 – Cidade de São Barreto– Ext - Dia

Cenas da rotina da cidade em começo de manhã.  

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Cena 08 – Rodoviária de São Barreto – Ext - Dia

Plano geral de localização.

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Cena 09 – Ônibus – INT – Dia

Bruna termina de colocar bolsa no porta-bagageiro superior e senta ao lado de Maitê.

BRUNA – Preparada para pegarmos aquele muquirana e a ninfeta maligna?
MAITE – Indo pra São Paulo com esse cabelo horroroso e um monte de hematoma da briga de ontem? Tô preparada pra pelo menos arrancar os olhos dos dois com alicate de unha,querida!
BRUNA – Perfeito!
MAITÊ – Quanto mesmo que a Zezé nos deu?
BRUNA – Mil reais.
MAITÊ –Bah, só isso? Mas vamos ser duas gaúchas a morrer de fome em São Paulo!
BRUNA – Era essa economia da Zezé, ela nos deu de regalo, um presente.
MAITÊ – Melhor que nada. Pode passar quinhentinhos agora pra minha mão, passa agora!
BRUNA – Que absurdo é esse, tchê?
MAITÊ – Cunhadinha, não foi você mesma quem falou que a Zezé deu esse dinheiro para nós. Então, tenho direito a cinquenta por cento. Pode passar.

Corta para:

Cena 10 – Terminal Rodoviário Tietê (São Paulo) – Pavilhão - Ext – Dia

Cenas da rotina da rodoviária. Legenda: São Paulo. Bruna e Maitê caminham com as malas. Maitê está nervosa.

MAITÊ – Morta de vontade de fazer xixi.
BRUNA – Não foi no ônibus porque não quis!
MAITÊ – Prefiro a morte! Já não bastasse os banhos de caneca. Onde ficam os banheiros aqui?
BRUNA– Pelas placas, (aponta para uma direção) ali, ó.
MAITÊ – Já volto.

Maitê vai ao banheiro levando apenas uma bolsa.

Corta para:

Cena 11- Terminal Rodoviário Tietê – Banheiro púbico Feminino – Int – Dia.

Maitê sai do sanitário e vai se maquiar no espelho. Se aproxima Creuza (56), uma mulher masculinizada.

CREUZA – E aí, mina, suave? Que tem para descolar hoje?
MAITÊ – Oi?
CREUZA – Perguntei o que essa delicinha tem pra dar hoje? (agarra bunda de Maitê)
MAITÊ – Sai fora, tchê! Não curto essas coisa com mulher não!
CREUZA – Ah, fica de boa, minha gauchinha, tô ligada que não ia rolar nada nem na parceria. Eu quero que a mina  me faça outra coisa.
MAITÊ – O quê?
CREUZA – (faz sinal de dinheiro com a mão) Me faça rir!
MAITÊ – (debocha) Tá me achando com cara de palhaça?
CREUZA – (impaciente)  Tô te achando com cara de otária perua dos pampas! (encosta estilete na cara de Maitê) Passa a grana que isso é um assalto, firmeza?

FIM DO CAPÍTULO 04
É, já deu pra perceber que o melhor a ser feito é relaxar...
Depois "Piora!"
GOLPE BAIXO é uma obra aberta e os autores (David Vallério e Lucas Nobre) vão analisar as
sugestões de melhorias e críticas, mas APENAS aquelas feitas no espaço
destinado aos comentários do "Posso Contar Contigo?"

9 comentários:

  1. meu deus, onde isso vai parar? kkkkkk

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  2. É quando se está no fundo do poço que se descobre uma das grandes verdades da vida: o buraco é sempre mais profundo, fato!

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  3. Isso que é apenas o 4°capítulo. São 12 no total!!!!!

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  4. eu fico me perguntando se vocês já tem uma solução pra o sumiço do Francisco e da Gisele? tem que ser algo bem porreta.

    enquanto isso quero mais é dar risada.

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  5. hola soy rober de rivera - uruguay y me encanta esta novole tengo 19 y acompaño la novela desde el primer capitulo saludos a todo
    robert -uruguay

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  6. Márcia, tem que ter o estômago bem forte para aguentar a explicação do sumiço da Gisele e do Francisco porque o motivo vai ser MUITO FORTE. Se vocês acham que o golpe foi baixo, eu e o David Vallério reservamos várias surpresas para nossa história ter fôlego nos 12 capítulos. Você vai se surpreender, te garanto. E rir muito também!

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  7. Verdade Bruno!

    Hola Rober, que bueno saber que te gusta mucho la novela "Golpe Bajo" y que el idioma no es barrera para que tu sigas nuestra historia.

    Saludos desde Brasil!

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  8. Nossa! Mas vcs querem acabar com as duas? Bueno, se tudo isso já aconteceu no 4º cap, nesse ritmo acho que elas não sobrevivem até o 12º...

    Bjus

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  9. Eu também estou adorando a novela!
    Só não curto muito o sotaque...
    A vida da gente é gaucha e não tem sotaque.

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