segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Sabe aquela Atriz? Saudade da "atuação" dela!!!


Por Isaac Abda

A dramaturgia brasileira é dona de um vasto, invejável elenco de artistas consagrados. Alguns, destacando-se além da vida profissional. Os muitos fãs estão sempre ávidos por saberem mais e mais, também, da vida pessoal dos seus ídolos. Mas se há algo de proveitoso nisso, é preciso que se observe o bom senso, considerando a existência de pontos negativos, tanto ou mais importantes à manutenção de carreiras artísticas. Ou não?!

Faz-me lembrar de uma atriz talentosa, competente, sabe “de onde veio”. Mas parece ignorar o seu futuro. E “aonde vai” essa atriz?! Uma pergunta que parece sem fundamento, se referida à querida, sim querida, Suzana Vieira, de quem sou fã. Embora alguns a ironizem pela superexposição com que a própria trata daquilo que só caberia a ela e aos envolvidos diretos, e não, ao público, não há que se discutir aqui a sua vida pessoal.

Possuidora de uma trajetória brilhante. A maior parte dela dedicada à Rede Globo, onde está há “trocentos” anos, associando a sua imagem de tal forma à emissora que se torna praticamente impossível imaginar a Dona Vieira fora de lá. E sair pra onde, por qual motivo? Óbvio que não é isso o que se deseja... Os meus sinceros votos é que bons ventos soprem novamente sobre a sua carreira, e levem [dela] consigo quaisquer resquícios de suas últimas atuações na telinha. Exagero?! Posso mesmo estar sendo exagerado, as divergências de opinião existem e devem ser respeitadas. Pois bem, mantenho a minha, vide Lara com Z, Cinquentinha e Duas Caras. Que mal há nessas produções e/ou nos seus personagens? Teria o autor (de quem sou fã declarado, portanto me sinto bem a vontade pra dizê-lo) errado tanto? Definitivamente, esses não são os trabalhos feitos pelo querido Aguinaldo Silva, dos quais eu me orgulho. Mas seria injusto depreciá-los por todo o empenho da equipe, profissionais envolvidos, enfim, a obra em si merece o devido respeito. A falha, possivelmente, tenha ocorrido na insistente escalação da mesma pessoa para personagens tão "parecidos" uns com os outros. 

Constata-se já há algum tempo o brilho da veterana atriz parece menos intenso, pois de tantas interpretações sobre personagens escritos “especialmente” para ela, o desgaste foi inevitável. De certo que o público adora a Susana, independente do que ela faça seja na TV ou no Teatro, mas entre os telespectadores mais atentos à sua carreira, é grande a insatisfação. Ora, vejamos então: Ela já foi Maria do Carmo (Senhora do Destino), muito bem escrita pelo Aguinaldo Silva e que não poderia ser interpretada por uma atriz qualquer. Houve uma atuação na medida exata, emocionante, e justiça se faça, não fosse pela companhia da Nazaré (irretocável interpretação da Renata Sorrah, num momento memorável), o resultado teria sido ainda melhor. Apenas como curiosidade, vale observar que a idéia original era a Suzana Vieira no papel da “Naza” e a Regina Duarte como a protagonista da história, a “Do Carmo”.



A Suzana Vieira como vilã? Ah! Vimos, curtimos e aprovamos a Sorrah como a Nazaré. E quem não?! Mas de igual modo, num outro estilo textual, noutro universo novelístico, uma atriz dominava as cenas em que a sua personagem aprontava as vilanias que agitavam a trama. A Branca (Por Amor, escrita por Manoel Carlos e Letícia Dornelles) era “classuda”, instigante, e foi muito bem defendida pela Susana.



Da sua parceria com o Aguinaldo Silva (com Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn), impossível não lembrar da fogosa e divertida Rubra Rosa (Fera Ferida) que mantinha um caso com Demóstenes (José Wilker) traindo o seu marido, Numa Pompílio, vivido por Hugo Carvana. A novela super valia a pena e a interpretação da Suzana não destoava disso. Era um ano de trabalhos seguidos e não havia do que se arrepender. Meses antes, Susana exercitava todo o seu poder de atuação [mais um de meus exageros e vocês me matam, né?], na pele da esposa contida, sofredora, mãe zelosa. Assim era a Clarita de Mulheres de Areia (de Ivani Ribeiro e Solange Castro Neves).



Em 1999, novamente com uma personagem antagonista à da Regina Duarte, dessa vez na minissérie Chiquinha Gonzaga, de Lauro César Muniz e Marcílio Moraes, exibida pela Rede Globo, todo o seu talento se fez sentir.  



Muitos anos antes, também na Globo, por obra do Cassiano Gabus Mendes, a Nice (Anjo Mau), uma babá ambiciosa, disposta a tudo para conquistar seus objetivos, despertava sentimentos de ódio e revolta no público. Torcer contra aquela que era a protagonista tornou-se febre no Brasil. E quem estava a merecer tamanho destaque? Lá estava a “saudosa” Suzana Vieira.



Entre os trabalhos dignos de citação, alguns dos quais não ouso tecer maiores comentários pelo fato de não ser um profundo conhecedor da obra, destaco Escalada (de Lauro César Muniz) e A Sucessora (de Manoel Carlos).


É isso. Eu quero mais... Quero mais Gilda (O Salvador da Pátria, de Lauro César Muniz), mais Laís (Lua Cheia de Amor, de Ana Maria Moretzsohn, Ricardo Linhares e Maria Carmem Barbosa), mais Ana Carvalho (A Próxima Vítima, de Silvio de Abreu), mais Lorena (Mulheres Apaixonadas, de Manoel Carlos)... Quero menos “Suzana Vieira”.

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sábado, 28 de janeiro de 2012

Entrevista com o Ator Mário Cardoso

Um Ator Português, totalmente "abrasileirado" graças ao seu talento. Conquistou espaço na telinha, tendo participado de diversas novelas ao longo da carreira, vide Escalada, A Moreninha, Coração Alado, Feijão Maravilha, Paraíso, entre outras, na Rede Globo, algumas mais no SBT e, especialmente na Rede Manchete, onde se destacou nas bem sucedidas Dona Beija e Xica da Silva. O convidamos a bater um papo, ele prontamente aceitou e desde já o agradecemos. Confira!


Por Fábio Costa

Posso Contar Contigo? Entre as décadas de 1980 e 1990 você manteve um consultório de psicologia graças à virada que o meio artístico sofreu e declarou numa entrevista à Isto É Gente que foi esquecido pela Rede Globo quando ficou de fora das “panelas” com os nomes preferidos dos responsáveis pela escalação de elenco. O Thiago Paixão de Amor e Revolução é um ótimo personagem para um ator já maduro. Teria sido ele um presente para você?

Mário Cardoso – Com certeza todo trabalho eu considero como um presente, e o Thiago foi um grande presente em um momento muito especial pra mim, já que não vinha sendo escalado para TV, Teatro e Cinema. Levanta a auto-estima, reforça o ego e o principal, faz a gente se sentir mais útil e ocupado, não tem coisa pior do que você contar o tempo quando não tem nada pra fazer, é uma eternidade, faz mal. Agradeço ao Boury e ao Sergio Madureira (faleceu um mês depois do início da novela, fevereiro de 2011), por me presentearem com um ano de intenso trabalho e exercício artístico, eu estava precisando. O Thiago representava todos os profissionais de jornalismo que lutaram pelo restabelecimento da democracia tentando informar o povo o que realmente estava acontecendo, tendo como arma apenas sua máquina de escrever e sua inteligência, passava suas informações nas entrelinhas, cassado, torturado, aviltado e exilado, representou os anseios de muitos brasileiros de coragem da época. Foi ou não foi um presente?

com Reynaldo Boury, diretor da novela e Fátima Freire, colega de elenco

PCC? – O que representou para você a sua participação como Teodoro na série Tudo Novo de Novo, além, é claro da volta num papel de destaque? Gostaria de voltar a trabalhar com Lícia Manzo, que está no ar com sua primeira novela-solo, A Vida da Gente?

MC – É, antes de Amor e Revolução tive a honra de trabalhar com a Denise Sarraceni em Tudo Novo de Novo, foi uma volta às origens, já que eu não trabalhava há muito tempo com um personagem com vida própria fazendo parte direta na trama, e na globo, foi muito prazeroso e é claro que gostaria muito de voltar a trabalhar com ela (Lícia Manzo), a visão dela do cotidiano em nossas vidas é preciso e de muita riqueza.


PCC? Amor e Revolução teve como tema principal esta ferida ainda não cicatrizada que é o regime militar no Brasil e o que ocorreu por conta do seu estabelecimento. Que outros temas importantes nesse sentido você acha que ainda não foram explorados pela teledramaturgia, ou foram, mas não como poderiam ser?

MC – Não necessariamente por conta do regime militar, mas em função do golpe de 64, instituindo a ditadura e conseqüentemente os seus atos institucionais, como também a aberração que foi a tortura, porque as forças armadas ficaram divididas com a ditadura, tendo muitos militares cassados, não deixando de ser uma mancha na história do nosso país, mantendo essa ferida aberta até hoje.
Esse é um assunto que não foi totalmente explorado, por falta de coragem e muito comprometimento, essa foi a primeira vez que se falou abertamente para o público, em forma de novela, sobre um assunto que só tinha a ótica da direita, e que agora possibilitava um discurso da esquerda, temos gerações pós- revolução que jamais tinham sabido desses acontecimentos e que continuam sem saber. Apesar da liberdade de expressão, a novela sofreu pressões que mudaram o rumo da proposta inicial, acho que ainda é um tema em aberto.
Temos uma infinidade de temas que podem ser desenvolvidos, mas que possivelmente não terão respaldo popular ou do governo, por exemplo, quem produziria uma novela focando a vida corrupta de um político brasileiro, na íntegra, mostrando toda a canalhice contra o povo? Acho que temos autores nacionais que poderiam ter seus livros adaptados e que seriam sem dúvida novelas fantásticas, vide Escrava Isaura, Olhai os Lírios do Campo, A Moreninha... etc... Falta criatividade e competência.


PCC? – Adaptações de clássicos da literatura brasileira como A Moreninha, Escrava Isaura e O Feijão e o Sonho, de cujas versões nos anos 70 você integrou os elencos, fazem falta atualmente? Você concorda quanto à televisão servir de incentivo à leitura das obras que adapta?

MC – Com certeza, até me adiantei falando sobre isso acima, o incentivo à leitura é enorme, mas infelizmente hoje essas novelas não têm apelo comercial e de marketing, se tornando inviáveis.

com Nívia Maria em A Moreninha

PCC? – Sua voz é conhecida de boa parte do público, em especial as crianças e os mais jovens, graças à dublagem do Professor Utonium da série de animação As Meninas Superpoderosas, dentre outros trabalhos. Como a dublagem surgiu na sua vida?

MC – A dublagem surgiu como mais uma porta que foi aberta a nível profissional, foi a partir de um incentivo do amigo e ator Isaac Bardavi, fazíamos na época a peça Trair e Coçar é só Começar, e ele exímio dublador me apresentou a dublagem, e com isso entrei de cabeça, dublando e dirigindo por um bom tempo já.


PCC? – Gosta de ser reconhecido pela voz em atividades cotidianas como as compras, graças a seus muitos trabalhos de dublagem que atingem um púbico que não o conhecia das telenovelas?

MC – é muito difícil ser identificado pela voz, mas já aconteceu e é muito gratificante ser reconhecido sempre por seu trabalho, principalmente quando é uma criança.

PCC? – Um de seus melhores desempenhos em teledramaturgia foi o peão Clariovaldo em Dona Beija, produzida em 1986 pela extinta Rede Manchete. O fato de ser um personagem diferente do tipo para o qual você era frequentemente escalado na época e ainda costuma ser (o homem charmoso, bem vestido, educado e cortês) contribuiu para isso?

MC – O Clariovaldo foi uma boa surpresa, um personagem puro, trabalhador, humilde, desalinhado, rústico, barbudo, humano, completamente diferente de todos os outros, com praticamente poucas roupas pra troca, a maioria das cenas em cima de um cavalo, uma história incrível e de muito sucesso. Foi a felicidade completa.

em cena de Dona Beija

PCC? – Nos anos 80 você participou de três novelas no SBT: Razão de Viver, Vida Roubada e Uma Esperança no Ar, sendo apenas a última de original brasileiro. O que esses trabalhos acrescentaram ao seu modo de construir o personagem, já que originais latinos são em geral considerados muito lacrimosos e melodramáticos?

MC – Temos sempre muita coisa pra aprender em tudo, e em cada personagem, em cada história de vida, em cada perfil psicológico montado vivenciamos vidas paralelas, no caso específico das três novelas citadas, embora sendo a última de original brasileiro, elas tinham o melodrama em comum, e também a quantidade de texto bem maior do que de costume, com cenas mais longas, possibilitando um grande exercício mental, desde o decorar até o incorporar esses personagens mais puros e menos agressivos  na forma de atuar que estamos acostumados a fazer hoje, foi um desafio.

PCC? – Você chegou a declarar que sua saída da Rede Globo nos anos 80, para ir trabalhar na Rede Manchete e no SBT, foi um dos fatores que atrapalharam sua volta à emissora posteriormente. Arrepende-se de ter saído para fazer novelas em emissoras outras?

MC – Não, claro que não, não costumo me arrepender das coisas que faço, o que comentei é que talvez a saída pra outras emissoras pudesse ter atrapalhado minha continuidade na globo, mas na verdade sabemos que um dos fatores, é que não sendo mais novidade e tendo um mercado restrito, ficamos muitas vezes sem contrato e conseqüentemente sem trabalho, por força do mercado e suscetibilidades de alguns diretores passamos a ser esquecidos.


PCC? – Amor e Revolução teve o seu último capítulo exibido recentemente. Terminada a novela, quais os seus projetos?

MC – O ator brasileiro tem que ter um grande jogo de cintura pra driblar essas constantes situações, tenho muitos projetos ainda pra serem pensados e desenvolvidos, mas no momento espero ainda nova oportunidade em TV, já que fiquei um bom tempo de fora, como também penso em Teatro com um bom texto, e principalmente em Cinema , que além de gostar muito,  não tenho tido oportunidades para fazê-lo.


PCC? – “O Posso Contar Contigo?” agradece a gentileza e deseja ainda mais sucesso!

MC – Obrigado aos amigos, Isaac e Fábio, pelo incentivo, esperando ter material novo para uma próxima entrevista. Grande abraço. Amor e Luz.

Fotos: Google Imagens
Video: You Tube

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Onde tudo podia acontecer

Por Fábio Costa

Aos dez anos de idade, queremos ser tratados como crianças em algumas situações, enquanto noutras pensamos já ser grandes o suficiente para partilhar de assuntos e programas de adultos. É uma fase de curiosidades, descobertas, construção do caráter, dos meios de se viver adequadamente em sociedade; enfim, a tal da pré-adolescência já nos faz começar a ver o mundo de forma diferente. Mas a imaginação, a fantasia, permeiam nossa mente como continuam a permear por toda a vida mesmo com as responsabilidades da idade adulta, e seu valor é inestimável. Partindo do cotidiano de um menino de dez anos e sua família de classe média, em 1991 foi lançada a série infantojuvenil Mundo da Lua, coprodução da TV Cultura de São Paulo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A ideia original da série, que seguia a linha da emissora de educação aliada a entretenimento de qualidade, foi de Flávio de Souza, ator e escritor.

Seu Orlando, Lucas, Rogério, Carolina e Juliana: a família Silva e Silva.

O protagonista é Lucas Silva e Silva (Luciano Amaral), e as tramas dos episódios abordam problemas da vida do garoto. Ter de ir dormir cedo, frequentar a escola, fazer as lições, obedecer aos pais e aos mais velhos em geral, noções de cidadania, solidariedade, higiene, cultura, história, geografia e da importância dos valores compõem os conflitos da série, que tem como personagens principais, além de Lucas, seus familiares, que moram com ele num sobrado branco reconhecível pelos fãs à mínima olhada. Os pais do garoto são Rogério (Antonio Fagundes), professor que se divide em três empregos para sustentar a família, e Carolina (Mira Haar), vendedora numa boutique (a da Madame Saint-Gobelin). Lucas tem uma irmã mais velha, mas adolescente como ele, Juliana (Mayana Blum), às voltas com as tendências da moda, bandas do momento e interesses amorosos.

Anna D'Lira, que viveu a engraçada empregada Rosa.
Também mora na casa o avô Orlando (Gianfrancesco Guarnieri), pai de Rogério, um senhor bastante amoroso e apaixonado por um carro antigo que mantém na garagem com o sonho de um dia fazê-lo circular de novo pelas ruas. Não esqueçamos de Rosa (Anna D'Lira), a despachada empregada dos Silva e Silva, que espera pelo dia em que se casará com o namorado Marcelo (que não aparece nunca em cena) e passa o dia ouvindo o programa do radialista Ney Nunes (voz de Dorvilles Pavarina) enquanto cuida dos afazeres da casa. Rosa conversa com Ney, interage com o locutor crente de que ele a escuta, e as falas dele dão a entender que pode mesmo escutá-la.

"Alô, alô... Planeta Terra chamando..."
Lucas pretende ser astronauta quando crescer, e seu maior sonho é fazer uma viagem à Lua. Tem uma imaginação bastante fértil, e daí vem o título da série: o garoto vive sempre no mundo da Lua, inventando histórias a partir de seu cotidiano, seus reveses e alegrias. No dia do aniversário de dez anos, ganha do avô Orlando um gravador que ele comprara anos antes para dar de presente à filha Roberta (Lucinha Lins), mas que acabou não dando a ela, já que a jovem era "muito estabanada" e provavelmente quebraria o aparelho em três tempos. O gravador modernoso, que se iluminava conforme suas teclas eram pressionadas, revelou-se o instrumento perfeito para Lucas dar asas à imaginação e criar suas histórias a respeito de como as coisas seriam se dependesse exclusivamente da vontade dele, sempre tendo por base um fato que estivesse vivendo na ocasião, como a busca por boas notas na escola,  uma paixonite infantil, um dia de brincadeiras com os primos ou alguns amigos, o desejo de um animal de estimação ou a paixão pelo personagem de jogos de videogame Blixto (inspirado claramente em Mario, de Super Mario Bros). O que Lucas dizia para abrir cada história está marcado para sempre na lembrança dos fãs do programa: "Alô, alô... Planeta Terra chamando, Planeta Terra chamando, alô...! Esta é mais uma edição do Diário de Bordo de Lucas Silva e Silva, falando diretamente do Mundo da Lua... Onde tudo pode acontecer..." Sempre no clímax das histórias que inventava, Lucas era interrompido, mas com tempo bastante para que ele notasse a importância de se obedecer os pais, respeitar os mais velhos, ir à escola e fazer as lições, ter uma alimentação saudável e balanceada... Principalmente, ao soltar a imaginação no gravador Lucas aprendia, através de sua própria história, que nem sempre as coisas são como desejamos que elas sejam. Embora teimoso, cabeça-dura, voluntarioso, o caráter dócil e amoroso do menino prevalecia e ele dava o braço a torcer quando não tinha razão em seus ataques de desobediência e batidas de porta.

Seu Orlando e os filhos: Dudu, Rogério e Roberta.
Outros atores que participavam com frequência da série eram Laura Cardoso (Dona Lila, a vizinha dos Silva e Silva, professora aposentada que tinha a mania de corrigir erros de português das pessoas e que era apaixonada por Seu Orlando);  Liana Duval (Dona Ivone, mãe de Carolina); Cristina Mutarelli (Marly, irmã de Carolina, meio perua e dona de um restaurante com o marido); Joyce Roma (Gisela, filha de Marly); Leonardo Haar de Souza (Diego, filho de Marly), filho de Flávio de Souza e Mira Haar; Ken Kaneko (Fábio Kato, marido da Tia Roberta); Elio Yamaushi e Daniel Nozaki (Conrado e Afonso, filhos de Roberta e Kato); Vanessa Labônia (Daniela, melhor amiga de Juliana). Ainda, um dos atores mais lembrados da série era o próprio autor, Flávio de Souza, que dava vida ao Tio Dudu, o caçula desnaturado de Seu Orlando, que vivia pedindo dinheiro emprestado ao irmão.

Além do elenco fixo, Mundo da Lua trouxe diversos atores em participações especiais, em especial nas histórias criadas por Lucas no gravador - que acompanhávamos com a tela enevoada nas bordas, para deixar claro o que era o "real" e o que vinha do imaginário do garoto. Miriam Mehler interpretou a Princesa Isabel no episódio "A Pluma da Princesa Isabel", que traz Lucas ajudando a filha de D. Pedro II a recuperar sua pluma, sem a qual não poderia assinar a Lei Áurea e, assim, libertar os escravos. Rubens Corrêa deu vida a um humilde andarilho em "A Guerra do Quarto", que ganha de presente da família Silva e Silva diversas roupas e brinquedos para si e seus filhos após uma arrumação no quarto de Lucas pela mãe e pela irmã, a princípio desaprovada por ele. Edson Celulari foi São Jorge quando Lucas imagina que vai à Lua com o avô em "Viagem à Lua". Marisa Orth e Petê Marchetti, cada uma num episódio, viveram Monalisa, a cantora de quem Lucas e Juliana eram fãs. Rosi Campos foi uma enfermeira alemã meio tresloucada cuja missão era impedir Lucas de dormir a qualquer custo em "A Mosca e o Zumbi". Etty Fraser foi Yolanda, uma tia de Carolina, no episódio "Vida de Artista", e em "As Três Irmãs" Denise Fraga apareceu na pele de Juju, outra irmã da mãe de Lucas, que vive na Europa.

Logotipo nas vinhetas de intervalo.
Mundo da Lua deixou saudades pela sua mostra de que não é preciso uma superprodução caríssima, com efeitos especiais e pirotecnias, para agradar ao público infantojuvenil.  Um excelente projeto, que tinha por trás de si uma orientação pedagógica séria e ajudou a moldar o caráter de toda uma geração, através de sua abordagem lúdica e agradável da passagem da infância para a adolescência. Era possível se divertir aprendendo sobre passagens e figuras importantes da História, noções de matemática, ciências, diferenças socioculturais e outros muitos assuntos, tudo a partir do cotidiano de Lucas com sua família. Os 52 episódios foram exibidos semanalmente entre 1991 e 1992, e desde então são reprisados pela TV Cultura, TVE/TV Brasil e outras emissoras públicas. Até a Rede Globo já exibiu a série, às oito da manhã, em 1993. Atualmente, é possível acompanhar as aventuras de Lucas Silva e Silva pela TV Rá-tim-bum, diariamente às dez da noite. Em 2011, a TV Cultura trouxe a série de volta após um período sem exibi-la, mas pouco depois voltou a tirá-la do ar. Mesmo duas décadas depois, iniciativas como esta fazem falta, numa programação infantil que valoriza quase que só a exibição de desenhos animados.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Crítica dos filmes 'J.Edgar' e ‘Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres’.


Por Raphael Camacho

Em uma época onde a Informação é poder, Clint Eastwood constrói os caminhos para nos mostrar a vida e a mais importante realização do criador do FBI, J.Edgar Hoover. Aos poucos vamos andando pelos grandes fatos da história americana. Impulsivo e muitas vezes difícil de lidar, J.Edgar é interpretado por Leonardo DiCaprio. A obsessão pelo trabalho e as idéias criadas para o mesmo, além de outras características, mereciam ser adaptados para a telona. Mas será que valeu a pena?

Na trama, que conta com o roteiro de Dustin Lance Black (‘Milk’), mostra a longa trajetória do criador do Federal Bureau Investigation (FBI), J.Edgar Hoover, e os 48 anos de serviços prestados à órgãos federais americanos. Com o auxílio de lembranças, já que somos apresentados no início à um J.Edgar idoso e escrevendo sua biografia, percebemos o quão conturbada foi a vida desse homem. Quando o Sr. Tolson entra na história a trama ganha contornos emotivos e inesperados. Adepto de vitaminas após certa idade, encara difíceis perdas, e nesse ponto é onde o personagem mais cresce.

O foco do novo trabalho de Clint Eastwood era a vida pessoal desse complicado personagem. O grande ponto a se analisar, a partir dessa premissa é: Se o foco era esse, porque a trama parece ser tão superficial quando olhamos para a vida íntima dele?

É uma atuação muito segura e convincente de DiCaprio. O ‘veterano jovem ator’, pega com maestria os trejeitos e o modo de falar desse conturbado personagem da história americana. A personificação de sua mãe, vestido com as roupas daquela que foi sempre sua leal companheira é um momento marcante na história do personagem. Com repetidas frases de ódio ao acontecido, pronuncia sem parar “Eu mato tudo que amo”... Ali vemos que o artista cresce e se torna o grande ponto alto da interpretação do ator americano que já foi namorado da Top Model Gisele Bundchen.

O restante do elenco também esbanja competência nessa trama de altos e baixos.

Naomi Watts aparece bastante com sua Helen Gandy, tinha tudo para ser a mulher da vida do personagem título (se essa fosse a preferência dele), é leal e tem papel interessante no desfecho da trama. Judi Dench é a mãe de J.Edgar, Anna Marie Hoover, uma mulher recheada de princípios ligados à moral e os bons costumes, atrapalha bastante a mente conturbada de seu filho, é uma barreira para assumir sua homossexualidade. Armie Hammer divide com DiCaprio a maioria das cenas importantes dando vida ao Sr. Tolson e tem uma atuação bastante interessante (às vezes ofuscando o próprio protagonista), merecia ter sido lembrado nas premiações desse ano.

Mesmo com algumas observações, vale à pena conferir a trajetória marcante do homem que tinha o sonho de ter a eterna admiração do seu país. Dia 27 de janeiro na sala de cinema mais próxima de sua casa!

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Com direito a muita Coca-Cola e Mc Lanche Feliz, David Fincher retorna ao comando de um longa metragem de forma magistral (seu último trabalho tinha sido ‘A Rede Social’), conseguindo reunir elementos que conseguem agregar sem mudar o foco da intrigante, envolvente e muito objetiva história de Stieg Larsson. Fincher consegue o improvável, criar um remake tão bom quanto à fita original sueca.

Na história, uma jovem desapareceu em uma ilha da Suécia, há mais de 30 anos atrás sem deixar rastros. Seu tio ainda pensa nela todos os dias e resolve reabrir a investigação e chama o jornalista investigativo Mikael Blomkvist para ser o encarregado por essa nova busca. Mikael está passando por um momento ruim, sendo processado por difamação e calúnia e como não tem muito mais a perder resolve aceitar o caso com o acordo de que iria conseguir provas para provar a verdade sobre o caso que está sendo processado. Como sozinho Mikael não consegue andar muitas casas, resolve procurar uma assistente para ajudá-lo a desvendar esse mistério. Aí que entra na história Lisbeth Salander, uma garota muito inteligente que sofre com um passado de tristezas e um presente de abusos por conta de ter a sua custódia vinculada ao Estado.  Juntos vão descobrindo aos poucos que a família da desaparecida é o centro de tudo.

A trama é grande e cheia de detalhes (O filme fica muito mais fácil de se entender, caso já tenha visto a versão original ou tenha lido o livro.), na primeira parte as histórias de Mikael Blomkvist e Lisbeth Salander correm em paralelo mostrando a vida de cada um desses personagens e como esses dois destinos se juntam. Tudo é muito bem feito, sequencialmente em seu tempo. Méritos para o ótimo roteirista Steven Zaillian (que fez o roteiro do aclamado ‘A Lista de Schindler’). Nos momentos tensos a trama cresce, o desconforto que propõem algumas cenas dão espaço para o brilhantismo do diretor e seu elenco.

Todos os atores estão bem e elevam a qualidade da fita.

Lisbeth Salander é um dos personagens literários (que foram adaptados para às telonas) mais marcantes e interessantes de todos os tempos. Para essa difícil missão, que fora cumprido com maestria pela atriz sueca Noomi Rapace na primeira versão, David Fincher chamou a jovem de 26 anos, Rooney Mara. A escolha não poderia ter sido mais certeira. Desde os primeiros takes percebemos que Mara consegue pegar a essência de sua personagem além de deixar a sua marca em cada cena que participa. A jovem atriz americana foi indicada ao Globo de Ouro esse ano por esse trabalho e, senão fosse a grande concorrência desse ano, poderia facilmente figurar entre as cinco indicadas ao Oscar.

Christopher Plummer sempre muito bem, no desfecho da trama comove e emociona com os sentimentos verdadeiros de seu personagem (deve vencer o Oscar nesse ano pelo maravilhoso trabalho no filme ‘Toda Forma de Amor’).

Daniel Craig, o atual James Bond, não inventa muito na pele do personagem principal Mikael Blomkvist. Faz aquele famoso ‘feijão com arroz’ e não compromete em nenhum momento. Tinha que mostrar ao público um pouco de paixão pela arte após a péssima atuação como Will Atenton, no tenebroso ‘A Casa dos Sonhos’ de Jim Sheridan.

Com uma abertura sensacional e uma trama que se conecta com o público ao longo dos 158 minutos de duração, ‘Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres’, é um prato cheio para os amantes da sétima arte! Dia 27 de janeiro, corra para o cinema e descubra o final dessa história!

domingo, 22 de janeiro de 2012

SANGUE NOVO NOS ROTEIROS

Por Romulo Barros

De uns anos para cá e com mais intensidade nesses últimos, estão sendo revistos os quadros de autores das emissoras. Exemplo disso é o surgimento de novos roteiristas para os horários das seis e sete da noite. E quem ganha com isso? Nós e a televisão brasileira.

Um exemplo prático. Nos primórdios da Rede Globo existia Glória Magadan, que escrevia tramas rocambolescas e totalmente distantes da realidade brasileira. Precisou que surgisse Janete Clair para arrebatar milhões de brasileiros. Era sangue novo sendo injetado diretamente em cada coração que acompanhava as tramas escritas por Janete.

O tempo não para e por isso a renovação de autores é sempre um assunto a ser discutido e a produção da primeira novela de um autor novo deixou de ser tabu. Hoje esse assunto é tratado com mais naturalidade dentro das emissoras, principalmente na Globo.

João Emanuel Carneiro, que após estrear no horário das sete, escreveu mais uma novela para o horário, e em seguida estava figurando no horário nobre, trouxe todo o seu conhecimento e experiência no cinema para a TV.

João Emanuel abriu as portas, mostrou que vale a pena investir em novos autores e abriu precedentes para que Bosco Brasil, Duca Rachid, Thelma Guedes e Lícia Manzo tivessem a oportunidade de escrever suas novelas.



Existe uma fila de autores que esperam uma oportunidade para escreverem seus trabalhos como titulares. Existem também os colaboradores que tentam, a todo custo, uma oportunidade para furar a barreira quase intransponível dos veteranos. Mas muito desses colaboradores nasceram para serem do segundo time e talvez nunca escrevam como titulares.

Muito está sendo feito para a renovação dos autores de TV. Aguinaldo Silva, pioneiro, fez sua Master Class, a própria Globo fez uma oficina de dramaturgia em 2010 e novos autores estão escrevendo suas novelas, seriados e especiais e estão sendo supervisionados pelos autores mais experientes da casa. Muito ainda precisa ser feito. A TV precisa dar mais oportunidade para os que estão chegando e querem mostrar trabalho. Precisa de sangue novo correndo por cada diálogo proferido e por cada cena criada. Só assim veremos nossa dramaturgia nacional deixar de ser repetitiva. 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O FUTURO DAS TELENOVELAS ESTÁ NO HORÁRIO DAS SEIS?

Por Rafael Tupinambá
Não é novidade para nenhum crítico ou apaixonado por televisão, que esta mídia tem passado por profundas mudanças. A tecnologia digital proporcionou um enorme salto na qualidade de imagem e som, a internet permite um acesso fácil e imediato a conteúdos, especialmente filmes e séries e os aplicativos móveis se tornam cada dia mais indispensáveis. Com isso, a luta pela audiência trouxe uma ode de “popularização” da programação como poucas vezes foi visto. As emissoras partiram pra cima da “Nova Classe C”, que hoje é maioria da população brasileira e um público ainda com perfil consumidor de TV aberta.
Se focarmos nas telenovelas, podemos observar claramente esse fenômeno. A atual novela do horário das 21hs, Fina Estampa, apresenta uma história maniqueísta, com personagens caricatos e uma história colecionadora de clichês. Contudo, é fácil perceber que o folhetim se tornou um curioso e significativo sucesso depois de três audiências insossas (Viver a Vida, Passione e Insensato Coração). Aguinaldo Silva trouxe uma trama que vai totalmente ao encontro das aspirações e expectativas dessa nova classe, com uma estética caricatamente pasteurizada que se aproxima das novelas mexicanas, grande rival da Rede Globo no mercado internacional.
Mas não é só isso. Com medo de arriscar e ver uma fatia do público do horário nobre migrando para outras emissoras, a Rede Globo vem repetindo fórmulas. Seus autores não criam mais histórias e sim reconfiguram personagens e cenários em estruturas cômodas. É só lembrarmos que a última “queridinha” de público e crítica foi A Favorita, escrita por João Emanuel Carneiro, que em sua terceira novela estreava às 21hs. Novelas ousadas e ao mesmo tempo populares como Tieta ou Vale Tudo são cada vez mais raras. Algum desavisado pode até opinar que Janete Clair também repetia suas apostas, mas ninguém sabia “reescrever” personagens como ela!
O horário das 19hs se configurou como um espaço bem próximo à comédia, tendo alguns bons resultados também quando conseguiu conquistar os espectadores jovens. Nos últimos anos tem lutado para chegar há uma estabilidade, alcançando sucessos como Da Cor do Pecado e Cobras e Lagartos, também de João Emanuel, Caras e Bocas, de Walcyr Carrasco e o remake/adaptação de Maria Adelaide Amaral para Ti Ti Ti de Cassiano Gabus Mendes, grande mestre do horário.
E o Horário das Seis? Efetivado na grade da Rede Globo em 1975 com a adaptação de Helena feita por Gilberto Braga, o horário era originalmente voltado para novelas leves e românticas e muitas tramas de época. Mesmo tendo até o final dos anos 90 um orçamento bem menor que a novelas das 20hs, a Globo divulgou às 18hs o máximo de requinte e luxo nas adaptações de clássicos da literatura brasileira e outras importantes temáticas atuais. É impossível não se lembrar do enorme sucesso de Escrava Isaura, novela que durante muitos anos foi a mais vendida internacionalmente e transformou Lucélia Santos em estrela observada até na China. Esse talvez seja o horário que mais sofreu com a mudança do perfil do brasileiro e principalmente, da dona de casa, nos últimos anos. Afinal, quantas pessoas vocês conhecem que estão em casa antes das sete da noite? Mas foi aí que Gilberto Braga escreveu suas primeiras novelas e Walther Negrão lançou seus principais sucessos como: Livre pra Voar, Direito de Amar, Fera Radical, Tropicaliente, Anjo de Mim, Era uma vez... Manoel Carlos, afastado das novelas globais desde 1983, retorna em 1991 escrevendo Felicidade, e depois, em 1995 escreve História de Amor. Benedito Ruy Barbosa concebeu grandes obras como: Cabocla, Paraíso e Sinhá Moça. Todas foram adaptadas recentemente e repetiram o mesmo êxito. A partir de seus sucessos, autores foram levados para outros horários, como Walcyr Carrasco, que escreveu aí seus três maiores sucessos: O Cravo e a Rosa, Chocolate com Pimenta e Alma Gêmea. Também foram exibidas às 18hs dois grandes sucessos da televisão brasileira: Barriga de Aluguel e Mulheres de Areia. Aliás, Ivani Ribeiro foi a Rainha das Seis. Lançou Amor com Amor se Paga, Sexo dos Anjos e a coqueluche dos anos 80, A Gata Comeu.
O Horário das Seis, atualmente, é o que mantém a média mais regular se pegarmos a audiências de suas últimas novelas. Depois do fracasso Negócio da China, Paraíso conseguiu alavancar a audiência e os bons números se mantiveram em suas sucessoras. E não se trata apenas de números. O horário revelou autoras como Elizabeth Jhin (apesar de seu insucesso anterior, Eterna Magia), Lícia Manzo e a dupla Telma Guedes e Duca Rachid. Cama de Gato trouxe uma trama ágil e engenhosa, como nos bons tempos das 20hs, além de uma boa vilã: Verônica (Paola Oliveira). Escrito nas Estrelas foi uma novela despretensiosa e sensível, com especial destaque para a química de Humberto Martins e Nathália Dill. As duas novelas mais recentes, Cordel Encantado e A Vida da Gente, são o mais perfeito exemplo que ousadia e melodrama, inovação e popular podem andar juntas. Seja pela riqueza de referências estéticas, pelos diálogos mais longos ou abordagens mais profundas. Exibida entre 2010 e 2011, Araguaia, de Walther Negrão, foi à primeira novela HD do Horário das Seis.

Voltando aos questionamentos colocados no início do texto, aonde irá parar a conhecida TV aberta? E como a novela diária se encaixará nisso tudo? Não se esquecendo de reinventar-se, reciclar, ousar, discutir. A novela precisa estar há um passo do público para manter-se viva. Tramas mais “enxutas”, com um menor número de personagens, aproximam mais a história do espectador, levando a torcida, a fidelidade, resultados obrigatórios de uma boa telenovela. Afinal de contas, novela é antes de qualquer coisa, entretenimento. Com um público fiel, uma audiência abaixo dos 30 pontos, menos capítulos e menos duração de cada um, os riscos no Horário das Seis são menores. A Rede Globo já anunciou que depois de Amor, eterno Amor, substituta de A Vida da Gente, será lançada uma trama de época do novato João Ximenes Braga. Talvez não seja nele o novo recanto da boa novela?
Essa é minha primeira reflexão no "Posso Conta Contigo?" Acho que como texto de estréia levantou uma boa questão. Ai...escrevi demais! Valeu galera, pelo convite! Já já tem mais.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

INGRATOS MERECEM O INFERNO

Vi uma entrevista do Boni no Canal Livre da TV Bandeirantes, onde quando o assunto passou a ser novela, ele foi metralhado por uma série de questões que denegriam o gênero. Os três entrevistadores, acostumados a entrevistarem políticos, demonstraram todo o desprezo que a “inteligência” brasileira sente pela telenovela.
Isso não é novidade. Muitos atores de cinema e teatro se sentem superiores aos colegas que trabalham em televisão. O mesmo se passa com realizadores e dramaturgos. Mas o que mais estranho é o fato de muitos profissionais que vivem de TV a desprezarem em declarações públicas.
Acho que a ingratidão é um dos piores defeitos que um ser humano pode ter, até pelo fato dela ser sintoma de uma série de outras falhas de caráter igualmente detestáveis, porém ocultas. Um exemplo muito claro disso foi levantado por Manoel Carlos, em entrevista à revista VEJA em 2004:



“Acho engraçado quando vejo atores de televisão dizendo que não vêem novelas. A maioria declara que só assiste ao Boris Casoy e ao Jô. Como ator de novela não gosta de ver novela? Tem ator que diz: ‘Meu negócio é teatro’. Mas, quando você vai olhar, ele fez uma única peça em dez anos e nunca parou de trabalhar em novela. Acho que é até uma ingratidão, porque eles vivem essencialmente do salário da televisão. Ao aparecer numa novela, ganham projeção. Quando está no ar, ator faz baile de debutantes, cobra para ir a um show. O teatro não tem esses subprodutos. E eles não levam em conta que ator de teatro tem de ter uma formação cultural que a televisão não exige. É difícil um ator de teatro ser absolutamente inculto e desinformado. Na televisão, uma boa parte dos atores nunca leu um livro. Na TV, tem gente que sonha com as capas, mas nem lê as revistas.”

Concordo plenamente com ele. E esse exemplo dos atores serve para outros profissionais envolvidos com a telenovela. Diretores, autores, etc. Muitos fazem televisão e, especificamente novelas, única e exclusivamente pelo dinheiro e exposição na mídia. Retiram muito da televisão e devolvem muito pouco.

Esse comportamento empobrece o produto. A queda de audiência e de qualidade da telenovela tem origem em uma gama de fatores em que com certeza também se insere a mesmice e preguiça criativa de muitos de seus realizadores.

Lembro-me da dignidade de Vinícius de Morais, defendendo as letras que fez para música popular, não as diminuindo quando comparadas à sua brilhante poesia. Pra ele era tudo a mesma coisa. Tudo arte. Jorge Andrade e Dias Gomes fizeram o mesmo ao trocar o teatro pela telinha.

Ninguém é obrigado a gostar de TV. Mas os que nela trabalham deveriam colocar mais amor no trabalho que fazem. Amar o público e a ele oferecer o melhor. Ingratidão me enoja.

Ingratos merecem o inferno.

JOSÉ VITOR RACK
MSN - jrack@walla.com

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Sensual, Passional, Amargo - As Vilãs e seus marcantes Temas Musicais!!!



 Por Eduardo Vieira

Geralmente nas comunidades ou blogues sobre teledramaturgia há uma tendência de se reverenciar mais o passado, o que não se viu. Tentamos suprir isso por meio da memória e pesquisa de cada um dos aficcionados pelo gênero telenovela. Um dos elementos sempre citados, para o bem e para o mal, são as trilhas sonoras que acompanham essas novelas, hoje em dia, cada vez mais feitas de retalhos musicais de outras histórias já conhecidas, o que dói no coração de quem as assiste há mais tempo.
Contudo, algumas vezes, temos excelentes surpresas que nos fazem ter esperança quanto ao cuidado com tão importante componente, como a trilha da novela Cordel Encantado, muito bem escolhida, com os temas bem próximos das descrições das personagens.
Pensando nesses temas que nos acompanham, veio-me a ideia de fazer uma espécie de linha de tempo de temas musicais. Porém como seria possível enumerar de modo geral temas e personagens? Resolvi optar por afunilá-los, ressaltando um tipo muito adorado entre os amantes do gênero, as vilãs das telenovelas.

Nota-se que hoje em dia, grandes personagens muitas vezes não têm temas específicos. Grandes nomes como Nazaré, Laura, Maria Altiva e atualmente Tereza Cristina, por exemplo, para citar a bola da vez, pois há controvérsias quanto à notoriedade de uma ou de outra, exibem apenas temas incidentais ou temas sem relação à verdadeira característica dessas personas.

Refiro-me a temas nacionais, aqueles que por meio da nossa música e língua expressam características desses personagens, tão comuns nas histórias, mas que exibem sempre um diferencial entre si, seja na interpretação do ator que o faz ou por que não dizer, na música que os acompanha.

Na trilha da novela citada, de Duca Rachid e Thelma Guedes, a qual teve como vilã uma condessa, uma espécie de "Morgana" que vem parar no agreste (Débora Bloch), não se pode deixar de ressaltar a letra do cantor singular e compositor estreante Filipe Catto, a metalingüística e soberba "Saga", que exibe uma letra intrincada, contando a história de um ser bem mais afeito à maldade, que não sabe lidar com um sentimento tão puro como o amor, traduzido em versos da canção que diz "Enquanto andava maldizendo a poesia, eu contei história minha pr’uma noite que rompeu" ou no refrão "...E nessa saga venho com pedras e brasas", o que ajuda bastante a moldar essa diabólica e dúbia mulher.



Do mesmo modo, ao assistir a um capítulo da reprise da novela Mulheres de Areia, observei o tema das personagens das gêmeas, tão distintos quanto elas, a linda canção "Figura", acertado tema feito por Orlando Moraes, e a outra canção, " Ai, ai, ai, ai , ai ", a mais perfeita tradução de Raquel, a gêmea má, feita por Ivan Lins, uma composição inspiradíssima que diz na letra... "nosso amor é uma vereda"... e finalmente o refrão que resume a personagem "É as vezes tudo é lindo às vezes tudo engana... mas basta um beijo teu e eu, ai ai ai ai ai ai", o que sintetiza o canto de sereia e o caráter sinuoso dessa mulher.



Como já se faz bastante tempo desse excelente folhetim de Ivani Ribeiro, passou-me pela cabeça tentar lembrar-me da primeira personagem com aspectos vilanescos a que assisti e me veio à cabeça a figura de Fernanda, Dina Sfat, criação de Janete Clair no clássico Selva de Pedra, e curiosamente descobri que seu tema nacional tem o irônico título de "Corpo sano em mente sã", uma composição de Marcos Valle, que fala de uma mulher que pratica esportes e "joga tênis de manhã ", mas por outro lado, joga igualmente com a vida das pessoas, o que nos permite ter uma dica do que pode vir a ser esse personagem.



Já, no remake, em 1986, o mesmo personagem, agora feito por Christiane Torlone, recebeu um tema bem mais direto que mostrava mais claramente o caráter sedutor e caprichoso da personagem, a bela "Perigo", de Nico Resende, imortalizada por Zizi Possi, que dizia "Perigo é ter você perto dos olhos, mas longe do coração", ressaltando a possessividade dessa personagem marcante.

Também algumas vezes esses temas foram mais associados ao romantismo ou até ao lado mais carnal, pois de modo um tanto clichê, associou-se muitas vezes o sexo à vilania, como é o caso do tema de Catucha Karany (Débora Duarte), em Coração Alado, mulher rejeitada, mas líder da relação que vai caçar o ser amado "na cama sem segredos", como diz a música "Momentos" de Joanna e Sara Benchimol, cantada pela primeira.

Falando ainda em personagens rejeitados temos ainda em Alma gêmea a inesquecível "Diz nos meus olhos" (Inclemência), que combina muito com a personagem sempre enjeitada Cristina feita perfeitamente por Flávia Alessandra. Um verso demonstra a que vem a ser a personagem "devolve meus dias, minha alegria, diz nos meus olhos, verdades ruins..." cantado sofregamente por uma cândida Zélia Duncan .Outra canção relacionada à sensualidade desse tipo de personagem é a versão de Nelson Motta de um compositor italiano, que serviu de tema à charmosa vilã feita pela ótima atriz Dora Pellegrino, em Livre pra voar, a sibilante "Veneno", cantada de forma um tanto lasciva pela voz igualmente sensualizada e moderna de Marina Lima.



Quando se fala em vilãs não se pode deixar de mencionar uma que é a amoralidade em pessoa, Maria de Fátima Acciolly (Vale Tudo), outra vez Glória Pires, com seu tema, "Pense e dance", do grupo Barão Vermelho, rock pop que representava em seu andamento a velocidade com que a personagem agia no inicio da história para atingir seus escusos objetivos.



Entretanto há vezes uma certa falta de imaginação; isso pode ser dito pelo fato da música "Erva Venenosa", do grupo Erva Doce, ter sido usada pelo menos duas vezes: há pouco como tema das vilãs cômicas de Escrito nas estrelas, Sofia e Beatriz (Zezé Polessa e Débora Fallabella) e antes em 2001, tema absoluto da vilã Laila, de Um anjo caiu do céu, outra criação de Christiane Torlone, dessa vez mais cômica que a ensandecida Fernanda.



Por falar em comicidade, é curioso recordar o tema da vilãníssima Andrea Souza e Silva, vivida magistralmente por Natália do Valle em Cambalacho, de Silvio de Abreu. Era o rock "Perigosa", da obscura banda Syndicatto. A música virou uma grande brincadeira, como uma espécie de prefixo musical toda vez que a personagem agia de modo cruel, com seu refrão "Perigoooosa" .



Tivemos ainda bolas furadas como em A Favorita. A música de Lenine, "É o que me interessa", uma canção triste e delicada de certo modo esvaziou-se quando se soube que a dona do tema era na verdade uma psicopata. Talvez nesse caso uma música instrumental neutra fosse melhor.

Já, um ano depois, vemos do mesmo Lenine, a excelente "Martelo Bigorna", que casa perfeitamente à personagem da ambiciosa Ivone (Letícia Sabatella), em Caminho das índias. Curioso é que se pode afirmar até que a música nesse caso ajudou muito a melhorar a personagem, com seus volteios de arranjo marcado por violinos, o que combinava com as idas e vindas da misteriosa e cínica vilã de fala doce.

Já, voltando um pouco no tempo, muito mais direto é o tema da vilã absoluta do sucesso de Silvio de Abreu, Guerra dos Sexos, Carolina, vivida excepcionalmente por Lucélia Santos. Temos um autor/ cantor bissexto em novelas, Raul Seixas, cujo eu lírico descreve a amada com desígnios "românticos" como " megera do amor", "vil caipora" e "jiboia do amor" em sua linda música "Lua Cheia"... que cai como uma luva para a amoral personagem que brinca com o amor do homem vivido por José Mayer, o heroico lutador Ulisses. Também outro tema marcante da mesma atriz é o de sua primeira vilã, Fernanda, de "Locomotivas", o soul "Coleção", cantado por Cassiano, que diz "sei que você gosta de brincar de amor" e "um dia você vai sentir por alguém o que hoje eu senti", o que denota a inconsequência da personagem , uma menina mimada, vilã de uma novela mais leve, mas um personagem muito bem escrito pelo saudoso Cassiano Gabus Mendes.

Porém ainda, além da já citada "Saga", tivemos dois bons exemplares de temas muito bem aproveitados nos folhetins. A cruel e amarga "Além do paraíso", tema de Judite em Caras e Bocas (Débora Evelyn) a qual diz em seus "puros versos" "perversa serpente do mal, mentirosa e traidora"... vestida nas vestes mais lindas, quem vê diz que é boa pessoa " e por aí vai destrinchando todas as qualidades dessa vilã , ora tipo, ora humanizada pelo desprezo sofrido, em uma letra quilométrica de Totonho Villeroy e cantada pela excelente Jussara Silveira.

E, por "fim", ao o tema daquela vilã que mereceu uma cena final apenas para ela na trama de Sílvio de Abreu, "Passione", a vilã/mocinha/ Clara com a ótima Fogo e Gasolina, composição de Pedro Luis e do letrista Carlos Rennó, que continha versos como "Você é um avião, eu sou um edíficio, eu sou um abrigo, você é um míssil" que denota a perfeita combinação entre a vilã e seu parceiro. Porém, também dessa vez a composição foi mais adequada do que o casal em si, que naufragou devido a uma composição inadequada do ator.

Claro que muitas outras canções poderiam ser citadas, das vilãs que amamos odiar, por isso convido vocês que lerem esse post a enumerar as que vocês gostam, juntamente com o tema, seja ele passional, sensual , amargo etc.

A vilania apresenta muitas faces, por isso sempre queremos expiar nossas pequenas maldades e atos nem tão corretos por meio da ficção.


Fotos: Google imagens
Vídeos: You Tube.
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