sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O FUTURO DAS TELENOVELAS ESTÁ NO HORÁRIO DAS SEIS?

Por Rafael Tupinambá
Não é novidade para nenhum crítico ou apaixonado por televisão, que esta mídia tem passado por profundas mudanças. A tecnologia digital proporcionou um enorme salto na qualidade de imagem e som, a internet permite um acesso fácil e imediato a conteúdos, especialmente filmes e séries e os aplicativos móveis se tornam cada dia mais indispensáveis. Com isso, a luta pela audiência trouxe uma ode de “popularização” da programação como poucas vezes foi visto. As emissoras partiram pra cima da “Nova Classe C”, que hoje é maioria da população brasileira e um público ainda com perfil consumidor de TV aberta.
Se focarmos nas telenovelas, podemos observar claramente esse fenômeno. A atual novela do horário das 21hs, Fina Estampa, apresenta uma história maniqueísta, com personagens caricatos e uma história colecionadora de clichês. Contudo, é fácil perceber que o folhetim se tornou um curioso e significativo sucesso depois de três audiências insossas (Viver a Vida, Passione e Insensato Coração). Aguinaldo Silva trouxe uma trama que vai totalmente ao encontro das aspirações e expectativas dessa nova classe, com uma estética caricatamente pasteurizada que se aproxima das novelas mexicanas, grande rival da Rede Globo no mercado internacional.
Mas não é só isso. Com medo de arriscar e ver uma fatia do público do horário nobre migrando para outras emissoras, a Rede Globo vem repetindo fórmulas. Seus autores não criam mais histórias e sim reconfiguram personagens e cenários em estruturas cômodas. É só lembrarmos que a última “queridinha” de público e crítica foi A Favorita, escrita por João Emanuel Carneiro, que em sua terceira novela estreava às 21hs. Novelas ousadas e ao mesmo tempo populares como Tieta ou Vale Tudo são cada vez mais raras. Algum desavisado pode até opinar que Janete Clair também repetia suas apostas, mas ninguém sabia “reescrever” personagens como ela!
O horário das 19hs se configurou como um espaço bem próximo à comédia, tendo alguns bons resultados também quando conseguiu conquistar os espectadores jovens. Nos últimos anos tem lutado para chegar há uma estabilidade, alcançando sucessos como Da Cor do Pecado e Cobras e Lagartos, também de João Emanuel, Caras e Bocas, de Walcyr Carrasco e o remake/adaptação de Maria Adelaide Amaral para Ti Ti Ti de Cassiano Gabus Mendes, grande mestre do horário.
E o Horário das Seis? Efetivado na grade da Rede Globo em 1975 com a adaptação de Helena feita por Gilberto Braga, o horário era originalmente voltado para novelas leves e românticas e muitas tramas de época. Mesmo tendo até o final dos anos 90 um orçamento bem menor que a novelas das 20hs, a Globo divulgou às 18hs o máximo de requinte e luxo nas adaptações de clássicos da literatura brasileira e outras importantes temáticas atuais. É impossível não se lembrar do enorme sucesso de Escrava Isaura, novela que durante muitos anos foi a mais vendida internacionalmente e transformou Lucélia Santos em estrela observada até na China. Esse talvez seja o horário que mais sofreu com a mudança do perfil do brasileiro e principalmente, da dona de casa, nos últimos anos. Afinal, quantas pessoas vocês conhecem que estão em casa antes das sete da noite? Mas foi aí que Gilberto Braga escreveu suas primeiras novelas e Walther Negrão lançou seus principais sucessos como: Livre pra Voar, Direito de Amar, Fera Radical, Tropicaliente, Anjo de Mim, Era uma vez... Manoel Carlos, afastado das novelas globais desde 1983, retorna em 1991 escrevendo Felicidade, e depois, em 1995 escreve História de Amor. Benedito Ruy Barbosa concebeu grandes obras como: Cabocla, Paraíso e Sinhá Moça. Todas foram adaptadas recentemente e repetiram o mesmo êxito. A partir de seus sucessos, autores foram levados para outros horários, como Walcyr Carrasco, que escreveu aí seus três maiores sucessos: O Cravo e a Rosa, Chocolate com Pimenta e Alma Gêmea. Também foram exibidas às 18hs dois grandes sucessos da televisão brasileira: Barriga de Aluguel e Mulheres de Areia. Aliás, Ivani Ribeiro foi a Rainha das Seis. Lançou Amor com Amor se Paga, Sexo dos Anjos e a coqueluche dos anos 80, A Gata Comeu.
O Horário das Seis, atualmente, é o que mantém a média mais regular se pegarmos a audiências de suas últimas novelas. Depois do fracasso Negócio da China, Paraíso conseguiu alavancar a audiência e os bons números se mantiveram em suas sucessoras. E não se trata apenas de números. O horário revelou autoras como Elizabeth Jhin (apesar de seu insucesso anterior, Eterna Magia), Lícia Manzo e a dupla Telma Guedes e Duca Rachid. Cama de Gato trouxe uma trama ágil e engenhosa, como nos bons tempos das 20hs, além de uma boa vilã: Verônica (Paola Oliveira). Escrito nas Estrelas foi uma novela despretensiosa e sensível, com especial destaque para a química de Humberto Martins e Nathália Dill. As duas novelas mais recentes, Cordel Encantado e A Vida da Gente, são o mais perfeito exemplo que ousadia e melodrama, inovação e popular podem andar juntas. Seja pela riqueza de referências estéticas, pelos diálogos mais longos ou abordagens mais profundas. Exibida entre 2010 e 2011, Araguaia, de Walther Negrão, foi à primeira novela HD do Horário das Seis.

Voltando aos questionamentos colocados no início do texto, aonde irá parar a conhecida TV aberta? E como a novela diária se encaixará nisso tudo? Não se esquecendo de reinventar-se, reciclar, ousar, discutir. A novela precisa estar há um passo do público para manter-se viva. Tramas mais “enxutas”, com um menor número de personagens, aproximam mais a história do espectador, levando a torcida, a fidelidade, resultados obrigatórios de uma boa telenovela. Afinal de contas, novela é antes de qualquer coisa, entretenimento. Com um público fiel, uma audiência abaixo dos 30 pontos, menos capítulos e menos duração de cada um, os riscos no Horário das Seis são menores. A Rede Globo já anunciou que depois de Amor, eterno Amor, substituta de A Vida da Gente, será lançada uma trama de época do novato João Ximenes Braga. Talvez não seja nele o novo recanto da boa novela?
Essa é minha primeira reflexão no "Posso Conta Contigo?" Acho que como texto de estréia levantou uma boa questão. Ai...escrevi demais! Valeu galera, pelo convite! Já já tem mais.

13 comentários:

  1. Que estreia em grande estilo, Rafael!

    Ótimo trabalho de pesquisa, conseguiu narrar com precisão, detalhes e de maneira contundente a trajetória do horário das 18 horas que, ao meu ver - e conforme seus próprios argumentos -, é o que tem apresentado maior estabilidade e a melhor safra de novelas atualmente, seja em qualidade, seja em audiência, ou em ambos os aspectos.

    E a tendência parece mesmo ser essa: tramas mais simples no horário mais visado da Globo - as 21 horas - a fim de angariar audiência para essa faixa, que vinha sofrendo nos números do IBOPE, haja vista o grande sucesso do humor de Fina Estampa (mais bem recepcionado pelo público do que os dramas e o estilo policial e pesado das últimas novelas do horário). Pelas notícias que circulam, parece que Avenida Brasil de João Emanoel Carneiro vai ter um quê de popularesco a fim de manter o público de Fina Estampa no horário - jogadores de futebol, mulher sensual que se envolve com toda a vizinhança, núcleo no lixão etc.

    As tentativas de narrativa diferenciada e ousada como Cordel Encantado e Cama de Gato, ou mais intimista como da atual A Vida da Gente parecem ser o objeto-tendência de experiência para o horário das 18 horas. O horário parece ser laboratório para tais experimentos e para teste de novos autores.

    Mais uma vez parabéns pela bela estreia e que seja o primeiro de muitas reflexões no PCC!

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  2. Sim, a sociedade mudou e a TV aberta segue mesmo caminho, mas o que não podemos padronizar, como arma de conquista, esse apelo popularesco de algumas das tramas citadas. A sociedade mudou, impulsionada pelos avanços tecnológicos, então dessa maneira haveria emburrecido também? Se público de TV aberta, segundo os especialistas, sempre foi a dita classe, por que novelas com tramas mais elaboradas fizeram sucesso e história nas décadas de 80 e 90.

    Será que a sociedade mudou a tal ponto, que chega a satisfazer-se com engodos tão ralos quanto o remake de Ti Ti Ti e a imbecilizada Fina Estampa?

    Final dos tempos!

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  3. O horário das 21 horas tem deixado de ser nobre a muito tempo, o das 19 horas é uma gangorra (ora em cima, ora embaixo) e o das 18 horas é o único que vem, com regularidade, cumprindo sua meta de audiência (ou próximo dela) e de bom entretenimento.

    Concordo com todos os termos do texto. Hoje em dia sempre fico mais ansioso pelos trabalhos das 18 horas do que com as repetições das fórmulas dos autores consagrados às 21 horas: sempre vai ter as Helenas do Maneco, os ''quem matou'' do Gilberto Braga, as tramas policiais do Sílvio de Abreu, as vilãs mexicanizadas do Aguinaldo Silva, os amores impossibilitados por choque de culturas da Glória Perez.

    Sim, o horário das 6 é o futuro da telenovela e dos novos bons autores.

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  4. Pessoal, só agora percebi um erro! Graças a ajuda do nosso querido Ivan Gomes. Final Feliz e Hipertensão, ambas de Ivani Ribeiro, foram exibidas às 19hs! Foi um "lápis"...grato! rs

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  5. Sempre gostei do horário das seis e nunca "preferi" um ou outro. Meu interesse sempre foi em boas tramas. Barriga de Aluguel e Fera Radical eram praticamente "novelas das 20h" exibidas às 18h. Esse novo caminho encontrado pelas novelas das seis não é tão novo assim. Na verdade é uma volta ao que se fazia nos anos 80/90, com tramas mais curtas (entre 155 e 185 capítulos), número menor de personagens e tramas mais ágeis. É a novela finalmente encontrado o caminho entre a qualidade do passado e as exigências do público de hoje. Mesmo com alguns exageros, o atual horário das 18h não ofende a inteligência do público. Mesmo com audiência menor do que a de outros horários, as novelas vão, aos poucos, acostumando o público a uma teledramaturgia mais consistente, misturando o folhetinesco que o gênero pede, com qualidade de texto.
    Ótimo texto, Rafael! Excelente estréia!

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  6. ahhahaha valeu Rafinha! eu tinha comentado isso, mas nao entrou! o texto ta otimo e concordo com ele!

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  7. Muito bom seu post, parabéns!!
    Realmente... As novelas das oito estão deixando a desejar. Embora esteja acompanhando quase todo dia Fina Estampa, parece que ainda falta aquela magia que as novelas mais antigas tinham...
    Não apenas isso. O perfil do telespectador tb mudou.
    A TV terá que se readaptar pra continuar tendo seu espaço na casa dos brasileiros, embora eu creia que novela no Brasil é que nem futebol: paixão nacional!
    Beijos!!

    www.babadogeralpop.blogspot.com

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  8. Bom texto, Rafael! Panorama fantástico que você traçou. Tenho acompanhado "A Vida da Gente" pela abordagem cotidiana, sutil e humanista que Lícia Manzo faz sobre a existência (também sou escritor e gosto das teses que ela defende). Quanto a "Fina Estampa" e "Aquele Beijo", não consigo digeri-las. Aquele abraço.

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  9. belíssima estréia, Rafael... texto pertinente!

    agradeço ao Jocélio, Alex, Walter, Ivan, Diogo e Antônio, pelos comentários... voltem outras vezes, queridos!

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  10. O horário das 18 horas tem mostrado novamente o seu valor. Mas para mim isso não se aplica A Vida da Gente. Acho uma novela chata, lenta e costurada. Sim tem um elenco espetacular, atuações excepcionais, principalmente do elenco feminino que domina o trama de ponta a ponta. Mas eu acho a novela muito pesada. É um texto eficiente o de Lícia Manzo, mas no momento não é o que a maior parte do público compra, haja a vista a baixíssima audiência.

    Eu não acho muito atrativa, mas é uma questão de gosto e isso é muito subjetivo.

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  11. o horário das 18:00 tem nos dado mais ou menos, relativamente, o que era o horário das 22:00, um modo de se experimentar fazendo novelas com temas já consgrados como espíritas, histórias de fantasia( grande novidade no gênero) e essa trama densa que não tem medo de ser triste até o ultimo grau...acho comédia muito importante, mas um drama bem feito é espetacular...como disse uma vez a Beatriz Segall, há muitoas coisas que não precisam ser discutidas no meio de risos(algo assim), e eu concordo muito com ela. parabéns, Raphael..adorei seus estudo... só discordo qto ao fato da Favorita ser queridinha do público...

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  12. Gostei do texto. Parabéns.

    A bem da verdade, a faixa das 18h tem se revelado cada vez mais interessante que as outras... Além de claro, ter revelado a Duca & Thelma, a Lícia Manzo, e ter lavado a honra da Elizabeth Jhin...

    A faixa das 18h é a mais estável, sem dúvidas.

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  13. Bacana o texto, Rafa.

    Sim... acho que o horário das seis é a esperança da teledramaturgia da TV Globo. Escrito nas Estrelas, Cordel Encantado e a belíssima A vida da gente comprovam que a emissora está se abrindo mais ainda para pensar num novo modo de fazer novela... diferente daquele usado por Dias Gomes na malfadada Araponga, em 1990.

    Quando vejo uma trama como Cordel Encantado e A vida da gente, confesso não entender apostas pré-equivocadas como Morde e Assopra. Não sei se a solução para as novelas seja o horário das seis... acredito que seja mais pela ousadia. São produções caras, requintadas, com imagem bem tratada, diferente de Aquele Beijo, que tento assistir para tentar entender e desisto, porque a considero muito confusa. Aquele Beijo é uma trama que tinha tudo pra dar certo. Uma narrativa do autor, dando estilo aos capítulos, uma abertura que não corresponde à história que vemos na novela (sim... pois isso também é muito importante. A abertura vende em 50" o peixe da novela. Quando ela mostra uma coisa bonita, sedutora e nostálgica e não vemos isso na trama, algo não casou bem) e atores medianos, que não acompanham as escadas que profissionais como Marília Pera, Diogo Vilela e outros dão.

    A faixa das seis, mesmo com produções caras e diferentes, se destaca na audiência também porque é o horário onde a pontuação almejada geralmente é alcançada, pois o público é menor. Porém, não há como não admitir Se bemque novelas como O Cravo e a Rosa, Chocolate com Pimenta, Alma Gêmea, Sinhá Moça, Cacloca, Cama de gato, Escrito nas estrelas, Cordel Encantado e A vida da gente são a comprovação de que quando a coisa é boa ela é boa mesmo.

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