sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A NARRATIVA NO TEATRO MUSICAL

Por Romulo Barros 

Curiosamente mesmo sendo um país muito rico musicalmente falando, o Brasil é pobre em se tratando de espetáculos musicais. 





Contamos nos dedos os espetáculos desse gênero como: Gota d’água, Ópera do malandro, de Chico Buarque de Holanda, Sete, de Cláudio Botelho e Ed Motta, Ô Abre alas, Império, entre outros. Mas normalmente importamos grandes espetáculos da Broadway, rua que concentra os grandes teatros em Nova York ou do West End Londrino, bairro dos teatros ingleses.



Talvez isso se deva às especificações do autor que precisa aliar ao talento de dramaturgo as qualidades de compositor, letrista e fino poeta. Parabéns para aqueles que conseguem congregar todas essas qualidades.

O musical é um estilo de teatro que congrega música, canções, dança e diálogos falados. Só nessa frase vemos a complexidade que pode ser a criação e escritura desse espetáculo. Ele está intimamente ligado a ópera e ao cabaré. Os três apresentam estilos singulares, mas estão intimamente integrados.


O cabaret nasceu nas tavernas e com os menestréis medievais. Depois invadiu a Europa no início do século XIX. Posteriormente se transformou no chamado teatro de bolso, pequeno teatro feito em pequenos espaços. Em seguida se transformou em pequenos shows noturnos com novas expressões musicais que chamamos de alternativos.

Já o grande musical é uma dissidência da ópera clássica. A estrutura que conhecemos hoje foi estabelecida em 1943 com a estreia de “Oklahoma!”, de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II. 


O que passou a ser diferente? A narrativa não parava para ser executada uma canção, a história seguia firme dentro das canções e com isso o tema fluía sem problemas. Ficou mais interessante. Os personagens eram bem desenvolvidos, assim como as coreografias que ajudavam a contar o enredo sem a desculpa para colocar mulheres com roupas reduzidas no palco.


Rodgers e Hammerstein desafiaram a convenção dos musicais ao colocar uma voz fora do palco cantando em vez de um coro de garotas no primeiro ato. Oklahoma! foi o primeiro “blockbuster”, grande sucesso dos shows na Broadway feito para a família americana.

Junto criaram uma coleção extraordinária de clássicos mais amados e duradouros musicais: Carrousel (1945), South Pacific (1949), The king and I (1951), Cinderella (1957) e The sound of music (1959). Mas para que o sucesso de um musical aconteça antes é preciso um imenso trabalho colaborativo.

Normalmente existem vários autores em um musical, os escritos por uma pessoa só são quase raros. O roteirista de musicais cuida da estrutura do tema, o compositor da música, o letrista da parte lírica ou todas essas partes podem ficar sob a responsabilidade de uma só pessoa, o escritor/compositor.

Não existe uma regra para o que vem primeiro, se é a música ou a letra. Às vezes a melodia inspira uma letra ou a letra a melodia. Contudo a maior inspiração para todos os roteiristas de musicais é o tema da história principal.

A ideia para um espetáculo musical pode vir dos próprios autores ou pode vir de quem os contratou para a composição do espetáculo. O teatro musical tem a tradição de converter livros e outros materiais para o gênero. A mais conhecida transposição de livro para musicais é O fantasma da ópera de Andrew Lloyd Webber.

Nunca esquecer que a história de um musical segue uma linha dramática teatral pura.E mesmo que seja uma comédia ou drama, sempre terá uma inflexão romântica.

3 comentários:

  1. Texto primoroso, nível lá em cima... coisa de quem entende do assunto... muito bom poder contar com você no blog, Romulo... Certamente que eu e o "Teatro" brasileiro agradecemos pela importante observação aqui feita.

    Até a próxima!

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  2. Rômulo, eu gosto muito de assistir musicais no cinema e na TV, e um grande desejo meu é assistir musicais no teatro! Deve ser uma experiência sublime!
    Parabéns pelo texto! Abraço!

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    1. Denis, é uma sensação maravilhosa. Quando morava no Rio não perdia um sequer que estivesse em cartaz na cidade! Desde os grandes até os de orçamento enxuto! Você vai amar quando for a um! O primeiro musical que ouvi falar que estava sendo montado no Brasil foi Les Miserables, que o Cláudio Botelho traduziu para o português. Li uma matéria na Veja e me apaixonei por musicais. Infelizmente era muito novo para ir a São Paulo assistir. Obrigado pelo comentário! Está gostando dos textos??? Abração!!!!

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