terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

"Pin - Up" - Novela de Alex Spinola (2º Capítulo)


2º Capítulo
CENA 01. INT. BAR O ANTRO/PALCO. NOITE
Sentada sobre um piano e com uma bela cruzada de pernas, LÚCIA finaliza sua apimentada versão de “Fever”, de Peggy Lee. A PLATEIA delira.  Ela faz uma mesura e ameaça retirar sua máscara fetichista. ERNESTO, em sua mesa cativa, a incentiva.
ERNESTO:  Então será hoje que veremos a cara da mulher do diabo?
HOMEM: (ao fundo da platéia) Deixa de palhaçada, Ernesto! Talvez você seja o único aqui, que conheça não só a cara da mulher do diabo, mas todo o resto também!
Do palco, LÚCIA despe-se de parte de sua liga, que está presa a uma das coxas, e atira na mesa de ERNESTO. Mais GRITOS e APLAUSOS.
CENA 02. EXT. FACHADA DA TV TUPI-SÃO PAULO. DIA
PÉROLA e MERDECES conversam com o PORTEIRO do prédio da emissora, um crioulo de meia idade.
MERCEDES: Por que nós não podemos entrar ?
PORTEIRO: Porque não existe nenhum teste agendado, minha senhora.
PÉROLA: (envergonhada) Mãe, a senhora me disse que estava tudo certo!
MERCEDES: E está, minha filha! É esse porteiro de araque que está de má vontade. Olha aí, nessa sua papelada, se o nome da minha filha, Pérola Sodré, não está aí, vamos, anda logo! Sabe ler,meu filho?
PORTEIRO: Minha senhora ,eu não sou analfabeto. Se a senhora continuar a insistir, eu vou ser obrigado a tomar outras providências!
MERCEDES: Tomar outras providências. Até parece gente falando! Vamos embora, Pérola, eu conheço pessoas que podem reclamar por mim!
Elas se afastam da emissora.
PÉROLA: Quem a senhora conhece, mãe? Ficou claro, meu nome não estava lá!
MERCEDES: Fica quietinha, Pérola! Eu não ia ficar por baixo. Essa gente ainda há de se estirar no chão, feito tapete, pra quando você passar! Principalmente esse macaco fantasiado de porteiro!
CENA 03. INT. PALACETE DE ARMANDO/SALA. DIA
Ambiente requintado. ARMANDO MONTEMOR, 60 anos, envolto num hobby de seda, espalma uma espécie de jornal amador no rosto de ERNESTO.
ARMANDO: Me diz, Ernesto, pra que eu preciso de um assessor? Pra que eu te pago, seu borra-botas de merda? Você não tem culhões pra liquidar com o responsável por essa gazetinha amadora que serve pra difamar gente de bem, como eu!  Boca de Matilde, isso lá é nome? Eles atiram pra todos os lados, políticos, artistas, magnatas! Leia, leia o que eles publicaram!
ERNESTO titubeia.
ARMANDO: (aos berros) Leia, seu filho da puta!
ERNESTO: (desamassando o jornalzinho) “Armando Montemor, o poderoso produtor da TV Tupi, abusa da bebida e espanca garçom na festa do lançamento da coleção de Madame Rosita. Dizem, à boca pequena, que o garçom negou-lhe mais que uma simples taça de champanhe.”
ARMANDO: Eu espanquei aquele infeliz, Ernesto?
ERNESTO: Bem, Armando, você não foi lá muito gentil com o fulano.
ARMANDO: Naturalmente, ele derrubou bebida no meu smoking!
ERNESTO: Derrubou?
ARMANDO: Claro que derrubou!  Você teria visto, se não estivesse correndo atrás de algum rabo-de-saia!
ERNESTO: Bem, na verdade, quase ninguém presenciou a cena.
ARMANDO: E como uma notícia maldosa como essa veio parar nessa gazeta sensacionalista?
ERNESTO: (desconversando) Não sei...
INSERÇÃO DE FLASHBACK:
INT. MAISON DE MADAME ROSITA/ SALETA. NOITE
Porta entreaberta. VEMOS ERNESTO ao telefone. Enquanto fala, ele observa a movimentação no SALÃO principal.
ERNESTO: (disfarçando sua voz) É isso mesmo, camarada, é mais um furo que eu estou de dando. Fazer o que, se o velhote não para de aprontar? Pode publicar, a notícia é quente!
CORTA RÁPIDO PARA:
INT. PALACETE DE ARMANDO/ SALA. DIA
ERNESTO: ...Não sei, Armando! Mas eu já te disse: você precisa sair do foco!
ARMANDO: (interrompendo o outro, gritando pela governanta) Olga, me traga um uísque!
ERNESTO: É isso, Armando, sair do foco!
OLGA, 40 anos, traje impecável, magra como uma sílfide, entra na sala, munida de bandeja, copos e uma garrafa de uísque, e já se põe a servi-los.
ARMANDO: Só pra mim, pra ele não!
OLGA: Sim, doutor Armando.
ARMANDO: Sair de foco, Ernesto? Um homem público, um homem de TV? Pode ir, Olga. Obrigado!
OLGA recolhe sua tralha, já deixando a sala.
ERNESTO: (falando baixo) Um novo casamento, Armando.
ARMANDO: Casamento?
OLGA ouve o berro questionador de seu patrão. Perde o controle e derruba a bandeja. CACOS e CUBOS DE GELO deslizam pelo assoalho.
CENA 04. PENSÃO/ COZINHA. TARDE
PÉROLA e MERCEDES acabam de chegar. ADÉLIA nota a tristeza da garota.
ADÉLIA:  (acariciando os cabelos de Pérola) E então, uvinha, como que foi lá na TV Tupi, viu o pão do John Herbert?
MERCEDES sinaliza para que a filha se cale. PÉROLA não entende o sinal.
PÉROLA: Não passamos da portaria, dona Adélia.
ADÉLIA: (encarando Mercedes) Judiação, minha uvinha.
MERCEDES: O macaco  que estava na portaria não sabia ler!
ADÉLIA: Vem cá, lindinha. Eu guardei a bóia de vocês no forno, tá quentinha.  Você come, descansa, que mais tarde a dona Adélia vai ler seu futuro, aqui, na palminha da sua mão. Tudo vai dar certo, viu? Agora, vocês fiquem à vontade, que vou ali, ver o serviço das roupas. A desgramada da lavadeira tinha que me deixar na mão.
ADÉLIA sai. MERCEDES e PÉROLA sentam à mesa.
MERCEDES: E você, não caia nas macumbices dessa velha doida, hein? Claro que tudo vai dar certo.
PÉROLA: Mãe, a Lúcia me falou de uma vaga que abriu lá no hospital que ela trabalha, é pra telefonista.
MERCEDES: Imagina, trabalhar à noite! Você envelhece, perde o viço, e depois vai fazer teste como, parecendo um zumbi?
PÉROLA: Mãe, nós estamos quase sem dinheiro, antes zumbi do que indigente de rua. Eu resolvi. Eu vou aceitar a vaga.
MERCEDES: Quero só ver, você não agüenta uma semana! Trabalhar à noite não é bolinho não, minha filha!
Escondido, próximo a porta, CASTRO ouviu toda a conversa. Ele sorri.
CENA 05. EXT. CEMITÉRIO/ SALA DE VELÓRIO. TARDE
Poucas pessoas ao redor do caixão de GINO BONELLI. Desesperado, ROCCO chora, sentado num canto. Bêbado, JOSÉ invade a cerimônia.
JOSÉ: Esta aí o desgraçado que corrompeu com a minha família.
ROCCO: Seu José, pelo amor de Deus!
JOSÉ: Não bota Deus dentro dessa sua boca imunda, seu playboy de merda.
JOSÉ avança contra ROCCO.  Alguns HOMENS o detêm, arrastando-o para fora.
JOSÉ: Escreve o que eu vou te dizer, fedelho: eu vou acabar com a sua vida!
CENA 06. INT. PENSÃO/ QUARTO DE PÉROLA. NOITE
Porta entreaberta. MERCEDES veste sua camisola. CASTRO entra devagar, assustando-a.
MERCEDES: O que você quer?
MERCEDES: Sua filha saiu com a esquisitona?
MERCEDES: Foi ver uma vaga de telefonista no hospital que a outra trabalha. Por quê?
CASTRO: Por nada. Você não foi junto?
MERCEDES: A Lúcia ia se passar por tia da Pérola. Diz que eles só contratam gente conhecida, parente de funcionário. Isso é la da sua conta?E você, não tinha que estar trabalhando ?
CASTRO: Meu turno de vigia na obra, começa mais tarde.
MERCEDES: Me dá licença, que eu vou dormir.
CASTRO: Tá cedo demais pra dormir, grandona.
CASTRO agarra MERCEDES.
MERCEDES: Me solta, seu cabeça chata!
CASTRO: Não adianta bancar a difícil, eu sei que você gosta. É de longe, que eu conheço uma puta. Tá escrito na sua testa, que você já foi da fuzarca
MERCEDES procura se safar. CASTRO rasga sua camisola e a empurra para a cama. Ela tenta gritar, mas ele a silencia.
CASTRO: Fica quietinha, grandona, nem faz força pra gritar, porque a dona Adélia já tá meio surda. E aproveita que tem um macho de verdade te pegando.
MERCEDES reluta. Com uma das mãos, CASTRO livra-se das calças. Ela reluta um pouco mais, até se entregar totalmente. CASTRO nem precisa mais silenciá-la. MERCEDES arranca o resto das roupas dele, joga-o no chão e monta sobre ele. Sexo quente, selvagem e rápido. MERCEDES enrola-se num lençol e afasta-se de CASTRO.
MERCEDES: Suma da minha frente, seu animal. Seu retirante imundo.
CASTRO: (vestindo-se) Gozou, né, grandona? Tava com falta de macho. Aposto que seu marido era um frouxo. Se tua filha, aquela uvinha, for seguir a mesma carreira da mãe, vai ganhar muito dinheiro.
MERCEDES acerta um bofete nas fuças de CASTRO. Ele revida.
CASTRO: Não bate na cara de homem, não,  sua puta. Abre o olho com a tua filha e a esquisitona da Lúcia, aquilo lá, é tão puta quanto você!
CENA 07. INT. APARTAMENTO. NOITE
 Imóvel desocupado. Pouca mobília. Pela janela, PÉROLA e LÚCIA observam o tráfego na AVENIDA SÃO JOÃO.  TOCA a campainha. GABRIEL, que ajusta uma câmera fotográfica, atende a porta. É Ernesto, que chega carregando uma pequena mala.
LÚCIA: Conseguiu tudo, Ernesto?
ERNESTO: O que deu pra pegar lá no estúdio, eu peguei.
PÉROLA: (receosa) Pegou o que, Lucia?
LÚCIA: Pérola, esse é Ernesto Romani, assessor daquele produtor famoso, que eu te falei. O Armando Montemor!
PÉROLA e ERNESTO cumprimentam-se.
ERNESTO: Pérola, a Lúcia deve ter te falado que nós precisamos impulsionar sua carreira, essa história de teste, é só pra inglês ver, tá ultrapassada. Você precisa se fazer notar. E nós vamos te ajudar nisso. Vamos produzir um álbum revolucionário. As Pin-Up’s americanas serão nossa inspiração, essas fotos vão para as mãos de Armando. Ele tá saturado dessas garotinhas do teatro. Ele quer sangue novo na televisão brasileira. Ele quer uma estrela. E você tem borogodó
PÉROLA: (inocente de tudo) Eu não tenho dinheiro pra pagar nada disso, nem sei se tenho talento pra essa coisa de televisão. Isso é mais um sonho da minha mãe.
ERNESTO: Você é linda! E isso basta!
LÚCIA: Não fique com medo, querida!  Você está em boas mãos.
PÉROLA sorri. Um FLASH da câmera de GABRIEL eterniza esse momento.
CENA 08. INT. EXT. VÁRIOS PLANOS. DIA. NOITE
PASSAGEM DE TEMPO:
EXT. FACHADA DA PENSÃO/ DIA
MERCEDES, desgostosa da vida e fumando, olha para a tabuleta pendurada no portão da pensão, onde se pode LER: COSTUREIRA. FAZEM-SE VESTIDOS.
INT. APARTAMENTO/ ESTÚDIO IMPROVISADO. TARDE
PÉROLA posa para as lentes de GABRIEL: Seminua numa cama forrada com uma colcha de veludo escarlate, lendo e fumando dentro de uma banheira, encarnando a dominatrix.
INT. PENSÃO/ SALA. NOITE
LÚCIA, fantasiada de enfermeira, aguarda PÉROLA, que se despede de MERCEDES.
INT. BAR O ANTRO/ PALCO. NOITE
Estabelecimento fechado.  LÚCIA ensaia PÉROLA em algumas coreografias. Mesmo melancólica, a garota parece se divertir. Na platéia, apenas GABRIEL e ERNESTO, incentivando-as.
INT. PENSÃO/ COZINHA. DIA
PÉROLA e LÚCIA chegando do trabalho. Na velha máquina de costura, MERCEDES queixa-se para ADÉLIA:
MERCEDES: Esse foi o único pedido da semana.
ADÉLIA : É a carestia,minha filha! A carestia!
EXT. FACHADA DA MANSÃO DE GINO. MADRUGADA
Embriagado, ROCCO salta de seu Aero Willis, e é amparado por dois AMIGOS.
AMIGO 1: Rocco, desse jeito, você vai à falência!
AMIGO 2: Toda noite numa farra dessas! Vai largar os negócios do seu pai nas mãos dos funcionários? O dono sai, os ratos fazem a festa!
ROCCO: (mal se agüentando) E pra que eu quero saber de negócios? Eu nunca dei pra isso mesmo. E pra que eu quero saber de dinheiro, se foi ele que arrancou a mulher da minha vida? E vocês querem saber de uma coisa: eu vou atrás dela, eu vou procurar a minha Pérola!
INT. PENSÃO/ QUARTO DE PÉROLA. AMANHECER
PÉROLA entra sem fazer barulho. MERCEDES ascende o abajur. A garota se assusta.
MERCEDES: (pulando da cama) Eu quero conhecer esse maldito hospital. Cada dia você chega num horário. Você está abatida, acabada. E que cheiro de álcool é esse?
PÉROLA: Não é álcool, mãe, é éter.
Desconfiada, MERCEDES ascende um cigarro.
CENA 09. INT. PENSÃO/ SALA. NOITE
FELIPE, um garoto de 17 anos, assiste à televisão, esparramado no sofá. ADÉLIA chega e o garoto se recompõe.
ADÉLIA: Seu tio Castro já foi pra obra, Felipe?
FELIPE: (sotaque nordestino) Foi sim, dona Adélia. Ele disse que vai arrumar uma vaga pra mim.
ADÉLIA: E você, tá gostando de São Paulo, Felipe?
FELIPE: Oxi. Cidade muito grande. Eu quero é trabalhar logo.
ADÉLIA: Olha lá, vai começar “Alô, Doçura!”. Ué, cadê a Mercedes, ela não perde um capítulo?
FELIPE: Depois que a menina Pérola saiu mais a dona enfermeira, dona Mercedes saiu também.
ADÉLIA: (murmurando a si mesma) Vai dar bode!
CENA 10. INT. BAR O ANTRO/ CAMARIM. NOITE
Agitação. LÚCIA dá os retoques finais na maquiagem de PÉROLA.
LÚCIA: Você está um estouro, pequena! Essa noite será sua. Anda, vamos cuidar do figurino!
Ao levantar-se, PÉROLA desmaia.  LÚCIA tenta reanimá-la. ERNESTO chega.
ERNESTO: Que merda é essa?
LÚCIA: Não sei, ela apagou!
ERNESTO: Vai lá! Ganha tempo com a platéia.
Na correria, LÚCIA se esquece de sua máscara.
CENA 11. INT. BAR O ANTRO/ PALCO. NOITE
Assim que entra, LÚCIA é ovacionada. Ela sorri e agradece, quando percebe que ARMANDO está na platéia, sentado à mesa cativa de Ernesto.  A expressão dela muda, Lúcia perde o chão. ARMANDO a encara. Ela deixa o palco. BURBURINHO na platéia.
CENA 12. INT. BAR O ANTRO/ CAMARIM. NOITE
PÉROLA já acordou e está vestida com seu figurino. ERNESTO nota o nervosismo de LÚCIA.
ERNESTO: O que foi, Lúcia? Você tá pálida?
LÚCIA: (desconversando) Nada! Você está pronta, Pérola?
PÉROLA: Acho que sim.
LÚCIA: Então vai, porque a noite é sua!
CENA 13. BAR O ANTRO/ PALCO. NOITE
VOZ MASCULINA (OFF): E agora, a autêntica brazilian pin-up, Pérola Lancaster!!!
E numa eletrizante versão de “Diamonds are Girls Best Friends”, totalmente cabaré, PÉROLA tem a platéia aos seus pés.  Numa mesa, bem distante do palco, VEMOS MERCEDES chorando, totalmente petrificada.
Na companhia de ERNESTO, PÉROLA deixa o palco, dirigindo-se ao salão. É cercada por alguns HOMENS mais afoitos.
ERNESTO: (para Armando, olhar de cumplicidade) Essa é a nossa garota, Armando! Essa é a garota da qual eu tenho te falado!
Vencendo o paredão dos HOMENS afoitos, PÉROLA  e ERNESTO chegam até ARMANDO. De uma COCHIA improvisada, LÚCIA os observa e também percebe o momento em que MERCEDES avança pelo salão, indo de encontro à filha. PÉROLA também VÊ a mãe. NOTAMOS o pânico na face da garota. MERCEDES se aproxima, mas é interceptada por LÚCIA.
LÚCIA: (segurando Mercedes) Você não seria louca em fazer um escândalo, justamente agora! Vem comigo!
Já na MESA de ARMANDO, PÉROLA mal consegue prestar atenção no que ele fala.
ARMANDO: Então você é a famosa Pérola, a nossa brazilian pin-up?
PÉROLA: (tensa) Acho que sim.
ERNESTO: Mais autêntica, impossível!
ARMANDO: Ernesto tem falado muito de você. Realmente, tem pinta de estrela! Estou impressionado.
ERNESTO: (radiante) É ou não é a estrela que a televisão brasileira tanto precisa, Armando?
ARMANDO: Vai ser do balacobaco, Ernesto!
CORTA PARA:
CENA 14. INT. BAR O ANTRO/ CAMARIM. NOITE
Clima tenso entre LÚCIA e MERCEDES.
MERCEDES: Então esse é o hospital pra onde você arrastou minha filha, sua vadia? A única doença que eu vejo aqui é você, Lúcia!
LÚCIA: Acho melhor você se acalmar, Mercedes.
MERCEDES: Me acalmar? Minha filha vestida puta, enfurnada nesse antro, e você me pede calma?
LÚCIA: Esse antro é diferente, Mercedes. Sua filha está mesa com um dos homens mais influentes da televisão brasileira, Armando Montemor. Isso aqui não é um cabaré de quinta categoria. Gente libertária, intelectuais. Todos estão aqui.  O Antro é onde as coisas acontecem. Você é experta, já deve ter percebido. Você quer ou não que sua filha seja alguém?
MERCEDES: Ser uma puta, você quer dizer!
LÚCIA: Sua filha escolheu o caminho certo, o caminho fácil!
MERCEDES responde ao argumento com uma bofetada.
PÉROLA presencia a cena.
PÉROLA: Você está louca, mãe?
MERCEDES: Foi isso o que você escolheu pra você, garota?
PÉROLA: Eu não escolhi nada! Eu estou vivendo o que você escolheu pra mim, o seu sonho! O sonho que você me empurrou goela abaixo, desde menina! Eu assumi esse sonho pra mim, e eu não quero outra coisa da vida. Agora suma daqui! A senhora sempre disse que o papai lhe podou. Você não vai fazer o mesmo comigo!
CENA 15. EXT. FACHADA DO BAR O ANTRO. NOITE
VEMOS MERCEDES deixando o bar, sob a vigilância de um SEGURANÇA, um típico leão-de-chácara.
FUSÃO PARA:
Belas imagens do AMANHECER não SÃO PAULO dos anos 50.
CENA 16. INT. PENSÃO/ QUARTO DE LÚCIA. MANHÃ
Envolta numa toalha, LÚCIA acaba de sair do banho. PÉROLA entra, surpreendo a amiga.
LÚCIA: Acordada ainda, menina? E a sua mãe?
PÉROLA: Tá dormindo.  Eu vim te pedir desculpas, por ontem.
LÚCIA: Ela não disse nada do que eu já não tenha ouvido. Você me deu um susto, com aquele desmaio.
PÉROLA: Eu estou tão angustiada.
LÚCIA: Por que, querida?
PÉROLA: Eu preciso te contar uma coisa.
LÚCIA: (preocupada) O que?
PÉROLA: Eu estou grávida.
MERCEDES invade o quarto de LÚCIA.
MERCEDES: (descontrolada) Grávida? De novo?
PÉROLA: Mãe?
LÚCIA: Suma do meu quarto, sua louca!
CORTA PARA:
CENA 16. INT. PENSÃO/ COZINHA. MANHÃ
ADÉLIA acaba de servir o café para CASTRO, FELIPE, GABRIEL e outros HÓSPEDES.
CASTRO: Café caprichado, hein, dona Adélia? Pão caseiro, bolo de milho.
ADÉLIA: Eu sempre capricho, seu bocudo!
GABRIEL: Isso mesmo, Adelita!
GRITARIA e FALAS ATROPELADAS chamam a atenção de ADÉLIA.
MERCEDES: (OFF) Então foi isso que você ganhou naquela zona, Pérola?
PÉROLA: (OFF) Me larga, mãe!
LÚCIA: (OFF) Deixa a menina, Mercedes!
MERCEDES: (OFF) Eu vou quebrar a sua cara, sua enfermeira de araque, sua puta!
ADÉLIA: (livrando-se do avental, já saindo) Jesus amado, elas estão se matando!
GABRIEL, CASTRO e FELIPE saem em seguida.
CENA 17. INT. PENSÃO/ QUARTO DE LÚCIA. MANHÃ
ADÉLIA e GABRIEL são os primeiros a entrar. PÉROLA está encolhida num quanto do cômodo.  LÚCIA está no chão, nua. MERCEDES, enlouquecida, está sobre ela, asfixiando-a, vociferando palavrões. ADÉLIA tenta detê-la, mas leva um safanão. GABRIEL parte em defesa de LÚCIA, quando MERCEDES interrompe seu ataque de fúria.
MERCEDES: (perplexa, já se levantando) Que monstro é esse? Isso é uma aberração!
MERCEDES afasta-se de LÚCIA, liberando o PONTO DE VISTA de ADÉLIA e GABRIEL.
LÚCIA ainda está no chão, sangue nos LÁBIOS, tentando pôr-se de pé. VEMOS o seu corpo esguio, firme, algumas cicatrizes próximas ao seu abdômen liso que termina numa genitália masculina. Um corpo firme, com curvas, sem pelos e torneado, mas sem dúvida, um corpo de homem.
FIM DO 2º CAPÍTULO.



Argumento e roteiro de Alex Spinola: 

37 anos, paulistano, capricorniano. Começou na arte da escrita bem cedo, aos doze anos, quando ganhou sua primeira máquina de escrever, um trambolhão da Olivetti. E dela saíram títulos cafonérrimos, "Passado Negro" e "Amor e Poder". Mas a paixão pela escrita surgiu bem antes, da feita que sua mãe o presenteava com inúmeras enciclopédias, para depois sabatiná-lo, é claro! "Mamãezinha Querida"? Talvez. A certeza de que tinha para escrever ganhou força anos depois, quando ganhou um exemplar de o "Manual Do Roteiro", de Syd Field. E tendo esse como bíblia saiu em busca de oficinas de roteiro, terminando na escola do crítico paulista de cinema, Celso Sabadin. Seu Mestre foi o inigualável Galileu Garcia. Produziu, nesse período, inúmeros argumentos. "Pin-Up" é um deles.

Zanzando pela Internet, conheceu um fecundo bando de apaixonas por roteiros, televisão e cinema e amizades se estreitaram. Isaac Abda e David Vallerio dão conta disso. E foi num desses encontros que o responsável pelo blog "Posso Contar Contigo?" lhe lançou um desafio: "Que tal escrever uma novela, um roteiro para ser publicado lá no blog?". Convite feito, convite aceito. O espaço em questão já havia sido inaugurado por David Vallerio e Lucas Nobre, autores da trama "Golpe Baixo". Além de novelas, é apaixonada por cinema - "Sunset Boulevatd e "Cidadão Kane" estão no topo de sua lista. Aprecia moda, Madonna, Marilyn Manson e músicas dos anos 50, 70 e 80. E pelo que se sabe, detesta todo o resto.

Supervisão de texto de David Vallerio: 

Idade desconhecida. Paulistano. Já foi estilista, produtor de moda, figurinista, ilustrador... Sua vida teve uma reviravolta quando foi selecionado pelo novelista Aguinaldo Silva para a segunda edição da Master Class, no Rio de Janeiro. Homenageado pela Master Class 1 com o personagem Crô Vallério, mas a alma é de Nazareth. Ama discotheque, anos 70, novela, filme americano B, pornochanchada, fofoca e BBB. Detesta axé, funk, pagode, futebol e sertanejo. Não confia em evangélicos e nem em quem é muito bonzinho. Quer agradá-lo? Presentei-o com uma Barbie Farrah Fawcett edição de Colecionador.

Veja também o 1º capítulo, aqui.

7 comentários:

  1. eu lendo e pensando: "poderia ter terminado quando Pérola enxerga a mãe no Cabaré" ou quando Mercedes entra no quarto e ouve a filha dizer que está grávida. Mas essa da Lúcia eu não esperava. E agora? #WaitingForThe3rdChapter

    ResponderExcluir
  2. QUERIDO LUCAS,

    VOU CRIANDO VÁRIOS GANCHOS, PRA CORRER COM A TRAMA. ASSIM, LANÇO AS QUESTÕES:
    O QUE ACONTECERÁ COM PÉROLA? QUANTOS SEGREDOS MAIS ESCONDE NOSSA FALSA ENFERMEIRA? QUAL SERÁ O MOTIVO DE SUA VINGANÇA? LÚCIA É A NOSSA SEGUNDA PROTAGONISTA! E MERCEDES, DO QUE SERÁ CAPAZ? O QUE O TERCEIRO CAPÍTULO IRÁ NOS RESERVAR?

    ResponderExcluir
  3. CADA VEZ MAIS MARAVILHADA COM A NOVELA...MUUUUUUITO BOA, O QUE ME FAZ MAL É QUE SÓ PODEREI SABER A CONTINUAÇÃO NO DIA SEGUINTE! KKKKKKKKKKK
    PARABÉNS, VIU!!!!

    ResponderExcluir
  4. Alex, gostei muito desse segundo capítulo! Foi emocionante, os personagens se revelaram muito interessantes: Mercedes, Pérola, Lúcia e Armando são ótimos. Seus diálogos característicos da época estão muito bem escritos, e as cenas me prenderam até o final!

    Lúcia continua minha favorita, mas destaco também a transformação da Pérola, que aos poucos vai perdendo sua ingenuidade e medo da mãe, e passa a tomar suas próprias decisões, e ainda que manipulada, está se mostrando uma moça ambiciosa e maliciosa!

    Um abraço!

    ResponderExcluir
  5. Dennis,

    Lúcia também é uma das minhas favoritas também. Sim, Pérola está mudando, e isto estava previsto na sinopse. Ela se vê na cova dos leões e decidi encará-los.

    Brigadão, querido, pelas observações!

    ResponderExcluir
  6. Dennis,

    alguns termos de época me foram sugeridos pelo querido David Vallério. Aproveitei cada um deles!

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...