domingo, 4 de março de 2012

Sétima arte versus terceira dimensão

Por Daniel Couri

Uma semana atrás o Oscar 2012 revelou-se uma grata surpresa, como há muitos anos não acontecia. Em sua 84ª edição, a cerimônia surpreendeu ao quebrar (alguns) paradigmas. Meryl Streep, recordista em indicações ao prêmio  17 no total  finalmente levou a estatueta pela terceira vez, como Melhor Atriz por A Dama de Ferro. Na categoria Melhor Ator Coadjuvante, Christopher Plummer, de 82 anos, recebeu o primeiro Oscar de sua vida por Toda Forma de Amor, após mais de 50 anos dedicados à profissão.


Infelizmente para o Brasil não houve quebra de paradigmas: saímos mais uma vez de mãos abanando. Indicada na categoria de Melhor Canção Original – Real in Rio, de Carlinhos Brown e Sergio Mendes – a animação Rio não levou a estatueta. Novamente os brasileiros se frustraram com o fato de termos chegado tão perto do concorrido prêmio e tê-lo perdido. Uma pena, pois Real in Rio tinha tudo para vencer (até porque é musicalmente muito melhor que sua única concorrente, Man or Muppet, que ganhou).

Decepções à parte, a alma do público ficou lavada com a vitória de O Artista. Nunca antes na história do Oscar um filme de língua não inglesa havia conseguido tanto prestígio. O longa francês de Michel Hazavicius derrubou barreiras e levou cinco prêmios das dez indicações que teve: Melhor Filme, Ator, Direção, Figurino e Trilha sonora. Justiça foi feita e a coragem de Hazavicius foi recompensada pela enorme aceitação e carinho do público, além das premiações, obviamente.

Jean Dujardin e Bérénice Bejo
Há muito tempo as platéias mundiais não eram presenteadas com um filme tão singelo, tão bem feito e ainda assim tão simples. Nesses tempos de 3D, em que o mercado se mostra ávido por empurrar para o público uma tecnologia que promete tornar os filmes mais “reais”, realizar um filme mudo e em preto e branco como O Artista foi uma ousadia mais que bem-vinda.

Os filmes não se tornam mais marcantes ou superiores pela utilização do 3D, mesmo que isso atraia multidões. Pode parecer saudosismo ou até soar como retrocesso, mas continuo achando que o uso desse formato se dá apenas por razões econômicas. Os poucos filmes que assisti em 3D não me marcaram em nada. Um dos últimos que vi, Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton, fez um tremendo estardalhaço, mas o fato de ser 3D não acrescentou absolutamente nada ao filme.

Para não dizer que não falei de flores, A Invenção de Hugo Cabret, em 3D, de Martin Scorsese, também levou cinco estatuetas no Oscar deste ano. O número de prêmios foi exatamente o mesmo de O Artista, apesar de serem duas produções bem distintas. Hugo, com visual rebuscado e enredo mais voltado para jovens, levou os prêmios técnicos, enquanto O Artista conquistou três das estatuetas mais cobiçadas da noite (Diretor, Ator e Filme).

O casal protagonista de O Artista: carisma
Isso pode nos levar a uma discussão interminável sobre a importância e a valorização da arte, tão banalizada nos dias de hoje. Nem pretendo entrar nesse mérito, pois ele dá margem a muitas divergências e possibilidades infinitas. Mas até que ponto estamos preparados para receber a arte em sua forma mais simples? Por que, em geral, o grande público dá preferência a filmes em 3D e muitas vezes nem cogita a hipótese de assistir a um filme mudo e em preto e branco?

Tanto O Artista como A Invenção de Hugo Cabret foram os campeões de indicações na cerimônia de 2012. Os dois filmes, de época, voltam nostalgicamente às origens do cinema. Mas na minha opinião, o longa de Michel Hazanavicius foi inegavelmente o grande destaque deste ano. Sem falar no carisma de Bérénice Bejo e Jean Dujardin, o maravilhoso casal de protagonistas que contribuiu muito para o sucesso do filme e provam que atores ainda não se tornaram descartáveis como o avanço tecnológico tem sugerido.

Felizmente O Artista mostrou que apesar de toda as estratégias de tecnologia para lotar cinemas com caríssimos filmes em 3D e aumentar o preço dos ingressos, no fundo o singelo ainda nos toca, é capaz de nos divertir e até mesmo comover. Se nos dermos a chance, filmes como O Artista são capazes de nos cativar e nos encantar. Simples assim, sem complicação, da forma mais poética. Bem que Oscar Wilde já dizia: “Homens complicados encontram no mais singelo a satisfação”.

4 comentários:

  1. Bela estreia, hein Daniel!!

    Realmente "O Artista", evocando um cinema antigo com qualidade, mereceu a consagração no Oscar 2012, embora eu particularmente tenha preferido a magia infantil de Scorcese homenageando os primórdios do cinema em "Hugo", mas aí é questão particular.

    Quanto ao 3D, acho bem vindo se utilizado como forma de favorecer a arte cinematográfica e não tomar o seu lugar. Não só em "Hugo", mas também em "Avatar", a tecnologia em debate foi decisiva para a história, para a concepção do filme, mas concordo que em muitos outros filmes o 3D foi mera desculpa para arrecadação de bilheteria.

    Mais uma vez parabéns pela contundente análise!

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  2. Obrigado Felipe! Estou muito feliz de participar desse time tão bacana aqui do blog! Que venham muitos outros posts, debates e comentários.

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  3. excelente estréia no blog, Daniel... tema bem defendido, atual, enfim, contente por tê-lo entre nós!

    que venham os próximos!

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  4. não vi nenhum filme, apenas meia noite em paris, estou no oscar passado ainda vendo o winter's bone kkkkkk curti a festa mesmo porque não espero mais nada dela...eu era de contar nos dedos os dias que faltavam pra indicação, tinha que ver todos os flmes antes....costmes que não tenho mais...pra mim o grande momento por incrível que pareça foi o cirque de soleil de quem eu sempre falo mal...achei maravilhoso..como o Stomp foi num ano . Legal mesmo a Meryl ter ganho...depois de tantas batidas na trave..tomara que o dia de Glenn chegue...

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