domingo, 15 de abril de 2012

Novela e Violência Infantil: abordagem complexa.

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Olá caros leitores! Em primeiro lugar, peço desculpas pela ausência um tanto longa devido ao falecimento de minha mãe em janeiro último. No mais, esse texto é um convite a uma reflexão em conjunto sobre uma REALIDADE cada vez mais evidente, refletida na ficção: "como isso tem se apresentado?", "tem sido útil?", "oq se tem feito a partir da introdução desse tema nas casas brasileiras, através das tramas televisivas?". Perguntas básicas para incitar tal reflexão.

"A Carminha de Adriana Esteves comprova que se novela fosse teatro, Tereza Cristina foi a vilã de uma peça bem infantil." Diz Dona Heliodora, personagem de ficção em sua página de humor no Facebook.



A personagem Carminha (Adriana Esteves) da novela "Avenida Brasil" mostra uma face não só de uma madrasta carrasca, que remete aos contos de fadas infantis, mas ao reflexo de uma adulta mal resolvida, sádica e que encontra sua vítima perfeita, retratando uma realidade muito mais constante do que se imagina, infelizmente.

Interessante como para quem lida no dia-a-dia com esse fenômeno de violência, tratando diretamente com vítimas como eu em meu trabalho não se sinta tão a vontade de ver isso na tv. Mas, entendam q essa é uma dificuldade pessoal pois, muito me causou ver tantas pessoas se manifestando com indignação em relação à personagem vilã. E até me senti contente quando ouvia alguém dizer que não conseguia nem ver aquilo! Sinal de que a violência contra crianças não se banalizou... ainda[?].

Mas, qual o objetivo de se levar para dentro dos lares brasileiros uma trama que envolva maus tratos contra criança, que é um tipo de violência contra menores de idade, ainda mais focando na violência doméstica: tendo como algoz um dos responsáveis? Acredito que ESTA seja a grande questão que, tanto pode ser positiva, quanto negativa.

1º) Levar essa relação conflitiva ao seio dos nossos lares pode servir para confrontar de algum modo algo que possa ser visto como "assunto intocável". Ainda mais, com a tendência sulista (de profissionais e do próprio judiciário) em desconfiar mais da presença de alienação parental e/ou mentira da criança do que na real situação de vitimização por parte dela. Isso abre alas para grandes debates, para a própria reflexão interna dos casais e seus cônjuges a cerca de como é sua dinâmica familiar, sejam ainda companheiros ou separados.

2º) E pode ser só mais um tema que o telespectador veja, mas como público pudico não "queira mexer". Oq pode ser estimulado tal reação senão for dada abertura para abordagem do tema em outros programas de tv, mais nos noticiários e, principalmente, com vistas a INFORMAR A SOCIEDADE DE COMO RECONHECER ESSE FENÔMENO DA VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇA E DO QUE FAZER A RESPEITO!

Concorda comigo, caro leitor?

E para que esse texto não caia no erro da 2ª colocação, listo algumas orientações:

* Em caso de seu filho ou filha relatar a vc uma situação de conflito com a outra figura parental (o marido ou a esposa, sejam pais legais ou não), NÃO DESCONSIDERE DE TODO! Importante é o argumento da dúvida para com o outro, mas também é ainda mais importante o argumento da credibilidade no relato da CRIANÇA que, EM TODA E QUALQUER RELAÇÃO DE PODER É A PARTE MAIS FRÁGIL, VULNERÁVEL.
*O diálogo constante com seu filho ou filha é crucial. Cabe uma conversa franca com a outra parte, mas não de imediato. Observar alguns detalhes pode lhe nortear melhor: como anda o rendimento escolar, a sociabilidade da criança, toda e qualquer mudança de comportamento estranha como medo repentino do escuro, sensação de ver monstros, pesadelos constantes, mudanças de humor constantes e muitas outras coisas que podem estar associadas a uma série de situações de violência infantil, indo desde bullyng até a violência doméstica.
*Caso a dúvida persista, busque ajuda de uma profissional psicólogo para um psicodiagnóstico do que se passa com a criança.
*Havendo CERTEZA dos maus tratos, que podem ser físicos, sexuais e psicológicos, procure o CONSELHO TUTELAR DE SUA REGIÃO, podendo vc mesmo levar o caso a Delegacia de Crimes Contra Criança e Adolescente do seu estado/município, ou a uma Delegacia comum. E ainda: ao MINISTÉRIO PÚBLICO DE ONDE VC MORA!
*No entanto, senão quiser se identificar por quaisquer motivos, use o Disque Denúncia - Disque 100.

SÓ NÃO SE CALE, NÃO SE OMITA!

E então, agora como vc vê a abordagem do tema na trama da novela "Avenida Brasil"?

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Beijos e que seus lares
sejam SEMPRE desprovidos
de toda e qualquer violência!

8 comentários:

  1. Eu fiquei impressionado com as cenas de Avenida Brasil na primeira fase.

    Se esse tema se estendesse acho que sofreria uma certa censura.

    Parabéns pelo texto Ana Paula!

    Fabio
    www.ocabidefala.com

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    1. Pois é, Fábio, odeio ter que concordar, mas certamente que se a participação da menina Mel naquelas cenas fortes se estendessem ao longo da novela, os demagogos de plantão tratariam de "aparecer".

      Sempre bom te ver por aqui!

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  2. gente, eu tendo a ver como reflexo da realidade na ficção, assim como uma obra do Charles Dickens, aquele musical Annie...tem gente que acha que não devia ser mostrado...gente assim lê os livros e acha que não devia ter literatura?trabalho com crianças e vejo até sem querer pelo o que eles dizem pra gente, os descalabros da educação moderna...gente sem paciência pra ser pai...me lembra até a regiane alves em a vida da gente, só que pobres! Já houve cenas de maus tratos da avó com a neta em Passione e Mulheres apaixonadas...confesso que nesta última fiquei mais emocionado, pois ver uma criança sozinha após a morte do único ente amado era bem mais doloroso....valeu, Anna Paula por essa luz do direito sobre o tema!!

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  3. Pois é, amigos. O tema é polêmico, mas... Por quê?! Porque mexe na FERIDA que toda sociedade em seu cerne - a família, não quer tocar: intimidade familiar, os "muros do silêncio".

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  4. Muito bom o texto, acho o tema pertinente, mais acredito que a intenção do autor na novela, não era levantar essa questão,e sim apenas contar a velha historia da madrasta má.

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    1. Rafa, sempre bom poder contar com as tuas visitas ao blog e mais ainda pelos teus comentários pertinentes, brother... abração!

      Ah! precisamos combinar a tua participação no Desafio Novela em Blog, hein?! dê uma lida no que já foi publicado pra entender como funciona!

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  5. Acho o tema bem pesado, mas totalmente atual, fora do comum e acho poucos autores teriam coragem de abordar é o abuso sexual em crianças, porque o assunto é velado, mas acontece em todos os lares da sociedade brasileira, dos mais ricos aos mais pobres e isto compromete o crescimento emocional das crianças tanto quanto os maus tratos e a indeferença de quem deveria cuidar deles.

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  6. contente pelo teu retorno aos textos, Paulinha... e que excelente retorno, tema sempre atualíssimo. A abordagem do João Emanuel Carneiro foi muito corajosa para o atual momento da televisão brasileira em que tudo sofre censura. A Esteves e a menina Mel tiraram de letra. Concordo com você quando diz que determinados temas ainda chocam, e eu que também trabalho numa área bem "real" da sociedade, com menores infratores, percebo bem de perto essa ironia.

    Que venham os próximos!

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