domingo, 16 de setembro de 2012

"Lado a Lado": reflexão e viagem pela história do Brasil

Por Paula Teixeira

De segunda a sexta, acordo às 6:00, tomo banho, café e saio, dirigindo, para trabalhar. Busco uma amiga do trabalho e começamos as atividades em uma instituição um tanto conservadora e tradicional, em um setor dominado por mulheres. Solteira aos 27 anos, volto para casa só com a obrigação de arrumar o que eu preciso comer e posso passar o meu tempo com outras atividades, distraindo, estudando.

Assistindo "Lado a Lado" (e outras novelas e filmes) é difícil acreditar que, até pouco tempo, as mulheres que hoje enchem as salas de aula, as entrevistas de emprego, as empresas, tinham apenas um destino: o casamento (e a procriação!). As que trabalhavam no início do século passado (e um pouco antes e um pouco depois) o faziam quando era extremamente necessário, para o sustento da família.

Laura e Isabel: mulheres em busca da felicidade em "Lado a Lado. Foto: TV Globo

O que é corriqueiro para mim e minhas amigas, ainda era uma transgressão para o período histórico retratado pela telenovela "Lado a Lado". É sempre relevante recordar essa grande mudança para não perder o foco, não desperdiçar essa "liberdade"

Nesse ponto, a história mais interessante é a de Laura (Marjorie Estiano). Louca para se livrar das amarras impostas pelo contexto social, representadas pela autoritária mãe - Constância (Patrícia Pillar), ela vai encontrar no casamento indesejado, o parceiro de uma grande empreitada que ela mal pode imaginar. Sem cair no clichê do marido machista, a novela mostra um tipo de relação saudável, baseada no companheirismo, na semelhança dos valores e no amor. O amor romântico é outro pano de fundo da estória: a saída dos relacionamentos por conveniência (mesmo que um deles seja iniciado dessa forma) e a chegada do conceito de casamento que conhecemos hoje.

O amor baseado no respeito e na admiração: Laura e Edgar. Foto: Divulgação TV Globo

Perguntei para o Almanaque humano das Telenovelas, Nilson Xavier (@teledramaturgia), se houve outra novela com foco no início da República e pós-abolição. Ele não se recorda de outra com um recorte tão preciso. A maioria retrata o período imperial e escravocrata ou então décadas como as de 1930, 1950, entre outras.

A criação e o crescimento das favelas; o abandono dos negros recém libertos e de seus descendentes;  a questão higienista e, até mesmo, o surgimento do futebol são pontos peculiares da trama. Provavelmente, essas questões tão relevantes para entender a cultura brasileira atual (especialmente a carioca) servirão de pano de fundo para conflitos não tão sólidos como os iniciais.

Ainda assim, tenho certeza que a parceria entre os casais Laura e Edgar (Thiago Fragoso) e Isabel (Camila Pitanga) e Zé Maria (Lázaro Ramos) vai nos fazer refletir não só sobre o que passou, mas sobre o nosso presente e o nosso futuro. Um bom exemplo de teledramaturgia que vai além do entretenimento!

Realidades opostas que construirão uma nova nação. Esse é o foco de  "Lado a Lado". Foto: Divulgação TV Globo

3 comentários:

  1. E. Felipe (@lip_emerson)19 de setembro de 2012 às 05:02

    Bela análise do ponto de vista histórico-sociológico acerca da novela Lado a Lado, Paula!
    Acho de ótimo tom, em tempos de nivelamento por baixo da teledramaturgia em prol do que chamam de classe C, a Globo dar oportunidade a novelas de melhor refinamento como Lado a Lado. Parabéns!

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  2. Adoro novelas de época escritas com competência, capazes de evidenciar parte da nossa história, sem didatismo, sem deixar de lado o velho e bom folhetim, assim é Lado a Lado.

    Bela postagem, Paula. Até a próxima!

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  3. Que bom que gostaram!

    A novela é muito bem estruturada, mas acredito que funcionaria mais como minissérie.

    Ela está me fazendo refletir sobre muitas coisas e acho isso muito legal. Mas também só gosto do núcleo principal. Pessoalmente, gosto da personagem da Marjorie (todo mundo sabe que sou fã dela!) e do Thiago Fragoso (personagem gato, lindo, moderno!)

    Espero que a novela ganhe mais ritmo e audiência!

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