quarta-feira, 31 de outubro de 2012

NELSON BASKERVILLE uma explosão de competência

by Sidney Rodrigues

Nelson Baskerville nasceu em Santos em 01 de setembro de 1961, é ator, diretor, autor e artista plástico brasileiro. Formado pela Escola de Arte Dramática - EAD - ECA - USP em 1983. Professor de interpretação do Teatro-Escola Célia Helena, desde 1991.
Este virginiano perfeccionista e talentoso está dirigindo duas das montagens mais brilhantes em cartaz em São Paulo/SP, o premiado LUIS ANTONIO - GABRIELA, típico espetáculo de teatro cada vez mais raro de se ver hoje em dia, pois tem, vários atores, cenário, música, dança, vários adereços e um texto muito forte e impactante que não tem como não atingir a todos os tipos de pessoas que se propõem a ver a montagem.

Tive o prazer imenso de ver 2 vezes esta montagem. A primeira vez eu fiquei paralisado com tudo, chorei mais de 50% da peça e tentava não perder um só segundo daquela história, contada por atores jovens, mas não menos intensos do que pedia a montagem, na segunda vez que eu vi, mais relaxado, curti a peça ainda mais e me emocionei tanto quanto da primeira vez.
O melhor de tudo é que no dia em que eu vi pela primeira vez, ainda tive a oportunidade de bater papo com o elenco e direção, onde eles disseram como foi concebido, quais os dilemas e os pontos que escolheram para montar a peça, que por sinal, é uma parte importante da vida desse diretor e se quiser saber mais, aconselho você a não perder a temporada popular que o espetáculo faz no Teatro Alfredo Mesquita em São Paulo.

A outra peça em cartaz dirigida por Nelson Baskerville em São Paulo é Córtex, que encerra temporada no dia 04 de Novembro no CCBB e tem no elenco um OTAVIO MARTINS inteiro e pleno em cena. Uma peça que nos faz pensar nas tragédias do dia a dia que qualquer um de nós pode vivenciar, e muitas vezes dentro delas nunca se sabe ao certo quem é a vítima e quem é o vitimado.


Olhando esses dois trabalhos de Nelson Barkerville me dá um orgulho tão grande, uma satisfação em vê-lo tão intenso e criativo, "pirado" como acho que só os grandes artistas são.

Tive o imenso prazer em trabalhar com o Nelson Baskerville em duas oportunidades, e foram momentos muito bacanas. Montamos O SENHOR DE PORQUEIRAL de Moliere, a primeira montagem foi ainda no Teatro Escola Célia Helena. Nelson me incumbiu de fazer o galã da peça, ERASTO, claro que eu titubeei, nunca me vi como um galã ou aquele tipo que pudesse conquistar alguém a ponto da pessoa arriscar ir contra os desejos do pai, mas lembro muito bem dele me dizer. "SE VIRA, TODO MUNDO TEM UM GALÃ DENTRO DE SI!", e não é que saiu! Consegui fazer o papel e até comecei a ter mais autoconfiança e encontrar o tal galã.

Anos depois a própria Célia Helena queria montar uma peça que representasse os trabalhos que a escola realizava, e lá estavam Nelson Baskerville, O SENHOR DE PORQUEIRAL e eu às voltas com Erasto novamente, o bom é que o Erasto desta nova fase já caminhava mais para o tipo de trabalho que realizei ao longo da carreira. Consegui dar uma cara paspalhona e engraçada ao mocinho, que nesta montagem virou um gaguinho, confesso que foi muito mais divertido do que na primeira montagem.

NELSON BASKERVILLE sempre foi aquele professor de teatro que conseguia o que queria do elenco, todos sempre se rendiam as suas ideias e embarcavam nela sem pestanejar. Prova disso é que entre os alunos da escola de teatro sempre havia o desejo de ser dirigido por ele e quem conseguia isso achava que estava um grau acima dos demais.

O bom disso tudo é que o tempo passou e esse cara ficou cada vez melhor, cada vez mais completo como ator, diretor e artista plástico, ou seja, sua alma inquieta sempre reinventa.

Ah! Lembro de quando Nelson estava fazendo PROCURA-SE UM TENOR, fui ver a peça e sentei na primeira fileira para poder apreciar o trabalho mais de perto, sempre fui fã, tinha orgulho de poder presenciar aquele momento.

Lógico que ele me deu um esporro por eu estar logo na primeira fileira, hehehehehe, mas esse é o Nelson.

Trabalhos na TV
  • 2010 - As Cariocas - Fagundes
  • 2009 - Viver a Vida - Leandro Machado
  • 2009 - Maysa - Quando Fala o Coração - Alcebíades Monjardim "Monja"
  • 1998 - Fascinação - Tomás Giuliani
  • 1998 - Chiquititas - pai de João Pedro
  • 1997 - Canoa do Bagre - João do Braço
  • 1996 - O Rei do Gado - participação especial
  • 1994 - Éramos Seis - Marcos
  • 1992 - Pedra Sobre Pedra - Murilo Pontes (jovem)

No Teatro

  • Quando Nietzsche Chorou
  • Camino Real
  • Uma Lição Longe Demais
  • Rua 10
  • Às Margens da Ipiranga
  • Solness, o Construtor
  • Senhor de Porqueiral
  • A Megera Domada
  • Alice no Pais das Maravilhas
  • Espectros

Como Diretor

  • A falecida
  • Luis Antonio-Gabriela
  • 17x Nelson- O inferno de todos nós
  • Os sete Gatinhos

Como Autor

  • Luís Antônio-Gabriela

Prêmios


  • Prêmio Shell - Pela Direção de Luis Antonio- Gabriela

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Uma intervenção divina no horário das sete



Por FÁBIO COSTA

Em 31 de agosto de 1992, ia ao ar o primeiro capítulo de mais uma atração do horário das 19h para novelas na Rede Globo: Deus nos Acuda, de Sílvio de Abreu, que voltava à faixa em que se consagrara na década anterior após a estreia no horário nobre com Rainha da Sucata (1990).

O ponto de partida de Deus nos Acuda é a missão recebida no Céu pela anja Celestina (Dercy Gonçalves), responsável pelo Brasil. Para que escape de passar o resto de seus dias como uma aposentada no nosso país, ganhando pouco, numa vida de privações e sofrimentos, Celestina deve endireitar um cidadão brasileiro, e a escolhida é Maria Escandalosa (Cláudia Raia), trambiqueira que mora nos arredores do Porto de Santos, cidade do litoral paulista, e vive de pequenos golpes que aplica com a cumplicidade do pai, o malandro velho Tomás (Jorge Dória). Sem que Maria saiba, Celestina passa a acompanhar cada um de seus passos, tentando transformá-la numa pessoa de bem, honesta e com respeito pelo próximo.



Durante um cruzeiro Brasil – Caribe, Maria se apaixona pelo milionário Ricardo (Edson Celulari), de quem se aproxima inicialmente com a intenção de dar mais um golpe ao lado do pai. Nasce entre os dois um grande amor, atrapalhado pelo modo de Maria ganhar a vida, desonestamente. Ricardo é o filho mais velho do poderoso empresário Otto Bismark (Francisco Cuoco), suspeito de ter dado fim a duas esposas e também pai de Igor (Cláudio Fontana), Ulli (Mylla Christie) e Yeda (Tatiana Issa). Com a morte de Eugênia, sua segunda mulher, em circunstâncias misteriosas, Otto tem de lidar com a presença da cunhada Bárbara Silveira Bueno, a Baby (Glória Menezes), que volta da Europa disposta a esclarecer a morte da irmã. Na luta para afastar as suspeitas de que seja um “Barba Azul”, Otto conta com a ajuda de Elvira (Marieta Severo), sua maquiavélica secretária, apaixonada por ele.



Além de tencionar colocar Otto atrás das grades pela morte de Eugênia, Baby começa a criar o menino de rua Nicolau (João Rebello), por quem se encanta irreversivelmente. Nicolau é um bom garoto, que vive na rua por não conhecer sua origem e ter sido abandonado pela mãe.


Merece destaque a presença de Dona Armênia (Aracy Balabanian), que ressurgia da trama de Rainha da Sucata, agora como proprietária do prédio em que moravam diversos personagens do núcleo de Santos. Viúva pela segunda vez e se queixando de ter sido abandonada pelas “três filhinhas” Gerson (Gerson Brenner), Geraldo (Marcelo Novaes) e Gino (Jandir Ferrari), Dona Armênia é ambiciosa e louca por dinheiro, mas tem bom coração e no fundo gosta de todos os inquilinos. Moram no prédio, além de Maria e Tomás: o jovem Paco (Raul Gazolla), apaixonado por Maria, e sua irmã Lauretta (Cristina Mutarelli), moça assanhada em busca de um marido; Gilda (Louise Cardoso), prostituta que divide um apartamento com Clarice (Regina Braga) e engana Dona Armênia dizendo trabalhar numa biblioteca à noite, a fim de justificar suas saídas. Gilda se envolve com Félix (Ary Fontoura), irmão de Felícia, primeira esposa de Otto e mãe de Ricardo.


Outra personagem emblemática da história é Xena (Carmem Verônica), a amiga peruíssima de Baby. Sempre com algum comentário ferino na ponta da língua sobre qualquer assunto, tenha sido solicitado ou não, no decorrer da trama Xena se interessa por Tomás, que se faz passar por milionário para se aproximar dela, algo semelhante ao que fez sua filha Maria com Ricardo.

A novela era muito agradável e discutia em tom de comédia o problema da corrupção no Brasil, o país do jeitinho, da lei de Gerson que reza que se deve levar vantagem em tudo sempre. No decorrer da história Sílvio de Abreu e seus coautores Alcides Nogueira e Maria Adelaide Amaral não deixaram a ideia de lado, mas valorizaram mais os conflitos dos personagens e o suspense motivado pela identidade do “Leão”, líder de uma organização criminosa que se valia da estrutura da Baum, uma das empresas de Otto Bismark, para facilitar suas empreitadas. Ao longo de toda a novela seu diretor Jorge Fernando apareceu eventualmente na pele de Brasil, um personagem-paródia que nada dizia, nada ouvia e passava o tempo todo apático, aparentando estar bêbado ou amortecido por qualquer outra razão.


Descobre-se com o passar dos capítulos que Baby e Otto tiveram um romance no passado, encerrado quando ele a trocou por Eugênia e casou-se com ela. Chantageado por Elvira, Otto se casa com a secretária de repente e essa atitude não passa despercebida aos filhos e, claro, à cunhada. Nicolau, o “trombadinha”, é filho de Otto com Kelly (Maria Cláudia), irmã de Clarice e casada com Heitor (Gracindo Júnior), parceiro dele em alguns negócios. E Danilo (Diogo Vilela), o suposto irmão que Elvira infiltra na mansão dos Bismark para descobrir coisas sobre eles e ajudá-la em seus planos, revela-se na verdade um dos anjos celestiais, amigo de Celestina e do Anjo Gabriel (Cláudio Corrêa e Castro).

A abertura idealizada por Hans Donner para a novela é uma das mais marcantes. Ao som do samba-exaltação “Canta Brasil”, de David Nasser e Alcir Pires Vermelho, na voz de Gal Costa, uma festa de gala que tem como convidados senhores engravatados e belas mulheres em vestidos de luxo, todos rindo a valer, é aos poucos tomada por um mar de lama em que se podem ver dólares, iates, jatinhos, automóveis e outros símbolos de riqueza adquiridos pelos corruptos com o dinheiro do povo. Ao final da vinheta, pode-se ver que toda a lama que toma conta da tela está descendo pelo ralo num vaso que tem o formato do Brasil, que afunda num mar de lama. Para alguns meio escatológico, mas uma perfeita metáfora do que era possível ver na época (era o governo de Fernando Collor, que inclusive deixou a presidência com a novela no ar, em dezembro de 1992), o Brasil à guisa de salvação antes que mergulhasse de vez num mar de lama.



Outras músicas de destaque na trilha foram “Brigas” (Altemar Dutra e Cauby Peixoto), que embalava o caso de amor de Félix e Gilda, “Vento Ventania” (Biquíni Cavadão), tema dos jovens, e o tango “La Barca” (Luis Miguel), tema de Maria e Ricardo executado à exaustão.

O último dos 178 capítulos de Deus nos Acuda foi ao ar em 26 de março de 1993 e a novela foi reprisada inesperadamente na sessão Vale a Pena Ver de Novo num compacto exibido entre 8 de novembro de 2004 e 25 de fevereiro de 2005. Inesperadamente porque a reprise teve início mais de doze anos depois da estreia original, ao contrário da regra da sessão que é da exibir em geral novelas recentes de três ou quatro anos atrás. Seria interessante uma nova reprise no Viva, pois ainda que esta não tenha sido das novelas mais queridas do autor como Guerra dos Sexos (1983), Cambalacho (1986) ou mesmo Sassaricando (1987/88), a história inventiva e as boas atuações do elenco valeriam o ingresso.

P.S.: Afinal de contas, o "Leão" era Eugênia, que de santa nada tinha e comandava um esquema criminoso junto de Heitor. Tendo Eugênia morrido, Elvira mantinha a alcunha e prosseguiu com as operações. Mas essa já é uma história...

domingo, 28 de outubro de 2012

Assim não há telespectador que aguente!


Por Isaac Abda

Sou um cara que torce pela livre concorrência entre as emissoras de TV. Que seja justa, leal, movimente o mercado. Algo absolutamente saudável, principalmente pra nós, telespectadores. Sou todo contentamento quando um novo produto é lançado sobre bases sólidas, de qualidade, bem planejado e bem realizado. O público corresponde, óbvio. Mas   é quando a audiência não é tão louvável e ainda assim optam por considerar a relevância da execução do projeto, que sobram motivos pra comemorar. A qualidade sobreposta aos interesses de alguns empresários famigerados. Algo raríssimo em tempos modernos. 

Percebo uma frustração nas redes sociais quando o assunto é a programação exibida em alguns canais de TV. Eu poderia fazer uma postagem interminável e generalizada, mas prefiro focar naquela que atualmente tem liderado no quesito insistência em desrespeitar ao seu público. Não atentando para o fato de jogar exclusivamente contra si. Tá [Já passou da...] na hora de acordar, Rede Record. 

Naquilo que era proposto, o extinto Note e Anote era agradável, bem sucedido. Mudou-se para algo mais moderno, dinâmico e funcionou bem. O Hoje em Dia fez escola, mas como tudo que dá certo na emissora é "obrigatório" ser explorado à exaustão, o público enjoa. Quando não é deste modo, é pelas constantes mudanças, o público foge. Posso estar totalmente equivocado, mas o erro mortal cometido contra esse programa, foi ter se permitido um diretor "estrela". O mesmo que construiu o sucesso, se inflamou de tal modo que tudo começou a desandar. Hoje já está noutro programa, mas o matinal já não é nem de longe o mesmo de origem. Vejam um dos defeitos gritantes da emissora: "descobrir um santo pra vestir outro". Dois dos apresentadores do programa saíram pra projetos solos, agora continuam com estes, mas voltam a dividir o palco nas tardes da emissora, numa versão piorada de todas as revistas eletrônicas, uma espécia de clone do Hoje em Dia. O Programa da Tarde surge com todo o jeitão de tapa buraco, de "vamos ver no que dá". Aliás, uma falha cometida costumeiramente pela Record: testa-se no ar, dando certo estica-se o programa pra trocentas horas de exibição, não dando certo, esconde-se ou até mata o programa. Quem gosta e acompanha tem que estar preparado para tais possibilidades. 

Darei dois exemplos de jornalismo que eu adorava acompanhar e que foram abolidos pela direção da emissora: o matinal Fala Brasil [nos moldes originais], e anos depois, o vespertino Tudo a Ver [de igual modo]. Na contramão disto, vê-se programas de baixíssima qualidade, gosto duvidoso, explícita busca desenfreada por míseros pontinhos a mais de audiência. Balanço Geral, Cidade Alerta, e algumas versões, acreditem, pioradas, apresentadas pelas emissoras afiliadas, "escondidas" da crítica especializada que volta os olhos apenas para o que é veiculado no eixo Rio-Sampa. Estes programas, sobretudo, exploradores da desgraça alheia nunca terão o meu respeito, muito menos a minha audiência. Mas vale ressaltar que a partir do momento em que eu for indiferente a este lixão na TV Record, ela não terá, definitivamente, as minhas críticas, muito menos a minha torcida.


Outra questão desfavorável é a transformação numa emissora de "eventos". Compra-se este ou aquele evento esportivo e tudo gira em torno disto.  


2004 foi um ano desafiador para a teledramaturgia da emissora. 2005, criou-se o RecNov [Complexo de estúdios para produção de teledramaturgia], todos vibramos e torcemos com a notícia. Vieram boas produções, algumas, "incontestavelmente", inovando a teledramaturgia, vide Vidas Opostas. Mas fizeram muito barulho e não se prepararam como deveriam para a manutenção saudável, sustentável do Setor. Como lidar com épocas difíceis, de crise? Momento de preocupação e lamento para os profissionais envolvidos. Felizmente a emissora tem reagido e um novo responsável pelo departamento tem demonstrado não medir esforços pra reverter a situação. No entanto, pasmem, leio notas [não sei até que ponto verdades ou não] sobre novela tal ser empurrada para determinado horário, ou adiantada pra outro horário, ou ainda, é apenas o que falta, ser abduzida por uma emissora extraterrestre. 


Não dá pra levar a sério um produto se nem mesmo a dona deste souber vendê-lo. Quem curte novelas, embora alguns não se sintam a vontade pra reconhecer isto, torce pelo sucesso delas em qualquer que seja a emissora a transmiti-las. Torce pelo elenco, pelos autores, diretores, torcem pelo gênero. E se as críticas parecem "pirraça", "trolagens" gratuitas, eu não percebo desta forma. Sinto que há uma torcida pelo sucesso, mas a irritação diante de algumas falhas gritantes, não corrigidas e que continuam a ser percebidas, parece ser maior que a boa vontade com o que ali é produzido. E nem adianta questioná-los sob a justificativa de que aquela outra emissora também comete os seus erros, pois esta outra emissora, tem sim as suas falhas, mas em proporções infinitamente menores que os acertos, daí a sua tradição inconteste na teledramaturgia. Aliás, seu carro chefe.

Faz-se imprescindível que a emissora, ou ao menos a teledramaturgia da Record, se desvencilhe da ótica religiosa de sua alta cúpula, de seu dono, pra ser mais específico. Ora, não interessa a mim, acredito que pra uma maioria também, sentir que há uma resistência em determinados temas serem abordados pela teledramaturgia. Em alguns raros momentos [Bicho do Mato, Essas Mulheres] viu-se padres, madres em novelas, mas curiosamente [pra não ser mais incisivo, rs], destoando das histórias, se tornou algo recorrente, ver personagens pastores celebrando casamento de personagens que em momento algum da trama declararam ser evangélicos. 

Aqui não estou a defender ou propagar esta ou aquela religião, mas a sugerir que as novelas estejam isentas de qualquer preconceito na hora de realizá-las. Lembro de quando o Tiago Santiago fez a sua adaptação de A Escrava Isaura, os negros escravos pareciam adeptos de uma religião que remetia a tudo, menos ao candomblé. Não pode esta, não retrate nenhuma.

Talvez por essas resistências é que a teledramaturgia da emissora ainda não se firmou, não conquistou o devido respeito do grande público e da crítica especializada. Elogia-se, dá-se audiência a uma ou outra novela bonitinha, agradável, bem sucedida, mas findada, volta-se ao mesmo ponto de descrédito, porque não se observa a teledramaturgia do canal de modo geral, mas pontual. 

No dia em que a "Record" vencer a si mesma, aos seus medos, traumas, soberba, orgulho, teimosia, terá dado um primeiro passo para fazer uma TV digna.

Pra finalizar, evidencio alguns pontos que podem perfeitamente soar como um desafio aos padrões da emissora, mas que adoraria se um dia fossem observados:

  • Uma novela ao estilo Jorge Amado seria saudável ao seu crescimento.
  • Uma trama passada na Bahia traria um frescor à sua teledramaturgia, talvez pela ousadia.
  • Uma minissérie que não seja bíblica é também uma boa pedida. De preferência, de época.
  • Dar um "descanso" para as pirotecnias, tramas que sempre enveredam pela abordagem da violência.
  • Uma novela rural cairia bem. Uma novela de época, idem.
  • Novelas curtas [tomara as notícias de que começarão a ser realizadas, se concretizem] são bem vindas.
  • Acabar com o complexo de desmerecer alguns do seu casting em função de novas contratações de recém saídos da Globo, uns até mesmo mesmo medíocres, considerando apenas a questão da vitrine. Isso é uma vergonha.
  • Ponderar na questão do pudor extremo. Ousar um pouco mais [sem descambar pra baixaria] em cenas de amor, de nudez, de sensualidade. Bons folhetins não pecam nesse sentido, apenas agregam.
  • Planejar as substitutas com tempo suficiente para a produção de algo excelente.
  • Justificar a existência do RecNov. Tanto investimento deve valer a pena!
  • Dar uma atenção especial aos figurinos e cenários de suas novelas. Os padrões atuais da Televisão não toleram mais cenários fakes, de "papelão", ou que mais parecem um conjunto de bugigangas reaproveitadas. 
  • A iluminação não pode incomodar, tem que ser natural. Nos fazer acreditar que estamos diante de algo real.
  • Deixar de ostentação no sentido de não querer jogar na cara do telespectador que tem dinheiro pra fazer essa ou aquela cena mirabolante e que por vezes, acaba ficando gratuita. Tipo: Navios, aviões [o exagero é proposital] sendo explodidos. 
  • Entender que as reprises de novelas não podem, nem devem concorrer com produtos inéditos da concorrência, no horário nobre. Aliás, o público da Record não compra a ideia de rever as novelas do canal. Isto já ficou mais que demonstrado, mas se querem continuar tentando que escolham um horário "ideal" e se responsabilizem pelas consequências. Desrespeitar o público tirando a novela do ar é o cúmulo do absurdo, da incompetência.
  • Fixar os horários deve ser uma lei na programação da emissora. Acabe-se com os testes no ar. Se serão duas novelas, que sejam duas novelas. Em quais horários serão exibidas? Definidos? Assumam o sucesso ou fracasso destas decisões. Vai chocar com o horário do jornalismo ou da teledramaturgia da Globo? A novela atual da emissora líder é bombástica? Faça-se o melhor possível, mas com dignidade prezem pelo respeito a quem optar por continuar a ver os seus produtos. Se neste horário são 10 (dez)os pontos obtidos pela audiência, o que estes significam pra emissora? É preciso criar uma tradição. Olhar pra si e não ficar toda a vida baseando-se no que for levado ao ar pela concorrência. A inveja não é uma qualidade, ela pode matar, então caso a emissora não se dê conta, certamente tudo o que se deseja será frustrado. 

"A gente sofre muito: o que é preciso é sofrer bem, com discernimento, com classe, som serenidade de quem já é iniciado no sofrimento. Não para tirar dele uma compensação, mas um reflexo."
  • Fernando Sabino

terça-feira, 23 de outubro de 2012

NO CINEMA PODE, NA TV NÃO!

                                                                                                  
                                                                                                                             Por Daniel Pilotto

Eu sempre costumo questionar o que faz uma novela ser sucesso ou não. Quase sempre as tramas obedecem a um molde pré-concebido que possivelmente pode transformá-las em sucesso. Às vezes são romances arrebatadores, vinganças do passado, vilões ambiciosos ou mocinhos que dão a volta por cima, enfim, basicamente os mesmos temas desde que novela era apenas um romance nas mãos de uma mocinha ingênua do século XVIII.
Mas e quando os autores olham além, mais precisamente para o futuro e para as fronteiras que nós ainda não conhecemos? Quando resolvem discutir em suas tramas o moderno mundo tecnológico ou a vida fora da Terra?
No Brasil, isto nunca resultou em boa audiência.
E o que será que faz com que o público brasileiro rejeite sempre as novelas que utilizam a chamada “ficção científica” em suas tramas? Talvez fosse necessário um estudo sociológico da alma do brasileiro, seus medos, seus temores. Pois este mesmo povo é um dos maiores consumidores deste tipo de história vinda do cinema americano, em filmes como E.T. O EXTRATERRESTRE, INDEPENDENCE DAY, 2001 UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO, EU ROBÔ, O HOMEM BICENTENÁRIO, BLADE RUNNER, as séries de tv ARQUIVO X, V-A BATALHA FINAL ou SUPER VICKY entre outros.
Nas novelas, me parece que o buraco fica mais embaixo.

Em 1968, para aproveitar a repercussão da primeira viagem do homem à lua, Ivani Ribeiro escreveu OS ESTRANHOS para a TV Excelsior. A trama contava a história de alienígenas do planeta Gama Y-12 que vinham para a Terra passar férias e ao chegar encontram um planeta envolvido em guerras e conflitos. Pensando em ajudar os seres humanos eles travam contato com um escritor, um papel inusitadamente interpretado pelo então jogador de futebol Pelé. Entre os alienígenas estavam Cláudio Correa e Castro, Rosamaria Murtinho e a namoradinha do Brasil, Regina Duarte.
Era muita modernidade junta, e a novela, apesar de bem feita não conseguiu alcançar seus objetivos e nem tampouco os telespectadores.
Logo após, em 1971 a Globo ousava com a trama de Janete Clair O HOMEM QUE DEVE MORRER. Ali vários assuntos polêmicos foram tratados, e a história que aparentemente teria uma base mais mística sofreu bastante a repressão da censura. O personagem de Tarcísio Meira que seria uma espécie de novo Messias acabou sendo mesmo revelado no final como um extraterrestre. Neste caso o tema foi bastante pertinente para explicar uma trama que teve diversas mudanças em sua sinopse original.


E anos se passaram até que se pudesse falar novamente em alienígenas na tv.
O autor Antonio Calmon parece ser um fã desta temática e já a utilizou algumas vezes. Inicialmente de maneira discreta e descontraída em ARMAÇÃO ILIMITADA (1986 a 1988) onde a personagem Ronalda Cristina (Catarina Abdala) tinha uma filha com um alienígena, a engraçadinha Zeldinha.
Em 1988 Calmon, junto com Euclydes Marinho e Daniel Filho elaboraram o seriado TARCÍSIO E GLÓRIA, onde a protagonista era Ava (Glória Menezes) uma alienígena do planeta Aurora que vinha para a Terra em busca de sêmen masculino para repovoar seu planeta. A série tinha diversos elementos interessantes, pois além da temática extraterrestre discutia valores sociais e a política praticada por aqui. Infelizmente a série também não cativou o público, e num dos episódios Ava rompia com seu planeta arrancando um chip de sua cabeça e se tornando um ser humano aparentemente normal. Tudo isto ao som da deliciosa “Alô, Alô, Marciano” com Elis Regina.
Em 1989 ele abordou rapidamente o assunto em TOP MODEL com a personagem Belatrix (Rita Lee) que voltava depois de anos para visitar seus filhos a bordo de um disco voador. Tudo muito sutil, tudo num clima mais bem humorado como era o tom da novela.
Em 2004 o autor voltou à tona com o tema em COMEÇAR DE NOVO. Na trama a personagem Márcia Anita (Luma Costa) aparentemente era uma alienígena que vinha para a ficctícia cidade de Ouro Negro com seus estranhos pais. Para Pepê (Pedro Malta) uma das crianças do lugar ela aparecia sob sua verdadeira identidade, uma princesa de um planeta distante, a bordo de sua nave espacial. Os pais dela que se apresentavam na cidade como dois professores amalucados, na realidade eram dois andróides. Mais uma vez o tema passava pelo viés da comédia, dentro de uma trama com temática mais séria.
Entretanto numa das pesquisas feitas para discutir a audiência da novela, este núcleo foi bastante criticado. Assim, a trama dos alienígenas foi esquecida e Márcia Anita se transformou numa garota “normal” e seus pais aos poucos foram sumindo da trama.


Outra novela a discutir a vida fora da Terra foi O AMOR ESTÁ NO AR de 1997. Escrita por Alcides Nogueira a trama contava a história da problemática Luísa (Natália Lage), uma jovem que vivia alguns conflitos com sua família e que tinha uma obsessão por OVNIs. Em determinado momento da trama ela é abduzida, aliás, o grande destaque da novela era justamente fazer com que o público ficasse na dúvida, se realmente ela tinha sido levada por extraterrestres ou se tinha apenas fugido de sua realidade.
Mais uma vez o público (desta vez, do horário das seis) rejeitou o tema. Recordo que por grande parte da trama não se falou mais sobre o assunto e as outras histórias foram ganhando destaque.


Outra temática complicada é a da vida artificial, ou se preferirem robôs e andróides.
O público brasileiro tem uma resistência grande ao tema e isto ficou evidente em 2011 numa das últimas novelas das sete, MORDE E ASSOPRA de Walcyr Carrasco. E como se não bastasse ter um andróide interagindo com os personagens a história ainda contava com a possibilidade da presença dos extintos dinossauros.
Na trama Ícaro (Mateus Solano) desesperado com a morte de sua esposa resolve ir até o Japão em busca de tecnologia necessária para a criação de um andróide semelhante à sua mulher. É criada então Naomi (Flávia Alessandra) um andróide que se comporta e age como um ser humano, gerando todos os conflitos possíveis, inclusive com a audiência que rejeitou logo de cara a temática. Quando os dinossauros apareceram, inicialmente nos sonhos da paleontóloga, Júlia (Adriana Esteves) que passou a vida a acreditar que eles ainda existiam, a crise se estabeleceu de vez. Rejeição estranha para um país que deu tanta bilheteria a filmes como JURASSIC PARK.
O resultado desta mistura toda é que após os famosos grupos de pesquisas e diversas reformulações, a história focou em outras tramas. A Naomi verdadeira voltou e a robô foi desligada.
Aqui cabe um adendo, desligada, mas não esquecida. No final ela volta, inclusive para resolver um assassinato da história. Ela e um mundo subterrâneo repleto de dinossauros (sacada de mestre do autor que não desistiu de sua idéia inicial, apenas a adiou), a novela já era sucesso e agora podia tudo.


Em 2010 foi a vez do mega computador inteligente, Frank em TEMPOS MODERNOS. São Paulo, um edifício está sendo inaugurado, nas entranhas de sua construção um computador, um verdadeiro cérebro eletrônico comanda tudo, e ainda tem tempo de ser um psicólogo e confidente de seu criador, Leal (Antonio Fagundes).
E aí temos mais um ingrediente indigesto para o público: o computador que fala!
Mais uma vez mudanças se fizeram necessárias. Depois de uma crise no melhor estilo 2001 UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO a criatura voltou-se contra o criador e aí então desligaram de vez o que incomodava, e as outras histórias tiveram que ocupar a trama. Como a novela se baseava muito nisto, na modernidade de nossos tempos, todo o resto ficou bastante comprometido e confuso. Há quem diga que até a personagem Deodora (Grazzi Massafera) tinha a possibilidade de vir a ser um andróide. Se foi verdade ou mentira, invenção de algum maldoso sobre a interpretação da atriz, jamais saberemos.


Voltando mais no tempo, mais precisamente em 1984, o público travou contato pela primeira vez com o mundo cibernético e com um robô na nossa tv. Quem foi criança na época, como eu, deve também amar o simpático robozinho Alcides da novela TRANSAS E CARETAS, e o impacto que ele causou nas telinhas.
Não que ele tivesse sido responsável pela falta de sucesso da história, muito pelo contrário, acredito que ali ele tenha sido uma das coisas mais interessantes apresentadas. E como não comprometia, era apenas um elemento de criatividade, de humor, ficou até o final da novela. Tal e qual o Zariguin da já citada MORDE E ASSOPRA. Robozinho engraçadinho pode!
Será que nesta época éramos menos críticos, ou aceitávamos mais as inovações?


Enfim, não poderia acabar de discutir o tema sem lembrar de uma produção que uniu tudo isto e muito mais. Uma novela (ou deveria chamar de macrossérie?) que juntou dinossauros, andróides, extraterrestres e ainda por cima toda a sorte de mutantes e monstros inimagináveis até mesmo para o cinema americano.
De 2007 a 2009 a Record levou ao ar a trilogia CAMINHOS DO CORAÇÃO/MUTANTES. Uma verdadeira saga pelo universo da ficção científica. Descontando os exageros e a pouca sofisticação do texto do autor Tiago Santiago, devemos considerar esta a maior obra sobre o gênero na televisão brasileira. Neste caso a novela teve índices de audiência consideráveis, oscilando entre o sucesso e o fracasso à medida que a ia sendo esticada.

Como podem ver o tema é controvertido. Ou o público não curte ficção científica em terras brazucas ou então até agora não apareceu um autor que soubesse trazer para as telinhas este tema tão fascinante.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Gabarito - Desafio aos Noveleiros de Plantão!

Obrigado a quem ao menos tentou responder algumas das charadas. Não estava difícil, né? Somente três acertaram todas as respostas: Ronaly Reginaldi Júnior, Guilherme Fernandes e Warlen Pontes. Estão de parabéns! 




Gabarito:

01 – Laços de Família
02 – Meu Pedacinho de Chão
03 – Bebe a Bordo
04 – Feijão Maravilha
05 – A Sombra dos Laranjais
06 – De Quina pra Lua
07 – Sangue e Areia
08 – Pecado Capital
09 – Vila Madalena
10 – Chamas da Vida
11 – Louco Amor
12 – Selva de Pedra
13 – O Homem Proibido
14 – Vereda Tropical
15 – Sem Lenço, Sem Documento
16 – Pé na Jaca
17 – Cavalo de Aço
18 – Porto dos Milagres
19 – O Salvador da Pátria
20 – Transas e Caretas
21 – Salsa & Merengue
22 – Cortina de Vidro
23 – Negocio da China
24 – As Três Marias


Pela ordem de publicação dos comentários em resposta ao desafio, o vencedor é Ronaly Reginaldi Júnior. Aguardo que entre em contato comigo para saber detalhes sobre o seu prêmio.  


Confira como foi o Desafio aos Noveleiros de Plantão: aqui.

domingo, 21 de outubro de 2012

Desafio aos Noveleiros de Plantão!

Você curte novelas? É bom em matar charadas? Então imagino que seja moleza acertar o título das novelas abaixo. Algumas estão super fáceis, outras nem tanto, mas vale tentar. Responda nos comentários. Depois darei as respostas. Boa sorte! 









5ª 










10ª


11ª


12ª


13ª


14ª


15ª


16ª


17ª


18ª


19ª


20ª


21ª
22ª


23ª


24ª


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