quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A relação entre Brasília e o cinema!

Por Paulo Lannes

Brasília chamou a atenção do mundo nos anos 50 com a sua construção no meio do cerrado e hoje é um dos nove patrimônios da humanidade pela Unesco situados no Brasil, mas mesmo assim poucas vezes é retratada no cinema nacional. E quando o é, acontece de maneira superficial pegando algumas características que podem até serem corretas, mas que não indicam o que é ser brasiliense como um todo. Vamos averiguar.


Cartaz do Filme Brasília 18%
Brasília 18%, filme de Nelson Pereira dos Santos, retrata uma capital política completamente corrupta, onde vale tudo pelo dinheiro. Malu Mader é uma deputada que usa a beleza e o sexo para conseguir o que quer. Karine Carvalho é a concursada que trabalhava na Comissão do Orçamento e foi (presumidamente) morta por isso. Todos os outros são personagens políticos que só tem ganas por dinheiro e fazem de tudo para que o legista, interpretado por Carlos Alberto Riccelli, faça o relatório do jeito que eles querem. Lembrando que esse especialista vive em Los Angeles, EUA, e é único que corre atrás da verdade. Já deu pra sacar né? A cidade não tem ninguém que preste (até o motorista é corrupto). O mocinho da história vem de fora e só assim para sê-lo.

As atrizes Karine Carvalho e Malu Mader
O assunto foge da política, no filme, em apenas três momentos. Na divagação do legista provocada pela dor da perda de sua mulher, pela festa dada pelo político, onde o assunto principal era a morte da mulher do nosso personagem sofredor e, por fim, na nomeação de grande parte dos personagens, que chega a ser cômica. São todos nomes ilustres da literatura nacional, como Machado de Assis, Olavo Bilac e Gonçalves Dias. Ou seja, a cidade, por si só, não tem nenhum caráter. O Eixão, principal via da capital, é o que mais retratou a capital, mostrando como ela é "passável" e vazia, sem calçadas a sua volta e nem pessoas a vista.

Cartaz do filme Insolação

Já o filme Insolação, dirigido por Felipe Hirsch e Daniela Thomas, tem um enfoque completamente diferente. A política não é sequer comentada. Na verdade, a cidade é vista como um antro de solidão seco e quente. As pessoas que vivem por lá, além de serem poucas na cidade, não se ligam umas a outras. Então, quando a estação da seca chega a seu auge, o calor acaba sendo confundindo com paixão, trazendo um motivo para essas pessoas se comunicarem. Simone Spoladore é a protagonista da película. O sofrimento dela chega aos extremos. Se sente tão solitária que uma conversa banal numa barraca de lanches toma toda sua atenção, e a paixão (que na verdade era calor na sua mais agonizante forma) chega nela com tanta força que ela acaba por transar e se humilhar pra um completo estranho.

A atriz Simone Spoladore como protagonista

Apesar de Brasília 18% e Insolação abordarem pontos completamente opostos, é possível perceber que não há um olhar atencioso sobre a capital. Ela é muito mais do que corrupção e já não pode ser considerada um lugar vazio. O Distrito Federal conta com mais de dois milhões de habitantes que vieram de todas as partes do Brasil, se tornando múltiplo em sua cultura. Além disso, a corrupção é um problema nacional, sendo muito mais exposto nas regiões do Norte e do Nordeste do que na capital do Brasil. Claro que críticas sobre esses assuntos são pertinentes e devem ser feitas. Mas só isso?

Cartaz do Festival de 2012

Além disso, não há como dizer que não há uma cultura de cinema na cidade. A capital abriga o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o mais antigo do segmento em todo o país e um dos mais importantes. O público que vai ao cinema só perde em quantidade para Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. Inclusive, foi criado um centro multivisual de cinema no Sobradinho (uma das regiões administrativas do DF) que caiu aos pedaços por falta de uso e manutenção. Talvez, se um dia pararmos de olhar para a cidade como se ela fosse a verdadeira Sodoma e Gomorra ela poderia se transformar em algo grande. Mas é a tal versão bíblica que perdura na cidade. Enquanto isso, no calor eles irão continuar a se apaixonar. Mas e no frio?

2 comentários:

  1. Sei bem o que significa Brasília. Morei lá por 18 anos e não gosto nenhum um pouco daquele lugar, apesar que, os meus melhores amigos estão lá. Mas quanto às observações, Brasília mistura essa coisa do calor, da seca, da corrupção, de Sodoma e Gomorra, mas existe um outro ponto importante: a cidade é muito espiritualizada. Os espíritas e evangélicos tomam conta da cidade. Tenho um sonho, escrever uma novela sobre o Planalto Central com todos os ingredientes de uma "Avenida Brasil".

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  2. Bela estréia no blog, meu caro... Fiquei curioso pelos filmes citados.

    Até o próximo post. Abração!!!

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