quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Parece novela, mas é a vida real!

Por Paula Teixiera

Todos os dias, ocorrem dezenas de Júris pelo Brasil. O Tribunal do Júri é o responsável pelas decisões relacionadas aos crimes contra a vida. Nele, não é o juiz togado que condena ou absolve, e sim os jurados (juízes leigos), representantes diretos do corpo social.


Tribunal do Júri de Contagem, Minas Gerais. Foto: Wagner Antônio/Divulgação TJMG

Cometer um crime é romper com a lei. Matar alguém é a mais grave quebra do contrato social. É violar o direito primordial do ser humano: a vida.

Eu nunca tinha estado em um Júri. Acompanhei alguns de forma mediada (pela TV), mas nunca tinha visto e escutado tudo, ao vivo. Os rituais e momentos de um Tribunal do Júri se assemelham a uma narrativa. E, pensando bem, é. Diferentes histórias (ou estórias!) são contadas: uma versão dos réus, outra da acusação e mais uma da defesa.

Quem não é "personagem" daquela história, sempre acompanhada de sofrimento, muitas vezes tem a sensação de estar assistindo a uma novela. Somente parentes das vítimas, réus, familiares destes e os diretamente envolvidos com toda a situação que não conseguem ter esse momento de distanciamento, de um verdadeiro "assistir".

Durante os três dias em que acompanhei o primeiro júri relacionado às vítimas Eliza Samudio e o seu filho, Bruninho, vivi essa oscilação: quando olhava para a mãe da jovem e para os réus, recordava da realidade. Quando olhava para o público e para a totalidade do plenário, enquanto escutava debates, interrogatórios, tudo parecia ficcional, irreal. Quando a tese da acusação relatava a morte, eu era puxada novamente para o real.

Uma autora de novelas, Glória Perez, foi citada pela advogada de defesa de Fernanda Gomes de Castro, condenada por sequestro e cárcere privado de Eliza e o seu filho. Palavras da advogada: nem uma autora como Glória Perez poderia escrever uma "estória" como essa.

Acredito que a citação, justamente dessa autora, foi "adequada". É de conhecimento de todos que a filha de Perez, Daniella Perez, foi brutalmente assassinada por um colega de trabalho, com a ajuda da esposa, Paula Thomaz. Ambos foram condenados. Desde então, a novelista trava uma batalha para mudanças na legislação. Um modificação ela conseguiu: incluir o homicídio qualificado no grupo de crimes hediondos.A outra alteração que proibia a progressão de regime para penas por crimes hediondos foi retirada em 2006, por uma decisão do Supremo Tribunal Federal.

Para quem acompanha casos como de Isabela Nardoni e Eliza Samudio de uma forma mediada, ou seja, escutando a narrativa a partir da mídia e não participa efetivamente do processo, tudo parece realmente uma ficção, uma realidade criada. Mas não é novela, é a vida real. E mais surpreendente (para o bem e para o mal) do qualquer novela das 9.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A dança das mocinhas!


Por Eduardo Vieira

Ser mocinha nas novelas de hoje não está nada fácil. A esta não é permitido mais ser moldada como personagens oriundas de histórias do século passado (que foi ontem), nem podem mostrar um comportamento que não seja esperado do que sabemos sobre as heroínas. Os autores estão tendo de encontrar um meio termo pra esse tipo de personagem.
Janete Clair conseguia construir esse tipo de mulher muito bem em suas novelas: Gloria Menezes em ‘Irmãos Coragem’ sabiamente foi construída com várias camadas de personalidade, quando achávamos Lara meio sem graça, logo aparecia Diana - sua antípoda, uma mulher à altura do movimento que o ritmo da novela propunha.

Durante algum tempo tivemos mocinhas frágeis como pedia a sociedade de uma determinada época, mas quase nunca não agentes das tramas.
Entretanto vemos, por exemplo, em ‘Locomotivas’, de Cassiano Gabus Mendes, o advento da mocinha um tanto vilanizada - feita por Lucélia Santos depois da doce Isaura, um papel bastante sofrido que contava com a torcida de um país. Aliás, o autor sempre nos mostrou suas heroínas fora de um estereótipo, por isso sua modernidade no setor teledramatúrgico, como também a Nice de ‘Anjo Mau’ ou a Shana de ‘Te Contei?’. Mulheres fortes que sabiam o que queriam, interpretadas de modo perfeito por Suzana Vieira e Maria Claudia, respectivamente.

Porém a mocinha foi perdendo seu valor na história pela cada vez maior exigência das novelas terem vilãs. A sociedade com suas distorções e farta do chamado politicamente correto tem se identificado cada vez mais com esse tipo de personagem libertário, por isso cada vez mais está difícil de construir protagonistas que tenham respeito do público.

Em 'O Dono do Mundo', novela de Gilberto Braga, notamos a rejeição da mocinha feita por Malu Mader logo no início, no arriscado plot de traição no dia do casamento. Moral da história: tal posto foi dividido por Leticia Sabatella, que fazia uma mulher de personalidade (Thaís), mesmo sendo garota de programa e a justa personagem de Glória Pires, Stella, que recomeça sua vida depois de enganada pelo marido.

Numa trama do mesmo Gilberto Braga, houve igualmente um problema de falta total de identificação com a mocinha: em ‘Insensato Coração’, Marina Drummond (Paola Oliveira) era vista como uma personagem morna, chata, muito vítima das circunstâncias e armadilhas plantadas pelo próprio cunhado. Talvez isso possa ser explicado pelo fato de tal papel ter sido escrito para outra atriz que talvez desse a força que o papel exigia.
Maior engenhosidade teve a autora Cristiane Friedmann em sua ‘Vidas em Jogo’, nos nublando a vista, e trocando as bolas ao decorrer da novela - a mocinha mostrando-se uma cruel vilã, Rita (Juliane Trevisol) e a vilãzinha Patrícia (Thaís Fersoza) - humanizando-se graças ao amor de um filho.

Igual recurso houve também em ‘Eterna Magia’, de Elizabeth Jihn, em que Malu Mader de vilã passa a heroína da história e a mocinha frágil feita por Maria Flor ocupa o cargo de algoz, mesmo arrependendo-se no fim da história.

No atual momento há mocinhas de diversos tipos: em ‘Lado a Lado’, nos damos ao luxo de ter duas de uma vez, as tais que seguem juntas, compondo o retrato da força da mulher que escolheu viver pela sua própria consciência e pagando o preço por isso; estas contam com o apoio do público, pois demonstram ética que muitas mulheres hoje em pleno 2012 ainda não têm.

Em ‘Guerra dos Sexos’, temos uma mocinha mais estereotipada e ainda um tanto amorfa por ser herança de outra atriz: Mariana Ximenes é muito atriz para pouco personagem, mas mesmo assim faz da sua Juliana uma mulher dividida entre ser o que acham que ela é e o que ela é realmente, uma mulher passional. Contudo penso que a verdadeira mocinha ou moçona, no caso, será Roberta Leone, de novo Glória Pires que construiu a personagem do seu jeito com menos humor e mais drama, sua verdadeira seara, e que tem saído ilesa a algumas críticas que o texto recauchutado vem recebendo.

Finalmente, a mais problemática de todos, Morena, da trama de ‘Salve Jorge’. Glória Perez corajosamente escreve uma heroína que já traz consigo o estigma de anti-heroína, uma mulher desbocada, briguenta, mal humorada por vezes, nada clássica. Ainda não se sabe se Nanda Costa conseguiu uma excelência em sua interpretação (a atriz já ganhou prêmios no cinema) ou se ela leva mesmo mais jeito para personagens dúbios como a vilãzinha em viver a vida. Por mais que morena seja “raçuda”, mãe, destemida. Esse lado ainda não fez com que a maioria do público se identificasse com ela como com Rose, a personagem de Camila Pitanga em ‘Cama de Gato’ ou a clássica Penha, Thaís Araújo em ‘Cheias de Charme’.


Qual o perfil que uma mocinha deve ter? Qual o limite que ela não deve atravessar? Fica a questão.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Lado a Lado com os laços de amizade no início do século XX


Por Flávio Michelazzo

Acima de todos os elogios que eu teria a fazer à novela das 18h, "Lado a Lado", de João Ximenes Braga e Cláudia Lage com supervisão de texto de Gilberto Braga e direção de Dennis Carvalho e Vinícius Coimbra, está, na minha opinião, a amizade entre as duas protagonistas, Laura (Marjorie Estiano) e Isabel (Camila Pitanga). 

As duas formam, sob meu ponto de vista, o que tradicionalmente é visto como o "par romântico" de uma novela, ou seja, a história é  em torno não de duas pessoas que se apaixonam carnalmente num acaso da vida, mas de duas pessoas que têm uma identificação imediata de amizade tão forte e verdadeira, capaz de sustentar toda uma história em torno delas. Prova disso é que todas as adversidades convencionais de um casal da teledramaturgia - principalmente de época -, como viver em mundos diferentes, o que impede que se relacionem entre si, acontece justamente com as duas amigas. José Maria (Lázaro Ramos) e Edgar (Thiago Fragoso) pertencem às mesmas classes sociais que suas amadas Isabel e Laura, respectivamente. Isso, apesar de não chegar a ser necessariamente uma inovação, contravêm ao óbvio. 

Mas, como toda boa trama que se preze, vários conflitos são criados para separar os casais, mesmo que não pareçam tão fortes diante do ódio que Constância (Patrícia Pillar) tem ao ver a filha Laura cultivar uma amizade com a filha de escravos alforriados Isabel. Portanto, penso que a intenção dos autores é, antes de contar a história do Rio de Janeiro pelo viés da ficção, de mostrar o fim dos cortiços e o início das favelas e o preconceito latente que os negros alforriados sofriam, é mostrar o nascimento e o fortalecimento de uma bonita história de amizade entre duas pessoas tão diferentes, mas com um ideal em comum: Serem felizes. Talvez por isso foi criada uma expectativa muito maior no reencontro de ambas que com seus amados, anos depois, na passagem de fase do folhetim. 

Para finalizar, gostaria de propor uma reflexão: "Será que foi necessário mergulhar no passado para falar de uma amizade verdadeira? Será que nos dias de hoje seria crível contar a história de pessoas que se amam, se respeitam e são honestas e sinceras umas com as outras? A amizade se banalizou?".


(Foto: João Cotta/Rede Globo)

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O SEGREDO DO SUCESSO DE UMA TELENOVELA

por José Vitor Rack



A quem interessar possa, segue abaixo detalhadamente descrito o segredo do sucesso de uma telenovela:
Uma telenovela atinge o sucesso quando atende dois estágios de excelência distintos: Plena IDENTIFICAÇÃO com o público e um intenso processo de CATARSE. Uma novela pode fazer sucesso com apenas um desses pilares. Mas se a equipe que a produz contar com a benção de atingir os dois estágios, o sucesso é garantido e quase sempre, estrondoso.
Peguemos como exemplo o recente sucesso da TV Globo, Avenida Brasil.
A novela era bem escrita, bem dirigida, com excelente elenco e equipe de produção competentíssima. Mas não há dúvidas de que muitas telenovelas contaram com toda essa excelência em sua montagem sem atingir nem um terço da repercussão e da audiência de Avenida Brasil.
A novela de João Emanoel Carneiro conseguiu a plena IDENTIFICAÇÃO com o público quando mostrou na TV Globo uma classe C emergente que sente orgulho de morar no subúrbio e que renega veementemente a alta sociedade e seus hábitos. Mesmo ganhando bem, preferem continuar comendo um bom cozido, dançando funk e assistindo futebol no bar da esquina. O fictício bairro do Divino mostrou hábitos, músicas, costumes, gírias e danças que qualquer um de nós vê na rua, acontecendo.
Quando o público se vê na TV sem caricaturas, sem deboche e sem maquiagem, adere completamente. Esse fenômeno se deu também nos dois filmes de José Padilha, Tropa de Elite. Naquele filme estava a violência, a corrupção, a demagogia e o desamor que vemos nas ruas do Brasil diariamente.
Quando existe IDENTIFICAÇÃO do público com a novela, o jogo já começa a ser ganho de cara.
Já o processo de CATARSE tem mais a ver com o plot, o assunto, a linha dramatúrgica da novela. Mais uma vez usamos Avenida Brasil como exemplo.
Acho que não vi em minha vida uma novela com tantos furos, incoerências e comidas de bola quanto esta. O famoso episódio do pen drive de Nina foi motivo de chacota e até de uma bem humorada campanha publicitária de uma rede de hipermercados.
Todavia, a força da história de Nina e Carminha era tão grande que qualquer defeito de roteiro fica minúsculo. O autor já começou jogando alto: logo no primeiro capítulo mostrou a vilã cometendo atrocidades em nome do vil metal, escravizando a mocinha (na época uma criança!!!) num lixão, tocando o terror.
O público acompanhou as maldades de Carminha, sua ascensão e suas maquinações. Tinha raiva dela o suficiente para dar razão à vingança de Nina. E quando Nina começa a se vingar, ela surge esplendorosa: A CATARSE.
Catarse é quando o público delira em casa, se diverte, se realiza com as ações de uma determinada personagem. O “me serve, vadia” dito por Nina foi tão catártico que virou bordão nas redes sociais.
Muito bem. Está dito e muito bem explicado. O segredo de sucesso de uma telenovela é incluir em seu enredo elementos de IDENTIFICAÇÃO com o público e doses cavalares de CATARSE.
Simples, não?
Escrever 180 capítulos e usar esses elementos é que é o desafio. 

sábado, 17 de novembro de 2012

Saudosismo ou colecionismo?!

Por Daniel Couri

É realmente surpreendente a facilidade com que se pode baixar músicas e filmes pela internet hoje em dia. Seja por meios legais ou pirataria, o fato é que os jovens e adolescentes mal sabem o que é CD. Já vieram ao mundo com tudo ao alcance de um clique. O negócio é fazer download. Também não querem saber de DVD. Assistem no próprio computador.

Até mesmo quem não é adolescente resolveu aderir à moda de baixar tudo ou simplesmente ouvir/assistir online. Falo isso porque sou motivo de piada com frequência. Toda vez que digo que estava ouvindo um CD ou que comento o fato de querer ir a uma loja de CDs, alguns de meus amigos dão risada. Quando falo que vou comprar um DVD então... sai de baixo! Só falta me crucificarem. “Ninguém compra DVD! Pra que, se você pode baixar?”


Falando assim muita gente pode pensar que é o fim dos CDs e DVDs, mas o que se observa é um nicho de mercado que vem crescendo e ganhando cada vez mais espaço: o dos colecionadores inveterados. Eles sempre existirão, por mais que toda a tecnologia do mundo esteja ao alcance de suas mãos e por mais que pareça antiquado sair para comprar um CD ou um DVD.

Nada substitui o prazer de passear por uma loja de discos ou filmes, escolher entre os gêneros e títulos, descobrir raridades ou até reencontrar algo marcante. E para quem gosta de ter o CD ou DVD, nada mais gostoso do que a sensação de vê-los na estante do seu quarto. Esse prazer vai muito além de possuir o produto em si. É como se você mantivesse ai, ao alcance de suas mãos, vários momentos de diversão, descontração, alegria e emoção. Vários “pequenos sonhos”.


E não são poucas as pessoas que curtem esse hobby. Prova disso é que até os discos de vinil – condenados há mais de uma década – voltaram com força total. Nas megastores é possível encontrar reedições importadas de clássicos do pop e do rock em vinil, a preço de ouro. Artistas nacionais não ficam de fora e também têm seus álbuns relançados em LP, a preços bem salgados, o que mostra que público para comprá-los não falta.

No ano passado houve crescimento tanto nas vendas de CDs como de DVDs musicais. De acordo com a ABPD – Associação Brasileira dos Produtores de Discos – as vendas físicas (CDs + DVDs + Blu-Rays) registraram crescimento de 7,6%, com a movimentação de R$ 312,3 milhões. O número de lojas de discos (incluindo CDs e LPs) pode ter diminuído consideravelmente, mas isso não significa que as pessoas tenham deixado de comprá-los. A diferença é que hoje eles se concentram nas grandes lojas do ramo ou nas virtuais.

Parece coisa do passado, mas comprar discos está mais "in" do que nunca
Reconheço a praticidade e a facilidade de baixar filmes ou músicas. Afinal, é preciso se readaptar à nova realidade. Mas continuo achando que colecioná-los é um dos passatempos mais prazerosos que existem. E por mais que profetizem a extinção dos CDs e DVDs, acredito que eles ainda terão vida longa pela frente. Sempre existirão os aficionados por coleções e por todo o universo que as envolve, como ir à loja, passar horas se deliciando entre os títulos, voltar para casa ansioso para ouvir ou ver o produto adquirido. Não há tecnologia que acabe com esse ritual.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Madonna x Gaga

O texto abaixo foi originalmente postado numa rede social, em formato de comentário sobre a tão criticada passagem da cantora Lady Gaga, pelo Brasil.  Não tive dúvida de que poderia ser transformado numa bela postagem aqui no blog. De autoria do amigo Robério Silva, que mais uma vez nos dá a honra. Desde já o agradeço. Divirtam-se! :D 


A foto tem sabor de vingança. Mas após assistir à entrevista dessa pobre moça - que não tem o tino comercial e empresarial da biscate mor de Detroit - no Fantástico, fiquei pensando algumas coisas. Não é necessário ficar comparando-a com Madonna. Primeiro porque a diferença de grandezas é gritante. Segundo e principalmente, porque Lady Gaga é a voz e a cara de uma outra geração, duas vezes posterior à de Madonna (lançada para o mundo em 1983, antes de Gaga nascer), 25 anos marcam a distância entre o surgimento de cada uma.


Madonna, como já disseram, é herdeira da última geração modernista (ou da transição para a coisa pós): conviveu com Warhol, namorou Basquiat, largou uma carreira segura de bailarina via mundo acadêmico, frequentou Studio 54, e com essa bagagem, além de vastas e lendárias aventuras, encarou a cena pop. Sua geração é marcada pela tragédia coletiva da Aids, por conquistas a serem completadas pelas mulheres, e aqui Madonna foi a grande voz que se lançou contra o conservadorismo e reacionarismo acachapantes que surgiram nos anos 80. Sua postura e suas canções não apenas faziam as pessoas dançarem, como faziam com que todos questionassem, ao mesmo tempo em que se divertiam, o estado de coisas. Depois, talvez tenha ido longe demais, navegando em praias que não eram a sua; mas soube recuar e dar a volta por cima, provando como poucos sua longevidade na indústria (concordo que o último disco não seja seu momento mais feliz, mas mesmo assim, ela continua no comando). 


Lady Gaga surge em 2008, pós muitas coisas. Conheço pouco a biografia da moça. Implicava, e implico, com o fato de não poder ver seu rosto tal como é - o que já devia ter sido sintomático para mim, afinal. Não gosto daquela história do "Born this way". Preciso explicar? Mas acho "Bad romance" e "Poker face" bobagens saborosíssimas. E só. Pensando nessas coisas, a partir da entrevista no Fantástico, vejo uma moça meio tonta (apesar da "fortuna"... mas é melhor não comparar, rsrsrs), preocupada em se mirar na televisão todo o tempo. Daí me veio o insight: "Lady Gaga é outra geração!". 
A geração pós top models, pós histeria da Aids, pós propaganda como leitura do mundo, pós ascensão dos neopentecostais e outros grupos conservadores, pós Giulliani na prefeitura de Nova York, pós gangsta rappers, pós tanta coisa que veio e que passou depois que Madonna surgiu para os olhos e ouvidos mundiais. A geração de Gaga é a das meninas que fazem operações plásticas aos 13 anos de idade. Dos meninos, gays ou não, que ficam com a cabeça torta (e problemas na cervical, imagino) tentando parecer Justin Bieber. De todos, crianças, adolescentes, jovens e adultos, que ficam aprisionados no mundo das imagens, da exposição da vida privada e das transformações do corpo (aqui, Madonna e Gaga se aproximam: se a outrora saudável e viçosa moça de Michigan transformou-se na encarnação da paranoia pela forma física através de ashtanga yoga, muita malhação e severas restrições alimentares, a garota de NY encarna o papel de adolescente problemática, com problemas de peso e de autoaceitação diante do espelho - daí tanta máscara? - e me parece que é justamente desse papel que Gaga não consegue se libertar, ao contrário da camaleônica Madonna, cuja maturidade e evolução nós acompanhamos em seus videoclipes, filmes e documentários ensaiados).


Gaga tem 26 anos, mas ainda se comporta como uma menina insegura de 13 anos querendo chamar atenção na escola. Muito diferente da fálica, ambígua e assertiva Madonna, que assombrou o mundo na performance de "Like a Virgin", na MTV, em 1985. Lady Gaga tem que tomar muito Neston, se não quiser ser engolida pela máquina, que ela pensa já dominar.

Robério Silva é professor universitário, Doutor em Literatura pela UFF. 
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