terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Trinta anos de novelas no SBT - Parte I


Por FÁBIO COSTA

Após ganhar a concessão de cinco canais da extinta Rede Tupi de Televisão e dar início enfim ao Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) em agosto de 1981, Silvio Santos pôs no ar uma programação popular, com atrações de auditório, animadores e formatos já consagrados como Moacyr Franco, Airton e Lolita Rodrigues, Raul Gil e J. Silvestre, além do Programa Silvio Santos e de diversas séries, filmes e desenhos animados estrangeiros. A intenção era ser uma alternativa popular à pasteurizada e carioca grade da Rede Globo.

Essa filosofia chegou também às telenovelas da emissora, que em verdade já produzia teledramaturgia havia alguns anos, tendo exibido O Espantalho (1977), de Ivani Ribeiro, e Solar Paraíso (1978), de Luiz Quirino. Mas o marco das telenovelas no SBT se deu em 1982, com a estreia de duas produções no mesmo dia (5 de maio) e com uma estratégia que foi mantida ao longo dos anos: Destino foi adaptada por Raimundo Lopes do original de Marisa Garrido, gravada aqui com atores brasileiros; Os Ricos Também Choram foi a primeira novela mexicana exibida dublada no Brasil, e ainda hoje é um dos maiores sucessos desse gênero.

Destino era a história dos problemas da vida de um casal, Glória (Ana Rosa) e Fernando (Flávio Galvão), em meio ao desaparecimento de um dos filhos e à presença de Lorena (Tânia Regina), antiga paixão de Fernando. Elenco pequeno, original latino, história concentrada em poucos personagens, sem tramas paralelas, poucos capítulos (apenas 55, mais ou menos como as “novelas das onze” de hoje), a novela representou uma volta às origens do gênero no Brasil no início dos anos 60, quando as primeiras produções da Tupi e da Excelsior eram nessa linha.

Enquanto Os Ricos Também Choram apresentou sua trama meses a fio, no outro horário a TVS exibia uma nova história após outra, a cada dois ou três meses. A segunda produção nacional foi A Força do Amor, também de Marisa Garrido e também adaptada por Raimundo Lopes. Os protagonistas eram Suzy Camacho, Paulo Castelli e Angelina Muniz vivendo um triângulo amoroso embalado pela música-tema cantada por Adriano: “Com a força do amor/Tudo fica possível/O desejo que for/Nada mais é impossível...”.


Aliás, triângulo amoroso foi o que não faltou nos dramalhões latinos adaptados e/ou traduzidos pelo SBT.

Maria Estela foi a protagonista de A Leoa, a terceira produção. Alice é uma mulher que abandona o marido e a filha e vai à luta para dar à menina tudo que o pai desocupado e malandro sempre prometera. Em seguida mais uma vez Ana Rosa protagonizava, como Andréa em Conflito, novela que tratava de sua luta para ser aceita pela família do marido Eduardo (Wilson Fragoso), os ricos Altamirano, e tendo de enfrentar o cunhado Gustavo (Jonas Mello), que se interessa por ela.

O ano de 1983 se inicia com a estreia da quinta novela, Sombras do Passado, cuja adaptação fora assinada por Tito di Miglio, o argentino que dirigira a primeira telenovela diária brasileira 2-5499 Ocupado (1963), na TV Excelsior. O pintor Reinaldo (Fausto Rocha) perde a memória e vai viver junto aos integrantes de uma trupe de circo, envolvendo-se com a trapezista Isa (Thaís de Andrade). Ao recuperar a memória retoma também sua vida normal e inicia um romance com sua prima Laura (Annamaria Dias), mas Isa emprega-se como modelo para seus quadros e resolve conquistá-lo uma segunda vez. Das primeiras produções do SBT, Sombras do Passado foi uma das mais bem-sucedidas, e seu tema de abertura era cantado por Luiz Ricardo – “Debaixo do pano da vida/Há uma verdade escondida/E as sombras do passado impõem/As regras do jogo...”.


Um segundo horário (20h50) teve início com Acorrentada, estrelada por Denise Del Vecchio na pele de Laura, jovem que teve uma vida de contratempos e passou alguns anos num hospício. Após ser enganada por Maurício (Jonas Mello), interessado apenas em sua fortuna, a jovem enfim conhece o verdadeiro amor ao lado do médico Carlos (Hélio Souto). Simultaneamente às 19h ia ao ar A Ponte do Amor, com Selma Egrei dividindo-se em duas personagens (Ângela e Mireya) que tumultuavam a vida do diplomata Carlos (Fábio Cardoso).

Em seguida vieram às 19h Pecado de Amor, novamente com Denise Del Vecchio dando vida à protagonista sofrida e que se vinga de todos que a maltrataram vida afora, e às 20h50 A Justiça de Deus, com as trajetórias da rica Adriana (Thaís de Andrade) e da pobre Alice (Ana Rosa) entrelaçadas para sempre graças às duas terem os filhos trocados quando bebês. Em meados de 1983 estrearam Razão de Viver, com os dramas da atriz Olívia Rinaldi (Kate Hansen) com a doença da filha Ester (Tetê Pritzl/Valéria de Andrade) e Anjo Maldito, que trazia Elaine Cristina como Débora, a personagem-título, que não hesita em prejudicar quem quer que seja em seu plano de ascensão social e de tomar posse do patrimônio do milionário Thomás (Tony Ferreira), com quem se casa, roubando-o da irmã Laura (Reny de Oliveira).


Em novembro de 1983 a emissora voltou a produzir apenas uma novela (embora os capítulos fossem exibidos em dois horários), e estreou Vida Roubada, uma das histórias mais famosas da época no gênero. Suzy Camacho vivia Alice, que é metida numa intriga pela amiga de internato Hilda (Eliane Giardini). Hilda foge com um amante e assume a identidade de Alice, enquanto esta é obrigada a assumir a identidade de Hilda e ir viver junto a seus familiares numa fazenda, onde todos sentem ódio e ressentimento pelas maldades que a jovem cometera no passado. Quando se faz respeitar e inicia um romance com Carlos (Fausto Rocha), o administrador das terras, Alice é desmascarada pela volta da verdadeira Hilda em busca de seu lugar.

Em junho de 1984 entrou no ar outro marco da produção de teledramaturgia do SBT: Meus Filhos, Minha Vida, de Ismael Fernandes, Crayton Sarzy e Henrique Lobo. Mirian Pires interpretava a sofrida Dona Luzia, viúva que vivia em nome dos filhos André (Dênis Derkian), que renega a origem humilde ao se casar com a milionária Olga (Sônia de Paula); Mário (Raymundo de Souza), que anda metido com más companhias; e Pedro (Carlo Briani), o único que lhe dá orgulho. Como era uma novela alternativa ao padrão global já mais que estabelecido na época e pensada para o público da casa, o sucesso foi além do esperado e levou a um esticamento da história.

Com Jerônimo, resgate da série radiofônica Jerônimo, o Herói do Sertão, de Moysés Weltman, foi novamente aberto um segundo horário de teledramaturgia, desta vez dedicado ao público infantojuvenil e também aos mais velhos que conheciam a história do rádio. O protagonista era Francisco di Franco, que vivera o herói também na versão da TV Tupi nos anos 70, e tinha a seu lado aqui Suzy Camacho, Eduardo Silva, Jofre Soares, Marcos Caruso, Jussara Freire Felipe Levoto e Annamaria Dias, entre outros.


Em 1985 astros globais foram contratados pelo SBT e uma novela encomendada ao dramaturgo Aziz Bajur, ainda na animação com os bons resultados de Meus Filhos, Minha Vida. Jorge Dória, Rosamaria Murtinho, Ilka Soares, Kito Junqueira, Thaís de Andrade, Jonas Mello e Monique Lafond viviam os papéis principais de Jogo do Amor, que teve direito a tema de abertura cantado pelos Fevers. Era a história do empresário Otávio (Dória), que ao firmar um acordo comercial com Jeffrey (Jonas), proprietário de uma agência de turismo, ressuscita seu nebuloso passado graças às presenças de Neide (Rosamaria) e Suzana (Thaís) na agência; a primeira é um amor do passado que o abandonara e levara consigo um filho do casal, enquanto a segunda é filha de um vigia assassinado durante um assalto a banco do qual Otávio fora o mentor intelectual e que o tornou rico.

Em seguida estreou Uma Esperança no Ar, novela que teve vários percalços em seu decorrer devido à troca de autores – inicialmente Dulce Santucci e Amilton Monteiro, depois Ismael Fernandes. Promissora, a história de Rui (Celso Frateschi), rapaz que fica cego e paralítico após sofrer um acidente e tem a noiva Ana (Angelina Muniz) apontada como a responsável por tudo, o que a obriga a fugir da cidade onde vivem no interior – a pequena Tamandaré, comandada pelos inescrupulosos Francisco (Elias Gleizer), o prefeito, e Daniel (Edney Giovenazzi), um empresário mau-caráter. Ainda no elenco Mário Cardoso, Eliane Giardini, Cleyde Yaconis, Geórgia Gomide, David Cardoso, Martha Overbeck, Percy Aires e Antônio Petrin, entre outros.

Em fevereiro de 1986, com o término de Uma Esperança no Ar, o SBT encerraria temporariamente a produção de telenovelas, mantendo apenas as mexicanas dubladas, e durante algum tempo até o início dos anos 90 sequer exibiria novelas, somente enlatados americanos como As Lendas do Macaco Dourado e Carro Comando. Apenas em 1990 haveria uma retomada do setor. Mas essa é outra história, que conto no próximo post. Até lá!

7 comentários:

  1. maravilhoso mesmo....uma aula pra mim que sempre ouvi falar dessas novelas e vi algumas cenas na época ou em reprises...mas nunca dei muita atenção....havia mesmo bastante preconceito. nunca sei qdo os autores são brasileiros ou não, marisa garrido....aziz bajur é vivo ainda?
    parabéns, muito bem detalhado....

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    1. Agradeço, Edu! As novelas do SBT têm seu valor em especial pelo resgate do modo de se fazer teledramaturgia como nos primórdios e se preocupar em atingir um público que não necessariamente se identificava com o "zona sul carioca way of life" das novelas globais, em especial dos anos 80. Abraço!

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    2. E sim, Aziz Bajur ainda é vivo (rs).

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  2. Excelente post Fábio.
    Saudades de um tempo que ou não vivi, ou pouco me lembro. As reprises de algumas dessas novelas nos anos 80 e início dos 90 fazem parte das minhas boas lembranças.

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    1. Aline! Muito obrigado pelo elogio. Sinto essa mesma saudade que você descreve, mais de coisas que não vivi que das de que pouco me lembro (kkkkk), uma coisa curiosa. Tivesse o SBT projetos nesse sentido, seria muito bom uma iniciativa parecida com a do Viva, em que se resgatasse o acervo da emissora, lamentavelmente em boa parte perdido em inundações. Beijos

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