terça-feira, 30 de abril de 2013

Entrevista com o ator Bruno Fracchia - Intérprete de "Algumas Histórias" do talentoso Paulo José


Por Isaac Santos


Isaac Santos - Fale um pouco sobre a sua formação profissional.
Bruno Fracchia - Comecei no teatro em 1998, num curso em Santos. Em 2002/2003 comecei a sentir a necessidade de novos ares, comecei a perceber que minha formação não era uma formação, que precisa de novos rumos, novos conhecimentos. Foi neste momento, após tirar meu DRT (por exame de banca do SATED). Estudei com Cleyde Yáconis em São Paulo. Mas a formação mesmo, a base (porque formado um ator nunca pode se considerar) veio somente ao cursar a USP. Na USP tive minha formação teórica e durante o curso universitário comecei e desenvolvi meus estudos na área da dramaturgia, destacando, sem dúvida nenhuma, entre as experiências, as aulas magmas que eram a Master Class, ministradas por nosso querido professor Aguinaldo Silva.
Isaac Santos - A Master Class ministrada pelo Aguinaldo Silva foi sobre roteiros. É de sua autoria o texto do espetáculo "Algumas Histórias"?
Bruno Fracchia - Digamos que a adaptação, a construção dramatúrgica seja minha, mas o ponto de partida, a inspiração (e a base da dramaturgia) é o livro “Memórias Substantivas”, de Tânia Carvalho (escritora e jornalista de uma generosidade ímpar).
Isaac Santos - Foi imediatamente a partir da leitura do “Memórias Substantivas” que surgiu a ideia pro espetáculo, ou serviu apenas como incentivo pra concretização de um desejo adormecido seu?
Bruno Fracchia - Foi a partir da leitura. Imediatamente após ler o livro (que peguei na biblioteca da ECA-USP) sugeri a um professor que convidassem o Paulo José pra dar uma palestra, pois havia muitas coisas importantes a serem compartilhadas com jovens.
O professor sugeriu que eu selecionasse uns trechos e falasse pra classe. Até cheguei a rascunhar, separar algo, mas decorei e não levei a idéia adiante. Porém a vontade de compartilhar as palavras nunca morreu.
Até que em 2009, quando estava no Rio de Janeiro fazendo a Master Class, li uma entrevista da Fernanda Montenegro falando que o monólogo era de certa forma a única alternativa restante a muitos atores. Daí, maio de 2009, começou a nascer a idéia de levar as palavras, algumas histórias de Paulo aos palcos.
Isaac Santos - Imagino que não seja tarefa fácil destacar num monólogo, pontos importantes da trajetória do Paulo José. Como se deu o levantamento de "todo" o histórico da carreira do ator?
Bruno Fracchia - Não é mesmo. Se dependesse de mim a peça teria umas 4 horas (risos), porque um defeito de quem pesquisa muito é ter dificuldade em cortar texto, situações. O que seria uma adaptação fiel do livro ganhou mais "completude", mais olhares, pois partimos para outras entrevistas do Paulo e sobre o Paulo.
Inicialmente pus tudo o que queria no papel, daí, durante os ensaios, começamos a fazer cortes. E até agora, após a pré-estréia, ouvindo a Paula D´Albuquerque, minha excelente diretora, e outros artistas da equipe, e sentindo a peça com o púbico, faremos novos cortes, novas alterações.
Seja na dramaturgia, na cenografia, na interpretação, nunca teremos uma peça fechada, acabada. Mesmo porque a pesquisa sobre Paulo José nunca parará!

Isaac Santos - Com base num livro biográfico já publicado, o homenageado precisa querer sê-lo e dar a sua permissão para que o espetáculo aconteça?
Bruno Fracchia - No Brasil, até o presente momento sim. Tendo a autorização dele (quando o artista é vivo), aí sim, se pode pedir a autorização da editora que detém os direitos do livro, e/ou do autor do mesmo.
Isaac Santos - Espetáculo já com estréia marcada nos próximos dias, óbvio, a equipe envolvida cumpriu todo esse processo. Mas, especificamente, como foi recebida pelo Paulo José, a proposta do espetáculo?
Bruno Fracchia - Nunca conversei com o Paulo. Meu contato foi por e-mail, através da secretaria dele. Mas pela simplicidade com a qual obtive o aval, acredito que a proposta tenha sido recebida com naturalidade. Naturalidade no bom sentido, não com empáfia (risos).

Isaac Santos - Pro ator de formação, vocação, ainda que difícil interpretar um personagem real, é sempre prazeroso e só enriquece a sua carreira artística. Você que nunca teve contato pessoal com o interpretado, como encontrou o tom, a postura, enfim, as características adequadas pra compor o personagem?
Bruno Fracchia - Não posso dizer que tenha encontrado. Deixemos o público e o tempo dizer isso (risos), mas o que procurei fazer foi assistir muitos vídeos (o you tube nos ajuda muito) e filmes antigos, para buscar o "meu Paulo José" nas diferentes faixas etárias do artista.
Também precisei usar a imaginação e uma liberdade criativa, pois o Paulo criança e o Paulo adolescente são frutos da minha imaginação. Não tenho registros da época.
Parti sempre do Paulo atual para criar a criança e o adolescente a partir deste referencial. Seja buscando semelhanças ou diferenças. E, sempre tendo ciência de que nunca poderei dizer que faço o Paulo. É uma leitura minha.
Em busca da universalidade dos sentimentos, fundamental foi a convivência com portadores de Parkinson. Durante quase dois anos ministrei oficina de teatro em uma ONG e a convivência com os "meus alunos/mestres" foi fundamental. Não porque tenha estudado-os. Não os estudei. A relação foi de amizade, carinho, amor. Mas, por osmose, quando me dei conta os estava levando para cena.
E procuro me aperfeiçoar. Posturas, gestos, "caminhares". Algumas coisas observei no Paulo (em vídeo), outras, "apreendi" na convivência com meus amigos parkinsonianos (aos quais dedico o espetáculo!).

Isaac Santos - Se pretende um tom de espetáculo com merchandising social?
Bruno Fracchia - Não diria merchandising social. Mas apelo social, papel social sim! Tanto que além do espetáculo, onde for possível, realizaremos atividades falando do Cinema Novo e do Teatro Brasileiro dos anos 60 e, em especial, da importância da arte como uma ferramenta, sim, de inclusão social. Falaremos de respeito aos portadores de limitações.
Isaac Isaac Santos - Há uma ordem cronológica de apresentação do espetáculo?
Bruno Fracchia - Não. Num dado momento, o espetáculo passa a trabalhar com essa ordem. Mas ele não começa com ela e tampouco a trata de forma ininterrupta quando a adota.

Isaac Santos - Houve ao longo do processo, algum impasse, cenas reescritas, cortes, acréscimos, por orientação da autora do livro, ou mesmo por interferência do próprio Paulo José?
Bruno Fracchia - Jamais. Não do modo que você perguntou. Houve impasses e cenas reescritas, com cortes e acréscimos pelo processo do próprio trabalho. Mas nunca por interferência. Liberdade total.
Isaac Santos - Descreva o momento "o ator Bruno Fracchia interpreta Paulo José, sob o olhar atento do homenageado".
Bruno Fracchia - “Um sonho que me leva a um sorriso de orelha a orelha, a visualizar imagens muito concretas e a não ter ideia de como me sentiria. Um sonho difícil de concretizar, mas que só deixará este projeto ser completo se for realizado!".

Isaac Santos - Rir, chorar, sensibilizar-se. O que o público pode esperar do espetáculo? 
Bruno Fracchia - Eu diria que principalmente sensibilizar-se. Há momentos em que se pode chorar, em que se pode rir. Em especial, refletir.
Isaac Santos - Bruno, desejo excelentes apresentações. Agradeço pela atenção!
Bruno Fracchia - Também agradeço e aproveito para convidar o público do blog para prestigiar o espetáculo.


Espetáculo homenageia Paulo José

"Algumas Histórias", de Bruno Fracchia, traz aos palcos a vida do ator e diretor. O espetáculo estréia de 3 a 6 de maio, em Santos, e percorre diversas cidades do Estado

Programação

3 de maio (sexta-feira)

21h: Apresentação do espetáculo

4 de maio (sábado)

16h: Mesa redonda “A importância de práticas artísticas para portadores de deficiência”

A mesa apresenta experiências artísticas que, além de valiosos instrumentos de inserção e reinserção social, contribuem para a melhoria da qualidade de vida das pessoas acometidas por enfermidades ou limitações físicas e /ou mentais. Com Waldir Côrrea (Grupo Viva a Vida de Teatro para Afásicos), Cláudia Rodrigues (Grupo Lótus – Associação Parkinson da Baixada Santista) e Tina Cruz (Trup TriArte). Mediação de Ana Carolina Ramos.

21h: Apresentação do espetáculo

5 de maio (domingo)

17h: Apresentação do espetáculo

20h: Apresentação de dança em cadeira de rodas, seguida por apresentação do espetáculo

6 de maio (segunda)

15h: Coral do Lar das Moças Cegas e apresentação do espetáculo exclusiva para ONGs (gratuito, necessário agendamento prévio)

20h: Apresentação gratuita para escolas de teatro, seguida de bate-papo sobre o processo (necessário agendamento prévio)

Apresentações:

Teatro Municipal Brás Cubas
Av. Pinheiro Machado, 48 – Vila Mathias, Santos
Tel.: 3226-8000

Venda de ingressos e agendamento:

Teatro Municipal Brás Cubas (endereço citado acima)
Centro Europeu
Rua Timbiras, 7, Gonzaga, Santos
Tel.: 3301101

Agendamentos para apresentações:
 


Interpretação e dramaturgia: Bruno Fracchia
Direção: Paula D´Albuquerque
Direção musical: Alexandre Birkett
Preparação Vocal: Cadu Witter
Preparação para canto: Cláudia Rodrigues
Figurino: Kadu Veríssimo
Cenografia: Karla Lacerda
Adereços:Gilson de Melo Barros
Iluminação (desenho e operação): André Cajaíba
Operador de som e vídeo: David Sebastião
Produção audiovisual: Dino Menezes
Edição e mixagem de som: Rodrigo Alves
Assessoria de imprensa: Márcio Garoni
Assessoria jurídica: Grace Carreira/ Márcia Haron Cardoso 

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Um dia de Balé


Por Paulo Lannes

Bolshoi, em russo, significa “grande”. E realmente é grande a fama da escola que leva esse nome. Criado no século XVIII, atrai até os dias um público vasto e fiel. Para o orgulho dos brasileiros, ganhamos uma “sucursal” dessa escola em nosso solo verde e amarelo. Nos anos 90, Joinville foi a cidade escolhida para sediar a única academia de Bolshoi fora da Rússia. E isso por quê? Os russos ficaram admirados com a receptividade do público brasileiro que aplaudiam e pediam por mais e mais turnês pelo país.
Então, não era de se admirar que ao trazerem a trupe do Bolshoi brasileiro (dá para acreditar que podemos falar assim?) para Brasília, houvesse uma fila quilométrica em busca de ingressos para a apresentação. Ainda por cima, o espetáculo em cartaz é o Dom Quixote, um dos clássicos da dança (e da literatura). Como isso não bastasse, esse grande evento é de graça! Veio em comemoração aos dez anos de Ministério do Turismo, instituição decisiva no acordo de trazer a academia para o Brasil.


A polícia foi reforçada e os amigos, ao invés de divulgarem o espetáculo aos quatro ventos, guardaram para si, na esperança de que conseguissem ao menos uma entrada. A compra era feita por CPF da pessoa presente, para não abrir espaço para cambistas e trambiqueiros. Porém, o interessante mesmo é prestar atenção em cada uma das pessoas que estavam na fila.
Eram jovens fardados, idosas, cadeirantes, estudantes skatistas e casais apaixonados, bem arrumados ou não. Encontramos também senhores revoltados com a fila preferencial. “Veja esse jovem bonitinho. E essa linda menina. Quais são os problemas deles?”, dizia agressivo. O pessoal da organização calmamente dizia que cada um será avaliado para receber o ingresso preferencial enquanto os próprios da fila mostravam seus problemas (que não eram tão visíveis). Entre eles, retardo mental e deficiência auditiva. Em outro canto, pessoas gritavam contra um garotinho que furou a fila. “Entrei aqui na fila às 9h30 da manhã, poxa!” dizia uma delas. Já era 13h quando isso aconteceu. Todos declarando a vontade de ter a chance de assistir o Bolshoi nacional. No final, percebe-se que balé não é coisa de menininha e muito menos dança para riquinho degustar. Não é a toa que a dança se mantém como um dos maiores espetáculos mundiais.

domingo, 28 de abril de 2013

Pedido de Ilusão - Capítulo V



Folhetim de Lucas Andrade
CAPÍTULO 5 – Último capítulo

CENA 01. FACHADA DA CASA DE CELINA. EXTERIOR. NOITE.

Continuação imediata da cena anterior. Estela está chocada: é Luana. Teria Lúcio escondido o tempo todo que a filha estava viva e que estava na casa de sua amante? É a hora da verdade! Estela corre em direção a Lúcio, Celina e Luana.

Estela      - Luana! Luana!
Luana       - (para Lúcio) O que está acontecendo?
Lúcio       - Tudo que eu não queria!
Estela      - Luana!
Lúcio       - (para Celina) Leva a menina pra festa que eu cuido disso!
Celina      - Não, a gente vai resolver isso agora!

Estela se aproxima, chorando. Abraça Luana.

Estela      - Minha filha!
Luana       - Me solta!
Estela      - Minha filha! Sou eu! Sua mãe! Dá um abraço na sua mãe! Meu Deus, eu pensei que você tinha morrido! Você está linda! Linda! (para Lúcio, com raiva) Como você pode me tirar o que eu tinha de mais precioso? A minha filha! Você sabe o quanto eu sofri esse tempo todo, porque não me disse que a Luana estava viva, por que, por quê?

Com Luana assustada e Estela surtada, corta para:

CENA 02. CASA DE CELINA. SALA. INTERIOR. NOITE.

Celina dá um copo d’água para Estela, que bebe tudo de uma vez só.

Celina      - Você não precisa ficar aqui, Luana!
Estela      - Você querem tirar a minha filha de mim! Celina, você já roubou o meu marido e agora quer roubar a minha filha! O que é isso? Porque me odeia tanto?
Lúcio       - Sobe, Luana! A gente dá um jeito aqui na situação!

Luana sobe e Estela se altera.

Estela      - Eu quero a minha filha!
Lúcio       - Senta! Se acalma! Vamos conversar!
Estela      - Eu não entendo o que está acontecendo!
Celina      - (para Lúcio) Um dia isso tinha que acontecer!
Estela      - Que você roubasse meu marido eu, eu até relevava... Mas você roubou a minha filha!
Celina      - Eu não roubei seu marido, Estela!
Estela      - Como não?
Lúcio       - Eu nunca fui casado com você, Estela!

Um misto de sarcasmo e medo toma conta de Estela.

Estela      - Vocês estão mentindo! Só pode ser uma brincadeira!
Lúcio       - Eu nunca tive nada com você, Estela!
Celina      - E eu nunca fui amante do Lúcio. O Lúcio é meu marido e a Luana nossa filha!
Estela      - Vocês estão mentindo! Não pode ser verdade!
Celina      - Essa é a verdade, Estela!
Estela      - Não, não, não!
Lúcio       - A minha família é esta! Durante todo esse tempo eu apenas estive com você, cuidando de você por me sentir culpado pelo seu estado de choque! Você não se lembra de nada do que aconteceu antes. Mas eu vou contar o que aconteceu!

Closes alternados. Corta para:

CENA 03. FLASHBACK DA CENA 09 DO CAPÍTULO 01: RUAS DE GRAMADO. EXTERIOR. NOITE. (ADAPTADO)

Lúcio na direção do carro, ao lado de Estela.

Lúcio       - Luana foi pra casa com o Freddy e o Declan, não?
Estela      - Aham. Mas eles iam passar no posto antes.

Lúcio olha o painel do carro.

Lúcio       - É, eu também tô quase sem gasolina!

Lúcio segue até o semáforo do assalto em cena 07 do capítulo 01. Sinal vermelho. Tudo calmo. Direciona o carro ao posto e entrega a chave a um frentista.

Frentista   - Quanto, doutor?
Lúcio       - Cinquenta reais já está bom!

Outro frentista surge limpando o vidro do carro e Lúcio faz cara de “não precisava”.

Estela      - Tudo bem?
Lúcio       - Não sei, tem alguma coisa errada.

Ouve-se um tiro. Lúcio e Estela ficam apavorados com a situação. Aqui a direção deve fazer um mosaico de cenas, misturando o assalto da cena 07 do capítulo 01 com esse assalto de cena 09 do capítulo 01 e cenas de Luana sendo atingida por um tiro, seguido do desespero de Estela. Tudo muito rápido. Agilidade. Os assaltantes fogem e nenhum dos assaltantes é Donato, o homem desconhecido que foi atendido por Lúcio. Lúcio desce do carro e observa Luana. Agilidade.

Lúcio       - (apavorado) Pro hospital agora, Freddy, pro hospital, rápido!

Freddy e Declan ajudam Luana, que perde sangue. Lúcio volta para o carro e vê Estela em estado de choque.

Lúcio       - A gente vai pro hospital agora, depois peço pra alguém te deixar em casa!
Estela      - Eu estou com medo, Lúcio! Ela não podia ter morrido! Ela não podia!
Lúcio       - Fica calma! A Luana não morreu. Calma!

Lúcio dá partida no carro e desaparece pelas ruas na noite de Gramado. No clima de tensão, corta para:

CENA 04. CASA DE CELINA. SALA. INTERIOR. NOITE.

Continuação imediata da cena 02.

Estela      - Foi só uma carona?
Lúcio       - Há muitos anos atrás, você perdeu uma filha. Virgínia me disse. Você associou a morte da sua filha com o assalto no posto de gasolina. E Virgínia me confessou que você sempre esteve apaixonada por mim, fato esse que eu acabei descobrindo quando, aos poucos, você foi se revelando quem realmente era. Eu fiquei me sentindo muito culpado por ter te oferecido uma carona àquela noite. A Luana se recuperou, mas sempre que eu te contava a verdade, você acabava esquecendo e voltando ao seu mundo.
Celina      - Você está entendendo direito?
Estela      - Eu não sou louca!
Lúcio       - Você entrou em um severo estado de choque, construiu uma realidade que nunca existiu. Tudo o que você vive, desde o assalto, não passa de uma ilusão. É por isso que visitava você todos os dias. Mas você nunca aceitou o fato de ser para mim apenas... Apenas uma conhecida. Você sempre se considerou minha esposa, achava que Luana era nossa filha... O tempo todo, você usou aquele assalto como uma desculpa para me manter por perto... Como uma fuga da sua realidade.
Estela      - Não pode ser verdade! Eu não estou louca! A Fabiana esteve comigo esse tempo todo, ela sabe que não estou louca!
Lúcio       - Essa sua amiga, Fabiana, não existe! Nunca existiu!
Celina      - Tudo não passa de um produto da sua imaginação, Estela!
Estela      - (descontrolada) Mentira! Não é verdade! Porque está inventando isso? Porque roubou o meu marido, porque roubou a minha filha?
Lúcio       - Desculpe, Estela! É essa a realidade. A sua realidade!

Estela sai atordoada, sem olhar para trás.

Celina      - Não vai ir atrás dela? Afinal, é por causa dela que o nosso casamento está sempre à beira do abismo, não?
Lúcio       - Ela vai ter ajuda pra chegar bem em casa! E a gente tem uma formatura pra ir. Vou chamar a Luana.

Lúcio sobe e Celina fica pensativa. Olha uma fotografia de seu casamento com Lúcio. Corta para:

CENA 05. FACHADA DA CASA DE CELINA. EXTERIOR. NOITE.

Estela caminha pela calçada até a árvore onde estava. Encontra Fabiana, que a olha sem entender.

Fabiana     - Então? O que aconteceu lá dentro?

Estela olha para Fabiana, sem a certeza de que a amiga realmente existe. Medo. Tensão. Corta para:

ABERTURA

CENA 06. GRAMADO. EXTERIOR. NOITE.

Estela caminha pelas ruas, perdida. Não sabe no que acreditar. Entra flashback do assalto no posto de gasolina. Lembra-se do que sentiu ao ver Donato no hospital. Caminha perdida. Desequilibrada, corre sem destino e grita. Corta para:

CENA 07. CASA DE ESTELA. INTERIOR. NOITE.

Estela chega em casa, abre a porta. Olha para a televisão ligada. CAM aos poucos revela que Fabiana está sentada assistindo televisão.

Fabiana     - Você não vai mesmo me contar o que aconteceu na casa da Celina?
Estela      - Me disseram que você não existe! Me disseram que a minha vida não existe!
Fabiana     - Eles estão te enrolando!
Estela      - Eu sou uma mulher traída, Fabiana!
Fabiana     - Eu sei!
Estela      - Eu tenho uma filha!
Fabiana     - Sim, você tem uma filha! Luana!
Estela      - Como ele teve coragem? O Lúcio me abandonou por causa da Celina, salvou a vida do assassino da minha filha e... E a minha filha não morreu! Não morreu, Fabiana! Eu a vi! A vi com o Freddy mais cedo, perto do café que eu estava! Ela está viva! O Lúcio viu o meu desespero e o que ele fez? Salvou a vida da minha filha e não me disse nada! Como ele pôde ter sido tão egoísta?
Fabiana     - Vamos pensar direito o que vamos fazer?
Estela      - Mas se a minha filha realmente está viva... Porque eu ainda vejo você? Afinal, quem é você?
Fabiana     - Sou sua amiga! Quero te ajudar!
Estela      - (surtada) Não, não, não, não!

Fora de si, Estela começa a destruir toda a sua casa. Cai exausta no chão. Derrama uma lágrima. Olha para Fabiana, que a observa atentamente.

Fabiana     - Deixa eu te ajudar!
Estela      - (vira-se) Vai embora!

CAM mostra apenas Estela deitada no chão, em posição fetal. Lentamente, vai se afastando. Corta para:

CENA 08. GRAMADO. EXTERIOR. AMANHECER.

Belíssimas imagens da cidade. Corta para:

CENA 09. HOSPITAL. QUARTO DE PACIENTE. INTERIOR. DIA.

Dominique entra com uma assistente social, Zélia.

Dominique   - Como está se sentindo?
Donato      - Bem! Quem é ela?
Zélia       - Meu nome é Zélia. Eu sou a assistente social que vai te acompanhar até o albergue municipal. Depois desses meses que você esteve internado, até agora, ninguém te reconheceu.
Donato      - E a Estela? Ela disse que eu me chamava Donato!
Dominique   - Ela estava equivocada. Você precisa acompanhar a Zélia!
Donato      - Mas vocês podem me chamar de Donato por enquanto? Só para eu ter um nome?
Zélia       - Está certo, Donato!

Donato se ajeita para sair do hospital, dá uma olhada no quarto onde ficou internado e fecha a porta ao sair. Corta para:

CENA 10. CURITIBA. EXTERIOR. DIA.

Belíssimas imagens da cidade. Corta para:

CENA 11. FRENTE DA CASA DE YURI. EXTERIOR. DIA.

Virgínia bate na campainha e Yuri sai.

Yuri        - Pois não?
Virgínia    - Olá! Yuri, né?
Yuri        - Sim!
Virgínia    - Yuri, a gente pode conversar?

Corta para:

CENA 12. CASA DE YURI. QUARTO DE YURY. INTERIOR. DIA.

Conversa já terminada.

Virgínia    - Meu marido e eu não sabíamos que o Freddy era gay. Mas eu vim pra dizer que se você fizer o meu filho sofrer, o Amoroso não vai ser nada amoroso com você.
Yuri        - (tenta interromper) Dona Virgínia/
Virgínia    - Ainda não terminei! Acho que vocês dois quem que ter a decência de assumir! O Freddy ainda está namorando a Luana, ela não merece ser traída. Mesmo que fosse por uma mulher. Mas eu gostei de você! Lógico que eu não esperava ter um genro, nem descobrir sobre a sexualidade do meu filho dessa forma, mas por favor, quero que você entenda que não estamos contra! O que queremos é confiança, sabe! Por isso eu vim de Gramado até aqui, pra gente poder conversar e/
Yuri        - Eu tenho câncer!
Virgínia    - O quê?
Yuri        - Eu não sou namorado do seu filho. Sou paciente! Ele está vindo me examinar! O meu cérebro está quase explodindo. Eu encontrei o Freddy pela internet e vi o currículo dele. Seu filho é muito bom, e junto com o orientador dele, Doutor Lúcio Nogueira, eles estão analisando meu caso. É por isso que ele está vindo! É pra me operar!
Virgínia    - Vocês não namoram?
Yuri        - Até onde me consta, ele continua com a Luana! E eu espero que ele me cure antes do casamento dele! Acho que vai ser antes do intercâmbio!
Virgínia    - Claro! (se toca) Que história é essa de casamento? Freddy vai casar com a Luana e não me avisa nada? Olha, tá difícil de confiar nesse meu filho! Se pelo menos ele fosse gay, eu não tinha me decepcionado! Um filho brilhante como o meu se casando antes de fazer o intercâmbio? Onde ele tá com a cabeça?

Yuri está pasmo com a reação de Virgínia. Corta para:

CENA 13. CASA DE VIRGÍNIA. QUARTO DE CASAL. INTERIOR. DIA.

Virgínia desarruma a mala enquanto conversa com Amoroso, que está no banheiro.

Amoroso     - (off) Casar?
Virgínia    - Imagina a minha decepção! Quando ele chegar, vou ter uma bela de uma conversa com o Freddy!
Amoroso     - (off) E comigo, o que você vai ter?

Virgínia vira-se e vê Amoroso vestido de empregada.

Virgínia    - Ah, se prepara, que hoje tem!
Amoroso     - Adoooooro!

Virgínia corre em direção a Amoroso e, num beijo muito quente, corta para:

CENA 14. GRAMADO. EXTERIOR. ANOITECER.

Belíssimas imagens da cidade. Corta para:

CENA 15. CASA DE CELINA. SALA. INTERIOR. NOITE.

Celina lê um livro quando Lúcio cruza por ela, preparando-se para sair.

Lúcio       - E a Luana?
Celina      - Deu uma saidinha com o Freddy. E você, vai sair também?
Lúcio       - Vou passar na casa da Estela. Tenho que ver como ela está!
Celina      - Pensei que depois do que aconteceu, você ia esquecer essa história!
Lúcio       - Eu tenho pena dela. (dá um beijo em Celina) Eu volto logo!

Lúcio sai. Corta para:

CENA 16. CASA DE ESTELA. SALA, QUARTO, BANHEIRO. INTERIOR. NOITE.

Lúcio entra e encontra tudo bagunçado. Procura por Estela, mas não a encontra. Corta para:

CENA 17. FACHADA DA CASA DE ESTELA. EXTERIOR. NOITE.

Fabiana e Estela observam a movimentação, escondidas atrás de um carro. Muita movimentação de gente na rua.

Fabiana     - Eu disse que ele vinha!
Estela      - É a minha vingança! A minha vida está arruinada! (olha para o lado) Sabe o que fazer, não sabe?

CAM localiza Donato, com um revólver na mão.

Donato      - Uma vida pela outra, não?
Estela      - É bem esse o combinado! Espera ele sair e acaba com tudo!

Estela caminha em direção a casa e entra. Corta para:

CENA 18. CASA DE ESTELA. SALA. INTERIOR. NOITE.

Lúcio, que estava em outro cômodo, volta para a sala e encontra Estela sentada no sofá, chorando.

Lúcio       - Eu juro que não te vi aí!
Estela      - Eu estava aqui o tempo todo! Eu vi você entrar e ir pro quarto!
Lúcio       - Como você está?
Estela      - Como você acha que eu estou, sabendo que você não conseguiu salvar a minha filha? A Luana morreu por sua culpa! Eu sei que você está me traindo com a Celina! Eu sei!

Lúcio está solidário a Estela. Corta para:

CENA 19. CASA DE ESTELA. QUARTO. INTERIOR. NOITE.

Lúcio entra no quarto e realiza uma ligação.

Celina      - (tel) Então?
Lúcio       - (tel) Parece que ela se esqueceu da verdade. De novo! (emocionado) Será que um dia a gente volta a ser feliz?
Celina      - (tel) Eu já não me iludo mais! Você vai sempre se sentir culpado por essa fatalidade. Ela nunca vai recuperar a razão. E ao manter a proximidade com ela, é você que deixa de ser racional.

Celina desliga. Lúcio se aproxima de uma janela e observa as luzes das casas iluminando a escuridão da noite. Na rua, não existe nada, nem mesmo um carro. CAM vai se afastando lentamente. Corta. FIM.

Perdeu os capítulos anteriores? 
Confira aqui o 4º
Confira aqui o 3º
Confira aqui o 2º
Confira aqui o 1º


Lucas Andrade além de mostrar-se criativo em suas viagens pelo mundo da dramaturgia, também escreve críticas interessantes em seu blog: Cascudeando

Lucas, estou muito contente pela bem sucedida parceria. Aproveito para agradecê-lo e dizer que outras serão sempre bem vindas! 

Obrigado também ao público que acompanhou "Pedido de Ilusão".

Isaac Abda

sábado, 27 de abril de 2013

Pedido de Ilusão - Capítulo IV



Folhetim de Lucas Andrade

CAPÍTULO 4

CENA 01. HOSPITAL. QUARTO DE DONATO. INTERIOR. DIA.

Continuação imediata da cena anterior. Estela aproxima-se do homem misterioso, cujo nome é Donato.

Donato      - (ansioso) Descobriu algo?
Estela      - Algumas coisas. Mas o seu passado não é digno de ser memorado.
Donato      - Não importa. Eu quero a verdade! Mas antes, eu quero agradecer toda a atenção que você tem me dado. Durante todos esses meses, você sem nem me conhecer, vem me visitar!
Estela      - É que o nosso passado se cruzou num determinado momento. E agora que você está prestes a sair do hospital, preciso que o nosso futuro se cruze também.
Donato      - Como assim?
Estela      - Você me deve uma vida, Donato!

Donato fica ansioso com a descoberta de seu nome e na expectativa para conhecer o seu passado. Corta para:

CENA 02. CASA DE VIRGÍNIA. QUARTO DE CASAL. INTERIOR. DIA.

Amoroso e Virgínia caem na cama, exaustos.

Virgínia    - Uau!
Amoroso     - Nossa, assim você me mata!
Virgínia    - E a vergonha, onde foi parar?
Amoroso     - (dá um beijinho na esposa) Acho que ficou na Sex Shop!

Eles sorriem. Beijam-se novamente e Virgínia levanta. Ouvem um barulho.

Virgínia    - O que foi isso?
Amoroso     - Deve ser o Freddy, chegando do plantão.
Virgínia    - (rindo) Imagina o nosso filho descobrindo que a gente anda frequentando Sex Shop!
Amoroso     - Pior se ele descobre o que a gente faz aqui. E com o quê!
Virgínia    - (maliciosa) Nem comenta! Eu vou dar uma conferida e já volto!

Virgínia levanta, dá um beijinho em Amoroso e o deixa na cama. Sai do quarto. Corta para:

CENA 03. CASA DE VIRGÍNIA. QUARTO DE FREDDY / CORREDOR. INTERIOR. DIA.

Virgínia entra no quarto de Freddy e percebe que ele está no banheiro. Dá uma olhada no quarto e vê o notebook ligado. Vai até o notebook e vê várias radiografias cerebrais. Mexe um pouco mais no computador e encontra uma foto de Yuri. Percebe que o filho está saindo do banho e dirige-se até o corredor, ouvindo a conversa que segue através da webcam entre Freddy e Yuri.

Yuri        - (cam) Ah, tava tomando banho!
Freddy      - (cam) Só o que me faltava, você me ver de toalha pela webcam!
Yuri        - Vai sair?
Freddy      - Tenho que dar uma volta. Semana que vem vou praí, hein!
Yuri        - Não vejo a hora!
Freddy      - Vou acertar com o Lúcio direitinho pra não precisar ir pro hospital.
Yuri        - Acha que vai dar certo?
Freddy      - Confia que vai! Eu preciso muito de ti, Yuri! Muito mesmo!
Yuri        - Não mais do que eu, tenha certeza!

Risos entre os dois. Virgínia não sabe se acredita no que está ouvindo.

Freddy      - Me passa teu endereço de novo, eu anoto aqui!
Yuri        - Ok!

Virgínia percebe que Freddy vai sair do quarto e entra numa das portas do corredor. Ao ver que o quarto está vazio, ela volta ao quarto e anota o endereço de Yuri num outro papel. Corta para:

CENA 04. CASA DE VIRGÍNIA. QUARTO DE CASAL. INTERIOR. DIA.

Virgínia entra no quarto, ainda anestesiada. Amoroso ainda no clima de intimidade.

Amoroso     - Vem logo!
Virgínia    - (séria) Eu tenho uma coisa pra falar contigo, mas pelo amor de Deus, preciso que você seja compreensivo!
Amoroso     - (assustado) O que aconteceu?
Virgínia    - É com o Freddy!
Amoroso     - O que tem o nosso filho?
Virgínia    - (respira fundo) Por favor, ele não sabe que eu descobri. Ele não vai me perdoar se ele souber que eu te contei, mas é demais carregar sozinha isso!
Amoroso     - (sensato) O que está acontecendo, Virgínia?
Virgínia    - O Freddy é gay!

Amoroso fica sem palavras. Olha para Virgínia sem acreditar na revelação.

Amoroso     - O quê?
Virgínia    - Antes de tudo, lembra que ele é nosso filho... Lembra de tudo que ele passou com a Luana/
Amoroso     - (interrompe) Calma aí... Deixa eu assimilar... Como... Como você descobriu?
Virgínia    - Eu ouvi ele falando com um rapaz pela webcam. O nome dele é Yuri, ele mora em Curitiba. Eu anotei o endereço! Olha, eu não sei o que pensar... Eu tô besta!

No clima entre os dois, corta para:

CENA 05. HOSPITAL. QUARTO DE DONATO. INTERIOR. DIA.

Estela demonstra raiva, tristeza e frieza enquanto observa a reação de Donato. São muitos os sentimentos dessa mulher que agora é vítima e algoz de seu próprio destino.

Donato      - Quer dizer que eu me chamo Donato? E que eu acabei com a sua vida?
Estela      - Eu vi você a primeira vez durante... Durante um assalto. Um assalto num posto de gasolina. A minha filha morreu nesse assalto. Foi você!
Donato      - Não! Eu não posso ter causado isso!
Estela      - Pois causou! A vida da minha Luana foi ceifada por sua culpa! Ela só tinha ido abastecer o carro com o namorado e um amigo. Uma estupidez da sua parte, da parte dos homens que estavam contigo... Acabara m com a minha vida!
Donato      - Mas eu não me lembro de nada!
Estela      - Pode não se lembrar do que fez, mas agora nunca mais vai esquecer onde a sua vida está enraizada. Enraizada em cima da minha desgraça! Minha vida que acabou com a morte da Luana, quando meu casamento com o Lúcio foi por água abaixo... Tudo acabou desde aquela noite! Tudo acabou
Donato      - Se eu fui tão cruel com você, porque se dedicou esse tempo todo vindo ao hospital me ver?
Estela      - Como eu já disse, você me deve uma vida! E vai me pagar!

Donato fica sem entender Estela. Corta para:

CENA 06. GRAMADO. EXTERIOR. DIA.

Estela sai do hospital e caminha em direção a um café. O garçom entrega o cardápio e ela observa, na rua, Freddy caminhando ao lado de uma jovem.

Estela      - Não pode ser!

Estela associa a jovem com Luana. Tensão. Corta para:

ABERTURA

CENA 07. GRAMADO. EXTERIOR. DIA.

Estela presta mais atenção na jovem, acredita se tratar de Luana. Vai em direção a Freddy, mas acaba se encontrando com Lúcio no meio do caminho.

Lúcio       - Estela!
Estela      - Lúcio, quem estava com o Freddy? Você viu?
Lúcio       - Calma! O que está acontecendo?
Estela      - Era a Luana! Era a nossa filha, eu vi!
Lúcio       - Estela, você não está bem!
Estela      - Chega de dizer que eu não estou bem! Você já me deixou, você já está morando com a Celina! Quer me impedir agora de recuperar a minha filha?
Lúcio       - Eu vou chamar o Freddy pra conversar com você!
Estela      - Não! Não é o Freddy que eu quero... É a minha filha! É a Luana! Ah, Lúcio, eu estou desesperada! Você não sabe a emoção que eu estou sentindo! A minha filha está viva! Eu vi ela! Preciso avisar a Fabiana! Ela tem que vir, ela é minha amiga, vai me apoiar porque, se depender de você, nunca vou ter apoio na minha vida! Nunca!

Tensão. Lúcio continua impedindo que Estela vá atrás de Freddy e da jovem. Corta para:

CENA 08. SALA DA CASA DE VIRGÍNIA. INTERIOR. DIA.

Amoroso e Virgínia se olham sem saber o que um fala para o outro.

Amoroso     - Não sei com o que eu me surpreendo mais: com o fato da gente ter vergonha de entrar na Sex Shop ou com o fato do meu filho ser gay.
Virgínia    - Eu tenho medo que seja um engano!
Amoroso     - (pensa rápido) Você disse que ele vai se encontrar com o Yuri, não disse?
Virgínia    - Sim, o Freddy vai ir pra Curitiba!
Amoroso     - Ainda bem que você pegou o endereço. A gente vai lá, conhece o rapaz. Quer dizer? Olha só, eu já nem sei o que estou dizendo! O Freddy é um adulto, não tem como a gente impedir esse namoro!
Virgínia    - Verdade. Mas nós dois ir pra Curitiba vai ser estranho. Eu pego o carro, vou pra Porto Alegre, dou um pulo em Curitiba e amanhã tô de volta! O que acha?
Amoroso     - E como eu vou encarar ele? Fingir que eu não sei?
Virgínia    - Ele vai ficar no hospital o dia e a noite toda. Dá bem pra fazer isso. Até porque não quero que meu filho se meta em furada. (pensa) Sabe... você me surpreendeu com a compreensão.
Amoroso     - Não é compreensão. É choque mesmo!

No clima, corta para:

CENA 09. HOSPITAL. QUARTO DE DONATO. INTERIOR. DIA.

Dominique faz alguns exames em Donato.

Dominique   - Amanhã mesmo você já pode sair!
Donato      - E pra onde eu vou?
Dominique   - A assistência social conseguiu uma casa albergue para você. Mas só por uns três dias!
Donato      - E quanto à minha família?
Dominique   - Ainda não temos notícia!
Donato      - E a dona Estela? Ela veio conversar comigo, descobriu quem eu sou.
Dominique   - O que foi que ela te disse?
Donato      - Que eu me chamo Donato.
Dominique   - Ela falou algo mais?
Donato      - (pensa) Não. Mais nada.
Dominique   - Hum... (pensa) Eu já volto!

Dominique sai. Donato fica pensativo. Corta para:

CENA 10. CONSULTÓRIO DE LÚCIO. INTERIOR. DIA.

Lúcio observa algumas tomografias.

Freddy      - (ansioso) Então?
Lúcio       - A literatura médica desconhece um caso como esse. Eu também andei pesquisando!
Freddy      - Acha que vai me ajudar a conseguir o estágio no exterior?
Lúcio       - Não tenho dúvidas. Só fico chateado por deixar meu pupilo ir embora!
Freddy      - Não vai ser por muito tempo!
Lúcio       - Eu sei. Eu tô pensando em colocar o Declan no seu lugar.
Freddy      - (satisfeito) Sério?
Lúcio       - Ele vai se dar bem. E vai poder voltar pra Inglaterra com uma boa bagagem. Esse programa de estágios de vocês é um dos melhores. Intercâmbio é muito bom, a gente precisa trocar figurinhas.
Freddy      - Também acho!
Lúcio       - Mudando de assunto... Estela viu você hoje, cruzando por um café!
Freddy      - O que ela comentou?
Lúcio       - Eu acabei trazendo ela para o hospital. Essa depressão dela me preocupa. Aliás, já deixou de ser apenas depressão há um bom tempo! É uma situação bem complicada!
Freddy      - Eu lamento!
Lúcio       - Ela me disse que viu você e a Luana. Sinceramente, eu não sei até quando ela vai viver atormentada com isso. A Celina estava certa: eu precisava me livrar desse tormento. A melhor coisa que eu fiz, mas eu sinto tanta pena da Estela. No fundo, ela é muito infeliz!

Corta para:

CENA 11. HOSPITAL. SALA DE ESPERA. INTERIOR. DIA.

Dominique chega com um comprimido para Estela.

Dominique   - (entrega) Vai te fazer bem!
Estela      - Porque vocês fazem isso comigo? Que horas a Fabiana vai vir me pegar pra me levar pra casa? Tudo que eu quero é dormir!
Dominique   - Eu posso chamar um táxi, ele te deixa em casa, você toma um banho, descansa...
Estela      - Eu quero a minha filha. Eu vi, ela está viva!
Dominique   - (sensata) Eu vou chamar um táxi!

Corta para:

CENA 12. HOSPITAL / GRAMADO. EXTERIOR. ANOITECER.

Dominique ajuda Estela a entrar no táxi.
Dominique   - Deixa ela no endereço certinho, ok?
O taxista dá segue seu caminho. Estela olha para a cidade, perdida em pensamentos.
Estela      - Não quero ir pra casa, não!
Taxista     - Para onde então?
Estela      - Por enquanto, segue nessa rua!

Corta para:

CENA 13. FACHADA DA CASA DE CELINA. EXTERIOR. NOITE.

Atrás de uma árvore, Estela observa Lúcio estacionando. Da casa, saem Celina e uma jovem com roupa de festa, mas não é possível ver o rosto. Estela está apreensiva. Presta atenção no rosto da menina.

Estela      - (para si) Não pode ser! A Luana! É a minha filha! Ele sempre soube que minha filha estava viva!

Com Estela chocada ao ver Luana ao longe, corta.

FIM DO CAPÍTULO 4

Confira o Capítulo 5 (último) aqui
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