terça-feira, 28 de maio de 2013

A hora e a vez das trilhas instrumentais

 
                                                                                                                                Por Daniel Pilotto

Estamos vivendo uma época de contradições, de mudanças, o que era bom ontem hoje já não é mais. E não poderia ser diferente dentro daquilo que o brasileiro mais gosta: a novela de TV.
As tramas se modificaram e hoje tem que atingir principalmente a dois públicos bem distintos, os de maior poder aquisitivo que abandonaram as redes abertas e migraram para a tv a cabo e também ao público mais popular ao qual eles costumam classificar como “classe c”. Atualmente estamos assistindo novelas num ritmo cada vez mais ágil semelhantes aos seriados da tv norte-americana, e que ao mesmo tempo contam com ingredientes, personagens e situações consideradas popularescas.
Como não poderia deixar de ser, no meio desta nova realidade a música é uma das principais vitrines da mudança. E para as trilhas sonoras nacionais (as principais vítimas desta tendência) sobrou uma diversidade extravagante de estilos, e que em determinados casos chega a ser gritante vide a irregularidade dos volumes nacionais de AVENIDA BRASIL, por exemplo.

Nesta contradição surgem as trilhas instrumentais ganhando cada vez mais espaço e adquirindo um status nunca antes imaginado diante do cenário descrito logo acima.
A princípio este tipo de música ficava restrito apenas à execução dentro da novela, em sua grande maioria como temas de ação, suspense ou romance tocando no fundo das cenas. Em alguns casos eram adicionadas às trilhas nacionais, em no máximo duas ou três faixas, apenas como complemento. Hoje o cenário é outro e percebeu-se que estas faixas por si só podiam e deviam ganhar um cd próprio, pois havia um público bastante interessado no produto.

Não há um registro preciso da primeira trilha instrumental composta especialmente para uma novela. Elas sempre existiram, principalmente numa época da tv em que ainda não se tinha o hábito de criar temas para os personagens das tramas. Em sua maioria estas trilhas eram executadas por orquestras das próprias emissoras, e os temas eram variações de temas da música clássica ou arranjos instrumentais de músicas americanas. Quase sempre lançadas em vinil, no formato compacto de no máximo quatro faixas. Desta fase são bem conhecidas as trilhas compostas ou executadas por Erlon Chaves e sua orquestra em novelas como O PREÇO DE UMA VIDA (Tupi 1966) entre outras.
É apenas nos anos oitenta que uma trilha instrumental ganha uma edição especialmente composta para a novela, o que consideramos até hoje como trilha complementar, em BAILA COMIGO (1981). Além da trilha nacional e internacional a trama ainda contava com a instrumental composta por Robson Jorge e Lincoln Olivetti, um compacto simples com apenas quatro faixas.

Anos mais tarde a trilha instrumental ganha o destaque que merece pelas mãos do músico e compositor Marcus Vianna. O ano era 1990 e a novela era o grande sucesso PANTANAL da Rede Manchete. Aqui os temas instrumentais tinham tanta importância quanto a história da novela, pois eles eram a síntese das imagens daquele cenário tão fascinante. A trilha foi amplamente executada dentro da trama e foi um grande êxito de vendas ao lado das duas belíssimas trilhas nacionais.
Marcus Vianna ainda compôs as trilhas instrumentais das novelas ANA RAIO E ZÉ TROVÃO (Manchete 1991) que só teve um lançamento oficial em cd com sua reprise recente pelo SBT, da novela A IDADE DA LOBA (Band 1995), XICA DA SILVA (Manchete 1996/97), TERRA NOSTRA (Globo 1999), O CLONE (Globo 2001) e das minisséries CHIQUINHA GONZAGA (1999) e A CASA DAS SETE MULHERES (2002), todas estas lançadas não oficialmente pelas emissoras, apenas pela gravadora do próprio compositor.

 

Na Globo, a primeira novela a ganhar uma trilha instrumental complementar foi ESPERANÇA (2002). Assinada pelo maestro John Neschling a convite do diretor da novela Luís Fernando Carvalho, os trinta temas da trilha foram compostos especialmente para os personagens e as situações de uma novela de época. Executados por uma orquestra completa é um dos maiores exemplos de criação, podendo até ser considerado verdadeiramente um álbum de música clássica tamanha a grandiosidade de sua produção.

Depois de uma breve ausência as trilhas instrumentais voltariam com tudo. A novela BELÍSSIMA (2005) marca este retorno. Composta por Sergio Saraceni (AEIO URCA, A MURALHA, O CRAVO E A ROSA, A PADROEIRA) esta é uma trilha sofisticada com temas de suspense e mistério dignos de uma trilha sonora de filme de Hitchcock. Uma das trilhas instrumentais mais difíceis de ser encontrada. Na própria época de exibição da novela ela já era rara nas lojas, e hoje alcança preços absurdos em sites de vendas.
Este é um detalhe bastante relevante sobre as instrumentais, suas tiragens são bastante limitadas, não passando de mil cópias.




Diversos nomes ficaram conhecidos pelos fãs de novelas por conta das trilhas instrumentais. Além dos já citados Marcus Vianna e Sergio Saraceni, temos Edom Oliveira (ANOS REBELDES, HILDA FURACÃO, SENHORA DO DESTINO) André Sperling (RAINHA DA SUCATA, RIACHO DOCE, VAMP, PEDRA SOBRE PEDRA, DE CORPO E ALMA, OS MAIAS, BELEZA PURA, PARAÍSO),Alberto Rosenblit (AGOSTO, EXPLODE CORAÇÃO, POR AMOR, TORRE DE BABEL, ETERNA MAGIA, MAD MARIA. A FAVORITA) Guilherme Dias Gomes (O FIM DO MUNDO, ANJO DE MIM, DONA FLOR, PORTO DOS MILAGRES), Alexandre Guerra (A VIDA DA GENTE), Victor Pozas (DUAS CARAS, FINA ESTAMPA) Rodolfo Rebuzzi (BELEZA PURA) entre outros.


Com destaque para três nomes bem representativos: Roger Henri, Mu Carvalho e Alexandre de Faria.

Roger Henri é arranjador e produtor musical de trilhas sonoras de programas da Rede Globo desde 1983. Mas com toda a certeza suas composições mais famosas estão na teledramaturgia, somando mais de 1.600 músicas veiculadas em trilhas sonoras da emissora, incluídas em novelas como MEU BEM MEU MAL (1990/91), LUA CHEIA DE AMOR (1990/91), DESPEDIDA DE SOLTEIRO (1992), ANJO MAU (1997), FORÇA DE UM DESEJO (1999), PARAÍSO TROPICAL (2007), INSENSATO CORAÇÃO (2011) e LADO A LADO (2012/13). E em minisséries como O PRIMO BASÍLIO (1988), DESEJO (1990), TEREZA BATISTA (1992), MEMORIAL DE MARIA MOURA (1994), ENGRAÇADINHA (1995), UM SÓ CORAÇÃO (2004).
Com a novela LADO A LADO o compositor ganhou uma trilha instrumental inteira contendo 32 temas especialmente criados para a trama. Suas composições casam muito bem em tramas de época.


Mu carvalho é outro compositor bastante produtivo. Ex-integrante do grupo A Cor do Som, Mu se dedica atualmente apenas á composição de temas para trilhas sonoras de filmes e novelas. É o compositor mais solicitado para as tramas dirigidas por Jorge Fernando, em novelas como ZAZÁ (1997), ERA UMA VEZ (1998), VILA MADALENA (1999), AS FILHAS DA MÃE (2001), CHOCOLATE COM PIMENTA (2003), ALMA GÊMEA (2005), SETE PECADOS (2007), CARAS E BOCAS (2008), TI-TI-TI (2010) e GUERRA DOS SEXOS (2012/13).
Teve suas composições originais lançadas em três cds de trilhas instrumentais, são eles TRÊS IRMÃS (2008), CARAS E BOCAS e GUERRA DOS SEXOS. Seus temas são essencialmente voltados para tramas mais ágeis e com forte influência de comédia.



Alexandre de Faria é um nome novo entre os compositores mais conhecidos, entretanto vem demonstrando uma composição forte e bastante fértil em trilhas sonoras. Está presente nas últimas tramas de Glória Perez, responsável pelos instrumentais da minissérie AMAZÔNIA DE GALVEZ A CHICO MENDES (2007) e das novelas CAMINHO DAS ÍNDIAS (2009) e SALVE JORGE (2012/13). Estas duas últimas com trilhas instrumentais maravilhosas e de uma emoção sem igual. Se forte são os temas étnicos com arranjos épicos e dramáticos, a cara das novelas da autora.




Enfim, as trilhas instrumentais representam uma grande parte do sucesso das novelas, pois dão vida às cenas e aos personagens quando não é possível a utilização dos temas cantados. E que mesmo com a baixa qualidade da música nacional que estas pelo menos tenham vida longa, encantando, emocionando e sendo lançadas cada vez mais.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Nem Clair, nem Magadan; ela é Glória Perez


Por Guilherme Fernandes

A riqueza da teledramaturgia brasileira é tão grande que entre os próprios autores de nossa dramaturgia televisiva podemos fazer divisões. Contudo, não é isso que farei. Mesmo acalorado com o drama de “Amor à Vida” resolvi escrever sobre “Salve Jorge”. Aluizio Trinta, meu eterno professor e autor da segunda tese de doutorado em telenovela no Brasil, uma vez disse aos seus alunos que não existe nada mais velho do que uma telenovela que termina de acabar. Se escrevesse, por exemplo, sobre “Sangue e Areia”, estaria dando uma possibilidade de rememoração ou de informação sobre um dos primeiros sucessos da Rede Globo. Escrever sobre “Salve Jorge” (2012-2013), apesar de muito recente, soa um tanto antigo, digo que é mais antigo que escrever sobre “Caminho das Índias” (2009) ou “América” (2005).

Contudo, minhas linhas não serão destinadas a resenhar, elogiar (ou criticar) ou a dizer o que aconteceu ou deixou de acontecer em “Salve Jorge”. Quero, tardiamente, deixar meu manifesto sobre a obra de Glória Perez – em minha opinião nossa maior novelista.
Explico. Como espectador de telenovela que sou, gosto de emoção. Gosto também de suspense. E, me deixa muito satisfeito perceber as diversas reações dos personagens quando o grande plot da trama é desvendado. O cotidiano sem aventura e emoções não me prende, isso não quer dizer que eu não goste de tramas realistas, mas gosto de aguçar minha curiosidade, gosto de me entregar a um romance televisivo. Mocinhos não são o meu forte. Acho sempre as cenas mais chatas. Mas uma novela não funciona sem eles, ou melhor, sem elas.

Glória, a Perez, aprendeu escrever telenovela com a mestra Janete Clair. Janete, em seu leito de morte (sem eufemismo), ditava os diálogos de “Eu Prometo” para Glória, sua colaboradora, que pacientemente datilografava tudo. Clair morreu antes do término da telenovela. Glória, com supervisão de Dias Gomes, terminou a epopeia de Lucas (Francisco Cuoco), Darlene (Dina Sfat) e Kely (Renée de Vielmond). Foi com Clair que Glória aprendeu a sacrificar a realidade em benefício à emoção. Mas, isso não quer dizer que a tramas de Clair não são realistas.


Clair foi responsável pelos maiores sucessos da Rede Globo, seus folhetins paravam (literalmente) o país que sempre acompanhavam o desenrolar de suas histórias. A cada intervalo comercial um gancho era criado e o espectador lá estava para ver o desenrolar. Não raras vezes, seu folhetim ultrapassava os 200 capítulos. A imaginação de Clair era tanta que assim que terminava um folhetim, já estava redigindo outro. Isso sem contar que ao mesmo tempo em que escrevia para a televisão, também fazia algumas fotonovelas para a revista Sétimo Céu.

Após alguns sucessos radiofônicos, Clair foi contratada por Daniel Filho para escrever telenovelas na Rede Globo. O departamento, nesta época, era conduzido pelas mãos (de ferro) de Glória Magadan. O sucesso de Clair, de certa forma, não agradou Magadan, que inclusive dizia que Daniel Filho, que dirigia ao mesmo tempo uma trama de Clair e outra de Magadan dava mais atenção à novata. Apesar de Janete escrever, os enredos eram desenvolvidos à maneira de Magadan. Isso que dizer: exóticos.

Madagan não acreditava que uma história brasileira (realista) poderia ser sucesso. O Brasil, na cabeça de Magadan, não atraia a atenção dos espectadores. Então os cenários mais exóticos como a corte russa, o deserto do saara, as touradas espanholas, etc etc, eram nossos cenários. E Janete assim embarcou. Após o terremoto que dizimou os personagens de “Anastácia, a mulher sem destino”, Janete escreveu “Sangue e Areia” (1968). A história do toureiro Juan Gallardo (Tarcisio Meira), dividido entre o amor da humilde Pilar (Theresa Amayo) e da sofisticada Doña Sol (Glória Menezes) poderia ter passado em branco se não fosse a prova viva de amor que Sol deu a Juan. Sim, a heroína arrancou os próprios olhos e os “entregou” ao amado.


Com a saída (expulsão) de Magadan, Janete pôde finalmente escrever tramas realistas, da mesma forma que já fizera no rádio. Assim, a radionovela “Vende-se um véu de noiva” foi transformada na telenovela “Véu de Noiva” (1969-1970) e inicia-se com fôlego, era da  “telenovela verdade” no plim plim.


Contudo, essa “verdade” é bem relativa. Apesar de ambientada no Rio de Janeiro da época, de abordar assuntos recentes como o automobilismo, coisas absurdas (porém emocionantes) aconteciam. E foi assim que Clair continuou. Vale tudo para emocionar (e criar suspense) o telespectador.

Glória Perez aprendeu essas lições. Desde que escreveu “O Clone” (2001) as telenovelas de Perez foram comparadas com as de Magadan. Perez também utilizou cenários exóticos, como o Marrocos, a Índia e agora a Turquia (especialmente a cidade subterrânea da Capadócia). Apesar das distâncias geográficas praticamente não existirem (afinal, quem em Istambul vai a Capadócia de taxi, ou aparece andando de bicicleta e de repente está trabalhando no comércio da mais importante cidade turca?!). Mera bobagem.

As tramas de Perez não têm nada em comum com as de Magadan. Perez retrata a realidade brasileira, especialmente os problemas sociais. O exótico é apenas outro cenário que se liga imediatamente ao Brasil. Outra cultura é mostrada. A “planetarização” ganha fôlego na obra de Perez que mostra o mundo além das praias do Rio de Janeiro. Perez escreve telenovela e não documentário.

Se Clair era realista e inaugurou no âmbito da Rede Globo a “novela verdade”, Perez foi além. Perez mostrou mais que a realidade, mostrou o que ainda estava por vir. Vamos relembrar. Alguém acha que em 1990 se falava em “Barriga de aluguel” ou “gravidez in vitro” [sem considerar que a sinopse é de meados dos anos 80], em 1992 em transplante de órgãos? Ela foi taxada de maluca ao promover diálogos virtuais entre Dara e Igor/ Dara e Júlio, com o uso de computador. Ou alguém acha que o ICQ existia em 1995?!


Glória também (re)criou o merchandising social. Ela não fazia merchan, e sim campanhas – até mais eficientes que as governamentais. Foi o transplante de órgãos em “De Corpo e Alma”, as crianças desaparecidas e as mães da Cinelândia em “Explode Coração”, os deficientes visuais em “América”, a esquizofrenia em “Caminho das Índias” e o tráfico humano em “Salve Jorge” – entre outras tantas ações.


Em verdade, Perez sabe o que é uma telenovela, sabe que o espectador gosta de emoção. Porém, ela vai além, ele cumpre uma função social e educativa. Mostra outras culturas e outras realidades. Questionar o uso da língua portuguesa é um mero desvio. Ou alguém acha que uma telenovela legendada teria alguma função?!


Os diversos sacrifícios à lógica, em nada atrapalharam o enredo. Salve Jorge cumpriu sua missão. Basta percebermos as diversas “Wandas” que foram presas após o início do folhetim. Os depoimentos reais, recorrentes desde “Explode Coração”, foi um plus a mais. É a certeza que isso é sim uma realidade.



Furos no roteiro existiram sim. E o que mais me incomodou foi o “cabelo bipolar” de Morena. Mas esse e alguns outros fugiram a alçada de Perez. É o ritmo industrial de se fazer telenovela, totalmente diferente da produção cinematográfica (que também apresenta, por vezes, as mesmas falhas). Salve Jorge, Salve Glória! Que venham os próximos folhetins.

sábado, 25 de maio de 2013

Bye Bye, Marilyn


"Vida - Eu sou de ambas as suas direções. De alguma forma, permanecendo de cabeça para baixo na maior parte, mas forte como uma teia de aranha no vento – eu existo mais com a geada fria e cintilante. Mas os meus raios borbulhantes têm as cores que vi nas pinturas – ah vida eles traíram você". (Marilyn Monroe)
por Thiago Andrade

Não resta dúvidas de que Marilyn Monroe é um dos maiores ícones da cultura pop mundial. Quem nunca cantou "Happy Birthday" pensando na homenagem de Marilyn ao "Mister President" JFK? Embora tenha falecido em 1962, sua história ainda gera interesse para a indústria do cinema e da televisão. O último filme de sucesso sobre a história da atriz, cantora e modelo foi "Minha Semana com Marilyn", em 2011, estrelado por Michelle Williams, que foi indicada ao Oscar pelo papel.  


O filme contribuiu para que o alterego de Norma Jeane voltasse a ficar em evidência e, em 2012, a NBC lançou o musical dramático, Smash, tendo Marilyn como centro da narrativa. Criada por Theresa Rebeck e produzida por Steven Spielberg, o primeiro episódio da trama foi assistido por mais de 11 milhões de pessoas. 


A história gira em torno dos bastidores da criação de um musical da Broadway, baseado na vida de Marilyn, denominado Bombshell. Nesse sentido, a escolha para o papel de protagonista se torna o fio condutor de uma disputa, que envolve troca de favores, sexo, dinheiro, relacionamentos, interesses e, até mesmo, ingenuidade e inexperiência. 

De um lado temos Katharine McPhee, vice-campeã da quinta temporada do American Idol, dando vida a Karen Cartwright, uma mulher simples, que trabalha como garçonete e sonha em ganhar os palcos e cantar. Do outro, temos Megan Hilty, que já trabalhou em muitos Musicais da Brodway, encarnando Ivy Linn, uma atriz veterana, que quer a tudo custo uma oportunidade para estrelar uma peça. 



Além da talentosa Anjelica Huston, junta-se ao elenco principal Debra Messing, Jack Davenport e Christian Borle. Uma Thurman participa de cinco episódios e tem grande destaque, como Rebecca Duval.


Com musicas originais e alguns covers, a primeira temporada foi bem sucedida e ganhou, inclusive, CD com as melhores interpretações. A forma como a trama foi conduzida, envolveu o telespectador no mundo de Marilyn, mas mais interessante, mostrou um lado pouco explorado dos musicais, que é as relações e as pressões que produtores, escritores, diretores e atores sofrem. Os personagens são humanos, cometem erros e acertos e, muitas vezes, têm suas atitudes compreendidas pelo público. 

A definição da protagonista só acontece no final da primeira temporada, de forma surpreendente. A season finale traz um número incrível, com uma canção chamada "Don't Forget Me". Quer letra melhor para terminar uma temporada?


No entanto, na segunda temporada, Smash passou por diversos problemas, o primeiro deles foi a saída de sua criadora, Theresa Rebeck, da equipe. O foco da trama muda, Marilyn e Bombshell ficam num segundo plano. Don't Forget Me não parece mais ter tanto sentido. Vemos relações sendo rompidas e outras sendo criadas, mas sem a mesma força que as anteriores. A maioria dos números traz músicas originais, que são boas, mas que por serem desconhecidas geram um pouco de desinteresse no público. Até a participação de Jennifer Hudson ficou um pouco confusa no contexto da temporada. Porém, rendeu bons números como este:



A audiência despencou e a NBC alterou o dia de exibição da série várias vezes. No fim, a Smash foi transferida para sábado à noite, o que indicava o seu cancelamento, por ser considerado um horário de desova de seriados. A emissora prometeu exibir todos os episódios da segunda temporada, que nas últimas semanas tem recuperado a audiência. No entanto, isso não irá impedir o fim do programa, neste domingo, 26 de maio. 

A boa notícia para os fãs é o que episódio final promete dar um bom desfecho à série. Intitulado de "The Tonys", poderemos ver a maior premiação para os artistas da Broadway, num episódio de duas horas de duração. Talvez essa seja a forma de a NBC nos dar a oportunidade de nos despedir dignamente de Marilyn. Pelo menos até um próximo filme, um próximo livro, um próximo programa ou um próximo Happy Birthday To You. 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Ariclê Perez - Saudades do seu talento memorável

Por Isaac Santos

Assisti a exibição original da novela Felicidade quando ainda era criança, e atualmente acompanho com assiduidade os capítulos reprisados pelo Canal Viva. Em Felicidade, dentre os tantos personagens “humanos”, tão característicos das obras do Manoel Carlos, destaco a Ametista, vivido com tamanha propriedade pela saudosa Ariclê Perez.

Ariclê era dona de uma das atuações mais sensíveis da teledramaturgia brasileira. Emanava vivacidade em tudo a que se propunha fazer. O que para mim pareceu totalmente contraditório à notícia de sua morte. Tão chocante, lamentável, deprimente, como costuma ser quando pessoas queridas nos deixam de modo tão prematuro, obscuro. Em setembro próximo, ela faria 70 anos.

Sendo mais artista e menos [ou em nada se caracterizando] celebridade, no sentido banalizado da palavra, pouco se falava da vida pessoal da atriz. Portanto qualquer observação sobre o perfil real da Ariclê seria inapropriada. Ficaram as tantas suposições sobre o que teria de fato acontecido, motivações, enfim. Embora tais posicionamentos dos familiares, amigos e colegas mais próximos dela, sejam absolutamente compreensíveis, o que há de concreto a ser considerado é a falta, o vazio deixado pela mesma. Mas aqui não quero falar de seu trágico falecimento, e sim reverenciar todo o seu talento.


Talento pode ser aperfeiçoado, mas o dom nasce com a pessoa. Ariclê tinha uma presença marcante quando atuava. Poucas atrizes têm a postura cênica que lhe era peculiar. Cresci pensando que ela tinha formação em balé, mas não, a sua base vinha mesmo do teatro. Era atriz... Verdadeiramente atriz.

com Bibi Ferreira e Flávio Rangel
Foi casada com Flávio Rangel, diretor de teatro, e também falecido. Este a dirigiu em muitos espetáculos teatrais ao longo de uma trajetória iniciada em 1967. E embora a carreira televisiva da atriz tenha mesmo deslanchado a partir de sua participação na novela Meu Bem Meu Mal [1990], há quase 40 anos que ela estreou na telinha, na novela Canção para Isabel, exibida pela extinta TV Tupi de São Paulo. Na mesma emissora participou também da novela Como Salvar meu Casamento [1979], que teve a sua exibição interrompida pelo fechamento do departamento de teledramaturgia do canal, que já dava sinais de falência. Vale ressaltar que esta novela [estréia do jovem/inexperiente Carlos Lombardi como autor de telenovelas] alcançava bons índices de audiência, chegando a liderar em São Paulo.


Em 1989, na Globo, integrou o elenco da minissérie Sampa, de autoria do também saudoso Gianfrancesco Guarniere.


Foi pro SBT, onde fez Cortina de Vidro. Novela de autoria do Walcyr Carrasco, com grande elenco.


Mas voltou pra Globo logo em seguida, em 1990, pra interpretar a Rosa Maria/Maria Helena, numa trama [uma de minhas novelas favoritas do horário das oito, Meu Bem Meu Mal] irreverente do memorável Cassiano Gabus Mendes, com colaboração de Maria Adelaide Amaral entre outros.


Não parou por aí, emendou noutra novela, e nesta parecia viver o ápice de sua carreira. Manoel Carlos lhe confiou a complexa personagem Ametista. Drama humano dos bons. Super vale a pena acompanhá-lo na novela Felicidade [1991]. Confesso que em alguns momentos me sinto amargurado como se houvesse na Ametista um pouco da Ariclê da vida real. Ora, mas se nem conheço detalhes de sua vida fora da telinha, acredito que seja sob uma ótica influenciada pelo trágico desfecho da atriz.  


Na década de 90 fez duas minisséries, a polêmica Decadência, de Dias Gomes, e Memorial de Maria Moura, de Carlos Gerbase e Jorge Furtado.


Habituada aos tons extremamente dramáticos de suas personagens, Ariclê surpreendeu positivamente na bem humorada Salsa e Merengue [1996], novela de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa. Como bem define o Julinho Martins: “a Gilda da Ariclê fazia “escada” pras cenas sérias da personagem da Cristiana Oliveira e também pras cenas cômicas da personagem da Laura Cardoso.”


Em sua última novela [Anjo Mau, 1997], ratificando a bem sucedida parceria com Maria Adelaide Amaral, Ariclê interpretou a classuda Elisinha Jordão.


Óbvio que não apenas por ser queridinha da Maria Adelaide, mas Ariclê foi uma das atrizes mais atuantes em produções da autora. Esteve em Os Maias [2001], quando interpretou a Maria da Gama.


Foi a Madre Cecília da Purificação em A Casa das Sete Mulheres [2003]


Soberba como a Madame Claire em Um Só Coração [2004]

E em seu último trabalho, fez a personagem Júlia Kubitschek, mãe de Juscelino, na minissérie JK [2006], que por uma infeliz coincidência morre no último capítulo.  

Não podemos contar com a grandiosidade da Ariclê Perez em novos trabalhos, já não temos a sua presença entre nós, mas a sua contribuição à dramaturgia nos basta como lembrança viva.

Ariclê sofria de depressão e segundo laudo pericial, suicidou.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Vamos ser uma Legião.

 Por Vanessa Carvalho


Que Renato Russo foi uma pessoa ímpar como líder da Legião Urbana ninguém duvida. Agora é difícil imaginar alguém como ele sendo “normal”. Estudando, trabalhando, se relacionando, tendo amigos. É essa fase da vida dele que aparece no filme “Somos tão jovens” (2011), filme que mostra o começo da formação musical dele.

O filme não conta a história de Renato Russo em si, mas mostra como Renato Manfredini Júnior se tornou Renato Russo. Ele era um cara normal, vivendo em Brasília, numa época em que o “punk” inglês estava crescendo. Através de um colega de trabalho, Renato é apresentado ao Sex Pistols e logo começa a se questionar sobre tudo que o cerca.

O que mais me chamou a atenção no filme não foi a forma como mostraram as criações de músicas que escutamos desde o início dos anos 80 ou as relações que ele tinha com o Herbert Vianna ou Dinho Ouro Preto, mas foi a caracterização dos personagens, principalmente do Tiago Mendonça. Alguns momentos do filme é preciso lembrar que Renato morreu.


Tendo Brasília como pano de fundo, fica fácil imaginar como era a vida na capital do país no final da década de 70 e início da década de 80. A criação do Aborto Elétrico, o som punk rock que eles faziam ocupa boa parte do filme. Há também um pouco de como surgiu a Plebe Rude e o Capital Inicial.

Os pontos negativos que eu vi no filme, além do roteiro um pouco fraco, foi a caracterização do Herbert Vianna e do Dinho Ouro Preto. Ambos os atores, muito parecidos com os artistas, se esforçaram tanto para se parecerem com eles, que se tornou uma caricatura grosseira dos originais. E o sumiço repentino do pai do Renato na metade do filme. Ele aparece em uma cena e na outra não mais sem explicação nenhuma. Mas nada que estrague a beleza e sutileza do filme.

A bissexualidade do cantor, um dos traços mais fortes da personalidade forte dele, foi tratada de uma forma tão naturalmente simples que faz com que não se sinta falta dela. Nem os grandes conflitos que passava na cabeça das pessoas naquela época. Uma das cenas mais divertidas do filme é quando o Renato está conversando com a mãe dele sobre sua orientação sexual. Foi uma forma tão naturalmente divertida que fica impossível não se divertir com isso. Isso não agradou boa parte dos fãs mais fervorosos do cantor, que podem ver tal cena como um deboche.


Tiago Mendonça foi o grande diferencial do filme. Se há uma coisa que não se pode questionar foi na caracterização do ator. A semelhança física com o Renato no início da carreira é um ponto que não se pode passar despercebido, claro, mas foi na interpretação da forma como o Renato via o mundo que Tiago ganhou toda a atenção da mídia. Ele mostra com maestria a profunda depressão que perseguiu o Renato por toda a sua vida. E a forma como ele canalizou isso para as suas músicas.

As relações pessoais também foram tratadas de maneira séria, porém leve. A relação com sua eterna amiga Ana, a primeira paixão por um amigo de banda, o relacionamento conturbado com os integrantes do Aborto, foram tratados tão delicadamente que é até difícil não imaginar o quanto conviver com ele era sublime. A relação familiar, o apoio dos pais, assim como a preocupação deles foi tratado tão rápido que acabou nem fazendo falta.
Ir ao cinema assistir ao filme esperando a vida do Renato, como apareceu no filme “Cazuza” é pedir para sair decepcionado. Os produtores não quiseram mostrar o Renato Russo, e sim o processo para o surgimento da Legião Urbana. Tanto que, o filme termina quando a banda começa a ser mais conhecida.

“Somos tão jovens” é um filme que vale a pena assistir não pela vida do Renato em si, mas por trazer o cantor mais próximo do público, mostrar um pouco do pensamento dos jovens em plena ditadura, e principalmente pela trilha sonora.


terça-feira, 21 de maio de 2013

“Amor à Vida” aposta no drama rasgado e promete bom espetáculo

Walcyr Carrasco surpreende em sua estreia no horário nobre


Walcyr Carrasco terá a difícil missão de alavancar a audiência derrubada por "Salve Jorge"
por Júlio César Martins

                Autor de diversos sucessos de gosto duvidoso nos horários das seis e das sete, Walcyr Carrasco demonstrou total domínio de seu ofício em “Amor à Vida”, a nova novela das nove da TV Globo. O primeiro capítulo apresentou um roteiro ágil, arrojado, devidamente ajustado às atuais exigências de público e mercado. A direção apurada, igualmente preocupada em surpreender, fugiu do habitual e fez bonito, sem nada a dever aos seriados americanos com relação à formatação estética.

                Em 80 minutos, conhecemos o drama de Paloma (Paolla Oliveira), uma patricinha de temperamento romântico que rompe com seu universo aristocrático e se atira de cabeça em um romance inviável com o libertário Ninho (Juliano Cazarré), que conheceu durante uma viagem ao Peru em companhia da família. Logo se vê grávida e, sem dinheiro, planeja voltar com ele à tiracolo para o Brasil – sob risco de total desaprovação dos pais. Mas, para seu infortúnio, o rapaz é preso por tráfico no momento do embarque. Sem alternativa, Paloma retorna para a casa dos pais, carregando no ventre o resultado de sua inconsequência. E nem percebe que está sendo habilmente manipulada pelo irmão, Félix (Mateus Solano), o lobo na pele de cordeiro, que conhece bem as fragilidades da irmã e consegue convencê-la de esconder da família a tal gravidez.

Paloma (Paolla Oliveira) rompe relações com a família para viver um romance com o mochileiro Ninho (Juliano Cazarré)

                      Assim, Félix consegue libertar da cadeia o namoradinho de Paloma e convencê-la de ir morar no Rio de Janeiro com o rapaz, de modo que a presença dela não interfira em seus planos de se tornar o sucessor natural do pai nos negócios da família - um hospital. Porém, a farsa da gravidez é descoberta, o pai (Antônio Fagundes) tem, literalmente, um ataque – cardíaco – e o príncipe encantado da moça logo se revela um sapo de brejo (ou de breja?). Sozinha, ela sente as dores do parto e desmaia antes de conseguir socorro, dentro de um banheiro de bar. Ajudada por Márcia (Elizabeth Savalla), ela dá luz a criança ali mesmo e perde os sentidos. Félix consegue encontrar a irmã e, julgando-a morta, leva o bebê e o abandona em uma caçamba de lixo. Bruno (Malvino Salvador), que acabara de perder a mulher e o filho na mesa de parto, encontra a criança, acreditando se tratar de "uma nova chance de Deus". Piegas, mas OK, é novela.

                Ainda é cedo para prever a repercussão que a novela vai alcançar, mas se a qualidade apresentada se estender ao longo dos 180 capítulos previstos, teremos um baita dramalhão brasileiro em moldes internacionais. O capítulo de estreia procurou concentrar as energias nos acontecimentos que desencadeiam todo um imbróglio relacionado ao núcleo principal, e ainda há muitos personagens e tramas a caminho, previstos para a segunda fase da estória. Portanto, é impossível emitir um parecer mais aprofundado sobre a novela com base apenas no primeiro capítulo. Dramaturgicamente falando, nada de muito novo, nem de inusitado, exceto pela preferência sexual do principal mau-caráter da novela, que promete divertir e indignar o espectador em níveis estratosféricos. Uma chance de ouro para Mateus Solano.

Félix, personagem de Mateus Solano, já ostenta o carinhoso apelido de "Bicha má" nas redes sociais

                    A bola fora ficou por conta da abertura: criada pelo animador de filmes de ação Ryan Woodward, por pouco não destoa do clima pretendido para a novela, apesar da  coreografia dramática executada pelos bailarinos animados. A interpretação equivocada de Daniel para "Maravida" é de dar nos nervos. E os créditos, ininteligíveis.



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