sábado, 11 de maio de 2013

O paradigma do "eu" na TV


Por Thiago Andrade

Na contemporaneidade, o acúmulo de funções e papéis a desempenhar se tornou uma realidade na vida de qualquer pessoa. Hoje, todo mundo quer e precisa ser multitarefa, até mesmo dentro de casa. Quem nunca falou ao telefone ao mesmo tempo em que estava assistindo a um programa de televisão, preparando algum alimento, enquanto pensava nas próximas tarefas domésticas que deve fazer?

De certo modo, esse conceito de ser multitarefado também se aplica ao universo televiso. Claro que com suas diferenças e especificidades. Na televisão, é possível encontrar toda a sorte de talentos, que querem deixar uma marca mais pessoal aos projetos. Nesse ponto, haja criatividade para aqueles que, não satisfeitos com apenas uma função, criam, escrevem, produzem e dirigem seus próprios programas.


Esse movimento com um cunho mais autoral se torna ainda mais nítido nos seriados, no Brasil e no mundo. Na minha humilde opinião, Miguel Falabella é o maior representante brasileiro nesta corrente. Já em 1996, em conjunto com Rosana Hermann, Maria Carmem Barbosa e Euclydes Marinho, ele era um dos principais escritores da (talvez melhor) sitcom brasileira “Sai de Baixo”. Não o bastante, se consagrou por sua atuação como Caco Antibes, na própria série.



Com um elenco incrível, super afinado, que recorria muitas vezes ao improviso, a série ficou no ar até 2002, e hoje é reprisada pelo canal Viva. Como um grande diferencial, o programa era gravado num teatro de São Paulo, o Procópio Ferreira, onde havia interação com o público que assistia tudo ao vivo.


Esse formato serviu de inspiração para o próximo projeto de Falabella, o “Toma Lá, Dá Cá”, em que era protagonista e responsável pelo roteiro final. A série possuiu três temporadas e também é reprisada no Viva. À época, muitas comparações foram feitas entre o programa com o “Sai de Baixo”, mas personagens como Copélia, Ladir, Bozena e Dona Álvara caíram no gosto do público e se tornou um grande sucesso.




Em 2013, Miguel Falabella voltou ao ar com mais uma sitcom onde atua como autor e protagonista. Dessa vez, com uma trama mais popular. “Pé na Cova” tem como cenário principal uma funerária, a F.U.I. Apesar de o pano de fundo aparente da série ser a morte, Falabella afirmou que, na verdade, o seu pano de fundo "é a grande tragédia da educação nacional”. Exibida as quintas, depois de “A Grande Família”, o seriado já tem segunda temporada garantida e pode passar a ser exibida às terças-feiras, após “Tapas e Beijos”.



Quem também se destacou nesse acúmulo de funções foi Heloísa Perissé e Ingrid Guimarães. As duas, que escreviam e atuavam em “Sob Nova Direção”, dominaram as noites de domingo, durante quatro temporadas. Uma saudade: Belinha e Pit. 

Belinha era um ex-dondoca que herdou um bar falido de um de seus ex-maridos e reencontra Pit, sua antiga colega de colégio, neste bar. A partir daí, as duas retomam a amizade e tentar administrar o lugar, se envolvendo em uma série de confusões, que me fazem rir só de lembrar.



Todas essas séries fizeram sucesso na Globo, mas se engana quem pensa que a questão da produção de um programa mais autoral para por aí. A TV paga acaba, por muitas vezes, investindo em projetos mais alternativos, que conseguem se destacar e angariar uma legião de fãs. O Multishow tem feito a lição de casa nesse quesito.



Natália Klein foi uma das apostas mais certeiras do canal. Criado, escrito e protagonizado por Natália, a série “Adorável Psicose” traz um frescor nesse meio televisivo. O enredo se trata de uma mulher, que se considera psicótica graças a um teste feito pela Internet, que procura uma analista a fim de resolver seus dilemas. A série aborda temas cotidianos, de maneira bem divertida e de um jeito menos óbvio. Atualmente está na quarta temporada no canal e também pode ser vista pelo Youtube.


Agora, vamos combinar que originalidade é o que não falta para Gregório Duvivier, mais conhecido por seu trabalho junto com a turma do “Porta dos Fundos”, apresentou um roteiro de um reality ficcional, mostrando o seu cotidiano, juntamente com o de sua namorada, Clarice Falcão. O programa tem ótimas sacadas, diverte e explora o talento desses dois nomes da nova geração de humoristas.



O “Porta dos Fundos” pode ser considerado um case de sucesso dentro do tema que este texto propõe. Uma equipe de humoristas cria, escreve, roteiriza e atua nas esquetes que têm virado febre na Internet. Particularmente, eu fico ansioso pelas atualizações do grupo nas segundas e quintas-feiras. É interessante o fato de o grupo investir na Internet, tendo mais liberdade de expressão e trabalhando temas que jamais seriam explorados pela televisão. 



Fora do Brasil, também temos representantes dessa televisão mais autoral. Atualmente, “Girls” é um dos melhores exemplos a ser citado. Criado, escrito, produzido e protagonizado por Lena Dunham, a primeira temporada da série foi um sucesso de audiência e de crítica, estampando várias publicações e ganhando vários prêmios, como o Globo de Ouro. Lena Dunham se tornou a nova queridinha da América e parece ganhar mais espaço dentro da HBO, mesmo com a segunda temporada de “Girls” não ter sido tão boa como a primeira. A trama trata de amigas que tentam viver em NY, mas sem o glamour da saudosa "Sex and City".


Essa valorização do eu, como expressão da criatividade e do talento de alguns, vem qualificando, e muito, os programas de televisão. Essa linha mais autoral tem se mostrado como uma alternativa para se testar novas fórmulas e descobrir novos talentos. Particularmente, acho que é esse o caminho para uma revolução na TV e em outras plataformas de comunicação, como a Internet. Todo mundo gosta e merece assistir coisa boa. Portanto, fiquemos atentos ao que vem por aí.

6 comentários:

  1. Ótimo texto, sou muito fã do Miguel Falabella e do Gregório Duvivier, admiro muito os dois.

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    1. Eles realmente são um sucesso... Muito criativos! Adoro tudo o que produzem... Exceto Negócio da China, do Falabella. Obrigado pela visita ao blog! Volte sempre! Um abraço

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  2. "Parabéns, Thiago Andrade Martins... muito bem colocado e desenvolvido... não há do que discordar... legal, valeram as considerações!"

    comentário de Mauro Gianfrancesco (extraído do facebook)

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  3. Muito interessante,eu particularmente tenho uma implicância com essas series brasileiras pois a maioria é voltada para a comedia e acho muito chato,com tantos autores bons,poderia explorar outros universos,o Miguel é excelente mesmo, admirável...
    Eu adoro os seriados americanos pela diversidade e ousadia e também pela qualidade.Surpreendentemente encontrei uma série brasileira de ficção(inacabada) muito boa;"3 Por cento" que prova que o Brasil tem capacidade sim de produzir algo além da comedia e em nível americano,mas enfim a televisão brasileira está de parabéns,e você também pelo texto muito bom!

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    1. Obrigado, Leo. Esse série, "3 por cento", eu não conheço, mas vou procurar saber. Realmente acredito que as nossas produções têm melhorado e acho que essa nova safra de talentos tem feito muito a diferença. Fico feliz que você tenha gostado!

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