domingo, 30 de junho de 2013

Lado Oposto - Folhetim de André Cavalini [1º capítulo]


CAPÍTULO 1

Cena 1. Mosaico de cenas da pequena cidade de Água Negra, típica cidade do interior paulista. Destacar a pequena praça central com a igreja de Santa Rita de Cássia e a prainha de água doce onde algumas pessoas pescam. Intercalar com cenas de vários personagens se arrumando para irem a algum lugar.

LEGENDA: Água Negra. 08 de Outubro de 2012

CORTA PARA

Cena 2. Interior. Fazenda dos Sabatini. Quarto de Martim. Dia.

Martim (45), típico peão, homem rústico de bela feição e corpo forte. Queimado do sol. Está sentado aos pés da cama, cabisbaixo e pensativo. Botas nos pés, chapéu na mão. Diana (8) bela criança de cabelos loiros e olhos azuis como os da mãe. Pele clara. Vai chegar.

DIANA (chorosa) - Papai, me deixa ir também. É minha mãe, eu quero ver, saber o que vai acontecer a ela. Por favor.
MARTIM (firme) - Não filha. O fórum não é lugar para criança, e a situação que acontece lá hoje, você não merece acompanhar. Já sofreu demais. Logo você vai precisar comparecer pra prestar depoimento, e quanto a isso eu nada posso fazer. Mas enquanto puder manter você afastada de tudo...Vai ficar aqui com a vó e o vô, do jeitim que já conversamos.

Diana insiste, mas o pai não deixa. Ele sai, mas o grito da filha lhe chama a atenção.

DIANA (gritando) - Minha mãe é inocente! Eu sei que é!

CLOSE em Martim que não acredita no que a filha diz.

CORTA PARA

Cena 3. Interior. Fórum de Água Negra. Tribunal do Júri. Dia.

Cadeiras lotadas. Muito burburinho/ cochicho. Clima tenso entre todas as pessoas que ali estão. EXPECTATIVA. O público se divide entre aqueles que acreditam na inocência e aqueles que condenam Eulália. O júri já está a postos. Entra Juiz Machado (60), homem negro, acima do peso, de feição severa, que pede silêncio.

JUIZ MACHADO - Podem trazer a réu, senhora Eulália de Oliveira Sabatini. Aos demais, eu exijo silêncio neste tribunal e aviso que não irei tolerar nenhuma manifestação.

TENSÃO: Eulália (40), loira e linda, belo corpo. Olhos azuis e pele clara. É trazida pelo meirinho. CAM LENTA enquanto ela entra. Está com alguns curativos na cabeça e nas pernas e uma tipóia no braço esquerdo. CLOSE.

CORTA PARA

Cena 2. Exterior. Estrada. Carro de Eulália. Dia.

FLASHBACK

Uma Eulália bem diferente nos é apresentada. Bem arrumada, elegante, cabelos e pele bem cuidados. Chora enquanto dirige. CAM não sai de Eulália.

EULÁLIA (nervosa) - Você não pode fazer isso comigo! Não pode!

Ouve-se a voz de outra mulher, mas esta não é revelada ainda.

VOZ DE MULHER (sarcástica) - Cachinhos de ouro, você sabe muito bem que eu posso. E vou fazer. Aliás, já estou fazendo...
EULÁLIA - Por quê? Porque agora?
VOZ DE MULHER - Porque só agora eu consegui acordar do sono eterno ao qual você me condenou...
EULÁLIA (ainda chorando) Para com essas brincadeiras. Não vê que é sério? Não entendo toda essa raiva, essa fúria... Essa vontade de me fazer mal?...Já se passou tanto tempo, tanto... eu consegui reconstruir minha vida, me tornei uma pessoa boa, uma mãe e esposa dedicada. Porque esse desejo de me destruir?

CORTA PARA:

Cena 3. Interior. Fórum de Água Negra. Tribunal do Júri. Dia

Alguns manifestantes xingam Eulália de vários nomes. O juiz pede silêncio e se irrita com o barulho. As pessoas vão se acalmando. Eulália encara alguns conhecidos, como que procurando por alguém - IMPORTANTE mostrar a reação das pessoas que ela encara - e então presta o juramento, indo se sentar após, ao lado de seu advogado.

Juiz Machado abre a sessão e passa a palavra ao promotor, Dr Maurício (40) baixinho e carrancudo. Tipo de homem pequeno que faz barulho grande, o feio inteligente.

DR. MAURÍCIO (irônico) - Senhora Eulália, poderia nos dizer novamente, porque está aqui nesse tribunal, sendo julgada. E também porque as pessoas dessa platéia, assim como todo o país, já que o seu caso se tornou nacionalmente conhecido, possuem uma revolta dentro de si, que levariam a matá-la, se pudessem?

Dr Henrique (30) jovem advogado de Eulália. Bonito, cabelos castanhos. Os óculos lhe deixam com cara de intelectual. Belo rapaz não tão brilhante como Mauricio. Ele não gosta do tom do promotor.

DR. HENRIQUE - Protesto meritíssimo! O senhor promotor e todos aqui sabemos porque minha cliente está sendo julgada. Isso já foi dito no início do julgamento e repetido incansavelmente nesses três dias que já estamos em audiência.
JUIZ MACHADO  - Protesto aceito. Senhor promotor, nós já sabemos o porquê a acusada está aqui. Queira por favor, dar continuidade/

Eulália interfere.

EULÁLIA (cabisbaixa) Eu posso responder.
JUIZ MACHADO - Tem certeza? Então nos diga, por quê? Porque está sendo julgada?

CAM EM CLOSE.

EULÁLIA (em prantos) Porque eu matei minha filha. Matei uma de meus tesouros. Eu matei minha pequena Elizabeth.

Tensão.

CORTA PARA:

Cena 4. Interior. Fazenda dos Sabatini. Quarto das gêmeas. Noite.

LEGENDA: um mês antes

Elisabeth e Diana, as gêmeas filhas de Eulália e Martim, brincam com as muitas bonecas que tem, quando começam a escutar gritos da mãe brigando com alguém. Diana fica com medo.

DIANA - A mamãe  de novo brigando. Com quem será que ela briga tanto? Eu tenho medo, olha como ela tá nervosa. Dê uns tempos pra cá você viu como ela tá diferente, né?
ELISABETH - É eu vi, mas não deve ser nada não, uai. Fica aqui. Esconde-se no armário que eu vou lá ver o que tá acontecendo.
DIANA - Eu vou ligar pro papai.
ELISABETH - Isso! Pede pra ele vir rápido. Não ouvi ninguém entrar na casa, mas a gente tava entretida aqui, brincando. É possível que alguém tenha chegado, ou apenas que a briga seja por telefone.
DIANA (temerosa) Não vai, Betinha. É melhor a gente ficar aqui até o papai chegar. Esconde-se comigo. A pessoa que tá lá pode ser perigosa, e você viu que não tem ninguém além da gente aqui.
ELISABETH - Eu não posso me esconder. Quero ser policial, você sabe. E uma boa policial nunca se esconde... Você tá sabendo de algo que não sei?
DIANA (disfarçando) Claro que não. Só to com medo.
ELISABETH - Então deixa de ser boba e para de ter medo de tudo. Eu vou lá num tirim. Quando você menos esperar, já vou tá aqui de volta.

Elisabeth dá um abraço na irmã e uma piscada, SORRINDO APENAS COM METADE DA BOCA. Enquanto Diana segue para o armário e pega o celular para ligar para o pai, Elisabeth sai sorrateiramente do quarto e vai ao encontro dos gritos da mãe.

DISSOLVE PARA:

Cena 5. Interna. Fazenda dos Sabatini. Sala de estar. Noite.

A cena é mostrada sob o ponto de vista de Elisabeth, escondida no corredor que liga os quartos à sala, tentando ter uma boa visão do que acontece ali. No entanto a única coisa que consegue ver é a mãe de costas discutindo com alguém.

EULÁLIA (nervosa) Eu já falei pra você sumir! Não agüento mais! Eu não agüento mais! Me deixa em paz. Vai viver a sua vida, seguir o seu rumo. Esquece o que passou! Esses anos todos eu já sofri tanto com a culpa sobre as minhas costas...

Elisabeth escuta, mas não vê a outra pessoa. Uma voz muito parecida com a de sua mãe. A OUTRA MULHER NÃO É MOSTRADA.

VOZ DE MULHER - E você acha que eu ia facilitar pra você, Cachinhos de ouro? Simplesmente assim? Sumir pra deixar você ter a vidinha boa, e besta que sempre teve? Já fiquei longe todo esse tempo, mas agora que voltei, eu também quero desfrutar do tesouro que você conseguiu. O príncipe pode ficar todinho pra você, mas o palácio e a riqueza que tem dentro dele, desses não abro mão.
EULÁLIA - Você não tem esse direito! Não pode simplesmente aparecer assim e transformar minha vida num inferno.
VOZ DE MULHER - Oh! Que peninha, Cachinhos de Ouro. Só me perdoe por eu não derramar nenhuma lágrima de emoção, é que tenho agora que cuidar de duas princesas trancadas na torre do castelo... duas princesas que valem muito...mortas!

Eulália e a mulher começam uma briga corporal. Nisto, Eulália tropeça e um de seus sapatos sai do pé.

Elisabeth vai se aproximando para tentar enxergar quem é a outra pessoa. Mas, por um rápido descuido seu, é percebida. Ela então vê com quem a mãe briga e fica surpresa.  

TENSÃO. CLOSE EM ELISABETH E EM EULÁLIA. AMBAS SURPRESAS, embora por motivos diferentes!

CORTA PARA

Cena 6. Externa. Fórum de Água Negra. Dia

Muita gente com cartazes e faixas pedindo justiça, condenando Eulália. Outras a apoiam e acreditam em sua inocência. A maioria está mantida atrás de uma grade de segurança, mas outras poucas pessoas se encontram próximo a porta de entrada do fórum. Martim e o delegado Terry (47), boa pinta, sedutor, policial estilo galã, são um deles.

TERRY - Você não vai assistir mesmo?
MARTIM (abalado) Como eu posso assistir a isso? A mulher que eu amei todo esse tempo, que eu acreditei ser uma... um anjo, mas que na verdade é esse monstro que tirou a vida da própria filha, sem nenhuma piedade. Eu não sei nem mesmo porque to aqui.
TERRY - Tá aqui porque assim como todo mundo você busca respostas. E lá no fundo, assim como eu e grande parte dessa gente que tá aqui, você acredita que Eulália não cometeu esse crime.
MARTIM - Acredito no que as provas dizem. Havia pólvora na mão dela e tudo aponta pra ela, delegado,  sabe disso.
TERRY - O que eu sei meu amigo, é que existem muitos buracos nesse asfalto. Nós não achamos nada físico que prove que havia outra pessoa lá, mas não se pode negar que essa hipótese é muito forte.
MARTIM - Se havia alguém lá, devia ser uma cópia da Eulália, ou então algum fantasma. Mas você não conseguiu provar nem um nem outro. Durante muito tempo eu acreditei nisso. M apertei na expectativa de haver outra pessoa lá, cê sabe. Mas hoje não acredito mais. Eulália teve todas as chances de falar. Eu mesmo dei a ela todas as chances de se abrir, mas ela insiste em assumir a culpa. Então, porque acreditar no contrário?
TERRY - Toda história tem sempre outro lado, Martim. Ainda que esse outro lado seja difícil de provar.
MARTIM - Suas teorias de policial não aprumam nada nesse momento. Eu vou pra casa, vou ficar com Diana. Ela  precisando de mim. Por mais que meus pais lhe encham de carinho, nada supera a falta da mãe, e se ela não pode estar presente, pelo menos eu vou estar. Não tenho mais força pra assistir tudo isso.

Martim sai e vai embora. Terry permanece no mesmo lugar, pensativo. Vivian (25) jovem, negra. Mais inteligente do que bonita, chega.

VIVIAN - Vai queimar os fios de cabelo de tanto pensar, delegado.
TERRY - É! Você sabe que não me conformo em não ter conseguido dar outro rumo pra esse caso.
VIVIAN - Acredita mesmo que Eulália é inocente? Não é?
TERRY - Havia mais alguém lá, doutora. Eu sei que havia.
VIVIAN - Vamos conversar depois. Quero acompanhar de perto o julgamento, como já venho fazendo desde o início. Analisar Eulália e seu comportamento vai me ajudar bastante na minha tese de mestrado sobre mentes assassinas. Me liga mais tarde.

A CAM se desloca dos dois e mostra uma senhora (80) entrando no fórum. Ela possui o corpo bastante coberto, apesar do calor e uma espécie de turbante que lhe cobre toda a cabeça e orelhas. Apenas uma pequena parte de seu rosto fica a mostra.

CORTA PARA:

Cena 7. Interior. Fórum de Água Negra. Tribunal do Júri. Dia

Vivian adentra o tribunal e procura um lugar onde possa observar bem Eulália.
EM OUTRO PONTO, a senhora da cena anterior também procura um lugar pra sentar. Vivian tira da bolsa alguns papéis e se concentra neles. Nem presta atenção no que o promotor está falando. CAM mostra um dos papéis que ela está lendo, onde percebemos que são análises feitas por ela sobre assassinos e distúrbios que os levam a matar. Viviam observa bem os papéis e Eulália, tentando encontrar compatibilidade entre o que está escrito e a mulher em julgamento. A senhora senta bem ao fundo, onde quase não é percebida.

CORTA PARA

Cena 8. Interior. Casa de Terry. Cozinha. Dia

Terry entra e encontra sua esposa Analice (35) morena e bonita, de corpo bem feito, cozinhando. Se cumprimentam com carinho, e Analice percebe a tensão do marido. Ela conversa sem deixar de preparar a comida.

ANALICE - Já começou, né?
TERRY - Já, já começou e eu sinceramente não consigo me perdoar por não ter evitado esse julgamento.
ANALICE - Ô paixão, se a própria Eulália assumiu a culpa, o que é que você pode fazer?
TERRY - Não foi ela, Lice, não foi. Você me conhece, sabe que quando encasqueto com alguma coisa, é porque tem osso na farofa. E conhece também a Eulália a ponto de saber que ela não faria uma coisa dessas.
ANALICE - Fui uma das primeiras pessoas a recebê-la, quando ela chegou aqui casada com Martim. Lembra? Os dois se casaram na faculdade e só depois vieram fazer a festa aqui. Não veio ninguém da família dela, nem amigos...
TERRY - Eu lembro. A família dela toda morreu num incêndio, e ela foi adotada por uma senhora, não foi?
ANALICE - É o que sempre soubemos.
TERRY - E será que é a verdade?
ANALICE - Como assim? Está desconfiando dela, agora?
TERRY - Não desconfiando de que ela matou a filha, mas talvez de que exista algo em seu passado que possa me levar a peça que falta pra completar esse quebra cabeça.
ANALICE - E que peça pode ser essa?
TERRY - É ai que a vaca berra, ou melhor, não berra. Eu não sei o que pode ser essa peça. Não faço ideia de quem pode ter estado lá. De qualquer maneira é alguém muito inteligente, que armou muito bem pra Eulália e agora a está chantageando de alguma maneira, pra que ela assuma a culpa.
ANALICE - Nossa. Mas quem faria algo assim? Eulália não tem inimigos, é querida por toda cidade.
TERRY - Pois é, é essa a resposta que eu to me fazendo desde aquele dia. Porque embora tudo aponte pra Eulália, tem pontos que tiram ela da mira. Mas infelizmente a perícia a apontou como culpada e tudo que temos é o relatório da perícia.
ANALICE - E quando tem dinheiro no meio, a gente nunca sabe, né? Aquela casa é cheia de tanto empregado, é gente que entra e sai todo dia, e a família do Martim tem negócio com tantas pessoas... vai saber
TERRY - Você acaba de tocar num ponto importante. Os empregados, a casa movimentada. Quando digo que tem pontos que tiram Eulália da mira, esse é um deles. Cinco empregados que estariam trabalhando naquela noite disseram que Eulália praticamente os obrigou a tirar folga...
ANALICE - Mas isso não a torna mais culpada ainda?
TERRY - Acontece que eles disseram que era Eulália, mas de um jeito diferente, como nunca viram. Com certeza estava sobre pressão. Era dia de vacinação de gado, Martim chegaria tarde e seu Joaquim e dona Sueli tinham marcado um passeio em Devaneio. A casa estaria sem ninguém, e o verdadeiro assassino sabia disso.
ANALICE - Essa história tá me deixando com medo, vamos mudar o assunto, vamos?
Analice começa a massagear o marido, que está bem tenso. Logo ele relaxa.
TERRY - Não precisa nem falar duas vezes, minha flor de maracujá do campo florido da Toscana.

Terry pega a esposa com tesão e a “encoxa” na pia da cozinha. Levanta uma de suas pernas, sobe seu vestido e os dois se beijam ardentemente.

ANALICE - Seu taradão! Eu to fazendo o almoço, não  vendo?
TERRY - Deixa o almoço pra depois que agora eu quero comer é outra coisa.

Ele não dá tempo pra esposa responder, a pega novamente e vai desabotoando o cinto e a calça. A campainha toca.

ANALICE (bem humorada, tenta conter o desejo do marido) Eu acho que você vai ter que esperar é só pelo almoço mesmo.
TERRY - “Eita” que o povo dessa cidade não sabe a hora de não bater na casa dos outros.

Ele sai cobrindo as partes íntimas com o chapéu. Ela se recompõe.
Ao abrir a porta se depara com Martim. E, mesmo contrariado, o convida a entrar.

TERRY - Martim? O que faz aqui?  disse que ia pra sua casa.
MARTIM (afoito, mas constrangido por perceber que interrompeu a intimidade do casal) Desculpa atrapalhar vocês... acho que não cheguei em boa hora. Mas é que... Eu fui, mas tive que voltar por causa disso...

Martim mostra uma caixa pequena para Terry.

TERRY - E o que é isso? Que é que tem ai? (fala enquanto se recompõe)
MARTIM - Abre e veja com seus próprios olhos. Diana achou isso a pouco tempo, e talvez o que tem ai dê algum crédito ao que você vem dizendo durante todo esse tempo.

TENSÃO. Martim entrega a caixa a Terry, que a abre e tira dali uma foto.

CLOSE NA FOTO EM SUAS MÃOS.

Na foto, já antiga, duas meninas loirinhas e sorridentes. São gêmeas idênticas. No verso da foto lemos: Eulália e Elvira. Cassilândia, 1979.

SURPRESA / TENSÃO. CLOSE EM TERRY E EM MARTIM.

TERRY - É Lice, eu acho que o quebra cabeça acaba de se fechar. A vaca berrou! Finalmente!

CORTA PARA:

Cena 9

CONTINUAÇÃO DO FLASHBACK DA CENA 2.

EULÁLIA (ainda chorando) Para com essas brincadeiras. Não vê que é sério? Não entendo toda essa raiva, essa fúria... Essa vontade de me fazer mal?... Já se passou tanto tempo, tanto... eu consegui reconstruir minha vida, me tornei uma pessoa boa, uma mãe e esposa dedicada. Porque esse desejo de me destruir?

Elvira nos é revelada, no banco do passageiro, ao lado de Eulália. Ela é idêntica a Eulália, porém, mais vulgar.

ELVIRA - Porque nós temos uma conta grande, Cachinhos de ouro. Uma conta bem grande pra acertar. Ou será que você já se esqueceu, irmãzinha?

TENSÃO.


CORTA PARA 


FIM DO PRIMEIRO CAPÍTULO.

Confira também o capítulo 2 aqui.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Noveleiro desde “sempre”... Herança genética?!

Por Rafael Montoito

Meu sobrinho fará três anos em outubro. Ele se chama Vitor e nasceu quando estava passando o remake de Tititi. Lembro de pensar que, por conta da exibição da novela, se ele estivesse na escola, seguramente os colegas estariam pregando peças nele e chamando-o de Victor Valentin. Minha irmã garante que foi apenas uma coincidência, que ela apenas achava o nome bonito – e eu acredito, até porque ela estava se preparando para ter uma menina, cujo nome já tinha escolhido. Três meses depois, foi ao ar o último capítulo de Passione, e ele ficou sentadinho no bebê-conforto, enquanto nos reuníamos para assistir ao desfecho da trama. Surpreendentemente, ele nos deu folga do seu choro o capítulo inteiro, coisa que era bem rara naqueles dias. Quando o capítulo terminou, eu pensei: “será que ele vai guardar alguma lembrança disso?” e estendi meu pensamento para “será que ele vai lembrar-se da briga entre costureiros e pensar que, da novela, derivou seu nome?”. Provavelmente não. Mas durante a exibição de Insensato Coração – com o desenrolar da trama, ele foi desenrolando-se também: começou a se virar no chão, a querer engatinhar etc – qualquer coisa que ele estivesse fazendo, parava quando tocava a música da abertura, e se sacudia todo à voz da Maria Rita, e seus olhinhos buscavam a TV, acho que para entender de onde vinha aquele sambinha. Não sei se ele vai lembrar-se de tudo isso, mas eu vou.


Essas recordações me fizeram voltar para a minha história. Quando meus amigos criticam o gênero novela – eu não brigo com quem não gosta ou se acha intelectualmente superior às tramas apresentadas –, sempre respondo com uma brincadeira: “Não consigo fugir! Sou noveleiro de pai, mãe, avó, tia, prima... Todo mundo lá em casa vê novela. Cada um está fazendo uma coisa diferente, mas quando começa a novela das oito (pra mim vai ser sempre das oito, mesmo que o horário tenha mudado), o primeiro que escuta o ‘Boa noite’ do William Bonner grita ‘Vai começar a novela’, e aí todo mundo corre para a sala e se amontoa no sofá, como em Os Simpsons para assistir ao capítulo do dia”. Realmente eu e minha irmã fomos educados na propaganda das novelas das oito (porque durante o capítulo é proibido conversar, regra que eu mesmo faço cumprir até hoje) e, para todos aqueles que dizem que a TV desagrega a família, que as novelas só ensinam valores inadequados, digo-lhes que eu e minha irmã somos pessoas de bem, com bons e firmes valores morais.



Quando eu era pequeno e tinha mais tempo, assistia a todas as novelas. Não sei se minha mãe me embalava enquanto assistia as tramas da época, ou se meu pai me fazia dormir com um olho em mim, e outro na TV. Motivos, seguramente, não lhes faltavam: em 1978, quando nasci, passava Maria Maria às seis, Te Contei? às sete, O Astro às oito e O Pulo do Gato às dez. À novela da Janete Clair, seguiu-se Dancin' Days. Eu cresci ouvindo meus pais – na verdade, meu pai sempre se mostrou mais noveleiro que minha mãe – falarem do Herculano Quintanilha e da Júlia de Souza Matos. Conclusão: se dei tanto trabalho nos primeiros meses quanto o meu sobrinho, roubei-lhes muitos capítulos das novelas das oito.


Mas as minhas primeiras lembranças de novelas são de alguns anos mais tarde. Em 1983 eu pedi pra minha mãe me fazer um sanduíche em forma de coração, porque eu queria comer igual àquele da abertura de Pão Pão, Beijo Beijo. Engraçado que minhas primeiras memórias das novelas de outros horários, são um ano mais antigas: lembro da abertura de Elas por Elas (1982), com aquela música gostosa que me fazia dançar, e de algumas cenas esparsas de Sol de Verão (1982), inclusive da notícia da morte do Jardel Filho e dos meus pais comentando sobre “o que será que irão fazer para levar a novela até o fim?”.


Não entendo o funcionamento da minha memória, pois nas novelas que seguiram a essas, em 1983 e 1984, inverteu-se a intensidade de minhas recordações. Tenho recordações muito vívidas de Amor com Amor se Paga (1983): perguntei para o meu pai se existiam mesmo “passagens secretas” e, como na casa de uma tia minha, lá havia um relógio-cuco, toda vez que ele ia cantar a hora certa, eu e meus primos corríamos para ver se alguma coisa iria acontecer. 


Lembro bastantes coisas também de Guerra dos sexos (1983), principalmente dos quadros que se mexiam e do final – que dessa vez não foi ao ar – da Veruska se transformando na Mulher Maravilha e, principalmente, da última cena, quando ela e o marido da Renata Leoni cozinham num caldeirão do inferno. No mesmo ano, quando no horário nobre passava Champagne, eu olhava a abertura, estarrecido, e pensava: “como um piano pode voar?”, o que era uma pergunta estupidamente infantil, pois todas as coisas “voavam” à voz do Ritchie, mas somente o piano me incomodava. 


Penso que, talvez, pela inventividade dos autores e por toques mais “surreais”, as novelas das 18 e 19 horas tenham chamado mais a atenção da criança que eu era e, por isso, ficaram mais gravadas na minha memória. Eu tinha um robozinho (colega do Falcon, um boneco que todo garoto queria ter) que eu fingia ser o robô de Transas e Caretas (1984) – diga-se de passagem, a Estrela pecou em não lançar esse brinquedo –; queria morar num vagão de trem, como o Pardal de Livre para Voar (1984); misturava, com água, pasta de dente, pedaços de sabonete ou qualquer outra coisas que tivesse cheiro bom para criar o meu próprio Vereda Tropical (1984). Eu era uma criança que brincava com as coisas que via nas novelas. Às oito horas as tramas eram mais adultas, mas tenho memórias também de Partido Alto (1984) e Corpo a Corpo (1984). Resumindo: meus pais nunca (o exagero é proposital. Óbvio que sendo criança eu brincava e estudava como as demais) me tiraram da frente da TV.

 

Hoje, quando olho para trás, muitas vezes associo à novela que estava vendo, quando algo importante aconteceu em minha vida. Às vezes não lembro em que ano foi, em que mês foi, mas o ritual “ver novelas” é tão forte na minha família, em mim, na minha genética, que elas são como “carimbos” na minha vida. Em 1985, quando entrei na primeira série, passava A Gata Comeu, Tititi e Roque Santeiro. Mesmo sem ver as reprises que se sucederam, sempre guardei muitos acontecimentos dessas novelas na memória: quis fazer com meus amigos um clube semelhante ao Clube do Curumim, queria comer carne de macaco, perguntei pra minha mãe se ela tinha um batom Bokaloka, e lembro que ia para a escola caminhando com alguns colegas de classe e comentando o capítulo de Roque Santeiro, com direito a sacudir o pulso e perguntar de vez em quando: “To certo ou to errado?”. 1985 é meu ano favorito, quando penso em novelas.


Quando estava passando a última semana de Barriga de Aluguel (1990), eu e outro amigo batemos de casa em casa, prancheta em mãos, para perguntar a quem nos atendia se preferia que o bebê ficasse com a Ana ou com a Clara; em 1991, esse mesmo amigo fez 15 anos e nós organizamos uma festa Vamp: os convidados tinham que vestir somente preto e a decoração não tinha nenhuma outra luz além de velas acesas; Renascer (1993) estreou um dia antes da minha primeira aula de física no ensino médio (lembro disso porque um colega estava incomodando durante a aula e o professor disse que iria pendurá-lo numa árvore e tirar-lhe a pele ); quando saí de casa e fui morar sozinho pela primeira vez, para fazer estágio do meu curso técnico, todo mundo assistia a Anjo Mau (1997); quando voltei a morar com a minha família, para começar a faculdade, as discussões eram em torno da troca de bebês de Por Amor (1997); daí acabei a faculdade, e nessa época O Clone (2001) era um estrondoso sucesso. Paraíso Tropical e Desejo Proibido (ambas de 2007) tiravam o tempo que eu devia dedicar aos meus estudos do mestrado. Hoje eu saio do trabalho às 23hs e corro para chegar em casa, torcendo para Saramandaia atrasar alguns minutos.


Não posso afirmar que depois de crescido o meu sobrinho Vitor vai lembrar-se das primeiras novelas que viu. Não sei nem se vai gostar de novelas, pois hoje a TV passa o dia no Discovery Kids (até Amor à Vida começar, obviamente). Mas, se ele gostar, acabará me dando subsídios para duas teorias não-científicas que defendo: ver novelas não faz mal a ninguém e, sim, o gosto e o hábito de acompanhá-las são geneticamente partilhados na mesma família.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

A Cortina de Vidro pegou fogo!


Por André Araújo

Em 23 de Outubro de 1989 o SBT colocou no ar a novela Cortina de Vidro, de Walcyr Carrasco. Obra criada a partir do argumento de Guga de Oliveira (também era dele a produção da novela), irmão do José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni). Contava a história do magnata Frederico Stuart (Herson Capri), que se disfarça de pobre para conquistar a bailarina Branca (Betty Gofman), sem muito sucesso. 



A novela tinha um elenco talentoso e todo mundo ali deu tudo de si para salvar a trama do Walcyr,que estreava em novelas. Acredito que quem parou para assisti-la, como eu, deu boas risadas pelo excesso de absurdos, personagens mal delineados e várias tramas paralelas que nunca disseram por que estavam ali. O horário até poderia ter ajudado, pois “Cortina de Vidro” entrava no ar logo após Top Model (Antônio Calmon / Globo), mas o que deu errado foi mesmo o texto do autor que, por muitas vezes, imitou o texto crítico que Cassiano Gabus Mendes tão bem soube usar em Que Rei Sou Eu? (Globo).

Débora Duarte, com sua Giovanna, chegou a abrilhantar um pouco a história quando entrou, mas sua personagem também se perdeu e "ninguém" entendeu nada. E como não havia mais o que fazer para salvar sua trama, Walcyr Carrasco promoveu um incêndio. Semelhante ao que fez a Janete Clair, em Anastácia, a Mulher sem Destino (Globo / 1968), quando criou um terremoto na tentativa de "salvar" a novela do Emiliano Queiroz. Eliminando 90% dos personagens.

Eis a cena: A vilã Glória, interpretada pela Ester Góes, que era  apaixonada pelo mocinho da história, reúne todos os personagens numa sala do prédio, principal cenário da novela, e exibe um filme pornô, intitulado “A Noiva Sádica”. Deste, a mocinha Branca era a tal protagonista. Daí há um festival de acusações na cena, e misteriosamente o prédio pega fogo. São muitos os personagens que morrem, inclusive a mocinha. Walcyr Carrasco radicalizou geral! 



A novela seguiu com novos rumos e um pequeno número de personagens; o mocinho continuou longe da vilã e acabou por cair de amores pela operária Ângela, que contou com a singela interpretação da, hoje bem sucedida jornalista, Sandra Annenberg.


Com a morte de mais da metade dos personagens, Cortina de Vidro começou a ganhar forma de novela, mesmo em meio às críticas dos atores que deixaram a trama a partir do incêndio. Liza Vieira, por exemplo, disse numa revista que o Walcyr Carrasco havia prometido que sua personagem teria um desfecho digno do filme Atração Fatal. Porém, sua personagem morreu queimada!

Cortina de Vidro poderia ter se tornado um novela bem sucedida, mas infelizmente, o autor só pode evidenciar seu primeiro sucesso (Xica da Silva) em 1996, e noutra emissora. E mesmo com relativo insucesso, Cortina de Vidro durou 168 capítulos.

Algumas curiosidades sobre a novela:
  • O Autor Walcyr Carrasco chegou a escrever uma cena de beijo gay para os personagens dos atores George Otto e José Américo Magno, mas este último se recusou a gravá-la, temendo por seus compromissos publicitários.
  • O autor ousou também ao escrever uma cena em que a personagem da Carola Oliveira (Carola Scarpa) é estuprada pelo próprio pai, vivido pelo ator Antônio Abujamra. Esta sim, foi ao ar.
  • A atriz Nívea Maria chegou a gravar alguns capítulos da novela, mas desistiu e foi brilhantemente substituída pela atriz Ester Góes.
  • A Sabrina Sato teve uma pequena participação na novela. Na época assinava como Sabrina Rahal.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Um nazista pela primeira vez, numa novela das seis!!!


                                                                                                                      Por Daniel Pilotto

Uma das tramas que tem chamado bastante a minha atenção na novela das seis, FLOR DO CARIBE de Whalter Negrão, é a história de Dionísio e Samuel. Para um fã de tudo que se ambienta no período da Segunda Guerra Mundial, como eu, poder ver que pela primeira vez está sendo mostrado numa novela de televisão um resquício daquilo que foi uma das grandes tragédias da humanidade, o holocausto, se torna definitivamente um atrativo a mais para acompanhar.


Geralmente as tramas relacionadas à Segunda Guerra mundial e a ação perversa do nazismo contra os judeus e suas consequências ficavam restritas apenas as minisséries e novelas de época.

A primeira trama de novelas a abordar este período da história foi O SHEIK DE AGADIR (1967) de Gloria Magadan. A trama foi uma adaptação de um livro de Gogol, transposto para o período da Segunda Guerra. Na trama eram retratadas a ocupação nazista na França e sua influência num reino Árabe. Pela primeira vez era possível ver atores brasileiros vivendo personagens nazistas, como o coronel Otto Von Lucken (Mário Lago), o oficial e espião Hans Stauben (Emiliano Queiroz) e Frieda (Márcia de Windsor). Os atores que viveram os nazistas ganharam antipatia do público logo de cara. Emiliano Queiroz sentiu na pele a rejeição pelo personagem, o público da época ainda não distinguia ficção de realidade e o ator chegou a ser agredido por uma telespectadora no Rio de Janeiro, após ter ido ao ar o capítulo em que seu personagem assassinava friamente um dos mocinhos da novela vivido por Cláudio Marzo.

O período e os nazistas só seriam retratados novamente nas minisséries A E I O URCA e AQUARELA DO BRASIL.
Em A E I O URCA (1990) de Antonio Calmon e Doc Comparato os nazistas estavam infiltrados no Brasil, mas precisamente no Rio de Janeiro do final dos anos 30. Na trama a jovem Sílvia (Débora Bloch) se vê envolvida numa interessante trama de espionagem típica dos filmes de Hollywood da década de 40. Com seu pai preso por comunismo ela é chantageada por Jofre (Raul Cortez) um nazista que a obriga a se casar com o inglês Michael (Herson Capri) e conseguir dele um mapa de uma importante mina de urânio. Esta trama se assemelha bastante ao filme INTERLÚDIO de Hitchcock, no que se refere ao fato de que alemães nazistas estavam infiltrados sob outras identidades no país, com o objetivo preciso de extrair urânio (importante mineral utilizado em armamentos) das ricas minas brasileiras.
 

Em AQUARELA DO BRASIL (2000) de Lauro César Muniz o foco era outro. Na minissérie ambientada nos anos 40 existiam duas tramas bem distintas relacionadas ao nazismo. Na primeira parte o personagem Felipe (Marco Ricca) tio da mocinha da história Isaura (Maria Fernanda Cândido) se vê relacionado num esquema de espionagem nazista. Ele é confundido como colaborador, responsável por transmitir códigos cifrados através de um sinal de rádio, captado pela contraespionagem do exército brasileiro. Como ele tinha feito parte da Ação integralista em sua juventude e fichado na polícia em 1938, todas as suspeitas recaem sobre ele. No decorrer da trama se descobre o envolvimento dos vizinhos de Isaura, os alemães Max Bronstein (José Steinberg) e Ruth Bronstein (Ivone Hoffman) como os verdadeiros responsáveis pelas transmissões espiãs captadas pelo exército.
Outro destaque da minissérie é a trama de Bella Landau (Daniela Escobar), responsável por discutir o drama dos refugiados de guerra.
A jovem havia sido salva de um campo de concentração nazista por Axel Bauer (Felipe Kannemberg) oficial do exército de Hitler, que se apaixona por ela. Ele foge como desertor e vem acompanhado dela para o Brasil. Um dos grandes dilemas vividos por Axel e Bella é que ele como alemão nazista não pode desembarcar no país sem ser preso pelo exército. O conflito se estabelece, inclusive com os outros personagens judeus da história que não compreendem o amor entre a jovem e o alemão.


As duas minisséries são exemplos de tramas de época que trataram o tema, de maneira bastante correta e com todo o lado histórico que uma produção destas exige.

Uma abordagem atual, sobre os desdobramentos deste período trágico do passado nos nossos tempos é pouco comum na Teledramaturgia.
Em 1979 a Bandeirantes levava ao ar a novela de Vicente Sesso CARA A CARA. A história girava em torno de Ingrid Von Shubert (Fernanda Montenegro) uma mulher que retornava ao Brasil após muitos anos em busca do filho arrancado de seus braços após nascer num campo de concentração nazista.
A trama apenas se referia a este momento no passado da personagem. O mote principal da trama era sua busca por este filho nos dias atuais e as complicações decorridas pelo tempo.

Em FLOR DO CARIBE ela é a base de uma história e da vida de dois personagens bem interessantes que após muitos anos de terminada a guerra na Europa acabaram por se encontrar na ensolarada Rio Grande do Norte.
Samuel Achcar Schneider (Juca de Oliveira) é um dos sobreviventes da ação nazista em Amsterdã, Holanda. Quando criança viu seus pais entregarem toda sua fortuna para um homem misterioso, com a promessa de que conseguiriam escapar dos nazistas e fugir da Europa. O homem misterioso era Dionísio Albuquerque (Duda Mamberti, na fase das lembranças de Samuel e Sérgio Mamberti na fase atual), e ele na realidade era uma espécie de informante do regime de Hitler em meio aos judeus, entregando-os aos soldados nazistas depois de arrancar tudo o que tinham de valor.


O interessante nesta trama de FLOR DO CARIBE é que Samuel vai se recordando de seu passado aos poucos. No início da história ele não faz idéia de que Dionísio, o empresário milionário dono de todas a salinas da região e avô do marido de sua filha seja o algoz de sua família no passado.
Suas recordações vão sendo despertadas na medida em que ele toma contato com objetos da época.
Samuca (Vitor Figueiredo), filho de Esther (Grazi Massafera) e neto de Samuel encontra por acaso numa brincadeira no quarto de Dionísio uma cruz nazista, uma condecoração por serviços prestados ao Führer e leva até a casa do avô. O contato com o objeto o faz lembrar mais claramente de seu passado e ele sai em busca de maiores detalhes.
Num segundo momento ele encontra no quarto do empresário um relógio antigo com uma inscrição em hebraico, que pertenceu ao seu pai. Logo após Doralice (Rita Guedes) a empregada da mansão consegue uma foto antiga de Dionísio num álbum de retratos e quando ele a vê, mata a charada, Dionísio foi o responsável pela morte de seus pais.


Dionísio representa os nazistas que conseguiram escapar da Europa antes de serem presos ao final da Grande Guerra em 1945. Há diversos relatos de que muitos deles vieram se esconder na América do Sul. O mais famoso de todos é o médico nazista Josef Mengele. Considerado o “anjo da morte” foi o maior responsável pelo extermínio de judeus nos campos de concentração da Alemanha. Passou grande parte da vida escondido na Argentina e terminou seus dias no Brasil, sem ser punido por seus crimes.

Já Dionísio, vive na fictícia Vila dos Ventos da novela, e mantém no subsolo de sua mansão uma espécie de bunker com toda a riqueza que conseguiu roubar dos judeus. Em meio a jóias, objetos e telas de pintores famosos dadas como perdidas ele relembra as maldades do passado.
Mas como nas novelas em muitos casos existe justiça, parte de seus segredos já está vindo à tona. E quem sabe, pelo menos na ficção, um nazista fugido e nunca encontrado conseguirá ser punido.


O único senão em torno da trama é a idade dos atores escolhidos para os personagens. Juca de Oliveira nem tanto, pois o ator já está com 78 anos, portanto na época da Guerra ele podia muito bem ser representado por uma criança como a que foi usada nas cenas de memória. Agora Sérgio Mamberti, com toda a certeza está vivendo um personagem com muito mais idade do que tem. A parte das memórias de Samuel data de 1944, portanto Dionísio (se seguirmos a lógica de que Sérgio Mamberti tem 74 anos) teria que ter na época apenas 13 anos. Talvez o erro tenha vindo da direção ao escolher Duda Mamberti, o filho do ator para viver esta primeira fase. Quem sabe um ator mais jovem com no máximo 20 anos chamaria menos atenção para o disparate da idade.
Enfim, estes são apenas detalhes. Felizmente a trama, muito mais rica e interessante consegue se sobrepor a isto e torna FLOR DO CARIBE uma das gratas surpresas do horário.
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