terça-feira, 23 de julho de 2013

Arbitrário Folhetim - 4º capítulo

De Isaac Santos

Capítulo 4

Cena 1. Rua. Exterior. Noite.

Olga está caída no passeio, nua, desacordada. Perto dela estão suas roupas rasgadas, sujas de sangue e a mala.

Um homem que a observava do portão de sua casa decide se aproximar para tentar ajudá-la.

Cena 2. Casa de Davi Valério. Banheiro. Interior. Noite.

Olga sentada numa banheira enquanto Davi lhe dá banho. Ela ainda chora muito.

Cena 3. Casa de Davi Valério. Quarto. Interior. Noite.

Olga sentada na cama enquanto Davi lhe seca os cabelos.

Olga – Por que você tá fazendo isso por mim, hein? 
Davi (carinhoso/humano) – Sabe que eu num sei?! (sorri)... Mas quando eu te vi lá no chão... 
Olga – Eu te tratei tão mal lá na praia, né? 
Davi – Ah, eu simpatizei com você... 
Olga – Confesso que eu não gostei muito de tu. Te achei estranho, com uns papos de guia... Mas eu tenho muito que te agradecer porque se não fosse por ter me trazido pra tua casa... (se emociona)
Davi – Vamos parando com esse chororô. (ajudando ela a se recostar na cama) Fica aí descansando que eu vou esquentar um leitinho pra você tomar. 

Cena 4. Rua da Pousada. Exterior. Dia.

Amanhecendo. Crianças brincando na rua. Donas de casa se cumprimentando enquanto varrem o passeio de suas casas. Pessoas saindo pro trabalho.

Cena 5. Pousada Em Família. Quarto de Clotilde. Interior. Dia.

Luz do sol entrando pela janela. Do quarto se ouve o barulho que vem da rua. Clotilde acordando.

Cena 6. Pousada Em Família. Recepção. Interior. Dia.

Clotilde descendo a escada indo pra cozinha tomar o café da manhã. Telma já está nos seus afazeres na recepção.

Telma – Bom dia, moça. Dormiu bem?
Clotilde (bem humorada) – Aquele chá de maracujá é coisa dos deuses. Pena que não deu pra continuar na cama, depois do café vou sair atrás de emprego.
Telma – Então, eu vou amanhã conversar com um amigo que é gerente de hotel. Ele já vinha me chamando pra trabalhar como recepcionista há um tempinho. Se der certo pra mim, vou tentar algo pra tu também.
Clotilde (vibrando) – Te agradeço por tudo, amiga.

Cena 7. Casa de Davi Valério. Cozinha. Interior. Dia.

Davi chega com pães e leite e se surpreende ao ver Olga fazendo café.

Olga – Cê demorou um pouquinho, né? Eu já tava ficando com medo de assombração nessa casa enorme. (descontrai)
Davi – Eu to surpreso de você já ter levantado da cama e tá aí fazendo café. 
Olga – A madre dizia que toda moça que se preze tem que saber fazer certas tarefas domésticas. Eu detestava, mas tinha o lado bom de aprender a se virar. 
Davi – Depois eu quero que tu me conte direitinho essa história de orfanato que cê começou a me falar de madrugada.
Olga – Tá, mas eu também to curiosa pra saber um pouco mais de tu.
Davi – É até bom, eu desabafo um pouco com alguém... (percebendo o horário) Vou tomar logo meu banho.

Davi sai rapidamente e Olga continua coando o café enquanto seus pensamentos a levam de volta ao orfanato 

Cena 8. Orfanato Emanuel. Sala da Direção. Interior. Dia.

Flashback

Olga e Clotilde estão com 13 anos. São trazidas pela Irmã Pureza para uma conversa com a Irmã Balbina, nova madre do Orfanato.

Clotilde – Chamou a gente, madre?
Irmã Balbina – Sim, pedi que a irmã Pureza trouxesse vocês pra que ficassem sabendo que não vou permitir que vocês continuem escutando músicas profanas no Orfanato. A vitrola será colocada no salão de música, pra que todas as outras meninas possam também escutar músicas boas, religiosas.
Olga (chateada) – Mas irmã, os discos são da Clotilde, ela ganhou de presente...
Clotilde (triste) – E a vitrola também.
Irmã Balbina – Não quero ouvir nem mais uma palavra sobre esse assunto. Agora podem ir.

Olga e Clotilde se retiram da sala. 

Irmã Balbina – Irmã Pureza, eu quero que a senhora dê um fim naqueles discos e peça para as noviças colocarem a vitrola no salão. 

Cena 9. Orfanato Emanuel. Quarto de Clotilde e Olga. Interior. Dia.

Flashback

Clotilde e Olga estão se arrumando. É o dia de deixarem o orfanato. A irmã Pureza entra com um embrulho nas mãos.

Irmã Pureza – Vamos sentir falta de vocês, minhas filhas.
Clotilde e Olga – Nós também, irmã.
Irmã Pureza – Clotilde, lembra daqueles discos que a saudosa irmã Gertrudes te entregou?
Olga (azeda) – E que a bruxa da madre Balbina mandou quebrar?!

Clotilde e Irmã Pureza dão risada

Irmã Pureza – Eu guardei os discos por todos esses anos...

Clotilde e Olga regozijadas. Há um clima de despedida.

Fim do flashback.

Corta para

Cena 10. Entrada da Delegacia/Rua. Exterior. Dia.

Olga e Davi Valério saindo da delegacia. Davi pára numa barraca, compra cigarros e depois sai correndo atrás de Olga que, chateada, não quis esperar.

Davi – Eu já tinha te falado que não esperasse um bom tratamento na delegacia. Esses caras são muito preconceituosos, acabam fazendo com que a culpa pareça ser da vítima e não do agressor. 
Olga – Uns babacas!

Vendo que o ônibus se aproxima do ponto, eles correm para não perdê-lo.

Cena 11. Casa de Davi Valério. Sala. Interior. Noite.

Davi e Olga em meio de conversa.

Davi – Eu acho tão diferente me chamarem de Davi. Meu nome é Davi Valério Ferreira Bastos, mas as amigas íntimas (sorrindo) me chamam de Valéria.
Olga – Eu prefiro Davi. Me conta mais de você.
Davi – Por onde começo? (descontrai)
Olga – Essa casa é sua?
Davi – É, acho que é.
Olga – Bobo!
Davi – Eu, eu tinha 35 anos quando o meu pai morreu, minha mãe havia morrido 5 anos antes. Tô com 45. Lá se vão dez anos de minha vida. (acende um cigarro) Todos dois sabiam do meu jeito, não apoiavam, mas também nunca exigiram que eu aparecesse com uma namorada. Só não admitiam que eu não formasse numa faculdade.
Olga – Você formou?
Davi – Não, nunca fui muito de estudar. Eles viviam brigando comigo por causa disso. Eu sai de casa por um tempo, mas quando soube que minha mãe não tava muito legal de saúde eu voltei. 
Olga (levantando-se) – Vamos lá pra cozinha, vou passar um cafezinho pra gente. 

Cena 12. Casa de Davi Valério. Cozinha. Interior Noite.

Continuam a conversa enquanto Olga prepara o café.

Olga – Eu não sei o que é ter mãe e pai...
Davi – O meu velho aprontava muito, só vivia dando desgosto pra gente. Minha mãe sofria demais.
Olga – Era mulherengo?
Davi – Ele era viciado em jogos de azar. A gente perdeu tudo, Olga... Só restou essa casa. Essa casa vivia cheia de gente da alta sociedade de Salvador. Meus pais tinham muitos amigos. 

Olga serve o café para Davi, que aproveita e acende um cigarro.

Davi – Meu pai era dono de uma rede de rádios aqui na capital e em algumas cidades do interior. Pouco antes do velho morrer ele implorou a um amigo que comprasse a última emissora que ainda lhe restava. No fundo ele sabia que eu não daria conta do negócio e foi um jeito de garantir que eu tivesse algum dinheiro guardado, mas o canalha ficou apenas na primeira parte do pagamento. Meu pai confiou, passou toda a documentação da rádio pro nome desse sujeito antes de receber o restante do valor acertado. Morreu sem saber.
Olga – E ainda é vivo esse abutre?
Davi – Sim, cada vez mais rico. E com certeza a mente nem acusa, deve achar que fez um favor ao meu pai. Canalha!   
Olga – E você já o viu depois disso?
Davi – Já, mas ele nem se lembra de mim, não me reconhece, nem eu faço questão. Ele vai de vez quando no mesmo terreiro que eu frequento, mas é daquele tipo que só vai quando precisa de alguma coisa. 

Cena 13. Orfanato Emanuel. Sala da Direção. Interior. Dia.

Irmã Pureza organizando alguns documentos no Arquivo, encontra por acaso a pasta de Clotilde e começa a lembrar do dia em que... 

Flashback

Um tempo depois da morte da Irmã Gertrudes. Mara em conversa já avançada com a nova madre superiora.

Mara – Não entendo, Irmã...
Irmã Balbina – Não é tão difícil assim de compreender. Desculpe a sinceridade, mas olhe num espelho. Eu não posso permitir que continue a visitar esse orfanato pra ver a sua filha. Nós vivemos num ambiente cristão, de bons costumes... 
Mara – Tudo bem que a senhora não aceite a minha ajuda, a irmã Gertrudes também não aceitava. Mas nunca me proibiu de observar a minha filha no pátio, à distância. Que mal há?
Irmã Balbina – A irmã Gertrudes era a irmã Gertrudes!
Mara – Tudo bem, a senhora é quem manda. 
Irmã Balbina – Eu não tenho que ouvir suas ironias. Ponha-se daqui pra fora!

Irmã Pureza é chamada para acompanhar Mara até o portão.

Cena 14. Orfanato Emanuel. Saguão de Entrada. Interior. Dia.

Flashback

Irmã Pureza – Eu não pude deixar de ouvir uma parte da conversa de vocês... Não se importe!
Mara – A senhora é um amor, irmã. Eu lhe agradeço a atenção.
Irmã Pureza – Olha, me dê um telefone de contato, vou tentar te manter informada sobre a sua filha
Mara (emocionada) – A senhora faria isso, irmã? Mas eu não tenho nem papel nem caneta aqui.
Irmã Pureza – Me espere aqui que eu já volto.

Irmã Pureza sai e Mara continua ali se sentindo mais confortada.  

Fim do flashback

Corta para

Cena 15. Hospital. Sala do médico. Interior. Dia.

Davi tentando acalmar Olga que está temerosa. Eles conversam com um médico.

Olga – E então doutor... O que o senhor me diz?
Médico – Então, imagino que você possa não receber bem a notícia... Deu positivo, você está grávida.
Olga (chorando) – Me ajuda, Davi. (abraçando-o) O que eu vou fazer da minha vida agora !?  

Corta para

Fim do 4º capítulo

Confira o 5º aqui.

E se perdeu o capítulo anterior, clique aqui.
Para baixar a trilha sonora, clique aqui.

2 comentários:

  1. Olá. Parabéns pelo site!
    Quando puder dá uma passada no nosso. Produzimos webnovelas

    http://operetv.com.br/videos/web-novela-jogo-da-verdade-cap-03/

    abraços!

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  2. Olá, pessoal do Opere TV, já fui lá prestigiá-los. Voltem sempre!

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