quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Câncer: um assunto além de cabelos e carecas


Por André Cavalini

Antes mesmo de Amor à Vida entrar no ar, já sabíamos que a personagem Nicole, interpretada por Marina Ruy Barbosa teria câncer.  Confesso que fiquei apreensivo e na expectativa para saber como esse tema seria abordado pelo autor Walcyr Carrasco e qual o desfecho desta trama. Em alguns momentos até  cogitei a possibilidade de algo parecido com a personagem Camila, de Carolina Dieckman em Laços de Família. Cheguei até a ver, em minha imaginação, Nicole raspando a cabeça ao som de Love By Grace. Mas isso não aconteceu e o que presenciamos foi uma discussão boba sobre a importância da atriz raspar ou não a cabeça, enquanto o motivo mais importante, a doença da personagem, era deixado de lado.


Muito se falou, muito se inventou, e o que víamos é que enquanto a mídia supervalorizava o “raspa - não raspa”, poucos se preocuparam em falar sobre o Linfoma de Hodgikin (tipo de câncer que Nicole teve), em explicar para o público o que é, como se desenvolve e o que deve ser feito nesse caso. Valeram mais as cabeleiras da intérprete que a doença da personagem. É como se todo o drama de uma pessoa que descobre a doença ficasse fadado a se desfazer ou não dos cabelos.

O autor, talvez com ego ferido por ver uma atriz fugindo do roteiro, perdeu o fio da meada e deixou ir pro ralo algo que poderia ser de grande valor para a dramaturgia e para a sociedade brasileira: deixou de levar ao público o esclarecimento e a realidade de alguém que tem câncer.
Marina perdeu a grande chance de ser chamada de ATRIZ, e Walcyr a grande chance de ser reconhecido como um autor que faz a diferença. Porque se assim fosse, teriam mostrado ao Brasil que alguém com câncer é alguém com vida, e pode sim sorrir, ainda que esteja fadado a morte.
Manoel Carlos fez essa diferença com sua Camila, que ainda envolta pelo manto negro de uma leucemia, e com todo o sofrimento que esta doença trás para a vida de uma pessoa, conseguiu sorrir, amar e vencer.
Percebem a diferença?



Maneco retratou com cuidado, Carolina interpretou de verdade, enquanto a dupla atual da novela das nove parece ter apenas brincado com um assunto tão sério e tão forte, transformando-o em banalidade. A doença da personagem parece ter sido apenas uma ponte para a verdadeira construção de Nicole na história, que é viver um amor após a morte. Tudo bem, mas não posso deixar de falar que essa ponte foi mal construída, afinal o que aprendemos com Nicole? O que o texto de Carrasco nos ensinou sobre o câncer? Como ficaram as pessoas que possuem a doença? Se Walcyr queria uma doença apenas para matar a personagem, deveria, no mínimo, ter o cuidado de retratar a verdade e esclarecer a realidade.

Novela não é feita para entreter? Sim, mas também tem o papel de alertar, porque por mais que seja ficção, há do outro lado da tela muitos seres humanos vivendo o mesmo drama, encontrando-se em cada lágrima e em cada sorriso da personagem. É por isso que o trabalho tem que ser bem feito, elaborado e construído com cautela. Colhe-se bons frutos. É só lembrar que enquanto Camila vivia seu drama na TV, as doações de medula óssea tiveram um crescimento significativo em todo o Brasil.
Já agora, vimos apenas uma briga de egos: a atriz que não quer seguir o roteiro e o autor que a ridiculariza por isso. Zero para os dois que deveriam ter entendido e transmitido a ideia de que câncer é algo que vai além de cabelos e carecas...

Quem perde é o telespectador, que só não muda de canal porque ainda consegue dar boas risadas com o melhor da novela: a inteligência pura e o carisma contagiante de Valdirene.
Mas isso já é assunto para um outro dia.


                                                                          ***

Se você acha o tema interessante, poderá se emocionar muito com a lista de filmes abaixo. Prepare a pipoca e o lenço de papel:


 

Cartas para Deus conta a história de um menino com câncer que se corresponde regularmente com Deus através de orações em forma de cartas. Inicialmente sem saber o que fazer com as cartas, o carteiro encarregado de entregar as cartas do menino doente decide fazer uma série de escolhas que vão mudar sua vida e ajudar o garoto a mudar a vida daqueles ao seu redor.


 

Uma prova de amor: Anna não é doente, mas bem que poderia estar. Por treze anos, ela foi submetida a inúmeras consultas médicas, cirurgias e transfusões para que sua irmã mais velha Kate pudesse, de alguma forma, lutar contra a leucemia que a atingiu ainda na infância. Anna foi concebida para que sua medula óssea prorrogasse os anos de vida de Kate, papel que ela nunca contestou... até agora. Tal como a maioria dos adolescentes, ela está começando a questionar quem ela realmente é. Mas, ao contrário da maioria dos adolescentes, ela sempre teve sua vida definida de acordo com as necessidades da irmã. Então, Anna toma uma decisão que seria impensável para a maioria, uma atitude que irá abalar sua família. 


 

Pronta para amar: Marley descobre que está entre a vida e a morte por causa de um câncer. Em meio a sua luta, ela conhece Julian, um rapaz por quem se apaixona. Neste momento decisivo da sua vida, ela percebe que sente mais medo de amar do que de morrer.


 

Doce Novembro: Nelson Moss (Keanu Reeves) é um atarefado executivo que só pensa em seu trabalho. Até que conhece Sara Deever (Charlize Theron) , que lhe traz novamente um sentimento de romantismo. Ela o convence a passarem um mês juntos e depois se separarem, pois considera este um tempo suficiente para que possam resolver seus problemas emocionais.


 

Lado a Lado: Os filhos de um casal separado são envolvidos em uma crise familiar, quando o pai (Ed Harris) decide casar-se com uma mulher mais jovem (Julia Roberts) e a mãe (Susan Sarandon) não aceita o fato. A história toma um novo rumo quando a mãe descobre ter câncer.


 

Antes de partir: Dois homens com câncer em estágio terminal fogem do hospital e põem os pés na estrada com uma lista de coisas que gostariam de fazer antes de morrer.


 

50%: Na trama, Joseph Gordon-Levitt interpreta Adam, um rapaz de 25 anos que descobre ter câncer e passa anos lutando contra a doença. Anna Kendrick viverá uma jovem psicóloga, que recebe o caso de Adam mas não tem experiência de vida para lidar com ele.



Minha vida: Ao mesmo tempo em que descobre que vai ser pai pela primeira vez, homem também fica sabendo que tem uma doença terminal. Assim produz um vídeo sobre sua vida para deixar ao filho que vai nascer.




Tudo por amor: Baseado no romance de Marti Leimbach, conta a história de uma jovem pobre que trabalha como enfermeira e acaba se apaixonando pelo rapaz de quem cuida, um moço rico que sofre de leucemia.



Uma lição de vida: Professora de poesia inglesa só se abate quando recebe o diagnóstico de câncer no ovário em estágio avançado. Ela participa de uma experiência com uma nova droga.


 

Um caminho de luz: Inspirado em fatos reais, o filme é uma aventura emocional em torno de Camino, uma extraordinária menina de onze anos que enfrenta ao mesmo tempo dois acontecimentos que são completamente novos para ela: se apaixonar e morrer. A menina que ama incondicionalmente sua mãe, seu pai e sua irmã mais velha, tem um tumor que é extremamente agressivo, que começa a destruir sua vida e vai lhe privando, passo a passo e com dolorosa precisão, cada uma de suas ilusões. Mas Camino é uma luz brilhante capaz de atravessar cada uma das portas que vão se fechando diante dela, que pretendem inutilmente deixá-la na escuridão o seu desejo de viver, amar e sentir-se definitivamente feliz.


 

O amor pode dar certo: Quando Henry Griffin (Dermot Mulroney) descobre que está com câncer terminal, ele decide viver sua vida ao máximo. Ao assistir uma aula de psicologia na Universidade de Nova York ele conhece Sarah Phoenix (Amanda Peet), com quem logo se envolve. Porém Phoenix também está morrendo, o que faz com que ambos percebam que o relacionamento que possuem é a última chance que têm para descobrir o amor.

2 comentários:

  1. Concordo com tudo! Menos com as boas risadas da Valdirene, acho ridicula aquela trama.

    Mas de fato, o Walcyr e Marina perderam uma grande chance, uma pena.

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    Respostas
    1. Henrique

      A trama em si também não me agrada muito, mas não podemos negar que Tatá Verneck tá arrancando boas risadas do público, né não?

      Obrigado pela passagem por aqui.
      Abraço

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