quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A Arte de “Remakear”

Por Leonardo Mello de Oliveira

Nunca na história da televisão, os remakes de telenovelas ficaram tão em evidência, chegando até mesmo a ter um horário próprio só pra eles. Odiados por uns, amados por outros, remakes sempre parecem causar mais burburinho que novelas originais. Talvez porque o remake venha com dois objetivos a cumprir: repercutir, assim como qualquer novela, e fazer igual, ou até melhor, que a sua primeira versão. Ele vai causar mais discussão, pois todos vão prestar mais atenção ao elenco (que deve honrar o nome do elenco original), à história (sempre mais vigiada, pois agora estamos em outro tempo, geralmente bem além de quando se passou a primeira versão) e à audiência.


Um dos primeiros remakes de novelas brasileiras foi O Direito de Nascer, em 1978. A Tupi havia criado um verdadeiro fanatismo aos atores de novelas com a primeira versão deste clássico em 1964, e pretendia repetir o sucesso com este remake, reunindo boa parte de seu melhor casting. Porém o sucesso desta não podia nem ser comparado ao da original. Lembrando que a versão de 64 já era baseada na radionovela já exibida no Brasil que era um texto do cubano Félix Caignet já exibido no país de origem de seu autor. O Direito de Nascer ainda ganharia mais uma versão em 2001, dessa vez pelo SBT, porém passou quase que despercebida pelo público.


Talvez o primeiro remake a ser um grande sucesso foi Amor com Amor se Paga (1984), de Ivani Ribeiro, adaptação de Camomila e Bem-me-quer (1972), de mesma autoria. A partir desta lembrada obra, onde Ary Fontoura deitou e rolou com seu Nonô Correia, Ivani passou a apenas adaptar suas antigas novelas, a maioria com títulos diferentes das originais. Em 1985 veio A Gata Comeu, adaptação de A Barba Azul (1974), em 1987 veio Hipertensão, adaptação de Nossa Filha Gabriela (1971), em 89, O Sexo dos Anjos, adaptada de O Terceiro Pecado (1968), em 1993 vem Mulheres de Areia, adaptação homônima de 1973, e em 1994, tivemos A Viagem, remake também homônimo da novela de 1975. Todas alcançaram relevante sucesso, porém A Gata Comeu, Mulheres de Areia e A Viagem superaram o sucesso de suas primeiras versões, estourando na audiência e tendo direito a duas reprises no Vale a Pena Ver de Novo posteriormente.


Janete Clair foi outra autora que teve suas melhores obras adaptadas. Selva de Pedra foi uma das novelas que ganharam remake pouco tempo depois do término da original. A primeira versão foi em 1972, e a segunda em 86. Adaptada por Regina Braga e Eloy Araújo, foi o único remake no horário nobre global, alcançando um relativo sucesso. Em 95 e 98 foi a vez de Irmãos Coragem (1970) e Pecado Capital (1975) ganharem uma nova cara. Porém, não alcançaram as metas esperadas. Além de terem sido muito modificadas pelos adaptadores, foram exibidas no horário das seis, o que descaracterizou as obras. Em 2011, O Astro (1977) ganhou seu remake, inaugurando o horário das onze. A obra, muito bem escrita, interpretada e dirigida, ganhou a crítica e o público e ainda homenageou o jeito Janete Clair de se fazer novela, com muitas cenas de casais apaixonados e clima kitsch.


Nos anos 90, a TV se viu inundada pelos remakes. Além dos já citados de obras de Janete Clair, o SBT resolveu investir pesado em teledramaturgia e começou a produzir belíssimos remakes de época. O primeiro experimento, Éramos Seis, em 1994, conquistou a todos e tudo parecia seguir corretamente para o novo projeto da emissora de Sílvio Santos. Continuou-se a produzir belíssimos remakes, como As Pupilas do Senhor Reitor (1995), Sangue do Meu Sangue (1996) e Os Ossos do Barão (1997), porém, não acompanharam o sucesso de Éramos Seis. Vale lembrar ainda Anjo Mau (1997), adaptação muito bem feita por Maria Adelaide Amaral da original de Cassiano Gabus Mendes.


Nos mais recentes anos 2000, outros remakes foram exibidos, porém nenhum marcou realmente a história da TV. Podemos citar alguns, como as adaptações de Edmara e Edilene Barbosa para as obras de seu pai Benedito: Cabocla (2004), Sinhá Moça (2006) e Paraíso (2009). Há também O Profeta (2006), remake da obra de Ivani Ribeiro feita pela dupla Thelma Guedes e Duca Rachid, e A Escrava Isaura (2004), remake de Thiago Santiago do clássico de 1976, feita pela Record.


Foi em 2010 que os remakes voltaram com tudo, com Tititi. Maria Adelaide Amaral fusionou Tititi (1985) e Plumas & Paetês (1980), duas novelas de Cassiano Gabus Mendes.  O grande êxito desta obra abriu portas para outros remakes e, porque não dizer, para o horário das onze, exclusivo dos remakes. Estreando com O Astro (2011), o horário ainda trouxe duas grandes e bem feitas obras, remakes de clássicos dos anos 70: Gabriela (2012) e Saramandaia (2013). Ainda tivemos Guerra dos Sexos (2012), adaptada da clássica comédia de 83, escrita pelo autor original, Sílvio de Abreu. Diferente dos outros remakes de seu tempo, não obteve êxito nem na crítica nem no público por praticamente ter mantido o mesmo roteiro, que não cabia para os tempos atuais.


Muitos dizem que o remake estraga a obra original. Mas eu lhes pergunto: o que o remake vai interferir no êxito já obtido pela sua primeira versão? Se ele der certo, ótimo, temos mais uma boa novela na história da nossa teledramaturgia, se não der, é uma pena. Cada um tire sua própria conclusão. A obra original continua lá, continua sendo um clássico, lembrada do mesmo jeito. Outros ainda falam que nunca o remake irá superar o primeiro. Mas este nem mesmo é o objetivo. O objetivo é usar uma história já conhecida e criar algo novo a partir disso. Com uma “batalha” de novelas que podem ganhar remake no horário das onze em 2014 e com mais um remake de Benedito Ruy Barbosa, Meu Pedacinho de Chão, para o mesmo ano, esperamos cada vez mais remakes de qualidade e que possam nos agradar tanto quanto suas versões originais.

3 comentários:

  1. Eu particularmente sou muito fã de remakes. Adoro essa possibilidade de se contar uma história de sucesso com novos atores, uma história repaginada e com novos elementos adicionados pelos novos autores.

    Acho um pouco de ignorância uma pessoa ser totalmente contra remakes, alegando que os atores da nova geração não tem capacidade de atuar (a gente sabe que existe atores e atrizes ruins, mas tem muita gente boa nessas novas gerações também) e além do mais, a trama original continua existindo para quem quiser ver.

    Dito isso, estou ansioso pelo remake de "O Rebu". Espero que tenha mais êxito que "Saramandaia".

    -Anon

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  2. Não gostei de nenhum remake das obras de Janete Clair. Nem mesmo de "O Astro", que foi elogiada.
    Agora, Ivani Ribeiro é imbatível.

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  3. Oi!
    Gostaria de saber quem tem os direitos sobre as obras de Cassio Gabus Mendes
    Se é a familia ou a Tv Globo!
    Obrigada!

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