quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Glória Perez: Levando milhões de brasileiros pro seu mundo encantado.

Por Patrick Reis

Em sua última novela, exibida há um ano, Glória Perez recebeu duras críticas sobre a saga de Morena (Nanda Costa) e seu "herói" Téo (Rodrigo Lombardi). Salve Jorge teve problemas com a audiência - bem como outras novelas da atualidade -, mas chegou ao fim; uns alegam que foi justamente por seus absurdos que a novela cativou, já tem quem garanta que ela teve seu potencial. A verdade é que como se pode condenar uma autora como Glória por um simples trabalho quando olhamos pra trás e vemos sua enorme bagagem, que inclusive conquistou o Brasil e o mundo. Antes de acompanhar o post, confira o gif biográfico #risos da autora! 



Mas vamos ao que interessa: sua carreira. Glória começou por um apoio do destino, quando o script de um episódio de Malu Mulher que ela havia escrito, foi parar nas mãos de Janete Clair. Esta, que era (e ainda é) considerada sinônimo de sucesso na TV, a convidou para escrever a novela Eu Prometo (1983). Dentro desse processo, a autora escreveu em seguida Partido Alto (1984), sem muito êxito e foi parar na Manchete com a novela Carmem (1987). Porém, ela já havia entregado pra Rede Globo a sinopse de Barriga de Aluguel, que seria aceita somente em 1990. Esta novela foi considerada um grande sucesso pro horário das 18 hs. e é lembrada até hoje por muitos telespectadores.  Porém, em sua novela seguinte, Glória começava a interligar a realidade com uma ficção surreal. De Corpo e Alma (1992), novela das 20 horas, causou um enorme frisson por tantos tabus, como a relação de uma mulher mais velha com um striper. Também teve seu ápice quando se deu a morte da filha da autora, Daniela Perez, assassinada pelo colega de trabalho, Guilherme de Pádua. Porém, se focarmos na trama principal veremos um choque de ficção e verossimilhança. Através de um transplante de coração, um homem sai em busca de sua amada na pessoa cujo coração foi transplantado. E o melhor é que a mulher, que estava com o coração da falecida, se vê apaixonada por aquele homem. A ciência não explica, mas a Glória fabrica! 


Em sua próxima trama ela abordou o mundo virtual, que em 1995 ainda era pura ficção científica. Se hoje o whatsapp, chat de redes sociais, etc. é uma coisa comum, no passado tudo era meio estranho. E quando Glória assinou Explode Coração, ela foi novamente criticada por abordar uma coisa tão "surreal". Nos anos seguintes, Glória Perez criou a minissérie Hilda Furacão (1998), baseada no romance de Roberto Drummond e Pecado Capital (1998), remake de um sucesso de sua mestra, Janete Clair. Em 2001, ela vem a escrever aquele que seria seu maior sucesso. O Clone usou e abusou da ficção escancarada, não ousou em ser uma novela realista! Clonagem de seres humanos, muçulmanos falando português, enfim, tudo ali já era "absurdo", e mesmo assim o público não criticou, mas acabou se jogando de cabeça naquela bela história de amor proibido. A novela conseguiu atingir a maior audiência do horário, desde 1997, com a novela  A Indomada (de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares). Quando se deu a estreia, a emissora ficou meio atordoada. A novela teve início em outubro de 2001, algumas semanas depois dos ataques ao 11 de setembro, por membros da população árabe. Por conta de abordar essa mesma população, muito se comentou a respeito da estreia ousada da novela naquele ano. Outro grande problema que a novela quase enfrentou foi o reality show do SBT, A Casa dos Artistas. Estreando de surpresa, o programa do canal do Sílvio (Santos) cativou um público grande e a catástrofe não foi maior, porque Glória conseguiu prender o público no sofá da Globo e bateu de frente com um dos maiores empecilhos para a Vênus platinada, desde Pantanal (TV Manchete, 1990). Sua próxima trama, América (2005) não trouxe grandes "absurdos dramatúrgicos", mas fez com que Glória sofresse ameaças dos ditos "defensores de animais", por abordar o rodeio. A novela conseguiu uma audiência muito mais do que relevante em seu último capítulo - muitos consideram que tenha sido pelo suposto primeiro beijo gay da TV. Com picos de 70 pontos, América foi um dos seus grandes sucessos. 
Tempos depois, Glória volta à sua temática de sucesso, um país exótico e uma trama de amor proibido. Caminho das Índias (2008) chegou com cara de cópia de O Clone, mas saiu levando nas mãos o maior prêmio da TV mundia: o Emmy Awards. Mas nada disso impediu de que começassem a surgir as típicas críticas de que "se falava português na Índia", de que a Índia retratada não fazia jus ao país nos idos de 2008, etc. E em Salve Jorge, Glória finalizou (até então) sua trilogia de países exóticos, abordando a Turquia. Por conta dos novos tempos, onde ser "crítico" de novela se tornou algo tão banal quanto comer arroz e feijão, a autora recebeu uma bordoada de ofensas e piadas em seu twitter. E  sua novela acabou sendo a chacota nacional em 2012/2012 - mesmo com os absurdos de Amor à Vida. Na realidade eu estou aqui, em meu primeiro post, para dizer que uma mulher de tamanhas qualidades como Glória, com grandes sucessos em sua carreira não pode e nem deve ser achincalhada por conta de algumas falhas em apenas uma novela. A autora, com seus vôos - que não são de hoje, como fiz questão de abordar nesse texto -, levou milhões de brasileiros a voarem junto com ela, a tornar a vida menos árdua e mostrar que a ficção pode ser muitas vezes, mais interessante que a vida real. Que Glória Perez nos presenteie com obras tão boas e cativantes quanto as que ela já nos brindou. Essa é a minha estreia no blog, um noveleiro convicto que tentará extrair o melhor da ficção nacional pra vocês! 

Fonte: Teledramaturgia, Memória Globo. 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Bate-papo com o jornalista Waldir Leite

Ele é jornalista, romancista e roteirista. Foi colaborador em novelas como Vamp, Olho no Olho, Salsa e Merengue [Globo], Caminhos do Coração, Mutantes [Record]. Prestes a lançar os livros A Última Canção de Bernardo Blues e Ipanema em Lágrimas, Waldir Leite, expert em temáticas gays, topou bater um papo. Confira!

Por Isaac Santos

Paixão pelas artes, desde quando?
Waldir Leite – Desde sempre. Aprendi a ler sozinho, então a leitura sempre esteve presente na minha vida. Adoro a companhia dos livros. Sempre fui rato de biblioteca. Mas também curto música, artes plásticas, cinema e teatro. Sou mesmo do mundo das artes.

Mas qual a sua formação acadêmica, Waldir?
Waldir Leite – Sou jornalista e estudo Filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Como se deu o início da carreira profissional?
Waldir Leite – Com dezesseis anos, antes mesmo de começar a estudar Comunicação Social na PUC, eu já tinha coluna num jornal de Recife. O Diário do Comércio. Era crítico de cinema. Depois comecei a estudar teatro. Quem me levou para a TV foi o Antônio Calmon. No final do Armação Ilimitada ele começou a fazer um novo seriado pra Globo chamado Shop Shop e me chamou pra participar da equipe. Mas a Globo só exibiu o piloto e desistiu do seriado. Foi nesse programa que foram lançados o ator Rodrigo Pena e o hoje diretor da Globo Pedro Vasconcelos.

Qual o caminho trilhado a partir disso?
Waldir Leite – Um caminho de muito aprendizado, boas oportunidades de trabalho, algumas frustrações e também muitas realizações.

Das realizações importantes, boa parte foi em parceria com o Antônio Calmon. Quais as lembranças mais sensíveis dessa fase?
Waldir Leite – Antonio Calmon é um amigo muito querido.  Com ele, além de Shop Shop, fiz Vamp, Olho no Olho e a minissérie Sex-Appeal. Vivemos bons momentos fazendo esses trabalhos. Aprendi muito trabalhando com ele. Ele me indicava livros e filmes. E gostava de ouvir minha opinião sobre tudo, pois me achava inteligente e talentoso. Sou muito grato a ele.

Trajetória bem sucedida, em andamento. Onde se encaixam frustrações?
Waldir Leite – As frustrações fazem parte da vida. Procuro conviver bem com elas. Na TV a maior frustração foi a decisão da Globo de não produzir a novela “Escândalo”, do Miguel Falabella. Eu cheguei a ser contratado pela emissora, para fazer parte da equipe do Miguel. Seria a primeira novela-solo dele. Mas forças ocultas, de dentro da própria Globo, boicotaram o projeto, alegando que ele não ia conseguir fazer a novela sem a Maria Carmem Barbosa.

Como você percebe o atual cenário da teledramaturgia brasileira?
Waldir Leite – Não acho que estamos na melhor fase da teledramaturgia. Pelo contrário. O estilo de novelas produzidas pela Globo anda muito padronizado. A falta de concorrência deixa a emissora sem um ponto de referencia. Além disso, tem muita gente sem talento escrevendo para a TV.

"Falta de concorrência"!?
Waldir Leite – A Globo domina o mercado de teledramaturgia. O que existe nas outras emissoras são apenas tentativas.

Essa "gente sem talento" tem espaço na Globo?
Waldir Leite – Sim!

Você está prestes a lançar dois livros: “A Última Canção de Bernardo Blues” e “Ipanema em Lágrimas”. Fale-nos sobre.
Waldir Leite – "Bernardo Blues" é um romance policial ambientado nos bastidores da vida mundana da zona sul do Rio. Ao mesmo tempo é a história de um rapaz que sai do interior e fica encantado com a vida na cidade grande. "Ipanema em Lágrimas" é um livro sobre a ditadura militar no Brasil.

Ficção com doses de realidade...
Waldir Leite – A vida real é sempre uma grande fonte de inspiração. Tudo o que acontece à minha volta, tudo o que eu vejo, tudo o que eu sinto, está presente na minha literatura. Em ambos os livros existem relações com fatos reais. Mas eu pego esses fatos e os transformo em literatura pura e simples.

Quando e onde serão lançados?
Waldir Leite – Serão lançados nesta quinta-feira, às 19 horas, na Livraria da Travessa, em Ipanema, Rio de Janeiro.

Previsão de lançamento em outras cidades?
Waldir Leite – São Paulo, Curitiba e Recife, por enquanto.

Focado ou já pensando em projetos outros?
Waldir Leite – Estou trabalhando num outro livro. Uma história picante ambientada nos bastidores do MMA. O livro se chama "Ring Girl - A Garota do Ringue".

Também com temática gay?
Waldir Leite – Não. Esse livro é sobre o universo dos lutadores e as Marias-tatames. A temática gay já me cansou um pouco. É um livro de temática essencialmente heterossexual.

Obrigado, Waldir. Sucesso!

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Um balanço do horário nobre: A volta do bom texto com Em Família

Por Leonardo Mello de Oliveira

 Não há como negar a incrível campanha de popularização que acontece atualmente na televisão brasileira. A incansável busca por audiência vem tentar capturar um público que assiste a novelas diariamente desde os anos 70: a chamada classe C. Porém, dizem alguns, estamos em um período de transição, onde vários membros antes considerados da classe D emergiram, e agora figuram nesta chamada “nova classe C”. Esse é o público que a TV quer, e não mede esforços pra isso. Infelizmente, popularização no Brasil muitas vezes vira sinônimo de má qualidade, principalmente no quesito telenovela. É incrível como a Rede Globo, a maior emissora do país, conseguiu, em tão pouco tempo e de forma nada sutil, inundar sua programação com programas e novelas de fácil digestão, com forte apelo popular e que resultam, muitas vezes, em produtos execrados pela crítica. Não estou falando que apelo popular sempre acaba em equívocos. O Esquenta, programa apresentado por Regina Casé, é um dos mais popularescos que já assisti, porém, não deixa de ser um programa que funciona, que dá certo e que tem grandes qualidades, muito mais do que defeitos. O grande problema é como o popular é conduzido, como é dosado. Tudo isso altera o resultado, e também a maneira que será visto, tanto pela classe C quanto por todas as outras classes que, com certeza, também assistem à TV aberta.


      Vamos analisar brevemente o histórico de novelas populares no horário nobre desde Fina Estampa, trama que iniciou essa “epopéia popularesca”. Um fato engraçado é que somente o horário das nove foi praticamente obrigado a transmitir esse tipo de produção. O horário das seis, das sete e das onze receberam uma dose ou outra de popularismo, mas não se prendeu à fórmula. Vale lembrar também que não é de hoje que esse tipo de trama existe. Os seus próprios autores hoje alcançaram o sucesso usando o apelo popular.
      Fina Estampa foi escrita por Aguinaldo Silva, autor já consagrado por tramas de cunho popular. Aguinaldo já havia nos apresentado nos últimos anos Senhora do Destino e Duas Caras, novelas bem populares. Mas o que se viu em Fina Estampa foi a fórmula escancarada, sem medo de mostrar um apelo gigantesco por audiência. Uma protagonista maniqueísta, uma vilã caricata e tão maniqueísta quanto sua rival, um gay mega afetado, personagens cômicos, gente pobre e honesta sofrendo e muito barraco eram as principais táticas do autor para alcançar a classe C, que começava a virar o assunto do momento quando se falava em televisão. Aguinaldo conseguiu, e com um gigante sucesso, cessar o declínio de audiência do horário nobre global. Porém, isso tudo teve um preço. A crítica caiu em cima. Situações incoerentes, dignas de desenho animado, subestimavam a inteligência do telespectador e baixavam o nível da trama.


      Logo depois veio o furacão Avenida Brasil. A novela parou o Brasil como há tempos não acontecia. João Emanuel Carneiro, o JEC, apostou em uma trama pesada, com inspiração em vários clássicos literários e teatrais, mas que ao mesmo tempo tinha vários elementos populares. Modismos e trejeitos do subúrbio enriqueciam a novela, que, aliás, mostra uma evolução gigantesca do JEC como autor. Seus defeitos característicos ainda estavam lá, mas muitos haviam sido corrigidos. João Emanuel é outro autor conhecido por suas tramas populares, mas ao mesmo tempo profundas. O entrosamento entre a equipe de produção era notável, tanto que praticamente tudo deu certo em Avenida Brasil.


      O mesmo não pode se disser de sua sucessora, Salve Jorge. Glória Perez foi uma das primeiras autoras a retratar a vida do subúrbio, das favelas, de um povo pouco mostrado nas novelas antigamente. Sua nova trama trazia como protagonista uma menina da favela, jovem, que teve um filho muita nova e que acaba sendo traficada e prostituída na Turquia. A trama era inicialmente densa, mas o grande erro de Glória foi mais o menos o mesmo de Aguinaldo Silva em Fina Estampa. A autora utilizou quase todos os recursos que conhecia e que já haviam sido garantia de sucesso. Falhas da direção, mau direcionamento de personagens, elenco sumido, texto fraco para uma autora que já nos trouxe Barriga de Aluguel e O Clone, um déjà vu de outras tramas de Glória, enfim, vários foram os fatores para a rejeição do público e da crítica.


      Então vem Amor à Vida! Estreia de Walcyr Carrasco, autor de clássicos do horário das seis, no horário nobre. O início foi empolgante, muitos viam uma segunda Avenida Brasil, a expectativa aumentava a cada capítulo. Porém, já na terceira semana de novela, a decepção veio como um balde de água fria. Carrasco fazia uma novela das sete no horário das nove, e era clara a busca por audiência. Tudo parecia ser feito pra fazer mais barulho, pra chamar o público a assistir à novela. Mudanças drásticas e sem sentido em personagens, armações, segredos de família revelados uma vez por mês, tudo era feito para que seguisse aquilo o que o povo queria. Me pergunto: de quem é a culpa da falta de qualidade em Amor à Vida? Será que realmente é de Walcyr Carrasco? Pois eu não consigo acreditar que quem escreveu uma novela como essa nas primeiras e nas últimas semanas tenha sido a mesma pessoa que escreveu o meio. Pressão da emissora ou do público por uma novela de fácil digestão? Se foi da emissora, o objetivo foi alcançado. A novela conseguiu uma média bem decente e repercutiu como poucas.


      Atualmente podemos ver um Manoel Carlos inspiradíssimo no horário nobre. Mas sua novela não condiz com nada do que foi visto nas últimas quatro tramas das nove. Em Família chegou com um texto brilhante, caprichado, sem medo de agradar a essa ou àquela classe. Um elenco primoroso, desde os desconhecidos das primeiras fases até os medalhões da terceira. Maneco diz que não há pressão por audiência que lhe faça baixar o nível. E vemos que ele não mente. Apesar dos pífios números alcançados por Em Família nos seus primeiros capítulos, tudo o que foi feito foi agilizar a trama, fazendo os capítulos mais longos, nada de mexer na história! Talvez o único grande problema desta novela seja a cronologia, com idades de atores que não condizem com o de seus personagens e elementos de cenário e figurino que não batem com a época. Mesmo assim, a crítica aplaude essa brilhante e corajosa obra do “bom velhinho do Leblon”, que promete mais e mais a cada capítulo.



      Em momento algum quis passar que o programa popular é algo ruim. Mas sim que tudo deve ser bem pensado e feito, para que não se cometam exageros nem erros ao tentar fazer um produto que visa a classe C.  Como o próprio nome diz, a TV é aberta, todos assistem a ela. A busca incansável por audiência tem sido o maior inimigo da qualidade quando se trata de televisão. Que a Globo pense nisso, que não siga o caminho mais fácil. Afinal, é menos trabalhoso agradar a um só do que a todos. Principalmente se esse “um só” for garantia de dinheiro e repercussão...
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