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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O 1º MELHORES & PIORES DO ANO (o título ficou meio Walcyr Carrasco, mas tá valendo)


2011 acabou, finalmente... e o Posso Contar Contigo tem o prazer realiza o 1º Melhores & Piores do Ano. E você vai nos ajudar a eleger quem brilhou e quem flopou no ano que se encerra. Podemos contar com você? Então seguem as regras:
1 - A escolha dos concorrentes foi feita tendo como base a opinião deste que vos escreve, a ajuda dos demais autores do blog e as opiniões recorrentes nas redes sociais sobre teledramaturgia. Não se trata da opinião unânime dos autores do blog. Tentamos até chegar a um consenso, mas pensar todo mundo junto não tem a menor graça, né?
2 - Caso não concorde com a escolha dos concorrentes, sem grilos, é só xingar muio no twitter comentar logo ali abaixo.
3 - Só serão válidos os votos feitos aqui neste post, muito embora ficaremos felizes se você interagir conosco via facebook, twitter, orkut, sinal de fumaça e pombo correio.



E aí, bora votar?























Ah, vai rolar uma homenagem especial, não percam!


Júnior Bueno

sábado, 24 de dezembro de 2011

Vamos Relembrar? De Manoel Carlos, "Páginas da Vida"


Por Thiago Ribeiro

O Natal é uma época que me deixa feliz e inspirado todos os anos. É a minha data favorita do ano. É quando todos esquecem as brigas e ressentimentos (pelo menos na teoria) e se entregam a paz, a alegria e aos sentimentos de amizade e de pureza que a época sugere. E para essa época natalina, para meu último post do ano, trago (mais uma vez) uma obra do grande Manoel Carlos. Senhoras e senhores, PÁGINAS DA VIDA. 


A estudante Nanda (Fernanda Vasconcellos) conhece Olívia (Ana paula Arósio) em Amsterdã, e acabam se tornando grandes amigas. Olívia está na cidade em 
lua-de-mel com o marido, Sílvio (Edson Celulari). As duas descobrem forte afinidade por gostarem de arte, sendo Olívia proprietária 

de uma galeria. Em um desses encontros, Nanda, que estava na cidade estudando línguas, revela à amiga que está 

grávida do namorado Léo (Thiago Rodrigues), mas ele alegou ter um futuro pela frente e não quis saber das crianças, afinal, a jovem está 
grávida de gêmeos.


Nanda decide voltar para o Brasil, quase ganhando os filhos, mas ao chegar, é desprezada pela mãe, a amarga e fria Marta (Lília Cabral), que agride a filha e discute com ela, ficando arrasada em ter investido na filha e saber que ela não aproveitou nada que os estudos dariam. Nanda só conta com o apoio de seu pai, Alex (Marcos Caruso) homem honesto e sincero e que não suporta as loucuras de Marta e passa a ajudar frequentemente sua filha Nanda em sua gravidez indesejada. Desesperada com a surra e as humilhações constantes de sua mãe, que alega inclusive que ela deu o golpe da barriga no namorado rico, a grávida sai de casa desesperada e na calçada é atropelada por um carro e um ônibus, que colidem e invadem um ponto de ônibus onde tinha muitas pessoas que se ferem, inclusive Nanda.



Ela arremessada em uma barraca de verduras, batendo a cabeça no meio fio e tendo muito sangramento. Ela é levada para o hospital onde trabalha a médica Helena (Regina Duarte). Grávida de um casal de gêmeos, a moça perde muito sangue e faz uma  cesariana  de emergência, que, por complicações devido ao acidente, ela tem que retirar o  útero  devido a uma  hemorragia incontrolável que Helena tenta estancar a qualquer custo. Com muitas dores e perdendo mais sangue, a jovem não resiste e morre, mas antes Helena faz o parto e consegue salvar os bebês. Fazendo-se exames, Helena comunica a Marta sobre a menina ter Síndrome de Down. Marta leva um choque pela morte da filha e por essa notícia, e automaticamente, a criança é rejeitada pela mãe de Nanda, a pérfida Marta, uma mulher arrogante, intransigente e muito amargurada com a vida. 



Ela diz friamente que a neta é uma doente mental e que não tem dinheiro nem paciência para tratar de uma criança assim, já bastando criar o neto. A médica fica horrorizada com tal atitude e decide adotar a criança, Clara, nome de sua filha que morrera na infância, e nome que Nanda pronunciou antes de morrer, pedindo que fosse dado esse nome a filha. Enquanto isso, Marta mente para a família que a menina morreu, e decide criar o neto Francisco, nome também escolhido por Nanda. Helena é uma mulher que já perdeu muita coisa na vida, e faz da menina Clara a razão do seu viver. 


Ela lhe dá muito amor e carinho, uma esmerada educação e sólidos valores morais. Mas ela esconde do avô das crianças, Alex, que sua neta está viva, temendo que a criança acabe caindo nas mãos de Marta.



Dois homens, seu ex-marido Greg (José Mayer) e o ex-namorado de juventude, o infectologista Diogo (Marcos Paulo) brigarão pelo amor de Helena, mulher que jamais esqueceram. O problema é que Helena terá que enfrentar uma batalha com Olívia, que sabia da gravidez da amiga, e que acaba se envolvendo com Léo, 5 anos depois, quando ele retorna ao Brasil e ela está separada de Sílvio. Léo fica sabendo que tem um filho e o dilema de Helena no decorrer da trama será revelar ou não ao pai da criança que a filha dele está viva e é criada por ela.



Os pais de Olívia são Aristides (Tarcísio Meira) e Amália (Glória Menezes) ou melhor Tide e Lalinha. O casal é pai de seis filhos: Carmem (Natália do Vale), Leandro (Tato Gabus Mendes), Elisa (Ana Botafogo), Márcia (Helena Ranaldi), Jorge (Thiago Lacerda) e Olívia. Carmem é mãe de Marina (Marjorie Estiano)e se separa do marido alcóolatra Bira (Eduardo Lago) para assumir seu romance com Greg, que já se encontrava com ela enquanto era casado com Helena. 



Leandro é casado com a dedicada e simpática artista plástica Diana (Louise Cardoso) que é alvo da paixão secreta de seu aluno Ulisses. São pais do Rafael (Pedro Neshling). Elisa é professora de balé, casada com Ivan (Buza Ferraz) e mãe do arruaceiro Felipe (Armando Babaiof) e da mimada Camila (Luciele di Camargo), filha de um ex-namorado. Márcia é casada com o corretor Gustavo (Antônio Calloni), que pouco depois morre; ele estava de olho no dinheiro de Tide. São pais de Nina (Manuela do Monte) e Tidinho. 

E Jorge é um solteiro disputadíssimo que namora a bela Simone (Chistine Fernandes), mas está na mira da ambiciosa e perigosa Sandra (Danielles Winits), filha de Constância (Walderez de Barros), a governanta da família que ajudou a criar todos os seis, tendo ainda vivido um caso com Thelminha (Grazi Massafera), a irmã de Sandra, garota simples, romântica e sincera, que veio do interior. Ex-fazendeiro, Tide conheceu Lalinha em São Paulo. Ela era professora do Rio de Janeiro, educada e culta, e estava lá numa missão educacional. Tide não era culto, era quase analfabeto, e ela cuidou dele com carinho e dedicação, ensinando-o praticamente a ler e escrever. Casaram-se, tiveram todos esses filhos, e vivem numa imensa casa na Gávea, onde todos foram criados. Lalinha morre na primeira fase da novela, que se passa em 2001. A segunda se passa em 2006 (ano que a novela foi exibida) - onde Tide amarga uma viuvez triste e solitária, até conhecer a escultora Tônia Werneck (Sônia Braga).


Após armar muitas ciladas para tentar separar Simone de Jorge, Sandra é desmascarada por Carmem, que ainda lhe dá uma surra de cinto. Ela, então, decide se vingar e seduz o marido da dondoca, Greg, levando-o para a cama, e depois transformando a vida de todos num inferno. Ela obriga Greg a lhe dar dinheiro, casa, carro e jóias, fazendo com que ele desvie dinheiro da empresa de Tide, onde trabalha como administrador.


Carmem acaba descobrindo a traição do marido, e dá um tiro em Sandra, mas a bala atinge o pé de Greg, que fica manco. Divorciado da perua e demitido da empresa de Tide, Greg vai morar com Sandra num apartamento, até que a vilã decide dar o golpe do baú no porteiro, que ganha 30 milhões de reais na loteria. Carmem fica com o verdureiro Domingos; Thelma e Jorge se casam e finalmente os dois têm sua primeira noite de sexo; Isabel desiste de viajar com Simone para os EUA e aceita o pedido de casamento de Renato.


Tide e Tônia se apaixonam depois dela viver um conturbado romance com Sílvio - que no fim, decide morar com a cunhada Márcia -e decidem assumir o relacionamento. Olívia e Léo, agora vivem um romance, que é atrapalhado por Alice, a mimada e geniosa ex-noiva do rapaz. Alice é problemática e neurótica por Léo, sendo sempre criada no luxo e riqueza. Sua vida muda quando Léo termina o noivado para ficar com Olívia, despertando seu ódio e rancor pelo rapaz que tanto amava. 


Páginas da Vida  foi exibida entre 10 de julho de 2006 e 2 de março de 2007, totalizando 203 capítulos.




FELIZ NATAL E ATÉ 2012 GENTE!!!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O sonho nunca acaba para quem se faz eterno-sempre.

Por Ana Paula Calixto

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[Em clima de Natal, vamos conversar um pouco sobre o mito natalino do Papai Noel. Para depois, tomar um “chá-de-realidade” sobre alguém que fez a caridade levando paz em sua mensagem, mas que nos deixou em um outro dezembro, há anos atrás.]




De acordo com a tradição, ele nasceu em Patara,
uma cidade portuária da Lícia.
Quando jovem, viajou para a Palestina e o Egito.
Ele se tornou bispo de Mira e logo
depois retornou para Lícia.
Foi preso durante a perseguição de cristãos
pelo imperador romano Diocleciano,
sendo solto por ordem do
Imperad
or Constantino ‘O Grande’,
e participou do primeiro Conselho de Nicéia (ano 325).


Depois de sua morte foi enterrado em sua igreja em Mira e, até o século VI, seu túmulo se tornou bastante conhecido.


Em 1087, marinheiros ou comerciantes italianos roubaram seus supostos
restos mortais em Mira e levaram para Bari, Itália. Isso aumentou a popularidade desse santo na Europa, fazendo com que Bari se tornasse um dos mais movimentados centros de
peregrinação.

A generosidade e bondade desse homem gerou lendas. Também espalharam-se notícias de milagres como a história de que teria devolvido a vida a três crianças que haviam sido cortadas em pedaços por um açougueiro e colocadas na salmoura.


Na Idade Média, a devoção a Nicolau chegou a todas as regiões da Europa.Ele se tornou o santo padroeiro da Rússia e da Grécia, de instituições de caridade, de crianças, marinheiros, moças solteiras, comerciantes e donos de casas de penhores e de cidades como Friburgo, na Suíça, e Moscou. Milhares de igrejas européias foram dedicadas a ele, incluindo uma no século VI, construída pelo imperador romano Justiniano I, em Constantinopla (agora Istambul).

Os milagres de Nicolau eram o assunto favorito de artistas medievais e peças litúrgicas. O seu dia de festividades tradicionais era ocasião para as cerimônias de ‘Boy Bishop’, um costume difundido por toda Europa, no qual um garoto era eleito bispo e reinava até o Dia dos Santos Inocentes (28 de dezembro).


Depois da Reforma, o culto a Nicolau desapareceu de todos os países protestantes da Europa, exceto Holanda, onde sua lenda persistiu como ‘Sinterklaas’, uma variante holandesa do nome ‘Saint Nicholas’ (São Nicolau). Colonos holandeses levaram essa tradição para Nova Amsterdã (agora cidade de Nova Iorque), nas colônias americanas do século XVII. ‘Sinterklaas’ foi adotado pela maioria dos países de língua inglesa com o nome ‘Santa Claus’ (Papai Noel) e a lenda que dizia que ele era um homem muito bondoso foi unida às lendas populares nórdicas sobre um mágico que castigava crianças levadas e recompensava as boazinhas com presentes.


Ninguém tinha o hábito de trocar presentes até o final de 1800.

A história do Papai Noel, combinada com o incrível fenômeno de vendas que têm crescido desde a virada do século XX, fez do ato de dar presentes um costume no Natal.


Mas a tradição parece ter surgido com base no feito dos 3 Reis Magos, conforme relata o evangélhio de São Mateus:

“E entrando na casa, viram o menino com Maria sua mãe e,

prostrando-se,

adoraram-no e abrindo seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro, incenso e mirra”.



Por fim, os cartões de natal têm seu surgimento mais recentemente.

Estima-se que tiveram sua criação no séc. XIX, mais precisamente no ano de 1843 através do britânico Henry Colé, que encomendou em uma gráfica, a impressão de cartões para felicitar seus amigos, pois não tinha tempo para escrever pessoalmente a cada um deles.

A partir dessa época, o costume de enviar cartões de Boas Festas estendeu-se por toda a Europa e a partir de 1870 começaram a ser impressos em cores.

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"Memórias perdem o sentido quando penso em Amor como uma coisa nova"

O mundo se torna cada vez mais solitário para os viventes. Mas, alguma dia não o foi? É a sensação fruto da insatisfação coletiva que paira a humanidade num misto de nostalgia, revolta, confusão e abandono, que leva a reflexão de que um dia, em um sonho distante, tudo pode ter sido diferente. Mas, na verdade, nunca foi.

Contudo, os seres-humanos também possuem a capacidade de sanar suas atrocidades e construir sonhos possíveis e lindos, [in]imagináveis e belos! Lennon acreditava nisso.

De tantos exemplos do que não devemos ser, Lennon é um belo exemplo do que podemos, devemos e busquemos ser.

John Lennon forever!


Desejo a TODOS um FELIZ NATAL e um 2012 iluminado de bençãos e realizações!!!

Beijos.
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[Texto baseado
em vários textos, particularmente,
da encicoplédia britânica.
Imagens by "paiGoogle"]

domingo, 18 de dezembro de 2011

MAD MEN: Uma obra-prima na televisão!



Por Eduardo Vieira

É chover no molhado dizer que os seriados americanos, erroneamente ainda chamados no geral por alguns desinformados de enlatados, justamente por serem dos Estados Unidos, estão num momento excelente.

Há seriados para todos os gostos. É bom diferenciá-los das minisséries, com começo, meio e fim e ainda dos sitcoms, os quais exibem como os seriados, temporadas, mas diferenciam-se desses por serem sempre em cenários mais marcados e como diz o nome, apresentar elementos da comédias de costumes, do modo de vida americano, ainda que um tanto esteriotipados, salvos algumas exceções, desde os geniais Mary- Tyler- Moore até o presente e popular Two and a half men.

Geralmente, os seriados sofrem com o fantasma da audiência: um seriado medíocre pode cair nas graças do público e perdurar por cinco ou mais temporadas, enquanto outros interessantes, dependendo da política da emissora que o transmite às vezes não passa de uma primeira.

Venho falar de um veiculado pelo canal HBO, que vem se mantendo pelo enorme prestígio e qualidade, pois foge, por conta de seu ritmo mais lento, da audiência de um House ou um Prison break, por exemplo, dois grandes sucessos (merecidos) da telinha.

É o caso de Mad Men, que ganhou um subtítulo desnecessário de “Inventando Verdades”, que acaba por reduzir a proposta do seriado. Esses homens do título, loucos ou mais propriamente a meu ver, “insanos”, são o motor da sociedade do pós guerra, nos anos 60, nos Estados Unidos, em que bens de consumo estão em uma crescente mudança assim como a sociedade que os consome.


O autor do seriado, Matthew Weiner, foi também responsável pela escrita de alguns episódios de A Família Soprano, e muito inteligentemente, traça um panorama social por meio dos adventos dos produtos que vêm suprir a carência de pessoas que se comunicam por meio de valores materiais, pois os morais são via de regra varridos para debaixo do tapete.



É curioso como os roteiristas conseguem construir dois textos:  ao que estamos assistindo e aquele que está nas entrelinhas dos atos dos personagens que vivem suas vidas por meio de chavões, piadas misóginas e pela visão (até hoje atual) da população como uma massa ávida por ter. Aliás, ter significa ser, sem culpas em curto prazo.

No seriado, vemos a figura do personagem principal, Don Draper (Jon Hamm, ator que é a encarnação do papel), ele mesmo ironicamente, uma figura inventada, pois só nós sabemos de seu passado que ele prefere encobrir para ter uma vida perfeita com sua também perfeita esposa, Birdie, a linda atriz  January Jones (nome que combina com a personagem pois aparentemente ela está  sempre em órbita, tentando ser a mulher linda, zelosa mãe e esposa, mas lutando com algo que não sabemos o que é). Até que a ela é sugerida uma visita a um psicanalista,  ideia também que deve que ser vendida,  a fim de que as pessoas ao redor não pensem que só perturbados mentalmente procuram esse tipo de profissional, ou seja, entende-se que cada americano médio é o espelho do outro e ser diferente custa muitíssimo.


O galã, apesar do casamento aparentemente dos sonhos, trai a mulher com qualquer rabo de saia sem nenhuma aparente culpa. Há em todo o seriado um machismo e uma misoginia que são alternadas ao bel prazer dos homens da história, que exibem relações conflitantes entre o que são na essência e o que devem aparentar uns para os outros. (Na verdade, de lá para cá tal ponto não se alterou tanto assim, relativamente falando, é claro!)

Contudo, surge um personagem feminino que foge aos padrões da forma com que são concebidas as personagens ditas “respeitosas” da sociedade americana; pois, sim, vemos mulheres interessantíssimas, como por exemplo  a amante do galã, que vive com artistas e sabe muito bem de sua condição feminina, porém estas acabam sendo marginalizadas pela sociedade organizada na época.

A tal personagem que consegue essa proeza é Peggy (Elizabeth Moss), secretária de Don, que mostra talentos extra burocráticos, pois às secretárias, cabe o papel único de serem graciosas, atenciosas, insinuantes, e serem chamadas por nomes pejorativos como sweetie, dear, candy, ou seja nomes  genéricos que não dão a mínima identidade a essas mulheres. Peggy consegue submergir nesse mundo, pois ela entende que seus atributos não são a sensualidade nem tampouco o senso comum.  Ela age por instinto, errando , deixando por vezes ser humilhada na condição de minoria, mas muitas vezes também acertando, e o inteligente e sobretudo prático Draper nota isso, pois ele não a enxerga absolutamente como uma mulher, mas como uma mulher que pensa, quase um homem, na visão estreita  da época.
Dito assim pensa-se que se cai no clichê dos homens serem personagens tipos, esteriotipados, mas não; eles demonstram fraquezas, em diferentes situações, quando estão doentes, bêbados, ou seja, vulneráveis, muitas vezes  dentro do seio familiar, contanto que o vizinho ou o colega do lado nunca possa vir a desconfiar. Cabe à mulher (mãe, amante ou esposa), tida como sexo frágil, silenciosamente dar as cartas desse jogo social.

É ótimo notarmos que não há aquela profusão de referências para nos lembrar que estamos na década de 60... elas aparecem normalmente no contexto dos episódios, há menções que vão desde filmes como Marty, Se meu apartamento falasse, canções que vão do popular até o cool jazz e livros coqueluches da época como o então polêmico O Amante de Lady Chatterley, o qual as secretárias leem  de modo um tanto histérico.

Também é bem divertido notar para pessoas como eu que amam a indústria cultural, de onde vem o passado consumista e cultural que nos atrai até hoje. Pela mente desses homens e pela observação da sociedade, vemos surgir produtos, slogans e é inevitavelmente cômico com o olhar contemporâneo que temos hoje  assistir a essas contínuas  “invenções da roda” que perpassaram credos, sentimentos, opiniões políticas, tabus e outros elementos que acompanham a chamada evolução da sociedade, sociedade a qual a aparência era o elemento motor e a essência um simples adorno que fazia com que as pessoas pensassem ter sentimentos e as fizessem  sempre comprar.

Fotos: Google Imagens
Vídeo: You Tube 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O "Terrir" Invade a Telinha na Calada da Noite Preta


Por E. Felipe

Dando continuidade às reprises de novelas que marcaram época, o Canal Viva exibiu a cultuada Vamp, obra de Antônio Calmon que impressionou o telespectador em 1991, especialmente o público infanto-juvenil. Uma inovadora história que unia terror, romance e comédia, uma febre que gerou a chamada "vampiromania": álbuns de figurinhas, adesivos e dentaduras postiças fizeram a cabeça das crianças e adolescentes na época. Em razão da grande repercussão, Vamp ganhou uma reprise 11 meses após seu fim, na faixa dedicada às séries estrangeiras da Sessão Aventura, novamente com sucesso. E foi exportada com êxito para diveros países, entre os quais a  Venezuela, onde a protagonista Cláudia Ohana ganhou grande admiração do público e concedeu entrevista à rede de televisão responsável pela exibição de Vamp).
Natasha: a vampira do bem há séculos perseguida pelo temível líder do mal Vladmir Polanski.
Entretanto, ao deixar de lado a memória afetiva que inevitavelmente perdurou e marcou o telespectador de 20 anos atrás, analisando Vamp hoje, de forma isenta, verifica-se que a novela padeceu de sérios problemas que, por pouco, não comprometeram o resultado final. 

A trama  central de Vamp (a vampira do bem que precisa destruir as forças do mal, a fim de voltar à sua condição de humana), que podia ter rendido ótimos enlaces ao longo dos vários meses de exibição, não foi bem desenvolvida na prática. Calmon parecia priorizar tramas paralelas pouco atrativas e a personagens não tão interessantes, mesmo possuindo um ótimo filão em mãos. Os principais vértices da história, o antagonista chefe dos vampiros Vladimir Polasnki (Ney Latorraca) e a protagonista Natasha (Cláudia Ohana), gradativamente perdiam espaço para os conflitos banais de amores mal resolvidos, para a trama avulsa do bandido Jurandir (Nuno Leal Maia) que se disfarça de padre para escapar de mafiosos, para o pedante núcleo do Circo Planador liderado pelo palhaço sem-graça Simão (Evandro Mesquita) e para os pequenos dramas adolescentes dos filhos de Capitão Jonas (Reginaldo Faria) e Carmem Maura (Joana Fomm). 
O casal Jonas Rocha (o herói de Vamp) e Carmem Maura
Natasha, uma personagem de visual estilizado e de fortes nuances psicológicos - a vampira que se arrepende de vender a alma ao diabólico Vlad em troca de fama - , pouco a pouco perdia sua função, enquanto o antagonista Vlad permanecia semanas sem aparecer. Nesta etapa, Vamp tornou-se um tanto enfadonha, perdida em meio a tramas de menor calibre, cujos capítulos arrastavam-se num emaranhado de situações repetitivas, com ganchos mal elaborados e pouco atrativos. Interessantes coadjuvantes ligados aos protagonistas, como o vampiro dissidente Ivan (Paulo José) e o irônico e ambicioso vampiro Girom (o já falecido Felipe Pinheiro), que poderiam render ótimos filões por um bom período, rapidamente saíram de cena ou deixaram de ter importância, enfraquecendo ainda mais a trama vampiresca.
Ney Latorraca viveu a um dos personagens mais emblemáticos da teledramaturgia em Vamp: o vilão Vlad.
Uma série de contradições e incoerências também permearam a trama de Vamp. Os vampiros sempre demonstravam aversão a crucifixos; entretanto, em um dos capítulos, Natasha, a fim de enganar o caçador de vampiros Augusto Sérgio (Marcos Frota), manuseia sem qualquer problema uma cruz, sendo que em diversas outras vezes ela sentiu repulsa pelo mesmo objeto. O argumento de que vampiros somente adentram uma casa se convidados foi por água abaixo, haja vista a invasão da pousada pelos Matoso no final da novela, os quais nunca foram convidados após vampirizados. Os vampiros, ao contrário da tradição, sempre refletiram sua imagem no espelho, sendo que apenas no último capítulo de Vamp é que um deles deixou de refletir apenas como recurso textual para que os habitantes da pousada descobrissem que Gerald (Guilherme Leme) voltou a ser vampiro!

A mola propulsora do vampirismo somente ganhou força total próximo à reta final, quando da queda do misterioso meteoro 666 na Armação dos Anjos, repleto de energia negativa, transferindo  a Vlad amplos poderes para dominar o mundo: começa, assim, a grande guerra entre as forças do bem e do mal. A pacata cidade transforma-se num palco de batalha entre humanos, vampiros e mortos-vivos, cujos rumos são decididos em um macabro jogo de xadrez, em que os combatentes são as peças do tabuleiro. A partir daí, Vamp torna-se uma comédia rasgada de terror: efeitos especiais cada vez mais bizarros, interpretações cada vez mais caricatas e circenses, tiradas cada vez mais atrevidas, fase na qual Vlad, ainda mais cômico e afetado, avisa que “liberou geral!” Inesquecível a hilária cena em que o mestre dos vampiros conclama os mortos-vivos para a luta, fazendo uma macabra paródia do videoclipe de Thriller, hit de Michael Jackson, no cemitério.

Os efeitos visuais artesanais, toscos e ultrapassados de Vamp, bem como a direção de arte por vezes deficitária e as dentaduras de vampiro que atrapalhavam a dicção dos atores foram aliados na criação do clima intencionalmente trash da novela. Vamp foi um autêntico “terrir”, semelhante aos filmes de horror de baixo orçamento cujos efeitos e produção precária apostam na comicidade, causando risadas ao invés de sustos. Uma novela assumidamente “terrir”, sem vergonha de admitir seus defeitos técnicos e roteirísticos e até um certo desleixo na confecção de alguns dos cenários. Por diversas vezes Vlad zombava desses recursos (“Chega de efeito especial!”) e na reta final, em que a novela foi prolongada, Calmon parecia desabafar sobre isso por meio de seus personagens (“Essa novela não acaba nunca?”, “Finalmente vamos acabar com essa novela!” foram frases ditas pelos personagens referindo-se às constantes idas e vindas da guerra contra os vampiros). Sobrou inclusive para o diretor da novela, Jorge Fernando, numa participação especial: "Até o diretor?!" reclama Vlad, ao ser ameaçado pelo personagem!

Cláudia Ohana esbanjou talento, beleza e sensualidade com sua performática Natasha, marcando presença mesmo diante da fragilidade do texto e das diversas mudanças de rumo da personagem. Belíssima a sequência em que vampira roqueira dança sensualmente em Veneza ao som de “Sadeness” do projeto musical Enigma na Praça de São Marcos, em meio aos pombos e diante dos transeuntes, arrancando-lhes aplausos. Ney Latorraca interpretou magistralmente um dos melhores vilões da teledramaturgia,  o inesquecível mestre dos vampiros Vlad, indo da vilania tradicional ao surrealmente cômico: impossível não se divertir nos momentos em que humilhava seus súditos, desferindo-lhes socos e pontapés à distância.
Cláudia Ohana marcou época como a vampira roqueira Natasha.
Destaque também para Guilherme Leme, cheio de presença como o charmoso vampiro Gerald, dividido entre o bem e o mal, que viveu uma interessante história de amor com a humana Scarlett (Bel Kutner), que vira vampira em prol desse amor; para Toni Tornado e seu carismático Pai Gil; para Vera Holtz e sua ótima caçadora de vampiros Alice Pentaylor; e para a participação especial do saudoso Paulo Gracindo, impagável como o temido bandido Cachorrão, que também se rendeu à chanchada nos momentos finais de Vamp.
A trupe de vampiros do mal de Vamp, liderados por Vlad.
Quem certamente teve destaque absoluto, brilhando mesmo nos momentos mais entediantes de Vamp foi a ótima Patricia Travassos com sua deliciosamente escandalosa vampira pornográfica Mary Matoso. A peruíssima e atrapalhada vampira imprimiu uma ótima carga de humor rasgado à trama, uma verdadeira vilã-comédia que manteve as atenções voltadas para a novela mesmo em sua já comentada fase down. Hilárias suas tentativas frustradas de ser uma bruxa pós-moderna, cujos feitiços nem sempre funcionavam e acabavam virando contra a feiticeira! Divertidíssima a cena em que Mary Matoso lidera os figurantes da novela caracterizados de mortos-vivos na luta contra o bem: "Figuração, atacar!". Ademais, Patrícia Travassos demonstrou perfeita química com Otávio Augusto, o patético e caricato Matoso, o vampiro covarde de um canino só que, além de protagonizar os melhores momentos de Vamp, lhe rendeu o APCA de melhor ator de 1991. 
Patrícia Travassos deu um show como a cômica vampira do mal Mary Matoso.
Um dos maiores diferenciais de Vamp foi o constante flerte com o politicamente incorreto, repleta de situações impensáveis nas novelas de hoje em razão da patrulha da "moralidade": os seios de Cláudia Ohanna à mostra quando Natasha é salva de um afogamento; os adolescentes que passavam horas no banheiro da pousada (numa clara menção a masturbação) quando da chegada de belas figurantes para a gravação de um videoclipe; menções explícitas a satanismo e figuras demoníacas por parte dos vampiros do mal; a retratação de divindades de religiões africanas como heróis na luta contra o mal; a personagem Alice Pentaylor encantada por Pai Gil (“Que belo negão!”, ela dizia) e tachada de “inglesa sapatona” por Mary Matoso em razão do figurino masculinizado; a própria Mary Matoso, uma decadente atriz de filmes pornográficos antes de ser vampirizada; os vampiros apreciando a bebida alcóolica Bloody Mary, etc. 

Vamp mereceu ser revisitada em sua totalidade, 20 anos depois, no Canal Viva. Apesar do parco desenvolvimento da sinopse, da fragilidade do roteiro e do ritmo por vezes equivocado, Vamp é uma novela que marcou época e fez história em razão de sua ousadia e ineditismo. Uma inovadora chanchada de terror que tratou do soturno tema vampirismo de forma cômica e que ria de si mesma, assumindo com muito bom humor as suas falhas e sua estética trash.

Álbum de figurinhas da novela Vamp.

Referências:

-Memória Globo


-Blog Vamp no Viva: http://vamp2011.blogspot.com/