por José Vitor Rack
Não existe teledramaturgia sem
romance.
Não me lembro de ter assistido na
minha vida uma novela que não tivesse pelo menos um casamento. A maior parte
dos casais românticos troca tudo pelo amor. Tudo. Viagens, mordomias, heranças,
nada vale o amor verdadeiro...
A Nina/Rita de Avenida Brasil tem sua falsidade e
dissimulação plenamente justificada, pois se trata de uma moça que foi uma fofa
criança que descobriu algo valioso no lixão: O amor do Batata/Jorginho. O Otávio
Benaro de Máscaras se tornou chefe de
uma organização criminosa internacional em nome do amor à mulher e ao filho.
Tudo é justificado quando existe AMOR...
Amor é um negócio tão complicado,
tão complicado, mas tão complicado de definir, contextualizar e até mesmo de
identificar, que qualquer sujeito minimamente sadio chega a pensar em algum
momento que não existe.
O amor é um sentimento que
nutrimos por alguém, alguma coisa ou até mesmo por alguma idéia. Há amor no meu
coração por alguém quando o efeito que este alguém causa em mim é agradável. Ou
seja: ele é sempre dependente do outro. O amor é o outro em mim.
Mas e eu nos outros?
O amor é via de mão única. E
pronto, acabou!
Raciocine por um minuto de
maneira lúcida e liberte-se: O amor é o outro em mim. Eu nos outros, é
problema dos outros. Ninguém tem controle sobre os pensamentos dos outros,
sobre os sentimentos dos outros, sobre o amor dos outros. Até quando o amor dos
outros é devotado a você, os efeitos deste sentimento sobre sua vida não estão
em seu raio de ação.
Esta é a tragédia humana, amigo
leitor.
O meu rosto, justamente o único
que eu não vejo a não ser no espelho, é tudo o que o outro tem como referência
minha. A imagem que fazem de mim eu desconheço. Somos todos personagens de um
espetáculo para o qual não fomos convidados.
O amor que você recebe é fruto da
experiência dos outros com a imagem que fazem de você. Como dormir com um
barulho destes?
Este exercício de compreensão da
vida nos mostra uma verdade inexorável, inequívoca, inquestionável: Não existe
amor correspondido. Um casal que se ama mutuamente, o faz de maneira
individual. O amor dela por ele é um. O dele por ela é outro. São dois amores
que passeiam juntos no parque. Fenômenos diferentes, individuais, que podem ser
simultâneos ou não.
Sorte sua compreender isso logo.
Poupa dinheiro gasto em terapia, macumba, dízimo, créditos de celular,
tranquilizantes ou chocolates. Descobri isso aos trinta e me custou caro. Estou
repassando meu expertise de graça,
vejam como sou caridoso.
Não estou me opondo ao
romantismo. Não é papo de deprimido. É apenas um exercício de lucidez que vem
de encontro à nossa necessidade mais que urgente de nos sentirmos preenchidos
pelo amor. Sentimos essa necessidade e nos confundimos, achando que o amor que
nos falta sempre vem de fora.
Pode ser que venha. E quando vem,
quase nunca é do jeito que a gente imagina, em delirantes exercícios de
megalomania. Portanto, é hora de largar as ilusões todas na primeira caçamba de
lixo e descobrirmos o amor real, o único possível: o seu amor. O que sai de
você prontinho pra ser distribuído à sua volta.
Repita comigo, torne essa frase
um mantra: O amor é via de mão única.
Ame muito, ame mais, cada vez
mais e melhor até morrer afogado em ternura. É bom para a saúde e prolonga a
vida. Mas cuide de si e do seu amor. Não cobre, não julgue, não adivinhe, não
seja babaca. O amor é seu. Falar do nosso
amor fica lindo em diálogos de Walcyr Carrasco. Em alguns casos, até na
vida real fica fofinho. Mas é apenas uma expressão. Não existe o nosso amor. Existe o nosso casamento, a nossa amizade, o nosso
parentesco. Não confunda relacionamento, que é uma convenção social, com um
sentimento. O amor é sempre seu.
Seu! Só seu. Dê para quem
merecer. E cuide bem do amor que lhe ofertarem. Sem misturar as coisas.
Nesse caso, a ordem dos fatores
desanda a maionese espetacularmente.
Agora me dêem licença que está na
hora de AMOR ETERNO AMOR...
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amor de novela contém algo que não vemos muito por aí que é a gratuidade, o casal se apaixona, tipo os de Paraíso Tropical , Insensato Coração e os problemas nunca partem deles, sempre partem dos outros, das outras peças....rsssss
ResponderExcluiramo de vida real é via de mão única, é loteria, é tolerância, é paciência, é querência. Só que uma coisa que é omaior clich~e do universo e uma das maiores verdade, a gente só ama quem se ama e com a gente às vezes é diferente...eu mesmo acho estranho alguém nutrir algo por mim, pelo meu histórico de vida. Acho que nas novelas o amor hoje está mais coadjuvante, menos idealizado, graças aos deuses....