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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O 2º MELHORES & PIORES DO ANO

Por Júnior Bueno e Emerson Felipe

Pelo segundo ano, o Posso Contar Contigo orgulhosamente apresenta o prêmio Melhores e Piores do Ano. E é você caríssimo leitor que vai nos ajudar a eleger quem se destacou na TV em 2012 (para o bem e para o mal). Podemos contar contigo? Então, é só dar uma lida nas regras abaixo e correr pra votar e fazer campanha pelos seus favoritos. Chama todo mundo! Pode votar à vontade. O resultado sairá aqui, nesse blog gostosinho na primeira semana de 2013. 


Regras: 


1 - A escolha dos concorrentes foi feita tendo como base a opinião deste que vos escreve, a ajuda dos demais autores do blog e as opiniões recorrentes nas redes sociais sobre teledramaturgia. Não se trata da opinião unânime dos autores do blog. Tentamos até chegar a um consenso, mas pensar todo mundo junto não tem a menor graça, né?

2 - Caso não concorde com a escolha dos concorrentes, sem grilos, é só xingar muito no twitter, comentar logo ali abaixo. 
3 - Só serão válidos os votos feitos aqui neste post, muito embora ficaremos felizes se você interagir conosco via facebook, twitter, orkut, sinal de fumaça e pombo correio.
4 - A lista de concorrentes obedece à ordem alfabética.


E aí vamos votar? 


















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Então é isso, pessoal, obrigado pelo voto e pela companhia, um beijo e até 2013!

sábado, 22 de dezembro de 2012

Um Instigante Sobrenatural!!!


Por Christian Henrique

Sobrenatural (supernatural), um seriado estrelado por Jader Padalecki como Sam winchester e Jensen Ackles como Dean Winchester.

O Sobrenatural narra a história de dois irmãos e seu pai (John), que caçam demônios e outras criaturas sobrenaturais, é meio que baseado em Arquivo X e Rota 666. No começo do seriado (primeira temporada) aparecem Mary e John (pais de Dean e Sam). Dean (irmão mais velho) e Sam (caçula), como uma família normal e feliz. Sam está com aproximadamente dois anos, no berço, quando de repente aparece alguém derramando sangue em sua boca. As luzes começam a piscar, Mary percebe algo de diferente acontecendo e se levanta da cama para ver o que pode ser. Sai correndo para o quarto de Sam e se depara com alguém ao lado do berço de seu filho, pensa que é John quem está lá e nem se preocupa, então ela anda até o corredor e ouve barulhos na sala (andar de baixo), desce para ver o que é, percebe que a televisão está ligada e John dormindo na poltrona, então ela sai correndo gritando por Sam, volta ao quarto dele e começa a gritar, John acorda e corre até o quarto para saber o que houve, pensa que tudo está normal, pois vê o filho no berço, então gotas caem do teto no berço, quando olha para cima, vê sua esposa queimando no teto, ele tira seus filhos da casa pois está tudo pegando fogo.

Passaram alguns anos, em torno de 20 anos, e os garotos estão adultos. Sam está na Universidade Stanford, fazendo curso de Direito, quando de repente aparece Dean (seu irmão mais velho) falando que o pai deles desapareceu durante uma caçada de demônios, Dean pede ajuda a Sam, só que ele se nega, por ainda guardar mágoas do pai, mas depois de pensar um pouco, ele concorda em ajudar, então os irmãos partem em uma viagem, em busca de seu pai. Depois de uma semana e sem encontrar seu pai, Sam volta para sua casa, encontra sua namorada (Jessica) queimando no teto, da mesma forma que sua mãe, então ele se vê culpado por não ter tê-la protegido, e por ter escondido o segredo de que sua família caçava coisas sobrenaturais. Sam desiste da universidade para voltar a caçar demônio e pegar quem matou sua mãe e sua namorada.

Algum tempo depois, os dois irmãos encontram seu pai (John) que fala do paradeiro do demônio que matou sua mãe, e que planeja matá-lo com uma “colt”, que é um revólver capaz de matar qualquer coisa sobrenatural... E a história prossegue por um caminho de mistério, suspense, adrenalina.  


O Sobrenatural (Supernatural) em minha opinião é uns dos melhores seriados de caçada. Numa mistura de romance, ação, comédia, aventura, e coisas sobrenaturais. Eu adoro!

Em cada episódio, algo novo que eles estão fazendo, algo novo que estão explicando, o Dean Winchester (Jensen Ackles) dá o tom da comedia, fazendo as piadas dele, e a cada episódio eles acabam encontrando pessoas novas, acabam se apaixonando, mas o objetivo maior é vingança, então paixões, romances são palavras proibidas para eles.

Este seriado já passou na televisão (Sbt), mas não lhe deram a devida atenção. Acho que a emissora perdeu muito com isso, pois abandonou a série na terceira ou quarta temporada, e a série agora está em sua oitava temporada. Não sei precisar se é a última, mas tomara que não seja, pois é um bom entretenimento. Recomendo!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Entrevista com Silvio de Abreu!

por JOSÉ VITOR RACK


A entrevista abaixo foi feita com Sílvio de Abreu em 2008, quando o projeto USINEIROS DE SONHOS ainda era o esboço de um livro. Hoje se trata de um filme em longa metragem, com lançamento previsto para o segundo semestre de 2013.

Boa leitura!


Dias Gomes dizia que só quando começou a escrever telenovelas é que se sentiu fazendo teatro popular no Brasil. Como você analisa esse fenômeno de massa?

A telenovela brasileira é o melhor produto de cultura de massa que se faz no país. É mais abrangente e melhor realizado do que o nosso cinema ou nosso teatro. Através da telenovela nossa sociedade é mostrada para uma imensidão de telespecatadores no Brasil e no mundo  registrando nossa época, nossos costumes, nossas ambições, nossas falhas, nossos desejos, nossas idéias e esperanças. Tudo isso contado pelos melhores atores brasileiros que chegam diariamente nas casas milionárias ou miseráveis do Brasil, na mesma hora, totalmente de graça. É um entretenimento de qualidade comprovada no mundo todo que atende ao povo sem olhar a sua condição social. Não conheço nenhum outro produto cultural ou de entretenimento com tanto alcance.

Você fez algumas telenovelas como ator. Em quê esta experiência lhe ajudou quando chegou a hora de escrever uma?

Em tudo. Foi lendo as novelas de Ivani Ribeiro, aonde eu atuava, que entendi como era o processo narrativo. Mesmo sem ainda ter a intenção de escrever tinha enorme prazer em ler os capítulos, analisar as personagens, entender como uma cena se ligava a outra. Ter sido ator também me ajudou a respeitar e entender o que atores esperam de seus personagens e como fazer para que eles se dediquem de coração aberto ao trabalho.

Como era o ambiente de trabalho na Rede Tupi na época em que você lá trabalhou? Já havia algum indicativo de que a emissora teria o fim humilhante que teve?

Quando escrevi ÉRAMOS SEIS para a TV Tupi em 1977, a emissora já estava com muitos problemas. Para conseguir receber o salário tinha que negociar com a entrega dos capítulos, sem pagamento, não entregava os textos. Era uma situação desagradável que já prenunciava o triste fim do grande celeiro de artistas que foram as emissoras associadas.

Tive algumas informações que davam conta que, finda a adaptação de Éramos Seis, Rubens Ewald Filho e você escreveriam uma novela para a Tupi que teria como estopim uma grande tragédia. Fale-nos dessa novela, caso ela realmente tenha sido planejada.

Não foi depois de ÉRAMOS SEIS, foi antes. Fomos chamados à Tupi, Rubens e eu, para desenvolvermos uma idéia de Roberto Talma, que era o diretor artistico da emissora na época. A novela seria sobre um acidente aéreo, que transformaria completamente a vida das personagens. Rubens e eu gostamos da idéia e desenvolvemos a sinopse de uma novela que altamente inovadora, na época, porque seria contada em três planos de narrativa: antes das pessoas embarcarem no avião, durante a viagem e a conseqüência do acidente na vida dos que ficaram. Fizemos dez capítulos que foram prontamente aprovados pelo Talma, escalamos a novela e, infelizmente, Talma saiu da emissora. Henrique Martins e Carlos Zara assumiram a direção artistica e nos chamaram para dizer que a novela não era o que eles queriam fazer, achavam muito inusitada. Então oferecemos a idéia de adaptar o livro de Maria Jose Duprê.


TV conjuga imagem e texto. Como equilibrar esses dois elementos na confecção de uma telenovela?

O texto é o alicerce da televonela e nele já devem vir imaginadas pelo autor as imagens desejadas. Mas novela é um trabalho de equipe, é da junção de todos os profissionais que surge o capítulo pronto. O diretor é a cabeça comandante do processo dentro do estúdio e tem que agir em plena harmonia com todos os elementos, principalmente, com o autor. O autor deve participar de todo o processo para que saiba com que elementos vai poder contra na sua criação. Sem um bom entrosamento entre todos nada é possível.

Como você vê a relação entre autor titular/colaboradores em teledramaturgia?

Atualmente é imprescidível. Quando comecei a escrever, em 1977, uma novela tinha 14/15 páginas e durava 20/25 minutos no ar, que mais os intervalos comerciais davam um programa de 30/35 minutos. Hoje são necessárias 40 páginas para um capítulo que deve durar 50/55 minutos, mais os comerciais. O dia continua tendo 24 horas e é quase humanamente impossível escrever sozinho se o autor se preocupa em ter idéias novas, respeitar a psicologia dos personagens, seguir as pesquisas e elaborar direito o seu trabalho. Dividir tarefas com colaboradores é uma ótima solução desde que o autor principal não perca  seu estilo e mantenha o desenvolvimento da história e seus personagens em absoluto controle.

Você foi o primeiro autor a fazer comédia escrachada no horário nobre, mudando um pouco o rumo com o decorrer do tempo. Que lição ficou da experiência de escrever Rainha da Sucata?

Aprendi com Rainha da Sucata que o público da novela das seis é diferente do das sete e este do das oito. São estilos criados e estabelecidos pela Rede Globo em anos e anos de convivência com os telespectadores que se ressentem quando alguma mudança acontece. Rainha da Sucata começou como uma comédia escrachada, mas teve que dar um freio e privilegiar na trama o drama de Maria do Carmo, Edu, Laurinha e outros personagens menos afeitos à comédia. Acho que minha grande sorte for ter mantido nucleos fortes de comédia como Dona Armenia e seus filhos e o professor Caio com seu romance com Adriana,  a bailarina da coxa grossa e a hilária noiva Nicinha, que se transformou em ninfomaníaca. Aprendi também que drama e comédia podem muito bem sobreviver no mesmo espaço, desde que o autor saiba misturar direto as emoções.

Em 1990, você afirmou ao Jornal do Brasil: "Novela não é arte, é entretenimento". Mantém essa afirmação? Acredita que não haja nenhuma exceção?

Tudo tem exceção, nem que seja para confirmar a regra. Eu vejo e quero fazer novela como entretenimento, o cinema de Hollywood dos anos 30/40/50 também era feito como puro entretenimento e hoje é considerado arte. A chanchada brasiliera dos anos 50 era execrada pelos intelectuais e hoje também é arte. Vai se saber o que nos reserva o futuro?

Quais os principais requisitos que um aspirante a autor de telenovelas deve reunir?

Talento, disposição para o trabalho, boa imaginação e, principalmente, vocação. Escrever novela é um trabalho muito árduo e difícil. É uma técnica específica que não encontra similar em outras formas de se expressar pela linguagem escrita. Na verdade, o autor de novela deve saber que o que ele escreve só vai se comunicar com o público através da imagem e dos atores e isto muda todo o processo.

Tendo as qualificações que você cita, qual é o caminho das pedras para se chegar lá (se é que há um caminho mais ou menos padronizado...)?

Não existe nenhuma fórmula mágica, é tudo uma questão de sorte e oportunidade. É claro que para quem já trabalha em televisão e consegue fazer com que alguém influente leia seus trabalhos, facilita. Recebo diariamente sinopses e textos que por contrato não posso ler e tenho que simplesmente jogar fora. Isto me incomoda bastante, mas não posso fazer de outra maneira porque nem todos que enviam textos o fazem com boa intenção. Uma acusação de plágio é sempre um escândalo muito bem acolhido pela mídia, que primeiro acusa o autor conhecido baseado unicamente na declaração do que se diz plagiado. Infelizmente vivemos em uma época muito dificil onde a moral e a ética parece que foram esquecidas.

A TV digital deve alterar o mercado de trabalho para autores e roteiristas? Como você vislumbra nossa teledramaturgia inserida neste contexto?

Não acho que vá mudar nada para os autores. Vai, sim, dar muita dor de cabeça para a produção, para os cenógrafos, figurinistas, maquiadores, diretores e etc...

Qual a maior decepção de sua carreira na TV?

Pecado Rasgado, a primeira novela que escrevi na Globo. Nada saiu como eu havia planejado. Mas sempre alguma coisa boa sempre acontece. Cassiano Gabus Mendes assistiu à novela com atenção e foi o único que descobriu ali um autor que poderia ter futuro.


A linguagem do seriado semanal, ao estilo norte-americano, lhe atrai?

Não sou fã de seriados americanos. É claro que The Sopranos, Sex and the City e Brothers and Sisters são bem feitos e atraentes, mas acho a nossa telenovela  mais emocionante. Gosto da liberdade de crição infinita que uma novela proporciona a seu autor. Destesto as sitcoms americanas com o riso montado a cada dois ou três minutos.
   
Seus colaboradores decolam na carreira com freqüência (Alcides Nogueira, Maria Adelaide Amaral, Carlos Lombardi, por exemplo). A que atribui esse fato?

Acho que sei escolher bem os meus colaboradores. Gosto de profissionais talentosos, que gostem do seu oficio, que não fiquem competindo comigo e tenham confiança em si. Nunca trabalho com pessoas de pouca experiência, porque acho que a as novelas, como principal produto da emissora, devem ser feitas por profissionais experientes e conscientes da responsabilidade que o trabalho exige.

A telenovela tem vida longa no Brasil?

Já existe a mais de 50 anos e tenho a impressão que ainda vai continuar por muitos e muitos anos. É por isso que acredito na formação de novos autores, para que novos caminhos possam se abrir e manter este gênero de entretenimento sempre atraente para o público. Tenho tido sorte na formação destes autores e acredito estar dando uma grande contribuição ao gênero alavancando as carreiras de João Emanuel Carneiro, Beth Jhin e Andrea Maltarolli.

Abraços,

Silvio

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

A MODERNIDADE DA NOVELA DAS SETE: A PUBLICIDADE NA FICÇÃO!


Por Marcelo Ramos

A sociedade moderna usou o modelo-fábrica como cenário para as cenas que envolviam questões profissionais das personagens dos filmes de Hollywood e, consequentemente, das novelas latinas. Durante um longo período, as vidas das personagens das telenovelas brasileiras foram entrelaçadas com as fábricas e indústrias. Uma das novelas, inclusive, recebeu o nome de ‘A Fábrica’, exibida pela TV Tupi em 1972. Isabel (Aracy Balabanian), a protagonista, é dona de uma indústria de tecidos. Essa é ‘a fábrica’ do título. Dentro da fábrica de tecidos aconteceram os grandes momentos da vida de Isabel: seu pai, seu marido e seu irmão haviam morrido num acidente da fábrica. Também é lá dentro que Isabel conhece Fábio (Juca de Oliveira), grande amor que viveria na novela. Ainda em 1972, na TV Globo, Janete Clair fez uma adaptação do romance estadunidense ‘Uma Tragédia Americana’, de Theodore Dreiser, localizando a adaptação na capital do Rio de Janeiro. Em ‘Selva de Pedra’, Cristiano Vilhena (Francisco Cuoco) tem que deixar a cidade natal, no norte fluminense, e se esconder na capital do Estado do Rio, a segunda maior cidade do Brasil em números de população (justificando, assim, o título da novela). No Rio, Cristiano busca a ajuda de um tio milionário, Aristides (Gilberto Martinho), dono de um estaleiro no porto do Rio. Todo o núcleo dos ricos girava em torno das atividades no estaleiro e, dentro da firma os relacionamentos pessoais eram desenvolvidos.

Na novela 'A Fábrica',exibida pela TV Tupi em 1972, Aracy Balabanian e Juca de Oliveira viveriam novamente um par romântico - dentro de uma fábrica de tecidos para corte e costura.
Eu comecei a pensar nessa questão da passagem do ‘modelo-fábrica’ para o ‘modelo-empresa’ pela necessidade que eu tive de compreender melhor o funcionamento de uma agência de publicidade dentro das novelas. Consegui encontrar, em muitas das novelas já exibidas e nas que estão no ar, diferenças entre uma empresa (neste caso, as agências de publicidade) e uma fábrica (ou indústria), que segundo o pensador francês Michel Foucault, representaria um modelo de produção da sociedade capitalista ocidental. Há um tempo, conversando com Beto Pêgo (um amigo ex-telemaníaco do curso de Publicidade e Propaganda), descobrimos que, inconscientemente, havíamos prestado o vestibular para o curso de Publicidade e Propaganda por causa de duas novelas: ‘Sassaricando’ (TV Globo, 1987, 19h) e ‘ Lua Cheia de Amor’ (TV Globo, 1991, 19h). Rimos muito juntos, ao nos darmos conta disso dentro do turbilhão de descobertas artísticas e literárias que o curso da UFRJ exigia. Nunca me esqueci desse insight . Sim, foi um insight, pois havíamos escolhidos uma profissão baseada em personagens de novelas que acompanhamos fielmente num passado já distante. Essa questão do meu desejo inconsciente por me tornar um publicitário, originado da observação de personagens yuppies de novelas das sete veio-me à tona já em meados de 1997.

O termo ‘yuppie’ - para a maioria que não conhece – é uma sigla para a expressão em inglês ‘Young Urban People’ (pessoas jovens e urbanas). Essa expressão foi muito usada nos anos 80 para definir jovens executivos das cidades grandes. Beto Bacellar (Marcos Frota), Tadeu (Roberto Bataglin) e Augusto Souto Maia (Maurício Mattar) foram os três yuppies mais ‘transados’ dos anos 80 e foi através dessas personagens que eu conheci o mundo da propaganda.

Beto Bacellar, o histérico mocinho romântico de ‘Sassaricando’, era sócio do casal de sobrenome Salivas numa agência de publicidade em um bairro elegante de São Paulo. Nascido e criado em Belo Horizonte, Beto fora adulto para a capital de São Paulo, a ‘Meca’ dos publicitários do Brasil. Bem-sucedido, Beto dividia o aluguel de um apartamento de estilo ‘pós-moderno’, com arquitetura de vanguarda e decorado com móveis e acessórios de muito bom gosto. Na agência de Beto, seu amigo Tadeu (Roberto Battaglin) – moço solteiro e sem família na cidade – funcionava como diretor, auxiliar, criador de campanhas, um executivo ‘faz-tudo’. As funções próprias de uma agência de publicidade não eram as convencionais. Apenas haviam os dois diretores (com Tadeu subordinado a Beto), a secretária e o boy. Também trabalhavam na fictícia ‘BB & Salivas’ a secretária seriíssima Bia (Bárbara Thiré) e o office-boy boa-pinta Maurício (Maurício Alves). Havia também a fotógrafa Camila Abdalla (Maitê Proença), profissional liberal (na linguagem oitentista ‘free lancer’ - ou apenas ‘freela’- era o nome dado aos profissionais da área que trabalhavam por conta própria, sem se empregarem numa única empresa) que fazia as fotos das campanhas da BB & Salivas. Tudo era muito belo, novo e cheio de glamour na agência da novela. 

Alguns lançamentos verdadeiros foram feitos na novela, através dos publicitários Beto e Tadeu. A fábrica de brinquedos ‘Estrela’ (maior marca de brinquedos da época) usou a agência fictícia ‘BB & Salivas’ para promover sua última novidade em matéria de entretenimento: o ‘Pogo-Bol’ - uma bola colorida arrodeada por laterais redondas, semelhante à uma imagem do planeta Saturno e seus ‘aneis’ -, que virou febre nacional. Beto e Tadeu ficavam encarregados de lançar o produto na televisão brasileira e a novela mostrava a cena do processo de começo de criação da campanha do ‘Pogo-Bol’. A cena terminava com os dois executivos yuppies pulando no ‘Pogo-Bol’, vestindo terno e gravata, às gargalhadas. Ponto pra eles: o brinquedo virou mania nacional.  


A maior campanha publicitária realizada pela agência de Beto Bacellar foi mostrada na fase final da novela: uma de suas clientes mais ricas e exigentes, Kiki Lavigne (Célia Biar) era dona de uma confecção de underwear masculina. ‘Cuecas Ding Dong’ era, como se chama na publicidade o produto-estrela da fábrica de Kiki, mulher bastante espalhafatosa, que não perdia o porte elegante mesmo assim. O tipo de dondoca rica que a atriz estava acostumada a viver no horário das sete. A madame criava (ela mesma) letreiros, cartazes, slogans imaginários para seu produto nada convencional: “As’ cuecas Ding Dong’...”, dizia ela enquanto fazia um gesto com a mão como se o texto estivesse escrito num grande outdoor. Foi um momento muito engraçado da novela, pois a importante cliente da agência, autoritária e falante – promoveu, durante um bom período da novela, uma “caça ao bumbum masculino” para ser o modelo da campanha de promoção das cuecas. Um dia, o cunhado de Beto - o sempre zangado Jorge Miguel (o ‘Guel’) - foi até a agência para passar mais uma espinafrada no publicitário, que estava muito envolvido com sua irmã, Tancinha (Cláudia Raia). Tancinha já era a prometida do caminhoneiro órfão Apolo (Alexandre Frota) desde criança. Namoravam debaixo do chinelo de Guel, o homem de uma casa de quatro mulheres. Mesmo conhecendo Apolo há muito tempo, Guel era machista e deixava Tancinha namorar somente porque não tinha outra escolha. E no meio disso, Beto se apaixonara, à primeira vista, por Tancinha e conseguiu tomar a moça do antigo namorado, quase noivo. Kiki olha Guel falando alto, admirada com sua beleza e tem uma ideia “genial”: havia achado o bumbum da sua marca. Claro que o mal-humorado Guel não gostou nem um pouco da história e se recusa veementemente a ser o modelo da campanha de lançamento das cuecas. Só que Kiki é milionária excêntrica e não desiste – ela promove uma perseguição dos publicitários ao bumbum de Guel, que fica irado com a proposta e foge de Kiki como o diabo da cruz.

Quando Beto e Tadeu dão-se conta de que o ‘bumbum perfeito’ de Guel não vai mesmo ilustrar a campanha das cuecas de Kiki, eles vão à caça de um bumbum ideal para a campanha numa praia do litoral paulista. De bonés e óculos-escuros (apara não serem reconhecidos) e binóculos em punho, deitam-se na areia e começam a examinar os rapazes de sunga. Cena hilária. Um acha um possível modelo, numa roda de conversa e pergunta a outro: “Que tal este?” – e passa o binóculo para o outro. Não adianta nada, pois bumbum de homem realmente não é o métier de nenhum dos dois. Não sabem escolher, não tem a mínima noção. Aí nos foi apresentado o trabalho de um publicitário. Da forma farsesca, típica das comédias rasgadas do Sílvio de Abreu, mas é mostrado, pela primeira vez em uma novela, esse tipo de trabalho, tão diferente, que o público das novelas só havia conhecido em raras novelas, como ‘A Próxima Atração’, de Walter Negrão e ‘Pecado Capital’, nesta, através do publicitário Nélio Porto Rico (Dennis Carvalho), em 1975.

Para finalizar o quiproquó da seleção do modelo das ‘cuecas Ding Dong’, Kiki Lavigne decide pelo bumbum de outro galã da novela: o caminhoneiro grosseirão Adônis (Rômulo Arantes). Este, envolvido com Juana (Denise Milfont), aceita o convite para posar nu, no estúdio de Camila, como modelo das cuecas de Kiki. O casal Juana e Adônis termina a novela como modelos exclusivos da marca ‘Ding Dong’. Adônis tira a barba, faz um corte de cabelo bem moderno e se transforma completamente em um homem elegante. O que a moda não faz com uma pessoa, hein?


Esse espaço que me foi dado no blog vai ser usado para eu relembrar cenas de novelas onde a publicidade e a moda usaram da beleza dos atores para promover os próprios atores, os personagens ou produtos lançados nas novelas. A lista é grande. Como especialista da área de Estética e Cultura de Massa, vou trazer, nas minhas postagens para o blog, novas questões sobre a exploração da beleza dos atores em várias situações da história das telenovelas e das outras narrativas seriadas. Espero, de coração, que gostem.

Agradeço, em especial, a orientação constante de Gesner Avancini no desenvolvimento desse novo projeto aqui dentro do blog.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Bicentenário da Imigração Chinesa - Um Viva ao Cinema Oriental!


Por Paulo Lannes 

2012 é o ano que marca o bicentenário da imigração chinesa no Brasil. Muitos deles tiveram como maior motivo a vinda para cá por causa da falta de alimentos ocasionadas pelas constantes guerras que aconteciam na continente amarelo. Com isso, eles acabaram por influenciar (mesmo que pelas beiradas) o cotidiano brasileiro. Entre elas está a gastronomia, a acupuntura, o horóscopo, os fogos de artifício, literatura e as artes marciais. O cinema chinês, apesar de não ser valorizado por aqui também conta com opções especiais, que não devem passar despercebidas.

Adeus, minha concubina.

O filme fala da história de dois amigos que vivem do teatro, onde um deles faz o papel da mocinha enquanto o outro faz o do mocinho. É muito interessante perceber a cultura chinesa no que se diz respeito às artes. Era normal que muitos homens atuassem em papeis de mulheres, principalmente onde o sexo feminino era extremamente desvalorizado (e ainda se vê muitos resquícios dessa desvalorização na sociedade atual). Então todos aqueles que tivessem voz de soprano acabavam por atuar em papéis femininos e eram ovacionados pelo país inteiro. Mas no filme, a história vai além disso, mostrando o amor clandestino do soprano com o seu amigo. Por não ser correspondido (no amor), o ciúme acaba por minar a amizade deles, deixando também o teatro por um fio. O filme fez tanto sucesso que concorreu a muitos prêmios internacionais (como Oscar pelo melhor filme estrangeiro) e ganhou alguns (como Globo de Ouro, BAFTA e Palma de Ouro no Cannes).

O Tigre e o Dragão.

Talvez esse seja o filme chinês mais conhecido em todo o mundo. E tratando de um folclore asiático, o país conta com um drama muito bem elaborado além de usar bons efeitos especiais. O país ainda é valorizado na maravilhosa fotografia da área rural chinesa, o que lhe valeu um Oscar por essa área (e mais três, por melhor filme estrangeiro, melhor direção de arte e melhor trilha sonora). É impossível não se apaixonar pela guerreira rebelde e sua indecisão de qual lado seguir na hora de lutar.

A Batalha dos 3 reinos.

Esse é outro filme que se trata da história de um folclore chinês. A história se trata basicamente da luta entre o império contra os senhores feudais do Sul da China. De produção megalomaníaca, o filme conta com um sem número de figurantes e cenas absurdamente belas de guerras e batalhas. Em diversos momentos percebe-se o uso de estratégias encontradas na Arte da Guerra, livro famoso chinês. Imperdível.
 

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

MÁRCIA MARIA, UMA GRANDE ATRIZ QUE CONHECI!

Por Daniel Pilotto 


Márcia Maria foi uma das grandes atrizes brasileiras que abrilhantaram a tv com seu talento e carisma, mas que hoje em dia, infelizmente, apenas um público saudoso se recorda. Por isto há algum tempo sentia uma vontade de escrever e falar um pouco sobre ela, contar um pouco da carreira linda que ela teve na televisão e sobre as minhas impressões da pessoa interessante que era.

Eu conheci a atriz num projeto no qual estávamos envolvidos no ano de 2010, ela como atriz e eu como roteirista. A primeira vista eu fiquei impressionado com a simplicidade e a discrição dela, e uma grande simpatia e receptividade com os que ainda não eram do meio. Neste curto tempo que convivemos pude presenciar suas lembranças, suas recordações de momentos preciosos da tv e das novelas, tudo contado com sua linda voz e com a segurança e a postura que só uma grande atriz possui.

Márcia como grande parte das atrizes de sua geração começou a carreira no rádio, a bela voz garantiu um emprego como locutora na Rádio Nacional e tempos depois como garota propaganda na TV Record. Como atriz sua primeira aparição acontece na série de humor CEARÁ CONTRA 007 como Sílvia, ao lado de Jô Soares que parodiava James Bond com o seu Jaime Bonde.

Em novelas sua estréia foi em 1968 em A ÚLTIMA TESTEMUNHA de Benedito Ruy Barbosa, como Anita. No ano seguinte teve um papel de mais destaque, Lene, em outra trama de Benedito ALGEMAS DE OURO.

    Com Altair Lima e Lolita Rodrigues em ALGEMAS DE OURO               


Entretanto o grande destaque mesmo só aconteceu em 1970 com a consagrada AS PUPILAS DO SENHOR REITOR, adaptação de Lauro César Muniz da obra de Júlio Diniz. Márcia deu vida a Guida (personagem feita por Deborah Bloch no remake do SBT) que era uma das pupilas do Senhor Reitor (Dionísio de Azevedo) e apaixonada por Daniel (Agnaldo Rayol). Nesta trama Márcia conheceu o êxito por um trabalho realmente impecável e com grande requinte para a época.

    Com Dionisio de Azevedo e Georgia Gomide em AS PUPILAS DO SENHOR REITOR


Por conta do sucesso da Margarida em PUPILAS a atriz ganhou de Lauro César Muniz o principal personagem feminino em sua novela seguinte OS DEUSES ESTÃO MORTOS (1971), como Veridiana. A novela de grande sucesso resultou numa continuação mostrando o passar dos anos na família da trama, e em QUARENTA ANOS DEPOIS a Veridiana agora estava mais velha e tinha uma neta, interpretada também por Márcia Maria. A esta altura a atriz já era um dos principais nomes da Record.

    Com Fúlvio Stefanini em QUARENTA ANOS DEPOIS


Contudo em 1972 Márcia Maria foi contratada pela TV Tupi, e estreou em grande estilo ao lado do novato Antonio Fagundes em BEL AMI de Ody Fraga e Teixeira Filho.

    Com Adriano Reys e Elaine Cristina em BEL AMI


No ano seguinte a consagração numa antagonista marcante em MULHERES DE AREIA de Ivani Ribeiro. Nesta trama Márcia deu vida a Andréia (que foi interpretada no remake por Karina Perez) a jovem que viu seu noivado ruir por conta da presença de Ruth e Raquel (Eva Wilma) na vida de Marcos (Carlos Zara).

    Em MULHERES DE AREIA


Com a interpretação marcante ela conseguiu estar presente em outra trama de grande sucesso de Ivani, OS INOCENTES (1974) como um dos “inocentes” do título. Ela vivia Marina, uma jovem que era neta de um dos desafetos de Juliana (Cleyde Yáconis), que voltava à cidade para se vingar do passado.

    Com Tony Ramos, Laura Cardoso, Elaine Cristina e Luis Gustavo em OS INOCENTES


Em 1975 Márcia Maria veio a iniciar uma parceria que seria marcante em sua trajetória. Na novela O MEU RICO PORTUGUÊS ela se transformou numa das atrizes preferidas do autor Geraldo Vietri.

    Com Jonas Mello em O MEU RICO PORTUGUÊS


Nesta trama ela vivia Walquíria que se apaixonava pelo português do título, Severo (Jonas Mello). Aqui começa também uma das parcerias românticas bem famosas em novelas dos anos 70, a de Márcia Maria e Jonas Mello.

No mesmo ano a atriz ainda faz uma participação na segunda parte da novela de Ivani Ribeiro A VIAGEM. Ela era do núcleo do Outro Lado da trama, e interpretava um dos espíritos que estavam em aprendizado. A personagem Carlota era uma dama do Brasil colonial que não se conformava por ter morrido.

Em 1976 e 1978 ela volta a trabalhar com o autor Geraldo Vietri e como par do ator Jonas Mello em OS APÓSTOLOS DE JUDAS (onde vivia a ambiciosa Marina) e em JOÃO BRASILEIRO, O BOM BAIANO (como a sofrida enfermeira Júlia).

Em 1979 esteve presente numa das últimas tramas da Tupi, DINHEIRO VIVO de Mário Prata, como Flávia.


Com Jonas Mello em OS APÓSTOLOS DE JUDAS

    Com Jonas Mello e Nair Bello em JOÃO BRASILEIRO, O BOM BAIANO


Após o fechamento definitivo da Tv Tupi, Márcia inicia uma nova fase na Rede Bandeirantes. Entretanto sem a continuidade de trabalhos da emissora anterior, fazendo ali apenas duas novelas, A DEUSA VENCIDA (1980) como Sofia no remake da própria autora Ivani Ribeiro do seu antigo sucesso na Excelsior e em O CAMPEÃO (1982) novela de Jaime Camargo e Marcos Caruso, como Dora.

    Com Altair Lima em A DEUSA VENCIDA


Volta às novelas em 1990 na novela do SBT BRASILEIROS E BRASILEIRAS e durante esta década participa de outras produções, sempre com personagens pequenos e muito aquém do talento que possuía, como POR AMOR E ÓDIO (1997) na Record, O DIREITO DE NASCER (2000) e AMOR E ÓDIO (2001) no SBT.

É claro que durante este tempo ausente das novelas a atriz trabalhou em cinema, teatro e até como apresentadora de um programa femino.

O mais importante nisto tudo que escrevi é perceber que nem sempre o talento significa uma permanência efetiva na carreira. Márcia era um exemplo de atriz perfeita, tinha todas as qualidades indispensáveis, mas, como algo que não se explica a tv não a manteve atuante.

          Eu e Márcia Maria em 2010

Durante os ensaios, na leitura do meu roteiro ela realmente foi surpreendente. Mesmo sem conhecer completamente a história ou as minúcias da personagem, ao ler eu pude ver que ela havia percebido tudo, o texto fluiu com uma naturalidade e a personagem soou tão viva ao meu lado. Durante todo o resto da noite fiquei a refletir sobre o como ser ator é fascinante e que o verdadeiro talento não desaparece com a ausência ou afastamento. A atriz esteve sempre nela, pena que não foi reconhecida por mais tempo. Pena que a tv não fez durar mais o brilho desta atriz para que as novas gerações também tivessem o privilégio que tive, mesmo que por pouco tempo.

Márcia faleceu em Fevereiro deste ano e deixou muitas saudades.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Sunset Blvd.


Por Serginho Tavares

Dirigido pelo gênio Billy Wilder em 1950, Crepúsculo dos Deuses possui um dos mais interessantes roteiros já escritos que serviu de fonte para inúmeros outros filmes como "Beleza Americana", por exemplo. Estrelado por Gloria Swanson e William Holden, em atuações arrebatadoras, temos aqui um dos mais perfeitos clássicos do gênero noir e do cinema americano onde tudo atinge a tônica certa. Para quem cometeu o sacrilégio de não ver este filme, a história é bem simples: roteirista fracassado se esconde dos credores na casa de antiga estrela do cinema mudo que está disposta a voltar aos holofotes, para isto ela o contrata para escrever o roteiro do filme que a fará brilhar novamente nas telas. Diálogos mordazes, uma atmosfera densa onde Hollywood se permitiu tocar em suas próprias feridas e rir de si mesma.

Fatos interessantes aconteceram nos bastidores: Montgomery Clift chegou a assinar contrato para viver o papel que acabou ficando com William Holden, mas desistiu apenas duas semanas antes das filmagens; Billy Wilder convidou Fred MacMurray que o recusou porque não queria viver um gigolô nas telas, feito que deve ter lamentado terrivelmente; Antes de ser cogitado o nome de Gloria Swanson, outras estrelas do cinema mudo como Mary Pickford, Mae West e Pola Negri foram convidadas. Holden personifica muito bem a imagem do homem derrotado que se submete aos caprichos de uma mulher voluntariosa. Swanson ou melhor, Norma Desmond, em um verdadeiro tour de force mostra porque no cinema gestos falam muito mais do que palavras. Até hoje ninguém conseguiu transmitir a dor que uma verdadeira estrela é capaz de suportar.

Num dia cabalístico como este, I'm ready for my close up and you?



sábado, 8 de dezembro de 2012

ENTREVISTA - CLAUDIO BOTELHO

by Sidney Rodrigues

Meu presente para os amigos do Blog "Posso Contar Contigo?" para esse final de ano é uma entrevista bem informal com um dos Reis dos musicais brasileiros, CLAUDIO BOTELHO.

Procurei traçar um roteiro com perguntas que todos devem ter curiosidades, para conhecer mais o lado pessoal desse cara incrível e não apenas o lado profissional, e como sempre acontece, ele foi super atencioso e disponível para o bate papo, prova de que os grandes talentos, não são inatingíveis.

Com vocês Cláudio Botelho:


Quais programas na TV aberta brasileira atraem sua atenção?
Na TV aberta, gosto de Zorra Total, que vejo  com prazer quando estou em casa na hora.

Que perfil tem o ator ou atriz que chama a sua atenção num trabalho? Já escolheu alguém apenas por um trabalho que viu e apostou nesse profissional movido pela sua intuição?
Já chamei pessoas por um único trabalho que assisti e gostei, e outros após vários testes. Cada caso é um caso. No início o que me interessa realmente é o personagem. Trato o teatro musical como ópera e os personagens têm registros, tanto vocais quanto físicos. Os atores se encaixam ou não nestes registros. Sabendo-se o registro do que se precisa, é uma questão de procurar o melhor intérprete dentro daquilo, ou o melhor disponível no momento.

Que tipo de livro chama sua atenção na hora de escolher a sua leitura? Já lê bastante em meios digitais ou ainda é adepto do bom e velho, folhear de páginas?
Leio o tempo inteiro, e mais de um livro ao mesmo tempo. Geralmente a ficção que me interessa envolve crime, detetives, ou no mínimo, com conspirações. Acabo de ler 'O Sequestro de Rembrandt', que me deixou completamente fascinado. Estou lendo (atrasado) a 'Trilogia Millenium'. E fora da ficção, estou lendo o livro de letras de Stephen Sondheim, onde ele comenta cada letra que escreveu em toda sua carreira nos musicais.

Você leva as pessoas para viagens incríveis com seus trabalhos. Qual a maior viagem que já fez e o que mais gostou nela?
Sinceramente, detesto viajar. Gosto mesmo da minha casa, que é uma bagunça, aliás. Viajo algumas veze por ano pra fora, mas sempre para Nova York, Londres, ou no máximo, algum país onde haja teatro. Não tenho nenhum interesse por lugares exóticos, paisagens incríveis, ecologia, montanhas pra subir e menos ainda inverno pra esquiar. Se alguém me convidar pra ir conhecer as pirâmides, eu prefiro só ver as fotos. De preferência, poucas.
Já no Brasil, gosto quando visito a casa de um amigo ou outro, aqui perto do Rio, que a gente vai e volta no mesmo dia, e de preferência, sem mar, pois cidade de praia (tipo Búzios) é tudo muito nojento, todo mundo anda de chinelo e tem areia em todo lugar, e os restaurantes têm o péssimo hábito de vestir os garçons com trajes do tipo sarongue ou umas túnicas, é tudo fake. Tenho horror.


Você consegue tempo para ver os amigos em cena?
Sou um péssimo colega, raramente vou ao teatro. Isso é um defeito meu, preciso corrigir. Não vejo nada, pois como já trabalho com isso, acho um saco sair à noite pra ir ao teatro. E pior: ter de falar depois da peça com elencos, é a coisa mais chata que existe. Geralmente compro os ingressos, não peço convite, pois aí posso ir embora quando fecha o pano e depois ligo pro amigo em questão. Mas sei que isso não é legal, as pessoas ficam sentidas, e têm razão. Preciso mudar esse meu jeito.

Reflexivo ou impulsivo. Como é seu processo de criação? Sente-se à vontade para criar no improviso ou as coisas precisam estar bem claras na sua cabeça antes de começar o processo?
É um misto de tudo. Depende muito de cada trabalho. Fiz as letras de 'Como Vencer na Vida Sem Fazer Força', com uma enorme facilidade, pois eu conheço a peça há anos, sei tudo de cor, então isso facilita. Mas, há peças que aceito escrever letras por um viés mais profissional, como por exemplo 'Shreck', que dão um enorme trabalho, pois não é meu estilo de música, tem muito rock & roll, daí  precisa de muito mais suor. Mas sempre me divirto. A única realmente que me deu quase nenhum prazer de traduzir foi 'EVITA', pois é um material que quase não tem humor, o assunto é muito chato e as letras originais são muito voltadas para uma verdade política com a qual não concordo, de modo que foi extenuante.

Qual espetáculo você montou que mais lhe fez parar, pensar e dizer: "Caracas, saiu exatamente como eu queria!"?
Vários: 'Um Violinista no Telhado' é o exemplo máximo. Mas eu destacaria ainda '7 – O Musical', 'Ópera do Malandro', 'Milton Nascimento – Nada Será Como Antes', 'A Noviça Rebelde', 'O Mágico de Oz', e muitos outros.


Como é sua relação com as pessoas que lhe acessam via Facebook? Já fez amigos pela rede que tenham causado interesse profissional e acabaram trabalhando juntos?
Adoro o Facebook. É a única rede social que me interessou pois acho divertido escrever, mesmo que ninguém leia. Às vezes tem uns chatos que levam a sério o que escrevo, e quase nunca escrevo a sério ali, apenas faço piadas. Fiz diversos amigos virtuais, os quais nunca encontrei, e que na verdade, nem preciso encontrar, já está ótimo ser amigo virtual mesmo.
Não me lembro de ninguém que me tenha despertado interesse profissional, pois meu ‘mood’ no FB é sempre de piada mesmo, mas sempre que me pedem pra ver algo, eu mando pra nosso pessoal de elenco, eles catalogam e chamam pra testes.

Como você se vê? 
Me vejo como um artista de muita sorte, que conseguiu tornar popular uma espécie de teatro que, quando eu e Charles Moeller começamos a nos dedicar, não era nem bem visto pela classe teatral.
Nunca mudamos de segmento, sempre fizemos musicais. Estamos nisso há 20 anos, e nem mesmo tentamos algo diferente. 

Quais as facilidades e as durezas que o sucesso atual lhe traz? 
Não há nada de duro no sucesso, é só alegria. Mas é uma ilusão achar que o sucesso é um patamar conquistado. Você está lá em cima, e no dia seguinte, se você não matar mais um leão, ninguém nem lembra que você existe. A única coisa que importa é estar trabalhando. Tenho 3 prêmios Shell na estante, 4 prêmios Contigo, e mais sei lá quantos outros prêmios... Se amanhã eu não tiver uma peça pra ensaiar, estarei em depressão.

Qual trabalho não fez que ainda gostaria de fazer?
O musical que ainda não fiz e farei é 'Black Orpheus', baseado no Orfeu Negro de Vinícius de Moraes, que dirigiremos na Broadway, em 2014.

Há algum vídeo na internet que tenha feito você rir muito? Pode nos indicar?
Todos do Paulo Gustavo (ator que faz o programa '220volts' no MULTISHOW)


Se pudesse escolher uma música que representasse você, qual seria?
'Some People', do musical 'Gypsy'.


Obrigado ao Cláudio Botelho pela gentileza!

Saiba mais sobre o entrevistado em