Por Marcelo Ramos
A sociedade moderna usou o modelo-fábrica
como cenário para as cenas que envolviam questões profissionais das personagens
dos filmes de Hollywood e, consequentemente, das novelas latinas. Durante um
longo período, as vidas das personagens das telenovelas brasileiras foram
entrelaçadas com as fábricas e indústrias. Uma das novelas, inclusive, recebeu
o nome de ‘A Fábrica’, exibida pela TV Tupi em 1972. Isabel (Aracy Balabanian),
a protagonista, é dona de uma indústria de tecidos. Essa é ‘a fábrica’ do
título. Dentro da fábrica de tecidos aconteceram os grandes momentos da vida de
Isabel: seu pai, seu marido e seu irmão haviam morrido num acidente da fábrica.
Também é lá dentro que Isabel conhece Fábio (Juca de Oliveira), grande amor que
viveria na novela. Ainda em 1972, na TV Globo, Janete Clair fez uma adaptação
do romance estadunidense ‘Uma Tragédia Americana’, de Theodore Dreiser,
localizando a adaptação na capital do Rio de Janeiro. Em ‘Selva de Pedra’,
Cristiano Vilhena (Francisco Cuoco) tem que deixar a cidade natal, no norte
fluminense, e se esconder na capital do Estado do Rio, a segunda maior cidade
do Brasil em números de população (justificando, assim, o título da novela). No
Rio, Cristiano busca a ajuda de um tio milionário, Aristides (Gilberto
Martinho), dono de um estaleiro no porto do Rio. Todo o núcleo dos ricos girava
em torno das atividades no estaleiro e, dentro da firma os relacionamentos
pessoais eram desenvolvidos.
Na novela 'A Fábrica',exibida pela TV Tupi em 1972, Aracy Balabanian e Juca de Oliveira viveriam novamente um par romântico - dentro de uma fábrica de tecidos para corte e costura. |
O termo ‘yuppie’ - para a maioria que não conhece – é uma sigla para a
expressão em inglês ‘Young Urban People’
(pessoas jovens e urbanas). Essa expressão foi muito usada nos anos 80 para
definir jovens executivos das cidades grandes. Beto Bacellar (Marcos Frota),
Tadeu (Roberto Bataglin) e Augusto Souto Maia (Maurício Mattar) foram os três yuppies mais ‘transados’ dos anos 80 e
foi através dessas personagens que eu conheci o mundo da propaganda.
Beto Bacellar, o histérico
mocinho romântico de ‘Sassaricando’, era sócio do casal de sobrenome Salivas
numa agência de publicidade em um bairro elegante de São Paulo. Nascido e
criado em Belo Horizonte, Beto fora adulto para a capital de São Paulo, a
‘Meca’ dos publicitários do Brasil. Bem-sucedido, Beto dividia o aluguel de um
apartamento de estilo ‘pós-moderno’, com arquitetura de vanguarda e decorado
com móveis e acessórios de muito bom gosto. Na agência de Beto, seu amigo Tadeu
(Roberto Battaglin) – moço solteiro e sem família na cidade – funcionava como
diretor, auxiliar, criador de campanhas, um executivo ‘faz-tudo’. As funções
próprias de uma agência de publicidade não eram as convencionais. Apenas haviam
os dois diretores (com Tadeu subordinado a Beto), a secretária e o boy. Também
trabalhavam na fictícia ‘BB & Salivas’ a secretária seriíssima Bia (Bárbara
Thiré) e o office-boy boa-pinta
Maurício (Maurício Alves). Havia também a fotógrafa Camila Abdalla (Maitê
Proença), profissional liberal (na linguagem oitentista ‘free lancer’ - ou apenas ‘freela’-
era o nome dado aos profissionais da área que trabalhavam por conta própria,
sem se empregarem numa única empresa) que fazia as fotos das campanhas da BB
& Salivas. Tudo era muito belo, novo e cheio de glamour na agência da novela.
Alguns lançamentos verdadeiros foram feitos na novela, através dos publicitários Beto e Tadeu. A fábrica de brinquedos ‘Estrela’ (maior marca de brinquedos da época) usou a agência fictícia ‘BB & Salivas’ para promover sua última novidade em matéria de entretenimento: o ‘Pogo-Bol’ - uma bola colorida arrodeada por laterais redondas, semelhante à uma imagem do planeta Saturno e seus ‘aneis’ -, que virou febre nacional. Beto e Tadeu ficavam encarregados de lançar o produto na televisão brasileira e a novela mostrava a cena do processo de começo de criação da campanha do ‘Pogo-Bol’. A cena terminava com os dois executivos yuppies pulando no ‘Pogo-Bol’, vestindo terno e gravata, às gargalhadas. Ponto pra eles: o brinquedo virou mania nacional.
Alguns lançamentos verdadeiros foram feitos na novela, através dos publicitários Beto e Tadeu. A fábrica de brinquedos ‘Estrela’ (maior marca de brinquedos da época) usou a agência fictícia ‘BB & Salivas’ para promover sua última novidade em matéria de entretenimento: o ‘Pogo-Bol’ - uma bola colorida arrodeada por laterais redondas, semelhante à uma imagem do planeta Saturno e seus ‘aneis’ -, que virou febre nacional. Beto e Tadeu ficavam encarregados de lançar o produto na televisão brasileira e a novela mostrava a cena do processo de começo de criação da campanha do ‘Pogo-Bol’. A cena terminava com os dois executivos yuppies pulando no ‘Pogo-Bol’, vestindo terno e gravata, às gargalhadas. Ponto pra eles: o brinquedo virou mania nacional.
A maior campanha
publicitária realizada pela agência de Beto Bacellar foi mostrada na fase final
da novela: uma de suas clientes mais ricas e exigentes, Kiki Lavigne (Célia
Biar) era dona de uma confecção de underwear
masculina. ‘Cuecas Ding Dong’ era, como se chama na publicidade o produto-estrela da fábrica de Kiki, mulher
bastante espalhafatosa, que não perdia o porte elegante mesmo assim. O tipo de dondoca
rica que a atriz estava acostumada a viver no horário das sete. A madame criava
(ela mesma) letreiros, cartazes, slogans imaginários
para seu produto nada convencional: “As’
cuecas Ding Dong’...”, dizia ela enquanto fazia um gesto com a mão como se
o texto estivesse escrito num grande outdoor.
Foi um momento muito engraçado da novela, pois a importante cliente da agência,
autoritária e falante – promoveu, durante um bom período da novela, uma “caça
ao bumbum masculino” para ser o modelo da campanha de promoção das cuecas. Um
dia, o cunhado de Beto - o sempre zangado Jorge Miguel (o ‘Guel’) - foi até a
agência para passar mais uma espinafrada no publicitário, que estava muito envolvido
com sua irmã, Tancinha (Cláudia Raia). Tancinha já era a prometida do
caminhoneiro órfão Apolo (Alexandre Frota) desde criança. Namoravam debaixo do
chinelo de Guel, o homem de uma casa de quatro mulheres. Mesmo conhecendo Apolo
há muito tempo, Guel era machista e deixava Tancinha namorar somente porque não
tinha outra escolha. E no meio disso, Beto se apaixonara, à primeira vista, por
Tancinha e conseguiu tomar a moça do antigo namorado, quase noivo. Kiki olha
Guel falando alto, admirada com sua beleza e tem uma ideia “genial”: havia
achado o bumbum da sua marca. Claro que o mal-humorado Guel não gostou nem um
pouco da história e se recusa veementemente a ser o modelo da campanha de
lançamento das cuecas. Só que Kiki é milionária excêntrica e não desiste – ela
promove uma perseguição dos publicitários ao bumbum de Guel, que fica irado com
a proposta e foge de Kiki como o diabo da cruz.
Quando Beto e Tadeu
dão-se conta de que o ‘bumbum perfeito’ de Guel não vai mesmo ilustrar a
campanha das cuecas de Kiki, eles vão à caça de um bumbum ideal para a campanha
numa praia do litoral paulista. De bonés e óculos-escuros (apara não serem
reconhecidos) e binóculos em punho, deitam-se na areia e começam a examinar os
rapazes de sunga. Cena hilária. Um acha um possível modelo, numa roda de
conversa e pergunta a outro: “Que tal
este?” – e passa o binóculo para o outro. Não adianta nada, pois bumbum de
homem realmente não é o métier de nenhum
dos dois. Não sabem escolher, não tem a mínima noção. Aí nos foi apresentado o
trabalho de um publicitário. Da forma farsesca, típica das comédias rasgadas do
Sílvio de Abreu, mas é mostrado, pela primeira vez em uma novela, esse tipo de trabalho,
tão diferente, que o público das novelas só havia conhecido em raras novelas,
como ‘A Próxima Atração’, de Walter Negrão e ‘Pecado Capital’, nesta, através
do publicitário Nélio Porto Rico (Dennis Carvalho), em 1975.
Para finalizar o quiproquó
da seleção do modelo das ‘cuecas Ding Dong’, Kiki Lavigne decide pelo bumbum de
outro galã da novela: o caminhoneiro grosseirão Adônis (Rômulo Arantes). Este,
envolvido com Juana (Denise Milfont), aceita o convite para posar nu, no
estúdio de Camila, como modelo das cuecas de Kiki. O casal Juana e Adônis
termina a novela como modelos exclusivos da marca ‘Ding Dong’. Adônis tira a
barba, faz um corte de cabelo bem moderno e se transforma completamente em um
homem elegante. O que a moda não faz com uma pessoa, hein?
Esse espaço que me foi dado no blog vai
ser usado para eu relembrar cenas de novelas onde a publicidade e a moda usaram
da beleza dos atores para promover os próprios atores, os personagens ou
produtos lançados nas novelas. A lista é grande. Como especialista da área de
Estética e Cultura de Massa, vou trazer, nas minhas postagens para o blog, novas
questões sobre a exploração da beleza dos atores em várias situações da
história das telenovelas e das outras narrativas seriadas. Espero, de coração, que
gostem.
Agradeço, em
especial, a orientação constante de Gesner
Avancini no desenvolvimento desse novo projeto aqui dentro do blog.
putz, tipo de post que eu adoro ler, que leva a história da telenovela a sério em seus vários aspectos, principalmente os comportamentais.
ResponderExcluirNão lembrava das cuecas ding dong...tampouco da magnífica Célia Biar nessa participação...que falta faz esse tipo de atriz. Parabéns, Marcelo, mandou muito bem.
Boa tarde, algém tem algum vídeo ou foto do Maurício Alves o "Office Boy boa pinta" kkkkkk.
ResponderExcluirEle é meu pai, se alguém encontrae algo por favor me avisem, eu gostaria de fazer uma surpresa pra ele. Desde já agradeço. Meu email é raiza.joseyuri@gmail.com