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terça-feira, 25 de junho de 2013

Um nazista pela primeira vez, numa novela das seis!!!


                                                                                                                      Por Daniel Pilotto

Uma das tramas que tem chamado bastante a minha atenção na novela das seis, FLOR DO CARIBE de Whalter Negrão, é a história de Dionísio e Samuel. Para um fã de tudo que se ambienta no período da Segunda Guerra Mundial, como eu, poder ver que pela primeira vez está sendo mostrado numa novela de televisão um resquício daquilo que foi uma das grandes tragédias da humanidade, o holocausto, se torna definitivamente um atrativo a mais para acompanhar.


Geralmente as tramas relacionadas à Segunda Guerra mundial e a ação perversa do nazismo contra os judeus e suas consequências ficavam restritas apenas as minisséries e novelas de época.

A primeira trama de novelas a abordar este período da história foi O SHEIK DE AGADIR (1967) de Gloria Magadan. A trama foi uma adaptação de um livro de Gogol, transposto para o período da Segunda Guerra. Na trama eram retratadas a ocupação nazista na França e sua influência num reino Árabe. Pela primeira vez era possível ver atores brasileiros vivendo personagens nazistas, como o coronel Otto Von Lucken (Mário Lago), o oficial e espião Hans Stauben (Emiliano Queiroz) e Frieda (Márcia de Windsor). Os atores que viveram os nazistas ganharam antipatia do público logo de cara. Emiliano Queiroz sentiu na pele a rejeição pelo personagem, o público da época ainda não distinguia ficção de realidade e o ator chegou a ser agredido por uma telespectadora no Rio de Janeiro, após ter ido ao ar o capítulo em que seu personagem assassinava friamente um dos mocinhos da novela vivido por Cláudio Marzo.

O período e os nazistas só seriam retratados novamente nas minisséries A E I O URCA e AQUARELA DO BRASIL.
Em A E I O URCA (1990) de Antonio Calmon e Doc Comparato os nazistas estavam infiltrados no Brasil, mas precisamente no Rio de Janeiro do final dos anos 30. Na trama a jovem Sílvia (Débora Bloch) se vê envolvida numa interessante trama de espionagem típica dos filmes de Hollywood da década de 40. Com seu pai preso por comunismo ela é chantageada por Jofre (Raul Cortez) um nazista que a obriga a se casar com o inglês Michael (Herson Capri) e conseguir dele um mapa de uma importante mina de urânio. Esta trama se assemelha bastante ao filme INTERLÚDIO de Hitchcock, no que se refere ao fato de que alemães nazistas estavam infiltrados sob outras identidades no país, com o objetivo preciso de extrair urânio (importante mineral utilizado em armamentos) das ricas minas brasileiras.
 

Em AQUARELA DO BRASIL (2000) de Lauro César Muniz o foco era outro. Na minissérie ambientada nos anos 40 existiam duas tramas bem distintas relacionadas ao nazismo. Na primeira parte o personagem Felipe (Marco Ricca) tio da mocinha da história Isaura (Maria Fernanda Cândido) se vê relacionado num esquema de espionagem nazista. Ele é confundido como colaborador, responsável por transmitir códigos cifrados através de um sinal de rádio, captado pela contraespionagem do exército brasileiro. Como ele tinha feito parte da Ação integralista em sua juventude e fichado na polícia em 1938, todas as suspeitas recaem sobre ele. No decorrer da trama se descobre o envolvimento dos vizinhos de Isaura, os alemães Max Bronstein (José Steinberg) e Ruth Bronstein (Ivone Hoffman) como os verdadeiros responsáveis pelas transmissões espiãs captadas pelo exército.
Outro destaque da minissérie é a trama de Bella Landau (Daniela Escobar), responsável por discutir o drama dos refugiados de guerra.
A jovem havia sido salva de um campo de concentração nazista por Axel Bauer (Felipe Kannemberg) oficial do exército de Hitler, que se apaixona por ela. Ele foge como desertor e vem acompanhado dela para o Brasil. Um dos grandes dilemas vividos por Axel e Bella é que ele como alemão nazista não pode desembarcar no país sem ser preso pelo exército. O conflito se estabelece, inclusive com os outros personagens judeus da história que não compreendem o amor entre a jovem e o alemão.


As duas minisséries são exemplos de tramas de época que trataram o tema, de maneira bastante correta e com todo o lado histórico que uma produção destas exige.

Uma abordagem atual, sobre os desdobramentos deste período trágico do passado nos nossos tempos é pouco comum na Teledramaturgia.
Em 1979 a Bandeirantes levava ao ar a novela de Vicente Sesso CARA A CARA. A história girava em torno de Ingrid Von Shubert (Fernanda Montenegro) uma mulher que retornava ao Brasil após muitos anos em busca do filho arrancado de seus braços após nascer num campo de concentração nazista.
A trama apenas se referia a este momento no passado da personagem. O mote principal da trama era sua busca por este filho nos dias atuais e as complicações decorridas pelo tempo.

Em FLOR DO CARIBE ela é a base de uma história e da vida de dois personagens bem interessantes que após muitos anos de terminada a guerra na Europa acabaram por se encontrar na ensolarada Rio Grande do Norte.
Samuel Achcar Schneider (Juca de Oliveira) é um dos sobreviventes da ação nazista em Amsterdã, Holanda. Quando criança viu seus pais entregarem toda sua fortuna para um homem misterioso, com a promessa de que conseguiriam escapar dos nazistas e fugir da Europa. O homem misterioso era Dionísio Albuquerque (Duda Mamberti, na fase das lembranças de Samuel e Sérgio Mamberti na fase atual), e ele na realidade era uma espécie de informante do regime de Hitler em meio aos judeus, entregando-os aos soldados nazistas depois de arrancar tudo o que tinham de valor.


O interessante nesta trama de FLOR DO CARIBE é que Samuel vai se recordando de seu passado aos poucos. No início da história ele não faz idéia de que Dionísio, o empresário milionário dono de todas a salinas da região e avô do marido de sua filha seja o algoz de sua família no passado.
Suas recordações vão sendo despertadas na medida em que ele toma contato com objetos da época.
Samuca (Vitor Figueiredo), filho de Esther (Grazi Massafera) e neto de Samuel encontra por acaso numa brincadeira no quarto de Dionísio uma cruz nazista, uma condecoração por serviços prestados ao Führer e leva até a casa do avô. O contato com o objeto o faz lembrar mais claramente de seu passado e ele sai em busca de maiores detalhes.
Num segundo momento ele encontra no quarto do empresário um relógio antigo com uma inscrição em hebraico, que pertenceu ao seu pai. Logo após Doralice (Rita Guedes) a empregada da mansão consegue uma foto antiga de Dionísio num álbum de retratos e quando ele a vê, mata a charada, Dionísio foi o responsável pela morte de seus pais.


Dionísio representa os nazistas que conseguiram escapar da Europa antes de serem presos ao final da Grande Guerra em 1945. Há diversos relatos de que muitos deles vieram se esconder na América do Sul. O mais famoso de todos é o médico nazista Josef Mengele. Considerado o “anjo da morte” foi o maior responsável pelo extermínio de judeus nos campos de concentração da Alemanha. Passou grande parte da vida escondido na Argentina e terminou seus dias no Brasil, sem ser punido por seus crimes.

Já Dionísio, vive na fictícia Vila dos Ventos da novela, e mantém no subsolo de sua mansão uma espécie de bunker com toda a riqueza que conseguiu roubar dos judeus. Em meio a jóias, objetos e telas de pintores famosos dadas como perdidas ele relembra as maldades do passado.
Mas como nas novelas em muitos casos existe justiça, parte de seus segredos já está vindo à tona. E quem sabe, pelo menos na ficção, um nazista fugido e nunca encontrado conseguirá ser punido.


O único senão em torno da trama é a idade dos atores escolhidos para os personagens. Juca de Oliveira nem tanto, pois o ator já está com 78 anos, portanto na época da Guerra ele podia muito bem ser representado por uma criança como a que foi usada nas cenas de memória. Agora Sérgio Mamberti, com toda a certeza está vivendo um personagem com muito mais idade do que tem. A parte das memórias de Samuel data de 1944, portanto Dionísio (se seguirmos a lógica de que Sérgio Mamberti tem 74 anos) teria que ter na época apenas 13 anos. Talvez o erro tenha vindo da direção ao escolher Duda Mamberti, o filho do ator para viver esta primeira fase. Quem sabe um ator mais jovem com no máximo 20 anos chamaria menos atenção para o disparate da idade.
Enfim, estes são apenas detalhes. Felizmente a trama, muito mais rica e interessante consegue se sobrepor a isto e torna FLOR DO CARIBE uma das gratas surpresas do horário.

9 comentários:

  1. Parabéns, Daniel! Excelente texto. Esse é um tema de que não podemos nos esquecer. Em Vida Nova, Benedito Ruy Barbosa escreveu uma cena linda em que Ruth (Deborah Evelyn) conta aos pais (José Lewgoy e Miriam Mehler) como foi que os nazistas invadiram a casa de seus tios na Alemanha. Cena inesquecível e comovente, com um show de Deborah!

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    1. Lembro bastante desta cena que você citou Walter de Azevedo, da novela VIDA NOVA, e realmente era comovente. Este período da história precisa sempre ser revisitado, para nunca ser esquecido!!!!! Obrigado pelo teu belo comentário!!!!!

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  2. Respostas
    1. Obrigado Sandra, fico feliz que tenha gostado!!!!!!!

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  3. "O texto é ótimo!"

    Suzana Pires, Colaboradora na autoria da novela Flor do Caribe [via twitter]

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  4. Puxa, receber um elogio de quem está escrevendo a novela não tem preço!!!!!!! AMEI!!!!!

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  5. O Dionísio, vulgo Klauss Wagner, tem uns 100 anos, tirando por fora. Por fora. Considerando que na época em que traiu a família de Samuel, provavelmente já era um oficial nazista, não poderia ser um homem de muito pouca idade para ocupar tal posto, e as lembranças do Samuel não nos deixam mentir. Acho que esse é o motivo de o Dionísio ser retratado como um homem já de meia idade e ser representado pelo Duda. O único problema da questão é considerar que dos anos 40 para cá, já se foram quase 70 anos... Se ele tinha por volta de 30 no período da Segunda Guerra, já passou dos 100. Matusalém de rodinhas, mesmo!!! A trama está realmente bem bacana, não só a HIStória de Samuel e Dionísio, como todo o seguimento; está valendo a pena assistir! E não faço essa observação sobre o Dionísio como uma crítica; pelo contrário, acho certa graça em imaginar a possível idade real do velho nazista. E também, de pensar que Sérgio, 4 anos mais novo que o espetacular Juca, interprete um personagem consideravelmente mais velho que seu companheiro, invertendo os papéis dentro da trama! Hehehe... Um abraço, parabéns pela matéria! :) God Bless you!

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  6. estudando aqui para uma apresentação sobre o nazismo e facismo,olha o que encontrei ,texto muito bem elaborado,onde concerteza irei citar em meu seminario...parabéns DANIEL...

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  7. Alguem sabe a musica tema musical do dionisio quando mostra as partes nazistas , aquele tema bem triste ! Pf quero saber o nome ! Manda para o meu e-mail gabrielmelazzo@hotmail.com obg

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