De Isaac Santos
Capítulo 5
Cena 1. Hospital. Recepção. Interior.
Dia.
Davi
ainda tentando acalmar Olga. Estão saindo do hospital.
Olga – Eu não precisava saber
de nada disso. (desequilibrada) Eu não quero isso pra mim!
Davi – Calma, mocinha!
Cena 2. Ônibus. Interior. Dia.
São
poucos os passageiros. Davi e Olga se sentam mais afastados e continuam a
conversar, discretamente.
Davi – Deixa um pouco de lágrimas pra quando chegar em casa. (tentando descontrair)
Olga – Tá
incomodado, senta em outro lugar.
Davi – Eu só
tava tentando ser agradável.
Olga – É, mas tá sendo
totalmente inadequado.
Davi – É que você fica aí
parecendo que tá morrendo...
Olga (interrompendo) – Devo fingir que tá tudo lindo, sob
controle? Você nunca vai saber o que
é isso. (ferina) Você não é mulher!
Cena 3. Pousada Em Família. Quarto de
Clotilde. Interior. Dia.
Clotilde
animada, cantarolando "alô alô responde" enquanto arruma a sua mala.
Fusão para
Fusão para
Cena 4. Orfanato Emanuel. Quarto da
madre. Interior. Dia.
Flashback
Clotilde
e Olga estão com 10 anos. Cantam, envolvidas pelo som de Carmem Miranda e Mário Reis. Irmã Pureza
entra, discretamente. Clotilde e Olga
demonstram ótima afinação e afinidade como dupla:
♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫
Alô, alô,
responde
Se gostas mesmo de mim de verdade
Alô, alô, responde
Responde com toda sinceridade
Alô, alô, responde
Se gostas de mim de verdade
Se não respondes
O meu coração é lágrima
Desesperado vai dizendo
Alô, alô
Ai se eu tivesse a certeza
Desse seu amor
A minha vida seria
Seria um rosário em flor
Responde então
Alô, alô
Continuas a não responder
E o telefone
Cada vez chamando mais
É sempre assim
Não consigo ligação meu bem
Indiferente não se importa
Com os meus ais
Se gostas mesmo de mim de verdade
Alô, alô, responde
Responde com toda sinceridade
Alô, alô, responde
Se gostas de mim de verdade
Se não respondes
O meu coração é lágrima
Desesperado vai dizendo
Alô, alô
Ai se eu tivesse a certeza
Desse seu amor
A minha vida seria
Seria um rosário em flor
Responde então
Alô, alô
Continuas a não responder
E o telefone
Cada vez chamando mais
É sempre assim
Não consigo ligação meu bem
Indiferente não se importa
Com os meus ais
♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫
Ao
final da música Irmã Pureza aplaude.
Irmã Pureza –
Estão de parabéns, meninas. Mas tentem ouvir e cantar mais baixo. (sorri)
Clotilde
e Olga se entreolham e sorriem também.
Clotilde – A
senhora tava aí o tempo todo?
Olga – Ai que vergonha!
Irmã Pureza – Eu entrei bem no início dessa música “alô alô”... E tava aqui me segurando. (descontrai)
Olga
gargalha e Clotilde não segura o riso.
Irmã Pureza – A
irmã Gertrudes que pediu pra eu dar uma olhadinha em vocês. Porque vocês gostam de aprontar, né suas sonsinhas? (riso)
Clotilde –
Mas a gente tá só ensaiando mesmo, irmã.
Olga – É, tá tudo bem...
Fim
do flashback.
Corta
para
Cena 5. Pousada Em Família. Quarto de Clotilde. Interior. Dia.
Telma
entra e se oferece pra ajudar Clotilde a arrumar a mala.
Clotilde – É, eu sou uma sortuda de você estar me ajudando. Você tem sido uma mãe pra mim, Telma.
Telma – Ah, você é uma querida.
Clotilde – Tomara que a Olga também esteja se
arrumando na vida.
Cena 6. Casa de Davi Valério. Jardim.
Exterior. Dia.
Davi
e Olga estão chegando do hospital.
Davi – Vai entrando que
eu ainda vou ficar por aqui um pouco. (acende um cigarro)
Olga – Ei, me perdoa... Eu fui muito
injusta contigo. Me perdoa?
Davi – Tá bem... Perdoo sim.
Se
abraçam e caminham pra dentro da casa.
Cena 7. Casa de Davi Valério. Suíte de
Davi. Interior. Dia.
Davi
tomando banho de chuveiro, porta entreaberta. Olga sentada na cama. Estão em
conversa adiantada.
Olga – Eu não quero isso dentro de mim, mas tenho
medo de tirar... Só ela pode me ajudar a decidir. Entende?
Davi – Depois de você dizer que não queria mais saber dela, que de
agora em diante era cada uma por si... Não, não entendo.
Olga – Mas você vai comigo
amanhã?
Davi – (sai do banheiro enrolado numa toalha) Sentada na minha cama com essa roupa de hospital, Olga?
(Olga levanta) Vou não. Você sabe como chegar lá?
Cena 8. Casa de Telma. Cozinha.
Interior. Dia.
Telma
e Clotilde estão terminando de almoçar. Em conversa avançada.
Clotilde – Claro que é brincadeira... Aquele pão, com o cargo que tem, não vai se interessar por uma camareira.
Telma – Não, não é,
Clotilde. Ele vive me perguntando sobre você, querendo saber coisas de tua vida...
Clotilde – Eu nunca me senti atraída por garoto nenhum,
nem nunca me achei atraente.
Telma – Se eu não tivesse visto você totalmente nua, lá na
recepção da pousada, até acreditaria nisso.
Clotilde – Do jeito que você fala até parece que quer que eu me jogue nos braços
dele... Vamos com calma, né?
Telma – O Alexandro
é meu amigo, um querido. Se for pra vocês se conhecerem melhor eu dou a
maior força.
Telma
se levanta e começa a retirar as coisas da mesa.
Clotilde
(começa a ajudar a desfazer a mesa) – Deixa que eu lavo os pratos.
Telma – Você
lava e eu seco. Mas lave direitinho, principalmente os copos porque eu detesto
que fique com aquele cheiro de ovo.
Cena 9. Casa de Davi Valério. Cozinha.
Interior. Dia.
Olga
e Davi estão almoçando.
Olga – Sabe que tá uma
delícia essa farofinha?
Davi – Isso porque você não é chegada numa boa linguiça. (risos) Eu
adoro!
Olga (interessada noutro
assunto) – Falando sério, tem risco de eu morrer tomando aquele chá?
Davi – Menina, já te disse
que não ia brincar com isso.
Olga – Tenho medo de morrer, Davi.
Davi – Lógico que tomar esse tipo de chá não é a mesma coisa de beber água. Mas você não quer se livrar do que tem aí dentro? Você não é mais
criança, né Olga? Vamos parar de ficar bancando a coitadinha, desprotegida o
tempo todo.
Cena 10. Centro da Cidade. Rua Chile. Exterior.
Dia.
Telma
e Clotilde caminham pelo passeio, já perto da entrada do hotel. Estão vestidas
com elegância e bom gosto.
Clotilde –
Será que eu não to arrumada demais pra uma futura camareira, Telma?
Telma – Você tá ótima! E não é pra se fazer de desentendida se ele
demonstrar interesse.
Clotilde –
Combinado. (avistando a loja Duas Américas) Ó, na volta a gente dá uma
passadinha ali na loja Duas Américas, que eu quero conhecer a tal escada rolante.
Telma – Mas agora se
concentra no que a gente veio fazer. Ele já vai acertar todos os detalhes do
emprego. (entram no saguão do hotel)
Cena 11. Hotel Palace. Recepção.
Interior. Dia.
Telma
e Clotilde se anunciam na recepção e são acompanhadas por uma funcionária até a
antessala da gerência.
Cena 12. Hotel Palace. Sala da Gerência.
Interior. Dia.
Alexandro
(40), o gerente, está em conversa avançada com um velho amigo, quando entra
a sua secretária.
Secretária – Senhor Alexandro, elas chegaram...
Alexandro (faz
sinal com a cabeça e a secretária se retira) – Você volta aqui na próxima
semana pra gente já acertar todos os detalhes. Eu quero
inaugurar o bar no próximo mês. (objetivando) Então, combinado. (se despedindo do amigo) Deixa eu te acompanhar até a porta.
Cena 13. Hotel Palace. Antessala da Gerência.
Interior. Dia.
Alexandro
abre a porta, seu amigo deixa a sala. Ele cumprimenta Telma e Clotilde à
distância e pede que a secretária entre. Clotilde cochicha
algo pra Telma.
Clotilde – Telma, tu reparou naquele moço que acabou de sair da sala?
Telma – Como assim reparar?
Clotilde –
Não sei... Tenho impressão de já o conhecer.
Telma – Ah!, pode ter sido
no outro dia que a gente teve aqui. (concentrada) E você tem gente mais
interessante em quem pensar. (pisca o olho pra Clotilde). Viu que ele te olhou todo
diferente quando abriu a porta?
Clotilde – Exagero seu!
Telma – Ó, eu vou no
banheiro... (sai apressada)
Clotilde (consigo)
– Não... Da época do orfanato, impossível. Raras vezes a gente via algum moço
por lá. Eu me lembraria. Da pousada? A Telma teria reconhecido. Ah, mas tenho quase
certeza... Aquele rosto, aquele jeito dele...
Cena 14. Loja Duas Américas. Interior.
Dia.
Davi
Valério entra na loja e sobe a escada rolante apenas para experimentar a
novidade.
Davi (consigo) – Parece que
as coisas agora estão realmente começando a dar certo.
Sobe e desce as escadarias duas vezes seguidas até perceber
que está chamando atenção pelo excesso. Sai radiante e apressado como quem quer
gritar pro mundo o motivo de sua alegria.
Cena 15. Praia do Rio Vermelho. Exterior.
Dia
Davi
Valério correndo pro mar com roupa e tudo. Ele esbanja felicidade.
Davi – Odociaba Iemanjá, odoiá...
Salve, salve, minha Mãe!!!
Corta
para
Fim
do 5º capítulo.
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