Por André Araújo
Janete Clair era como a
própria se definia, uma incorrigível romântica. Mas não uma romântica morna. Suas
histórias aconteciam de fato e não havia quem não se impressionasse com seus
enredos. Janete era mestra também
na arte de criar enredos envolvendo personagens duplos. Sempre funcionou.
Escritora de vanguarda, já em seu primeiro trabalho para TV, a autora de “Véu
de Noiva” (TV Globo, 1969), brincou com gêmeos, sósias, troca de personalidade,
influenciada por Os Irmãos Karamazov de Dostoievsky. Foi assim com Lara e
Diana de Irmãos Coragem, com Simone e Rosana de Selva de Pedra, com Hugo e Raul de O Semideus e, na sua
última novela das oito, SÉTIMO SENTIDO, vieram as inesquecíveis Luana Camará e
Priscila Caprice, que roubaram todas as atenções para si.
A novela era
basicamente sobre a marroquina Luana Camará que volta ao Brasil para tentar recuperar sua fortuna,
roubada pela família Rivoredo. No passado, Antônio Rivoredo passou para o seu
nome os bens dos pais de Luana, quando estes foram obrigados a se exilar por
problemas políticos, no período Vargas. O patrimônio da família Camará, no
entanto, nunca foi devolvido pelo velho Rivoredo, que morreu devendo prestar
essa conta.
A trama, tida por alguns
como confusa, gerou polêmicas e a autora enfrentou graves problemas com a
censura e a imprensa durante todo o período em que sua história esteve no ar, uma
vez que o drama da protagonista
Luana Camará, uma paranormal tão bem interpretada por Regina Duarte, que sofria
o transtorno da dupla personalidade, gerou muita controvérsia; a maior de
todas: Luana Camará tinha seu corpo tomado pelo espírito da famosa atriz
italiana Priscila Caprice, já falecida, que não só se recusava a ir embora, como
também se casou com Tião Bento (Francisco Cuoco), arqui-inimigo da aparentemente
frágil heroína.
Mestra em valorizar
tramas paralelas de todas as suas novelas, desta vez, Janete Clair preferiu
apostar tudo na trama principal e não fez feio. Apoiada pelo público, o Brasil
inteiro se deliciou com a personagem Luana Camará que, aos vinte e sete anos, retorna
ao Brasil, vinda de Casablanca, Marrocos, disposta a recuperar a fortuna de seu
pai que, anos antes, havia sido roubado pela inescrupulosa família Rivoredo, os
todo-poderosos de PEDRA LINDA (RJ), cenário principal da trama. Como se não
bastasse sua luta em reaver tudo que sua família perdera, a pobre heroína se vê
em apuros, uma vez que se apaixona pelo bonitão Rodolfo Rivoredo, o Rude
(Carlos Alberto Ricelli), um dos três herdeiros do patrimônio que na realidade pertencem
à Luana.
Casado com a possessiva
Helenice (Beth Goulart), Rude deixa a esposa para viver sua história de amor
com Luana. [A censura não liberava as cenas de amor de Carlos Alberto com
Regina Duarte se o personagem do ator não se separasse de fato].
Mesmo disposta a não
desistir de sua luta em recuperar os bens que foram roubados de seu pai, Luana
não obtém sucesso e se vê obrigada a voltar pro Marrocos. Algum tempo depois retorna,
mas já possuída pelo espírito da falecida atriz Priscila Caprice. [A novela
entra noutra fase acentuada pela nova personalidade de Luana, que se envolve
com Tião Bento, o grande vilão da trama.] Numa cena inesquecível, Tião e
Priscila se casam num ritual cigano.
Mas a felicidade dos dois não dura muito e
uma nova reviravolta acontece na história: Luana volta a assumir seu corpo e se
afasta de Tião, gerando novos conflitos. É quando surge na trama a parapsicóloga
Célia (Jacqueline Lawrence), que desvenda o fenômeno vivido por Luana, usando a
terapia de regressão de memória. Numa encarnação passada, Luana e Priscila, respectivamente Luciana e Maria Pia, eram irmãs gêmeas
e agora se reencontravam, 72 anos depois, para um acerto de contas, que seria a descoberta do
paradeiro da pequena Cila (Isabela Bicalho), filha legítima de Priscila. E isto
ocorre depois de um sonho revelador de Luana.
[Cenas do Vídeo Show / you tube]
Com o “desaparecimento”
do espírito de Priscila Caprice, que acontece depois do reencontro com sua
filha, Luana Camará assume de vez sua própria personalidade e passa a se
relacionar novamente com Rude Rivoredo, mas Tião Bento, redimido e apaixonado
pela heroína, resolve lutar pelo amor de Luana, que fica indecisa pelos dois. No
final, Luana tem uma visão onde um homem é morto a tiro e acredita que se trata
de Tião, que está na mira de Jorge (Otávio Augusto), funcionário desonesto das
empresas comandadas pelo “marido” de Priscila Caprice. Ela então corre em
socorro ao amado, gritando que o ama, mas quando se aproxima do vulto caído no
chão entra em choque, pois quem está ali é Rude, que ouvira seus gritos de amor
ao rival, optando por sair de cena. Rude, que ficou sabendo da armadilha
preparada por Jorge, chegou ao local do encontro disposto a salvar Tião, mas
foi confundido com o outro, levou o tiro em seu lugar. O personagem consegue
escapar da morte.
[vídeo: Memória da TV]
Luana e Tião ficam
juntos, criam a filha de Priscila e ainda se tornam pais de um bebê. Segundos
antes da cena final, o espírito de Priscila Caprice aparece no jardim da casa
do casal como se estivesse ali para se certificar da felicidade deles e desejar
boa sorte. Com um largo sorriso, sua marca registrada, a atriz faz-se notar por
Luana e desaparece.
Mesmo perseguida pela
censura Janete Clair levou sua história adiante com sucesso de audiência e
muitos aplausos de todo o público. A novela foi exibida entre março e outubro de 1982. SÉTIMO SENTIDO foi a última novela das oito escrita pela novelista, que contou com a colaboração de Sílvio de Abreu em sua reta final.
Com uma média de
sessenta pontos de audiência, Sétimo Sentido foi um grande sucesso, mais uma
vez ratificando a autora Janete Clair como a grande dama do horário nobre da
Rede Globo. Um dos maiores nomes da teledramaturgia brasileira.
Criadora de tramas de amor como ninguém, Janete investia, de corpo e alma, no universo desses romances, com suas indas e vindas, enlaces e desenlaces, mas sem perder o foco: O AMOR! Grande Mestra!
ResponderExcluirLindo texto!
Sou muito curioso com relação a essa novela. Meu sonho é ver o capítulo do julgamento da Luna... O último capítulo no youtube não matou a curiosidade.
ResponderExcluirRaul Carneiro
Novelão. Adoraria ver!
ResponderExcluirAlexandre Altomare
Queria ver como foi o trabalho da Regina ... ela e a Janete Clair eram duplas imbatíveis!
ResponderExcluirWillian Ribeiro
Novela maravilhosa.
ResponderExcluirThais Delgado
Quero muito ver. Seria mais uma da Regina pra mim, a única que falta de 80 pra cá.
ResponderExcluirDaniel Jorge
Grande Janete Clair!! Suas novelas prendiam o telespectador do início ao fim...
ResponderExcluirOscar Gouldman
Janete era uma grande novelista mesmo: criativa, inovadora, envolvente e romântica, o que considero essencial nas novelas.
ResponderExcluirMeu amigo André, grande especialista em Janete Clair! Grande escritor tb!
ResponderExcluirMestra das telenovelas: Janete Clair e a maravilhosa atriz Regina Duarte! Trabalho emocionante!
ResponderExcluirEduardo de Moraes
Por favor rede grobo coloque replise desta novela linda, sétimo sentido
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