RAIO LASER
NOVELA DE DAVI VALLÉRIO E ALEX SPINOLA
ESCRITA POR ALEX SPINOLA
CAPÍTULO 12 - ÚLTIMO
CENA 01. MOTEL BEIRA DE ESTRADA. QUARTO. INT.
MADRUGADA
Eva dorme aquele sono profundo dos bêbados. Caolho a observa,
percorrendo o corpo com o único olho que lhe resta. Ele morde os lábios e passa
a boliná-la. Suas mãos exploram cada parte do corpo dela. Eva acorda.
EVA: (ainda bêbada) Quem é? O quê que foi? (percebe, empurra Caolho)
Tiras essa patas de cima mim! Tá louco, cara?!
CAOLHO: (agarra) Tô louco na senhora! Muito gostosa!
EVA: (dá-lhe um bofetão) Toma a gostosa, seu tarado filho da puta!
Caolho revida o bofete e começa a rasgar o vestido dela.
CAOLHO: Isso bate. Bate mesmo, (beija o pescoço dela), coroa gostosa!
EVA: (grita) Me solta!
Caolho a silencia com uma mão, enquanto a outra explora as partes
íntimas de Eva. Eva esperneia, se agita e consegue gritar:
EVA: Socorro!
CAOLHO: (monta sobre ela) Isso! Grita que eu gosto!
Num ESTRONDO a porta do quarto se abre. Caolho se vira. Neco lhe acerta
um tremendo soco na cara. Caolho cai no chão, passa a mão pelo rosto e sente o
sangue verter pelo nariz.
CAOLHO: (já se erguendo) Eu te mato, seu filho da puta!
NECO: Mata mesmo?
Neco acerta um chute violento nas fuças de Caolho. O garoto desmaia.
CORTA PARA:
CENA 02. MOTEL. OUTRO QUARTO. INT. MADRUGADA
Neco a limpar o sangue de Caolho de suas botas de cowboy. Eva zanza de
um lado para o outro.
EVA: Desgraçado!
NECO: É desse jeito que você me agradece?
EVA: Você me abandonou!
NECO: Você queria que ficasse lá? Esperando a bala do Sebastião? Claro
que eu não ia ficar! Não sou otário! Me entoquei aqui! Bem longe da cidade!
Eva investe contra ele.
EVA: Filho da puta! Aquele desgraçado quase me matou!
NECO: (a segura pelos ombros) Quase! Mas não matou! Você tá aqui e eu
também!
EVA: Grande merda! Dois fodidos! E com aquele taradinho de merda do
Caolho apagado lá no outro quarto!
NECO: Ia pra onde com aquele lixo? Usar ele pra se vingar do Lauro? Tem
que fazer a coisa certa dessa vez.
EVA: O quê?
NECO: Com aquele fresco, na dá pra ficar de vingançazinha. A gente tem
que dá um golpe nele pra nunca mais se levantar.
Ele se aproxima dela e faz um carinho.
NECO: Onça brava. Tava com saudade de você!
EVA: (empurra) Saudade é o caralho!
NECO: (abraça) Não faz assim. Você sabe que eu gosto de você. E eu sei
que você gosta de mim.
EVA: Ninguém gosta de ninguém. Foi só necessidade. A gente só se
combinou.
NECO: Que seja. E a necessidade agora é acabar com aquele maldito do
Lauro, e nisso, a gente também combina.
Eva vai dizer alguma coisa. Neco a silencia com um beijo.
CORTA PARA:
LEGENDA: ALGUNS DIAS DEPOIS.
CENA O3. PREFEITURA DE TORRENTES.GABINETE. INT. DIA
Sebastião dando expediente. Ele assina alguns papéis. Lídia chega.
SEBASTIÃO: Oi, Lídia?
LÍDIA: Como que você tá, Sebastião?
SEBASTIÃO: Dói pra diabo. Mas não dando gangrena já tá bom.
LÍDIA: O senhor já deve ter recebido o convite meu casamento com o Lauro, não
é?
SEBASTIÃO: Recebi, sim. Se eu for, vai ser só por causa de política, que aquele
cabra de brinquinho na orelha, do jeito que é chegado num escândalo, pode me
aprontar outra falseta.
LÍDIA: E quem disse que aquilo tudo que aconteceu tem a ver com o Lauro? Foi
a garotada que espalhou aquelas fotos. Qualquer um pode ter tirado. Inimigo
político é o que não falta.
SEBASTIÃO: Escuta aqui: eu só perdi um braço. O juízo continua
no mesmo lugar. Eu sei muito bem quem é o meu inimigo. Não tenta me fazer de
idiota.
LÍDIA: Claro que não. Esse posto é a dona Eva.
SEBASTIÃO: (olhar de ódio) Some daqui!
LÍDIA: Com o maior prazer. Tenho muita pra resolver!
Lídia vai embora. E na cara de ódio de Sebastião,
CORTA PARA:
CENA 04. MANSÃO DE LAURO. SALA. INTERIOR. DIA
Malu aflitíssima diante Lauro.
MALU: Eu não acredito que você vai fazer isso, Lauro?
LAURO: (franco, sem magoar) Malu, eu sempre fui franco com você. Eu sempre
amei a Lídia, nunca escondi isso.
MALU: (dura na queda) Coisa de juventude. Paixão recolhida. Amor você teve
comigo...
LAURO: Paixão eu tive por você, Malu. Amor eu tenho com a Lídia.
MALU: (se exalta ao ouvir essa verdade incômoda) Eu não acredito que você
esqueceu tudo o que a gente viveu, pra se enfurnar nesse faroeste, pra ficar
com uma caipira, e ainda por cima com uma louca a solta... Você acha que eles
vão deixar isso barato? Claro que não! Você tá sentado num barril de pólvora
prestes a explodir, cara!
LAURO: Chega, Malu! Sentimento a gente não fica botando na ponta lápis, igual
você tá fazendo, a gente só sente, eu sei que você não é mulher de ficar dando
murro em ponta de faca, eu sei que você tem sensibilidade pra saber...
MALU: (corta) Não fala mais nada, Lauro. Eu não quero ouvir.
Breve silêncio. Malu sai.
LAURO: Roger, pode aparecer, que eu sei que você ta por aí.
ROGER: (chegando) Tô mesmo. Pegou pesado, hein?
LAURO: Eu sei. Fiquei mal.
ROGER: Eu não tiro a razão dela. Sentimento é sentimento. Mas não ela foi
nem um pouco dramática quando disse que você tá sentado num barril de pólvora.
LAURO: Eu sei disso. Pesei a mão. Não era pra ter sido tão rápido. Mas
não tinha outro jeito. Eu precisava neutralizar aquele bando.
ROGER: E a Lídia, nisso tudo?
LAURO: Ela sabe que não tinha outro jeito. Ela ficou mal. Mas me apoiou.
CORTA PARA:
CENA 05. IGREJA DA SALVAÇÃO. SALÃO. INTERIOR. DIA
Lídia a organizar a decoração do salão com a ajuda de dona Sofia.
LÍDIA: (nota o jeito dela) O que, dona Sofia?
SOFIA: É que me contaram que viram a caminhonete da dona Eva rondando a
cidade.
LÍDIA: Imagina, dona Sofia, isso é invenção do povo. É que as pessoas ficaram
impressionadas com tudo o que aconteceu e acabam vendo coisa onde não tem.
SOFIA: Sei não, minha filha.
Lídia segue até a porta da igreja. Dona Sofia a acompanha.
LÍDIA: É sempre uma possibilidade, dona Sofia. Ela vai sempre ser uma nuvem
negra na nossa vida, mas vai dar tudo certo.
SOFIA: (mais animada) Se Deus quiser!
LÍDIA: Amém.
BLECAUTE E CORTE PARA:
CENA 06. IGREJA DA SALVAÇÃO. SALÃO. INT. NOITE
Cerimônia de casamento em andamento. Igreja repleta de convidados. Dona
Sofia, doutor Miguel, Amanda, Roger e até Sebastião, que foi para demonstrar
boa vontade. Toca os acordes iniciais da estilizada marcha nupcial do grupo “QUEEN,
The Wedding March”, uma provável escolha de Lauro. Lídia entra
lindíssima, ao lado de Beto. Emoção nos olhos de Lauro. Noiva entregue. Os
amigos se abraçam. Padre Manoel abre a celebração.
LAURO: (cochicha para Lídia) Nossa! Como a gente gosta de casar.
Ela ri.
CORTA PARA:
CENA 07. RUA NAS CERCANIAS DA IGREJA. EXTERIOR.
NOITE
Iluminação precária. A CÂMERA alcança a caminhonete preta estacionada,
Eva ao volante. Neco ao lado dela.
CORTA PARA:
CENA 08. IGREJA DA SALVAÇÃO. SALÃO. INTERIOR. NOITE
Lídia e Lauro a trocar alianças. Cena permeada de muita emoção entre
todos e também pela canção “EVERY BREATH YOU TAKE”. Beijo dos
noivos. Sofia e Amanda se emocionam. Sebastião tenta disfarçar a tromba. Beto
vibra pelos amigos.
CORTA PARA:
CENA 09. POSTO DE GASOLINA. EXT. NOITE
Malu está em seu Escort. Ela ligue o rádio e entrega a chave do tanque
para o FRENTISTA. A música que toca, “EU TE AMO VOCÊ”, mexe com
ela, que relembra seus momentos com Lauro. Ela olha para a igreja, ao final da
rua, e sua expressão muda.
CORTA BRUSCO PARA:
CENA 10. IGREJA DA SALVAÇÃO. SALÃO. INTERIOR. NOITE
Lídia e Lauro deixando o altar. Aplausos que cessam gradativamente
quando Caolho e um BANDO de mascarados, armados de paus e foices, adentra a
igreja. Tensão.
CAOLHO: Acabou pra você, seu maldito!
Bando de mascarados intimida a todos. Lídia e Lauro petrificados.
CAOLHO: É isso mesmo! Você é um doente desgraçado, voltou pra empestear a
cidade com a mesma doença que aquela bicha velha morreu!
LAURO: O quê que é isso, cara, você tá louco?! Quem é você?!
CAOLHO: (arranca o trapo que lhe cobre o rosto) Sou eu, seu desgraçado! Paulo!
Sou filho do João do Facão! Meu pai morreu por sua causa!
Reação de todos, já o reconheceram como filho de João do Facão.
CAOLHO: Vai negar, desgraçado, que você era amante daquele velho que morreu
com doença de viado?! A tal da Aids?!
Caolho joga um punhado de cópias da matéria antiga de jornal que Eva
guardou por todos esses anos. Os papéis xerocados com a imagem de Conrado e Lauro
abraçados, com a legenda: “Conrado Molina e Lauro, o casal sensação da noite
carioca”, deslizam pelo chão da igreja.
LAURO: Cara, você tá fantasiando! Quem te falou isso, (cai em si), foi ela,
(vai avançar em Caolho, Lídia o impede), foi aquela desgraçada, não foi?!
DOUTOR MIGUEL: (se levanta, para Caolho) A coisa não e desse jeito, não! Olha, escuta
aqui...
Um dos capangas de Caolho aponta uma peixeira para o médico e ordena que
ele se cale. Dona Sofia enfrenta.
SOFIA: Nunca que o Lauro ia se prestar a um papel desses que você tá falando!
CAOLHO: Cala a boca sua velha do caralho, que todo mundo na cidade sabe que
você puxa o saco desse viado aí... Ele comia aquele velho a troco de dinheiro.
SOFIA: (enfrenta) Mentiroso!
CAOLHO: (berra para seu bando) Bora acabar com esse maldito, que tá trazendo a
peste pra nossa cidade!
O bando vibra. O caos se instala. Alguns capangas se atracam com Lauro.
Lídia intervém, mas leva um safanão que voa longe. Lauro revive seu passado.
Padre Manoel se afasta de fininho. Discretos, Beto e Sebastião sacam de
seus revólveres. Amanda corre para ajudar Lídia. BLECAUTE na igreja. As luzes
se apagam. OUVE-SE um tiroteio infernal. Gritos. Mas tudo isso é encoberto por
um forte estrondo. A porta da igreja vem abaixo. Os faróis do Escort de Malu
revelam o cenário: Caolho e seu bando em fuga. Os faróis se apagam.
CORTA PARA:
CENA 11. PS DE TORRENTES. ENFERMARIA. INT. NOITE
Doutor Miguel tranquiliza Malu.
DOUTOR MIGUEL: Já disse, Malu, foram só algumas escoriações leves. Nada de mais
grave.
MALU: (tensa) E por que eu não posso embora?!
DOUTOR MIGUEL: É só rotina, Malu, ficar em observação Eu não posso deixar você
viajar, nesse estado.
MALU: Tá tudo bem com o meu bebê mesmo, doutor Miguel?
Lídia e Lauro chegam.
LÍDIA: (passada) Bebê?
CORTE BRUSCO PARA:
CENA 12. PS DE TORRENTES. RECEPÇÃO.NOITE
Lídia passa ventada. Lauro atrás dela. Amanda, Beto, dona Sofia e
Sebastião por ali. Todos ouvindo o que Roger fala, sequer notam a passagem
relâmpago dos dois, rumo à saída do Pronto Socorro.
ROGER: Aquilo que o tal de Caolho falou é tudo mentira. O Conrado tinha o
Lauro como um filho, e eu também, é claro!
CORTA PARA:
CENA 13. ESTRADA DE TERRA. EXT. NOITE
Eva, Neco e Caolho saltam da caminhonete preta.
EVA: Maldita Malu Capricho! Ela estragou tudo!
CAOLHO: (espumando de raiva) Eu queria beber o sangue desgraçado do Lauro.
Mas eu não vou sossegar não! Eu acabo com a raça dele! Eu vou voltar lá! Eu
acho onde ele tá entocado!
NECO: Você não vai pra lugar nenhum!
CAOLHO: Claro que eu vou! Você não manda em mim!
Neco saca de um revólver e dispara. Três tiros fatais e à queima roupa.
Horror nos olhos de Eva ao ver o corpo de Caolho estirado na estrada.
EVA: Você tá louco?!
NECO: Você queria o quê?! Que eu deixasse esse louco bater na cidade,
pra fazer merda? Ele ia acabar preso e dando com a língua nos dentes! Vem, me
ajuda a jogar esse desgraçado na caminhonete.
CORTA PARA:
CENA 14. TORRENTES. EXT. DIA. NOITE
Imagens aceleradas do cotidiano da cidade a marcar uma breve passagem
de tempo.
CORTA PARA:
CENA 15. RODOVIÁRIA DE TORRENTES. INT. DIA
Malu e Roger.
ROGER: E você teve oportunidade de contar tudo pra ele, e não fez?
MALU: Se não fosse a loucura que fiz quando passei pela rua da igreja e
vi aquele bando de caras mascarados, ele nunca ia saber desse filho. O amor que
eu sinto pelo Lauro não merece golpe baixo, (ela acaricia a barriga), e nunca
vou usar o meu bebê pra barganhar nada.
ROGER: E eu que pensei, naquela noite, que a senhora tinha invadido a
igreja com Escort vermelho e tudo só pra acabar com o casamento. Cena
memorável. Pra entrar em novela.
Chega ônibus que com placa que indica destino: RIO DE JANEIRO.
Malu e Roger se abraçam.
MALU: Depois que meu carro sair do concerto, pede pro Lauro mandar pro
Rio. Pelo menos essa, ele me deve.
E em Roger a acompanhar a saída do ônibus,
CORTA PARA:
CENA 16. MOTEL BEIRA DE ESTRADA. QUARTO. INT. DIA
Eva acende um cigarro. SOM de descarga, Neco vem do banheiro. Eva o
encara.
NECO: O que foi?
EVA: Tô cabreira. Será que alguém viu alguma coisa?
NECO: Imagina. Do contrário, já tava em tudo quanto era jornal aqui da
região. Ninguém viu nada. E duvido que achem o corpo onde eu enterrei. O que eu
não podia era deixar aquele traste vivo pra estragar o nosso plano. Não deu
certo naquela noite, mas logo vai dar. É só esperar a poeira baixar mais um
pouco.
E na preocupação de Eva,
CORTA PARA:
CENA 17. MANSÃO DE LAURO. QUARTO. INT. DIA
Lídia preocupada. Lauro chega e nota o jeito dela.
LAURO: (abraça) Não precisa ficar assim, meu amor, a Malu não vai fazer
guerra. Ela sabe que eu te amo. Não vai ter problema.
LÍDIA: (sai do abraço dele) Filho com outra mulher, Lauro! Você acha que
isso não é problema? Mas não é nem com isso que eu tô preocupada. É a louca da
Eva que me assusta. Aquele Caolho foi armação dela. Eu sei!
LAURO: Eu também sei. Ela quis repetir o que me fez no passado.
Chega dona Sofia.
SOFIA: Lauro? Telefone pra você, querido, do Rio. É o Lulu Santos.
LAURO: Ah, sim! Deve ser pra acerta o show na Raio Laser. Vem comigo, que
eu quero dizer que a senhora é fã dele.
SOFIA: Ah, sou mesmo.
Lauro e dona Sofia saem. Lídia, ainda preocupada, ajeita os cabelos
diante o espelho da penteadeira. Num instante ela vê a imagem de EVA refletida
nele.
LÍDIA: Alguém tem que botar freio naquela louca. Ela vai sempre voltar.
CORTA PARA:
LEGENDA: ALGUNS DIAS DEPOIS
CORTA PARA:
CENA 18. QUINTAL DA MANSÃO DE LAURO. EXT. MANHÃ
Roger a aguar as plantas do jardim. Dona Sofia surge com calça de
moletom, regatinha, viseira e um walkman a tiracolo.
ROGER: Já vai pra sua caminhadinha matinal, dona Sofia?
SOFIA: Claro. Senão meu reumatismo ataca. Vou aproveitar que o Sol tá
fraquinho. Tchau!
ROGER: Vai lá! Se cuida, hein?
SOFIA: Deus me guarda, anjinho.
Dona Sofia vai para a sua caminhada. Roger acha graça no jeitinho dela.
CORTA PARA:
CENA 19. ESTRADINHA. EXT. MANHÃ
Dona Sofia em passo apressado. Ela liga o walkman. “CASA”, de Lulu
Santos invade os fones de ouvido do aparelho e também a cena.
Ela segue em sua caminhada, sem perceber que atrás dela aponta, com um
presságio agourento, a caminhonete preta de Eva. E sobre essa imagem, a voz de
Neco.
NECO: (OFF) Não te falei, Eva? Faz tempo que tô de olho nas caminhadas
dessa velha. Vai na manha, que a gente pega ela. Já que a gente não conseguiu
pegar a vaca da Lídia, no dia do casamento, agora aquele fresco do Lauro vai
dar uma grana preta pela vovozinha.
CORTA PARA:
CENA 20. ESTRADINHA DE TERRA. EXTERIOR. MANHÃ
Dona Sofia segue com sua caminhada. A caminhonete preta se aproxima
dela. Neco abre a porta e dá seu bote. Dona Sofia se assusta e tira os fones de
ouvido.
SOFIA: O que é isso?!
NECO: A senhora vem comigo! Já!
SOFIA: Vou nada! Deus me guarda!
NECO: (já agarrando) Deixa Deus fora disso, velha louca!
EVA: (na caminhonete) Pega logo, Neco!
SOFIA: Não falei que Deus me guarda, (tira revólver da bolsinha), mexe
com Deus que eu quero ver!
CORTA PARA:
CENA 21. DELEGACIA DE TORRENTES. INTERIOR. MANHÃ
Lauro, Lídia e dona Sofia diante a delegada TEREZA LANGNER, uma loira de
35 anos com jeito de durona.
SOFIA: Foi tudo do jeitinho que eu contei pra senhora. Foi Deus, (faz
sinal que imita arma), quem me salvou!
TEREZA: (acha graça, mas mantém o jeito sério) O quê que é isso, Lauro?
Colocando arma na mão de uma senhora?
LAURO: É o jeito. Sei que tá errado, mas todo mundo em casa tem que se
cobrir.
LÍDIA: (destemperada) Delegada, tem uma louca e o comparsa dela soltos
por aí. A Eva já decepou o braço do meu padrasto, mandou um louco pro meu
casamento e agora esse sequestro. O que mais eles têm que fazer pra polícia se
mexer?
TEREZA: Calma aí, garota! Que isso aqui é uma delegacia e não uma feira
pra você ficar gritando! Seu padrasto não deu queixa, eu corri trecho atrás do
Caolho, mas não achei, não tinha prova contra ninguém! Agora com esse BO, eu
vou botar meganha atrás deles.
LAURO: Desculpa, Tereza, quero dizer, delegada. É que a Lídia tá mexida,
com tudo isso.
TEREZA: Tudo bem. Agora vocês me dão licença que eu preciso dar uns
telefonemas.
CORTA PARA:
CENA 22. MOTEL BEIRA DE ESTRADA. QUARTO. INT. DIA
Eva e Neco recolhendo suas tralhas.
NECO: Anda logo! Pega tudo! Vamo pra uma fazenda abandonada que eu
conheço em Alecrim. Se aqui é longe, lá e o fiofó do mundo.
EVA: Velha desgraçada. Deve ter pacto com o diabo. Já joguei
caminhonete em cima daquela desgraça, mandei pra manicômio pra viver dopada e
nada. Velha do caralho! O dinheiro que tirei do banco depois do escândalo já tá
acabando!
NECO: A gente dá outro jeito. Tem os dólares que o corno do Sebastião
guarda. Espera a poeira baixar.
EVA: De tanto esperar poeira abaixar, a gente tá de lama e merda até o
pescoço!
E neles saindo com suas tralhas,
CORTA PARA:
LEGENDA: ALGUNS DIAS DEPOIS.
CORTA PARA:
CENA 23. CASA DE AMANDA NA FAZENDA. QUARTO. INT.
MADRUGADA
Rádio ligado. “CAMA E MESA” tocando. Amanda e Beto já
deitados. Trocam beijos quentes. Ele quer mais do que isso e ela percebe.
AMANDA: (beijando) Safadinho.
BETO: Minha baixinha gostosa.
AMANDA: (lembra) Merda! Esqueci a hora do remédio do seu Sebastião.
BETO: (agarrando) Deixa pra lá. Ele se vira.
AMANDA: (levanta e coloca vestido) Ele esquece. Não pode falhar. Senão
aquele cotoco dele pode, (procura a palavra), gran...grenguenar, sei lá, pode
encher de bicho. Vou lá. Já volto. Trata de ficar esperto aí, hein?
BETO: Esperteza aqui é pra mais de metro!
CORTA PARA:
CENA 24. CASA DOS JUAREZ. SALA. INT. MADRUGADA
Amanda vem da cozinha. Frasco de comprimidos na mão. Ela escuta um
barulho vindo do quarto de Sebastião. Ela se aproxima da porta do quarto que
está entreaberta. A cena que presencie e de puro terror: a sombra de um machado
descendo e subindo na parede do quarto e sobre essa imagem o som das pulseiras
de Eva. Amanda recua, controlando a vontade de vomitar, de gritar.
CORTA PARA:
CENA 25. CASA DOS JUAREZ. FUNDOS. EXT. MADRUGADA
Amanda segue cambaleando pelo quintal dos fundos. Não consegue respirar,
sente o coração cada vez mais acelerado, sem forças para mais nada, desfalece
na escuridão.
CORTA PARA:
CENA 26. CASA DOS JUAREZ. QUARTO. INT. DIA
PERITO a fotografar o corpo mutilado de Sebastião. Quarto todo revirado.
CENA 27. CASA DOS JUAREZ. SALA. INT. DIA
Beto, transtornado, conversa com a delegada Tereza. Lauro dá apoio moral
ao amigo.
BETO: Foi isso, doutora. Estranhei a demora da Amanda. Vim atrás. Entrei
e fui direto pro quarto do seu Sebastião e vi aquilo que tá lá... Tudo
revirado, acho que foi como a doutora disse: entraram pra roubar e ele reagiu.
Comecei a gritar pela minha baixinha, sai correndo e encontrei ela caída nos
fundos da casa. Pensei que ela tava morta também.
LAURO: A Lídia tá no Pronto Socorro com ela. Vai ficar tudo bem, amigão.
CORTA PARA:
CENA 28. PRONTO SOCORRO. ENFERMARIA. INT. DIA
Lídia e doutor Miguel conversam, enquanto enfermeira monitora os sinais
vitais de Amanda.
LÍDIA: Será que ela entrou em coma, doutor?
DOUTOR MIGUEL: Não. Ela já voltou a si algumas vezes, mas os desmaios
persistem. Tem a ver com o trauma que ela passou?
LÍDIA: Será que ela viu alguma coisa?
DOUTOR MIGUEL: É bem provável que sim.
Enfermeira nota alguma reação em Amanda.
ENFERMEIRA: Doutor, ela está reagindo.
Amanda abre os olhos. Encara a enfermeira, doutor Miguel e Lídia. Tempo
nesse reconhecimento.
LÍDIA: Oi, Amanda?
Amanda não responde nada. Levanta-se bruscamente, tomada por uma
violenta crise histérica, e passa a quebrar tudo o que vê pela frente.
CORTA PARA:
LEGENDA: ALGUNS DIAS DEPOIS.
CORTA PARA:
CENA 29. CLÍNICA PSIQUIÁTRICA DE ALECRIM. PÁTIO.
DIA
Amanda zanza entre os pacientes. A enfermeira Marion vem ter com ela.
MARION: Amanda? Vem cá, querida. Seus amigos estão aqui.
Marion leva Amanda até Beto, Lídia, Lauro e doutor Miguel. Beto abraça a
esposa. Ela não esboça nenhuma reação. Seus olhos estão fixos nos outros três.
BETO: O que foi, meu amor? Sou eu, o Beto.
Silêncio. Todos preocupados com o estado dela.
MARION: Hoje ela tá quietinha, mas teve dias em que parecia outra pessoa.
LÍDIA: Como assim?
MARION: Ah, fica brava, quer quebrar tudo. Depois ela fica alegre, quer se
arrumar, pede batom, quer dançar. Teve um dia que até um engasga-gato ela me
pediu. Vê se pode, menina?
DOUTOR MIGUEL: Estranho.
BETO: Ela sempre foi divertida, mas nunca foi chegada em bebida não.
LÍDIA: Oi, amiga. Você quer conversar.
Subitamente, Amanda ajeita os cabelos e lança um olhar de repúdio para a
amiga.
AMANDA: Com você? Nem morta. Nem com você, nem com esse aí, (aponta para
Lauro), esse aí de brinquinho.
LAURO: Amanda?
AMANDA: Eu quero mais é que você morra, (ela encara Marion), ô gorducha,
vê se me arruma um cigarro. Tô louca pra fumar. Esse lugar aqui é um porre.
E no desespero de Beto,
CORTA PARA:
CENA 30. RODOVIA QUE CORTA TORRENTES. EXT. TARDE
Alfa Romeo Spider de Lauro desliza pela pista, e sobre essa imagem
conversa avançada sobre a situação de Amanda.
BETO: (OFF) Mas pode isso, doutor?
LAURO: (OFF) Uma outra personalidade?
DOUTOR MIGUEL: (OFF) Eu não sou especialista, não deu pra conversar com o
psicólogo da clínica, mas tudo aponta pra um transtorno de personalidade.
BETO: (OFF) Não sei, ela tava parecida, sei lá...
LÍDIA: (OFF) Parecida com a dona Eva.
E nessa fala de Lídia,
CORTA PARA:
CENA 31. RUAS DA CIDADE DE ALECRIM. EXT. NOITE
CLOSE de uma Eva sorridente e disfarçada que acompanha o desenrolar das
gravações de uma cena de novela. Neco chega, também disfarçado, e a puxa pelo
braço.
NECO: Vamo! Vamo! Que já em tudo quanto é jornal daqui! Tão atrás da
gente. Golpe do caralho! Vamo ter que continuar entocado lá!
EVA: (já sendo arrastada por Neco) Ué, mas a gente não ia pro Rio de
Janeiro?
CORTA PARA:
CENA 32. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA. NOITE
Passagem de tempo com imagens
aceleradas do cotidiano da cidade e que se finda com Malu boquiaberta, diante
um banca de jornal, a fitar um exemplar de tabloide sensacionalista que
ilustra, com riqueza de detalhes, o brutal assassinato de Sebastião Juarez. O
título da matéria, em legendas garrafais, é: “FIZERAM PICADINHO DE PREFEITO”.
CORTA PARA:
CENA 33. MANSÃO DE LAURO. SALA. INT. TARDE
Dona Sofia por ali. Roger entra.
ROGER: Ué, cadê todo mundo?
SOFIA: (brinca) Tô aqui, né lindinho? Lídia levou o Lauro pra danceteria,
ele tinha que resolver uma coisas, e depois ela vai buscar a Amanda. Parece que
teve alta, graças a Deus!
ROGER: Ai, que bom!
CORTA
PARA:
CENA 34. ALFA ROMEO DE LAURO. INT. TARDE
Lídia na direção. Amanda ao lado dela a fitar a rodovia por onde o carro
desliza.
LÍDIA: Você tá tão calada, amiga? Não quer conversar?
AMANDA: Conversar o quê?
LÍDIA: Ah, sei lá, qualquer coisa. Tô tão feliz por você!
Expressão de Amanda muda.
AMANDA: Feliz nada! Mentirosa!
LÍDIA: (tensa) O quê que é isso, Amanda?
AMANDA: Eu quero um cigarro.
Amanda a abrir porta-luvas. Lídia tenta impedir, mas não consegue.
Amanda vê um revólver dentro dele. Pega.
AMANDA: O quê que é isso aqui, hein, sua vaquinha? É pra me matar? Foi pra
isso que você foi me buscar lá naquele hospício?!
LÍDIA: (mais tensa) Você tá louca?! Larga isso aí!
AMANDA: Eu sei o que você fez!
Num gesto brusco, Amanda puxa o freio de mão.
CORTA PARA:
CENA 35. RODOVIA EM ALECRIM. EXTERIOR. TARDE
O Alfa Romeo derrapa e vai parar no acostamento. Armada, Amanda sai
correndo do veículo e se embrenha num matagal. Lídia corre para alcançá-la. Um
HELICÓPTERO de emissora de TV sobrevoa a região.
CORTA BRUSCO PARA:
CENA 36. MATAGAL. INTERIOR. TARDE
Fuga alucinada de Amanda. Lídia logo atrás. Com a densidade cada vez
mais acentuada do matagal. A CÂMERA perde as duas de vista. SOM de tiros.
Tempo.
CORTA PARA:
CENA 37. RODOVIA EM ALECRIM. EXTERIOR. TARDE
Lídia sai do matagal toda alanhada.
LÍDIA: (transtornada) Porra! O quê que essa louca foi me aprontar?!
Lídia entra no carro. E sobre essa imagem ouvimos a VOZ de Eva.
EVA: (dentro do Alfa Romeo) Surpresa! Não se mexe senão eu meto uma
bala na sua cabeça.
O Alfa Romeo de Lauro parte. E embrenhada no matagal na outra margem da
rodovia, VEMOS a caminhonete preta com Neco ao volante, esperando o momento
apropriado para sair.
CORTA PARA:
CENA 38. DELEGACIA. INT. NOITE
Delegada Tereza ao telefone. Entra INVESTIGADOR.
TEREZA: (finalizando) Tem certeza, cara?! É o local exato?! Tô saindo pra
busca agora!
INVESTIGADOR: (entrega envelope volumoso) Mandaram pra doutora. Entregaram na
delegacia de Alecrim, mas como o caso é daqui.
TEREZA: (pega o envelope) O que será isso?
Toca o telefone. Delegada atende.
TEREZA: Lauro? O quê? Sequestro? Fizeram contato? Sei. Não, não faz nada!
Fica aí!
E em Tereza abrindo o envelope,
CORTA PARA:
CENA 39. RODOVIA EM ALECRIM. EXT. NOITE
Monza a toda velocidade. E sobre essa imagem a conversa adiantada entre
a delegada e o investigador.
TEREZA: (OFF) Depois do que vi eu naquele envelope, cara, essa caso é mais
complicado do que a gente pode imaginar!
INVESTIGADOR: (OFF) E bota complicado nisso, doutora!
CORTA PARA:
CENA 40. MANSÃO DE LAURO. SALA. INT. NOITE
Tensão. Beto, Roger e dona Sofia ao redor de Lauro.
LAURO: Meu Deus! Que agonia! E a gente não pode fazer nada!
BETO: A Eva disse se eles tavam com a Amanda também?!
LAURO: Não. Só falou da Lídia. A ligação tava ruim. Acho que foi de
orelhão. Caiu ou ela desligou.
ESTRONDO na porta da sala. Beto saca de um revólver. Tensão. Ele abre a
porta. Amanda cai aos pés dele.
CORTA PARA:
CENA 41. MONZA DA DELEGADA. INT. NOITE
Tereza na direção. Investigador ao lado dela. O PONTO DE VISTA dele
alcança o Alfa Romeo de Lauro na via oposta.
INVESTIGADOR: Peraí, doutora! Aquele ali não é o carro do Lauro?!
TEREZA: (já viu) É! Acho que resolveram trocar de cativeiro! Segura firme!
Que vou fechar a pista!
CORTE BRUSCO PARA:
CENA 42. RODOVIA EM ALECRIM. EXTERIOR. NOITE
Os carros colidiram. Neco já sai atirando. Investigador revida. Neco e
Eva se embrenham no matagal que margeia a rodovia. Investiga dor corre atrás
deles, mas os perde de vista. Delegada Tereza encontra Lídia presa dentro do
Alfa Romeo. Ela está histérica.
LÍDIA: Me tira daqui! Me tira daqui!
CORTA PARA:
CENA 43. MANSÃO DE LAURO. SALA. INTERIOR. DIA
Amanda transtornada. Beto, Roger, dona Sofia e Lauro procuram acalmá-la.
AMANDA: Eu preciso falar!
BETO: (abraçando) Calma, meu amor!
LAURO: Falar o que, Amanda?
Amanda respira fundo e fecha os olhos.
CORTA PARA:
CENA 44. CASA DOS JUAREZ. SALA. INT. MADRUGADA
FLASHBACK. Amanda vem da cozinha. Frasco de
comprimidos na mão. Ela escuta um barulho vindo do quarto de Sebastião. Ela se
aproxima da porta que está entreaberta. A cena que presencie e de puro terror:
Lídia a golpear Sebastião com um machado. A sombra dessa ação tenebrosa é
projetada na parede pela luz que emana do televisor.
CORTA PARA:
LEGENDA: ALGUNS DIAS DEPOIS.
CENA 45. DELEGACIA. INT. DIA
A CÂMERA abre no monitor de uma televisão que revela imagens áreas da
perseguição de Lídia a Amanda, dias antes. Um ZOOM detalha melhor a cena.
Amanda tropeça e cai. Lídia a alcança, toma o revólver e atira, mas a arma
falha. Amanda volta correr. Lídia na busca. Atira mais três vezes. Erra. SOM
dos disparos é captado na gravação, que termina com Lídia atirando o revólver
longe e voltando para a estrada. A TELA de televisão ganha aquele aspecto de FORA
DO AR, cheia de chuviscos.
TEREZA: Com o depoimento da Amanda e essas imagens, eu decretei a prisão
preventiva da Lídia. Sinto muito, Lauro.
LAURO: (incrédulo) Mas por que ela fez tudo isso?
TEREZA: Ela me confessou tudo, Lauro. Matou o padrasto, pra incriminar a
mãe! Queria afastar a megera a qualquer custo. A Amanda surtou por um tempo e
começou a falar o que não devia. Tenho certeza que se não fosse pelo surto, a
Amanda não teria dito nada. Esse segredo morreria com elas.
LAURO: E a desgraçada da Eva?
TEREZA: Deve ter fugido com o Neco, levando os dólares que a Lídia roubou
do Sebastião, pra reforçar a ideia de que tinha sido a mãe a autora do crime.
Quando fizemos a perícia do seu carro, encontramos algumas notas por lá. Eles
devem ter achado antes de rebocarem o carro.
CORTA PARA:
CENA 46. QUARTO DE MOTEL NO RIO DE JANEIRO. INT.
DIA
É um quarto de motel pequeno, mas o suficiente para Eva e Neco fazerem a
festa sobre uma cama forrada de dólares ao som de “YOU GIVE LOVE A BAD NAME”. Eles
bebem, brindam, fazem poses para o espelho de teto. Eva bota uma peruca loira e
pisca para a CÂMERA.
CORTA PARA:
LEGENDA: UM ANO DEPOIS.
CENA 47. DANCETERIA RAIO LASER. INT. NOITE
Casa lotada. Show de LULU SANTOS, que canta “CASA”. Clima de felicidade.
Beto e Amanda juntinhos. Dona Sofia, toda espoleta, tira Roger para dançar.
CORTA PARA:
CENA 48. MANSÃO DE LAURO. QUINTAL. FINAL DE TARDE
Sentados num banquinho, à sombra de um frondoso Bougainville repleto de
suas flores vermelhas, Malu e Lauro olham para seu filho, LAURINHO, a ensaiar
os primeiros passos. Eles se encaram. Existe cumplicidade, amor e paixão no
olhar de ambos. Eles se beijam, e sobre essa cena “JUST LIKE STARTING
OVER”, de John Lennon.
E no beijo deles,
CORTA PARA O:
FIM