Por Isaac Santos
Embora
seja o conjunto de uma obra que define ou não um primor artístico, todo autor
que se preza põe sobre os primeiros e últimos capítulos de sua criação um olhar
ainda mais apaixonado.
Mas
considerando a pressão exercida pelo público sobre um profissional que durante
meses se dedica a um processo árduo de inventividade, é fácil compreender que a
maioria das apresentações e desfechos de tramas não se distancie de um padrão.
Quando autores mais arrojados o fazem, precisam estar aptos a lidar com os aplausos
do público, da crítica “especializada” e da empresa contratante, ou com a massacrante
rejeição dos mesmos. No processo industrial de telenovelas não há espaço para
meio termo: É sucesso ou fracasso.
Num aspecto
prático do “parir histórias” dentro de um sistema mecânico, todos os autores
estariam condicionados a finalizar suas obras convencionalmente. No entanto, alguns
poucos dão ao público oportunidades únicas de experimentação.
Muitos
anos antes de o personagem Félix (Mateus Solano) conquistar a grande maioria
dos telespectadores de Amor à Vida, mais precisamente em 1986, o personagem
Renato Villar (Tarcísio Meira), da novela Roda de Fogo (dos mestres Lauro Cesar
Muniz e Marcílio Moraes), de vilão passou a ser bem querido pelo público, com
direito a redenção. Destaque para a
sensível cena final do último capítulo: Renato Villar morre no colo de sua
amada, Lúcia Brandão (Bruna Lombardi). Veja aqui.
Em
1986, a novela Dona Beija (adaptação dos romances “Dona Beija, a Feiticeira do
Araxá” de Thomas Leonardo e “A Vida em Flor de Dona Beja” de Agripa
Vasconcelos) se mostra um dos maiores sucessos da teledramaturgia da Manchete e
figura entre as melhores telenovelas brasileiras. Ao final da história, os
autores Wilson Aguiar e Carlos Heitor Cony colocam a sua protagonista Beija
(Maitê Proença) sendo julgada por ter mandado matar o homem a quem amava. Ela é
absolvida e apenas o escravo que cumpriu suas ordens é considerado culpado.
Amargurada, ela deixa a cidade na tentativa de recomeçar uma vida
diferente.
versão dublada
Em
1990, a novela Barriga de Aluguel era enorme sucesso de audiência. As pessoas
assistiam e se envolviam com as tramas. Daí um problema para a autora Glória
Perez: Com qual das mães ficaria o bebê. Ela decide que o público não saberá.
Mas o final mostra Clara (Cláudia Abreu) e Ana (Cássia Kiss) dispostas a
repensar a relação de ambas em função do filho.
Foi
em 1990, na novela Meu Bem Meu Mal, que o mestre Cassiano Gabus Mendes, com a
colaboração de Maria Adelaide Amaral entre outros, possibilitou ao público ver
um dos desfechos mais apaixonantes da teledramaturgia brasileira. Pode soar
como exagero para alguns, mas é sempre inspirador para mim, rever a cena final
em que a vilã Isadora Venturini (Sílvia Pfeifer) alcança a tão almejada
presidência da empresa, por um alto preço: A indiferença de todos; A solidão.
Benedito
Ruy Barbosa é outro professor em envolver o telespectador. Para finalizar a bem
sucedida Pantanal (1990), ele escreve um cena fascinante, com destaque para
três personagens: Filó (Jussara Freire), Zé Leôncio e o velho do rio (ambos
vividos por Cláudio Marzo).
Em 1994,
Silvio de Abreu e Rubens Edwald Filho, autores de Éramos Seis (adaptação do romance
homônimo de Maria José Dupret), poderiam ter suavizado a cena final da novela
sem comprometer o destino da protagonista, que bem ratifica o título, mas
optaram por fazer um desfecho harmonioso com toda a trajetória sofrida da
batalhadora Lola (Irene Ravache).
Imagens: Globo.com
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