Chegamos a mais um final de ano, momento para recapitularmos o que aconteceu neste 2014 e analisarmos as promessas para
2015. Nesta postagem especial em duas partes, faremos um balanço das novelas
deste ano e as expectativas para as que nos aguardam ano que vem. Como não
assisti a novelas de outras emissoras que não da Globo, não vou me ater a estas, de modo a evitar críticas e comentários rasos e sem uma boa
base. Lembrando que iremos desconsiderar novelas que tenham iniciado em 2013,
que são Amor à Vida, Joia Rara, Além do Horizonte e a temporada anterior de
Malhação.
Depois de um 2013 difícil, tanto em
termos de qualidade quanto de audiência, a Globo iniciou 2014 com a missão de
se reerguer. A emissora tinha planos ousados, entre eles novelas pretensiosas e
diferentes. Apesar da mesma não ter conseguido chegar nem perto do auge que
conseguiu em 2012, pode-se dizer que o ano que passou foi mediano para a
teledramaturgia global. Em termos técnicos, não temos muito que reclamar. A
“Vênus Platinada” conseguiu recuperar alguns pontos sim, mas ainda está em
sinal de alerta.
A
primeira estréia do ano foi a de Em Família, em fevereiro. Anunciada como sendo
a última novela de Manoel Carlos, a trama prometia trazer novamente o estilo de
Maneco, que marcou tanto a nossa teledramaturgia, principalmente nos anos 90 e
início dos 2000. Infelizmente, o “bom velhinho do Leblon” não conseguiu fechar
sua carreira com chave de ouro. Em Família penou para conseguir alguns índices,
e apesar de contar com histórias supostamente envolventes e dramas polêmicos, a
novela não conseguiu agradar nem público, nem crítica. Maneco trazia de volta
personagens de difícil aceitação, tais como a mimada Luiza (Bruna Marquezine);
a apática Helena (Júlia Lemmertz); o egoísta e perturbado Laerte (Gabriel Braga
Nunes); e o “banana” Virgílio (Humberto Martins). Nota-se que houve diversos
problemas, principalmente na condução e desenvolvimento dos personagens, além
de uma direção mediana de Jayme Monjardim, que já fez bem melhor do que mostrou
aqui. Apesar de tudo, a novela teve seus êxitos: os diálogos de Maneco são uma atração
à parte em qualquer novela, e o elenco estava afiadíssimo, pode-se dizer que
eram os atores que faziam da novela uma atração “assistível”. As primeiras
fases foram também um acerto, o que só piorou a sensação de decepção ao criar
tanta expectativa para o que viria depois.
Substituindo
a meia-boca (porém bem produzida) Joia Rara, Meu Pedacinho de Chão estreou em
abril trazendo novos ares (novos até demais) para o horário das 18h. Longe de
ser uma novela convencional, a fábula de Benedito Ruy Barbosa e Luiz Fernando
Carvalho continha personagens exagerados, com hábitos esquisitos, roupas
extravagantes, feitas de papel, plástico e sucata, e uma história linda com um
bonito toque infantil. Foi uma das poucas vezes em que se viu uma obra em que
tudo se encaixou perfeitamente: direção, texto, elenco e produção, todos
juntos, trabalhavam em harmonia para fazer uma das melhores novelas dos últimos
anos. Analisando, se vê que, caso um desses fatores não estivesse bem, toda a
novela se comprometia. Infelizmente, não obteve números de audiência muito
significativos, mantendo, mais ou menos, o que sua antecessora havia
conseguido. Também vale elogiar a Globo, que se arriscou ao apostar em um tipo
de produção extremamente diferente de tudo o que já se produziu no meio.
A
estréia de Geração Brasil foi anunciada com pompa e circunstância pela
emissora, deixando claro que a novela era dos mesmos autores de Cheias de
Charme, Filipe Miguez e Izabel de Oliveira. As chamadas traziam boas
expectativas, tudo indicava que a Globo conseguiria restaurar o decadente
horário das sete. Tudo não passou da expectativa. O que se recebeu foi uma
trama bagunçada, cheia de personagens sem utilidade e mal-desenvolvidos, com
uma direção convencional e abordagem de temas que nada combinam com o estilo
folhetinesco. Além disso, a novela passou as dificuldades de não ser exibida no
período da Copa do Mundo, o que criou esperanças de que voltasse melhor do que
antes. Porém, não se conseguiu notar praticamente nada de diferente. O elenco
tinha seus ganhos, como a presença de Leandro Hassum e Luís Miranda em bons
personagens. Mas todos pareciam perdidos em uma produção que tentava se provar
novela. Obviamente, houve muitos equívocos, ao meu entender, principalmente
por parte dos autores. Uma pena, pois, de certa forma, a ideia original de
Geração Brasil era boa, simplesmente foi mal-desenvolvida.
Novamente,
a Globo voltava a apostar em Malhação nos finais de tarde. A nova temporada
trouxe mais uma vez a equipe da bem aceita temporada de 2012: Rosane Svartman e
Paulo Halm como autores titulares, Glória Barreto, desta vez, na supervisão de
texto, e Luiz Henrique Rios e José Alvarenga na direção. O resultado é satisfatório: tentando fugir dos clichês óbvios de Malhação e se aprofundando
mais em dramas do universo jovem (diferentemente da temporada anterior, que
mostrava jovens em dramas adultos), a atual temporada tem conseguido manter a
audiência do horário e vem sendo comentada pelo seu público alvo. Focando em
temas já até explorados pela “soap opera”, como a música e as artes marciais,
porém com abordagem diferenciada, a novelinha mostra que, nas mãos certas,
ainda consegue manter seu espaço na grade. Vale ressaltar o bom elenco, tanto
de jovens quanto de veteranos, contando com nomes como Eriberto Leão, Odilon
Wagner, Marcelo Faria, Felipe Camargo e Patrícia França, voltando a Globo
depois de praticamente 10 anos fora da emissora.
Mais
um remake marcava presença no horário das 23h. Desta vez, a atualização de O
Rebu, novela inovadora de Bráulio Pedroso dos anos 70, tentava a sorte no
horário alternativo de teledramaturgia. A bela produção também trazia uma
equipe já prestigiada da casa: George Moura e Sérgio Goldenberg, que já haviam
feito um sucesso tremendo com Amores Roubados no início do ano, no texto e
direção com Walter Carvalho e José Luiz Villamarim. A novela tinha ares
cinematográficos, tanto no tema do qual tratava quanto na direção. Além disso,
os diálogos e situações não cronológicas muito bem estruturadas pelos autores
enchiam os olhos dos apreciadores do gênero. Grandes destaques no elenco, com
pesos pesados interpretando personagens fortes e enigmáticos. Se O Rebu teve
defeitos, apenas a confusão que poderia causar no telespectador menos atento.
Pode-se dizer que foi uma das mais caprichadas produções da Globo dos últimos
tempos.
Aguinaldo
Silva retornava ao horário nobre com a promessa de um novelão clássico: sua
Império teria que fazer com que os telespectadores que haviam abandonado a TV
durante Em Família voltassem para a emissora. Porém, mais uma vez, Aguinaldo
entregou bem menos do que prometeu (como já comentou diversas vezes o crítico
de telenovelas Nilson Xavier). A começar pela sua tão aguardada vilã Cora
(Drica Moraes), que demorou capítulos e mais capítulos para mostrar alguma
característica genuína de vilã. No entanto, o autor conhece as manhas de se
escrever para as 21h, e conseguiu criar uma trama até certo ponto envolvente e
popular, que fisgou o público o suficiente para se manter estável na audiência
e na repercussão. Vale ressaltar a grande evolução do núcleo de Rogério Gomes
na direção, mostrando uma grande maturidade em relação às demais novelas às
quais ficou responsável anteriormente, dando novos ares às obras de Aguinaldo
Silva, que vinham contando com a direção mais “tradicional” de Wolf Maya há 10
anos. O elenco é equilibrado, visto que não há um número considerável de
personagens fortes para os atores se aprofundarem. Uma notável surpresa foi o
casal formado por Zezé Polessa e Tato Gabus Mendes, concebido para ser um mero
alívio cômico, mas que ganhou destaque pela excelente performance dos atores.
A
segunda novela das 18h do ano, Boogie Oogie criou expectativa nos saudosistas
de plantão. Trazendo os anos 70 como pano de fundo, a novela do autor iniciante
Rui Vilhena (já experiente em Portugal, onde morou por muitos anos) divide opiniões.
Entre os adoradores de teledramaturgia, faz um considerável sucesso e é frequentemente
elogiada pela crítica. Porém, não segura audiência, apresentando número
instáveis. Também não gera tanta repercussão quanto sua antecessora cheia de
atrativos. O autor português utiliza diversos clichês já manjados do grande
público, e escolhe seguir uma linha de texto mais exagerado, cheio de
comparações estranhas e forçando um ar irônico. Apesar de tudo, deve-se elogiar
a agilidade da trama. Rui consegue intercalar bem as cenas e conduzir bem os
dramas, de modo que a novela poucas vezes se torne cansativa. Discordo daquilo
que muitos especialistas já declararam: não há a sensação de confusão caso você
perca um capítulo. Isso porque pouco da história principal foi resolvido até
agora. A direção é neutra: ao mesmo tempo em que mostra inovações, segue uma
linha tradicional, talvez para lembrar novelas mais antigas. Também pode-se
responsabilizá-la por algumas incoerências de cenário, figurino e penteado, que
não condizem totalmente com a época retratada. Aliás, Boogie Oogie transmite
isso: tirando a discoteca e os hábitos das crianças, a história poderia se
passar em qualquer época. Não há um laço muito grande com os anos 70.
Alto
Astral é a mais nova aposta para reerguer o horário das 19h. A
Globo foi esperta, e decidiu seguir uma linha extremamente despretensiosa,
apresentando uma novela tradicionalíssima. Também do estreante Daniel Ortiz,
com base em uma sinopse escrita por Andrea Maltarolli, a comédia romântica tem
tudo o que uma novela das sete clássica tem: um mocinho corajoso, uma mocinha
ingênua (até demais para uma jornalista), um vilão inescrupuloso que conta com
a ajuda da secretária (também inescrupulosa) e diversos alívios cômicos, entre
eles uma vilã atrapalhada. Depois de 3 novelas supostamente revolucionárias
(duas grandes fracassos de audiência), a emissora via no convencional uma
chance de voltar aos tempos áureos. Alto Astral cumpre razoavelmente sua
missão. Mas o direcionamento, que utiliza clichês e situações já desgastadas,
tira a identidade da obra. O elenco é enxuto e bem escalado. Destaque para
Sérgio Guizé, Christiane Torloni e Claudia Raia (apesar de seu desempenho
dividir opiniões, a atriz cumpre o que sua personagem pede). A direção, outrora
inovadora, de Jorge Fernando, dá ainda mais o clima de tradicionalismo à
novela: tudo nela já foi visto diversas e diversas vezes, desde a fotografia
até o encadeamento da trilha sonora. Apesar de tudo, a novela está há pouco
tempo no ar, então ainda tem muito a mostrar.
2014 foi um ano de produções que se
neutralizam: ao mesmo tempo em que tivemos novelas inovadoras nas mais diversas
áreas, também vimos obras que seguem o estilo clássico de se fazer
teledramaturgia. Vale ressaltar e elogiar a Globo pelo seu esforço na iniciação
de novos autores, necessários à nossa TV. Sem grandes sucessos, o ano acaba com
o clima de dúvida: quais caminhos a Globo vai seguir a partir de agora? O que
fará para não cometer os mesmos erros e manter a fórmula dos sucessos? Com os 50
anos da emissora em 2015, espera-se ver cada vez mais produções caprichadas e
surpreendentes. Mas falaremos mais disso na segunda parte desta postagem, com
as expectativas na área de teledramaturgia para o ano que vem.
Não sou
crítico de cinema. Sou apenas um
espectador que gosta de assistir a um bom filme e comentar o que achou a
respeito. Pois bem, o longa metragem Êxodo: Deuses e Reis, de Riddley Scott,
nos remete a toda a suntuosidade do Egito antigo com belas tomadas panorâmicas da
cidade de Memphis. A caracterização e fotografia também não ficam para trás.
Tudo é muito exuberante e caprichado, embora se torne um pouco exaustivo devido
a sua longa duração.
Christian
Bale dá vida a Moisés, herói do Velho Testamento bíblico, sem exagerar nas tintas
e/ou cair na pieguice. Seu Moisés é mais sensível e humano, demonstrando
nuances interessantes dentro do enredo; inicialmente renegando sua origem
hebreia até passar, gradativamente, para o lado do povo escravizado pelo Egito.
Embora a atuação de Joel Edgerton como Ramses não tenha sido bem recebida pela
crítica, considero que ele conseguiu cumprir bem o papel de dar vida ao faraó
tirano e inseguro.
O filme
conta também com várias mensagens que criticam claramente o cristianismo. A
começar pela personificação de Deus na pele de um garotinho. Eis a metáfora de
que Ele é, na visão de Riddley Scott, como uma criança mimada, vingativa e impiedosa.
Há outro momento em que este posicionamento fica ainda mais explícito quando
Ramses, diante da praga que tirou a vida de todas as crianças egípcias incluindo
o seu filho, pergunta a Moisés: “Que povo é este tão fanático a ponto de
idolatrar um Deus assassino?”.
Visualmente
falando, é um filme agradável. Há erros e acertos em sua execução, mas quem for
ao cinema irá sair da sessão satisfeito. Vencendo as comparações com o terrível
“Noé”, Êxodo consegue aproveitar bem as passagens bíblicas como as pragas que assolaram
o Egito e a travessia do Mar Vermelho. Acredite, são os melhores momentos deste
épico.
Convidados
inquietos com o atraso de Marcelo. O buchicho é cada vez maior. CAM vai buscar
Rosana e Mercedes, que estão em algum canto da sala.
ROSANA - Que
atraso da porra é esse? Será que o Marcelo vai dar pra trás, Mercedes?
MERCEDES - Não, acho que não. O Marcelo mudou muito depois
que conheceu a Júlia. Ele queria tanto esse casamento, tava tão apaixonado...
Deve estar estourando por aí já, já.
Enquanto
Mercedes falava, Rosana olhava para Aurélio, que, sozinho do outro lado da
sala, tomava uma taça de champagne e a observava.
MERCEDES – Tá me ouvindo, Rosana? O que é que tú tanto olha,
hein?
ROSANA - (dando
um risinho) Nada, ué!
MERCEDES -
(percebendo) Sei...
Flávia
está numa conversa com Mildred, mas não tira os olhos de Aurélio.
MILDRED - A
Tércia deve estar uma pilha de nervos. Imagina a noiva lá dentro. (T) Você é
que nem demonstra inquietação pelo atraso do noivo.
FLÁVIA -
Não, é que eu já estou acostumada com esses atrasos. O diferente aqui é que o
noivo é o atrasado da história. Mas da parte da organização tá tudo ok.
Corta
para Amélia angustiada em um canto. Mercedes se aproxima dela.
MERCEDES - E aí, dona
Amélia, como é que está a Júlia?
AMÉLIA - Tá
aperreada. Já nem sei mais o que dizer pra acalmar os nervos dela.
MERCEDES - Fica
calma, dona Amélia. Ó, conheço o noivo faz tempo. Tenho certeza que já, já ele
está por aqui.
AMÉLIA - Deus
lhe ouça, minha filha.
Corta
para Justiniano, Osvaldo e Zoraide em outro canto.
JUSTINIANO - Mas será
possível que esse cabra vai desistir do casamento?
ZORAIDE - Deve
de ter acontecido. (T) Já imaginou a Júlia passar por um vexame desses?!
OSVALDO - Olha
lá, painho, a mãe do cara tá conversando com o juiz.
ZORAIDE - E ele
já tá agoniado também.
Corta
para Tercia conversando fora de áudio com o juiz de paz, que demonstra, embora
discretamente, já estar chegando ao seu limite. Tercia se afasta dele e se
coloca no centro da sala. Pede a atenção dos convidados.
TERCIA - Eu
quero pedir um minutinho da atenção de todos. (T) Sabemos que o meu filho
Marcelo está um tanto atrasado, mas eu peço que tenham só mais um pouco de
paciência. (T) Estamos em família, entre amigos próximos, então imagino que
todos saberão compreender. O Marcelo deu um pulo lá em Feira de Santana pra
tomar posse na Universidade e muito provavelmente aconteceu algo lá que tenha
causado esse atraso. Infelizmente a data coincidiu com a do casamento, e não se
pode alterar nenhuma das duas. Mas eu tenho certeza que ele já deve estar
chegando. Peço desculpas a todos vocês, principalmente ao senhor juiz. (ao
juiz) Obrigado pela paciência, doutor Ademar.
Todos
parecem compreender. Tércia tenta disfarçar a sua preocupação. Amélia percebe e
se aproxima dela.
AMÉLIA - Eu
também continuo preocupada, mas já estou orando em espírito. Vai dar tudo
certo!
Corta
para:
CENA
2. APTO DE TÉRCIA. QUARTO DE HÓSPEDES. INT. DIA
Celular de Júlia
tocando. Ela continua muito aflita. Amélia também está no quarto.
AMÉLIA - Não vai atender, filha?
JÚLIA - Atende pra mim, mainha.
AMÉLIA - (ao tel) Alô... Quem?... Ah, oi,
Rosinha, tudo bem?... A Júlia? A Júlia tá aqui, toda nervosa. É... (pausa) Tá,
tá bom, eu vou passar pra ela. Beijo!
Amélia entrega o
celular para Júlia, que tenta disfarçar certo incômodo.
JÚLIA - (a Amélia) Mainha, eu tava
querendo falar com o Danilinho. Será que a senhora podia chamar ele lá embaixo?
Amélia
sai. Só então Júlia começa a falar com Rosa Maria.
JÚLIA - (ao tel) Alô, tudo bem,
Rosinha?
ROSA
MARIA - (off, tel) Oi, Júlia! Eu não vou
poder falar muito, porque eu tô ligando da casa da dona Erundina. (pausa) Olha,
Julinha, eu pensei muito em te ligar antes. Talvez você preferisse nem falar
comigo, mas é que eu queria muito ouvir a tua voz. Mesmo que fosse pela última
vez...
JÚLIA - (ao tel) Não, que é isso? É
muito bom falar contigo. (T) Rosinha, faz o seguinte: Me dá o número de onde tu
tá ligando, que eu retorno a ligação. (procura um bloco de papel e uma caneta)
Peraí, só um minutinho... (encontra o que procura) Pronto, pode falar...
(pausa) uhum... Sei... Tá, já anotei tudo. Aguarda aí, que eu já te ligo!
Júlia
desliga o celular no momento em que Danilo entra no quarto.
DANILO - Licença...
Júlia olha séria para
ele, como quem diz: “foi você, né?”, e faz um gesto para que ele feche a porta.
Danilo obedece. Júlia retorna a ligação do telefone da cabeceira da cama.
JÚLIA - (ao tel) Oi, Rosinha, sou eu...
ROSA
MARIA - (off) Como eu tava dizendo, eu
queria falar contigo há um tempão. Não liguei antes porque fiquei constrangida,
com vergonha... Agora... Agora acho que já é tarde demais, né?
JÚLIA - (ao tel) Claro que não!
ROSA
MARIA - (off, esperançosa) Não?!
JÚLIA - (ao tel, casual) Não. Aconteceu
um contratempo, a cerimônia tá atrasada... (meio ácida) Eu não taria aqui
falando contigo agora se tivesse acabado de me casar, né?
ROSA
MARIA - (off, triste) Desculpa se eu tô
atrapalhando. Eu... Eu só quero que você saiba que... que eu continuo gostando
muito de você e que eu desejo que você seja muito feliz, assim como eu também
espero ser um dia.
JÚLIA - (ao tel) Tenho certeza que nós
duas vamos ser muito felizes, minha amiga. (T) Olha, desculpa se eu acabei
sendo grossa, mas é que eu tô muito nervosa, nem sei direito o que eu tô
falando. Outra hora a gente conversa, tá? (pausa) Tá bom. Outro pra você.
Tchau.
Júlia desliga o
telefone e encara Danilo. Durante toda essa cena o cachorrinho Tico esteve andando
pelo chão do quarto. Corta para:
CENA
3. RODOVIA BAIANA. EXT. DIA
Abre na BR 324. Vemos
um congestionamento quilométrico no sentido Feira de Santana-Salvador. Há alguns
policiais perto de uma viatura da polícia rodoviária. Corta pra uma ambulância
do SAMU, onde profissionais deste serviço prestam os primeiros socorros a
Marcelo. O estado dele é gravíssimo. Corte
descontínuo: Sirene da ambulância é ligada. Carros vão abrindo
passagem.
Corte
para:
CENA
4. ENTRE SERTÕES. RUAS/PRAÇA. EXT. DIA
Acompanhamos Rosa
Maria caminhando por algumas ruas até a pracinha principal. Ela senta num
banco. Está desiludida. Um garotinho que passeia por ali com seus pais se
aproxima dela e lhe dá uma flor. Ela sorri pra ele, que depois corre na direção
dos pais. Tempo na tristeza de Rosa Maria. Música “Mentiras” de Adriana
Calcanhoto, de fundo. Corta para:
CENA 5. APTO DE TÉRCIA. QUARTO DE HÓSPEDES. INT. DIA
Danilo e Júlia.
Conversa em andamento.
DANILO - Eu não achei que teria problema
passar o teu número pra Rosinha... Cês duas sempre foram tão amigas...
JÚLIA - Eu sei, mas é que eu não gosto
que ninguém tome decisões por mim. Olha aqui, Danilinho, você tá proibido de
dar o meu número pra quem quer que seja sem me consultar antes.
DANILO - Tudo bem. Desculpa.
JÚLIA - (nervosa) E o Marcelo que não
chega, hein! Já tô ficando agoniada, esse vestido tá começando a me sufocar.
DANILO - Deixa de besteira, tia. Você tá
linda! Relaxa, que vai dar tudo certo!
JÚLIA - (sorri) Tenho uma novidade pra
te contar. Dessa vez não vai ser em primeira mão como das outras vezes, mas em
segunda. (sorri, cria expectativa)
DANILO - Vai, tia, fala! Que novidade é
essa?!
JÚLIA - (feliz) Tô grávida! Até agora o
Marcelo é o único que já tava sabendo.
DANILO - (feliz) Pôxa, tia, que novidade
maravilhosa! Parabéns!
Os dois se abraçam,
muito felizes. A alegria dos dois é interrompida por um grito agudo de Tercia
vindo da sala. Ouvem um grande burburinho vindo de lá.
JÚLIA - (assustada) Quê que tá
acontecendo?
Júlia e Danilo saem
apressados do quarto. Tico continua por ali, agora tirando um cochilo na cama. Corta para:
CENA 6. APTO DE TÉRCIA. SALA PRINCIPAL. INT. DIA
Abre em Júlia
descendo a escada sem nada entender da cena. Danilo vem logo atrás dela. Tércia
está aos prantos, amparada por Aurélio e Mildred. Amélia corre ao encontro de
Júlia que “desaba em si” já podendo imaginar que algo de muito grave deve ter
acontecido a Marcelo. Todos chocados! Música triste de fundo. Um tempo no clima
de tristeza geral e corta para:
CENA 7. HOSPITAL. CORREDOR. INT. NOITE
É o mesmo hospital
público para onde Júlia foi levada quando precisou de socorro. Júlia e Tercia,
desoladas, estão sentadas em cadeiras dispostas no corredor. Aurélio e o médico
amigo de Marcelo (também abalado, mas procurando manter uma postura
profissional), conversam à parte e fora de áudio. Médico se afasta e Aurélio se
aproxima delas.
TERCIA - Então, Aurélio? O que foi que ele
disse? Por que é que ainda não transferiram o Marcelo prum hospital particular?
Aurélio olha muito
triste para elas. Tercia começa a desconfiar do que aconteceu.
TERCIA - Que foi, Aurélio? Por que você tá
assim? (quase chorando) Aconteceu... aconteceu alguma coisa com o meu filho?
AURÉLIO - (sem conseguir se conter, voz
embargada) Eles... não puderam fazer mais nada. O Marcelo já estava morto quando
deu entrada no hospital.
Tercia e Júlia
arrasadas. Aurélio se agacha diante de Júlia e com olhos marejados olha nos
olhos dela.
AURÉLIO - O médico me disse que a equipe que
prestou socorro ao Marcelo ouviu claramente ele balbuciar “meu... meu filho”...
Júlia não segura as
lágrimas. Tercia, surpresa, olha pra Aurélio. Por um instante aquela dúvida
deles paira como um refrigério em meio a uma profunda dor. Os três começam a
chorar em silêncio. Emoção, tristeza. CAM vem recuando devagar. Fusão:
CENA 8. CEMITÉRIO. EXT. DIA
Abre no cortejo de
familiares e amigos em direção ao local onde o corpo de Marcelo será sepultado.
Júlia caminha amparada por Amélia e Danilo, ladeados por Justiniano, Osvaldo,
Zoraide, Mercedes, Rosana, Flávia, Aurora, a empregada de Tércia. Tercia vem
abraçada com Aurélio e Mildred. O médico e demais amigos de Marcelo, além de
colegas e alunos, também estão por ali. A secretária e demais funcionários da
clínica de Tércia, além de seus amigos, e amigos de Aurélio também acompanham o
cortejo.
Corte
descontínuo:
PADRE, fora de áudio,
diz algumas palavras de conforto aos familiares e amigos. Todos o acompanham
numa prece.
CAM vai buscar a
expressão dos personagens principais. Vemos Amélia, que embora evangélica, se
mostra respeitosa ao ritual e ora em silêncio, ao seu modo. Instantes. Caixão
vai descendo à sepultura. Reação de Júlia já mais contida em seu sofrimento, de
Tércia que faz como quisesse ir junto com o filho. Aurélio a contém com um
forte abraço. Tristeza.
Uma ALUNA de Marcelo
começa a cantar “To Sir With Love” de Lulu e é logo acompanhada em coro por
alguns dos demais alunos presentes. O áudio é abafado pela mesma música, agora
na voz da própria Lulu.
Num cantinho, mais
afastadas, encontramos Mercedes e Rosana, que consternadas observam tudo.
Rosana parece agoniada com sua vestimenta negra sob o forte calor.
MERCEDES
- (baixo) Que agonia é essa, Rosana?
ROSANA - (com aquele jeitinho dela) Calor da
porra. Não tá agoniada, não?
MERCEDES - Tô, mas não fica bem se abanar todinha
assim. Parece mais que tá é com fogo. (T) Também escolheu logo essa roupa. Luto
fechado é só pra parente, minha filha. O povo vive falando na televisão.
ROSANA - (cochichando) E tu acha que eu ia me
vestir de qualquer jeito pra enterro de gente rica? Olha como tá todo mundo
aprumado, (tom de cochicho logo se esvai, e ela passa a falar gesticulando)
olha pra isso, que coisa fina é enterro de grã-fino: Todo mundo chora baixinho,
ninguém se joga por cima do caixão. (tom de fofoca) Menina, teve um enterro de
um tio meu, que a mulher dele se rasgou todinha, de peito pra fora e tudo! Ave
Maria! Pense na vergonha.
Mercedes já não sabe
onde enfiar a cara. Flávia, mesmo de longe, as repreende com um olhar
fulminante. Mercedes dá uma cotovelada em Rosana.
MERCEDES - (falando quase entre os dentes) Daqui a
pouco tá é todo mundo olhando pra nossa cara, Rosana. Olha lá a tal da Flávia.
ROSANA - Aquela dali faz é tempo que tá
medindo a gente de baixo pra cima. Deve ser inveja! Eu continuo uma gostosa
mesmo assim chorosa, de luto.
Mercedes vai saindo à
francesa e puxa Rosana consigo.
ROSANA - Ave Maria, Mercedes, tu tá é
machucando meu braço. Me solta.
MERCEDES - Fica aí falando besteira o tempo todo.
Respeita a porra da morte dos outros. Esqueceu que é o Marcelo quem tá ali
sendo enterrado?
ROSANA - É, tá certa! (T) Mas eu não tava
falando nada demais, não.
CAM vai buscar amigos
e familiares, tanto de Júlia quanto de Tércia, que recuam, deixando espaço para
que elas, abraçadas, ao lado de Aurélio, prestem suas últimas homenagens a
Marcelo. Ambas depositam flores sobre o caixão.
Corta
para:
CENA 9. APTO DE TÉRCIA. SALA. INT. DIA
Justiniano,
Amélia, Danilo e Zoraide estão prontos pra voltar pra Entre Sertões. Conversam
(fora de áudio) com Tércia e Aurélio, já perto da porta. Osvaldo e Júlia conversam
à parte.
OSVALDO - (voz embargada)
Então, minha irmã, tu me perdoa?
Júlia
pensa um pouco.
JÚLIA - Eu
sei que eu tive um comportamento errado, que eu não agi certo. Eu sei disso.
Mas eu acho também que eu não merecia ser tratada daquele jeito.
OSVALDO - (contrito)
É, eu sei.
JÚLIA - Durante
muito tempo eu senti um ódio danado de você. Quando eu me lembrava das coisas
que você me disse, da surra de cinto, dos seus gritos. (T) No fundo eu te
culpava pelas coisas terem chegado a uma situação extrema. (T) Mas teria sido
pior... Se eu não tivesse mais nenhum
tipo de sentimento por você. Foi por te amar tanto, meu irmão, que doeu muito
em mim. (T) Mas tudo o que eu venho passando nos últimos tempos tem servido pra
eu repensar a vida, refletir sobre uma série de coisas.
Osvaldo
emocionado ouve com atenção.
JULIA - Eu
não vou te pedir perdão, porque sinceramente eu não vejo motivo pra isso. Mas
acho que eu cansei de te odiar, ou desisti, sei lá. (Silêncio, os dois se
olham, emoção aumenta) Eu te perdoo, meu irmão.
Osvaldo
sorri. Abraço caloroso deles. Tempo na emoção dos irmãos abraçados, chorando.
Tico se aproxima todo serelepe. CAM vai buscar, Tercia, Danilo, Justiniano,
Amélia, Zoraide e Aurélio, que param de conversar e observam emocionados, a reconciliação
dos irmãos.
Corta
para:
CENA 10. APTO DE TÉRCIA. QUARTO DE HÓSPEDES. INT. DIA
Tercia conversa com
Júlia num tom de saudosismo.
TERCIA - Ele tava tão feliz, né? Tão feliz...
As
duas ficam em silêncio um pouco. Tercia procura sorrir, apesar da tristeza.
TERCIA - Eu sei que você e o Marcelo
planejavam nos fazer uma surpresa com essa gravidez. Infelizmente as coisas não
saíram como vocês planejaram, mas apesar de tudo, apesar de toda essa tristeza
que eu tô sentindo, é um consolo pra mim, saber que tem uma sementinha do meu
filho crescendo dentro de você. (T) Eu e o Aurélio... A gente não sabe direito
como agir nessa situação, mas vamos procurar um advogado e nos orientar sobre
todas as providências que devem ser tomadas para que essa criança seja
devidamente registrada no nome do Marcelo. Eu tenho certeza que esse filho ou
filha vai nos trazer muitas alegrias. Essa criança é um pedacinho do Marcelo
que vai continuar sempre conosco.
JÚLIA - (emocionada) Eu decidi que...
se for menino vai se chamar Marcelo. Marcelo Filho. E se for menina... Por que
não, Marcela?
TERCIA - (sorri) Uma coisa eu te garanto:
não vai faltar nada a você nem ao nosso neto ou neta.
As
duas se abraçam muito emocionadas, lágrimas nos olhos.
JÚLIA - (desfaz o abraço) Tércia, eu
não fui com eles hoje, mas eu to pensando em passar uns dias com a minha
família.
TERCIA - Ah, eu acho que vai te fazer muito
bem, passar uns dias com a sua família, com os seus amigos... Até eu iria se
pudesse!
Nas
duas se olhando com cumplicidade, o
corte:
CENA
11. STOCK-SHOTS. EXT. DIA/NOITE/DIA
Passagem de tempo: Imagens
aceleradas de diferentes pontos de Salvador, terminando na fachada do Aeroporto
Luis Eduardo Magalhães sob a legenda: MESES
DEPOIS.
CENA
12. AEROPORTO. SAGUÃO. INT. DIA
Tercia e Mildred
caminham em direção ao guichê da companhia aérea.
MILDRED - Tô feliz por você ter se permitido
essa viagem, e claro, mais feliz ainda por estar fazendo parte dela. Quinze
dias entre Lisboa e Paris era tudo o que a gente estava precisando.
TÉRCIA - (suave tristeza) Acho que o
Marcelo, de onde quer que ele esteja, também está feliz por isso, Mildred.
MILDRED - Tenho certeza que sim, amiga! Bom
seria se a Julia pudesse ir com a gente.
TÉRCIA - Mas com aquele barrigão, nem dava,
né? (T) Eu te falei que ela chamou o sobrinho pra morarem juntos no
apartamento? (Mildred faz que não) Então, eu passei o apê do Marcelo pro nome
dela. Aí ela me perguntou se havia alguma problema em o Danilo vir morar com
ela. E é claro que não. Eu acho até que é muito bom pra ela.
MILDRED - Ah, sim, o sobrinho dela é aquele
rapazinho fofo que você contratou como Office-boy pra sua clínica?
TÉRCIA - Ele mesmo. Menino bom, interessado!
MILDRED - Ô, amiga, mudando de assunto: E o
Aurélio, hein? Voltou mesmo com a Flávia!
TÉRCIA - Olha, se voltaram é porque se
gostam, se merecem, e combinam bem um com o outro. Ela é ciumenta até a alma e
ele não cansa de dar motivos. Tomara que se resolvam!
MILDRED - Ah, mas ela é muito dramática, Tércia.
TÉRCIA - E esse papo, hein? Vamo falar de
coisa boa? (riem)
Elas continuam na
fila do guichê da companhia aérea. Close de Tércia, que por um instante parece
perdida em seus pensamentos. Entra a música “Saudades de Amar” de Nana Caymmi,
de fundo. Corta para:
CENA
13. CLÍNICA MEU BICHO. ANTESSALA DE TÉRCIA. INT. DIA
Abre na secretária
fazendo recomendações de praxe a Danilo, que ouve tudo atentamente antes de
sair. Ele está feliz pela oportunidade.
SECRETÁRIA - Então é isso, Danilo: banco e depois
entregar as notas lá no contador.
DANILO - Tudo certo, Yasmim, vou num pé e
volto no outro.
SECRETÁRIA
- Não precisa pressa, Danilo. Antes eu queria que você botasse esses documentos
(pega uma papelada) no arquivo. Eu tô meio atolada hoje.
Danilo sorri, toma a
papelada das mãos de Yasmim. Ao se virar se choca violentamente com Aurélio.
Papelada se espalha pelo chão da sala.
SECRETÁRIA - (toma aquele susto) Gente!
Yasmim esboça
ajudá-los, mas toca o telefone. Ela atende. Rapidamente, Danilo se abaixa para
recolher os papéis. Aurélio faz o mesmo. Eles se encaram.
AURÉLIO - Desculpa aí, meu camarada, é que o mau-jeito
(aponta para si) passou por aqui e ficou.
DANILO - Imagina, não foi culpa do senhor,
eu é que sai de cabeça baixa, conferindo a papelada.
AURÉLIO - (fazendo graça) Ai, ai, ai, que agora
doeu!
DANILO - (assustado) O que foi? O senhor se
machucou?
AURÉLIO - Ai, ai, ai, que agora doeu mais!
Yasmim, ao telefone,
ouve os gemidos de Aurélio, mas percebe ser brincadeira. Aurélio termina de
recolher a papelada e se levanta num pulo. Danilo vem com ele. Instantes. Um
encara o outro.
AURÉLIO - Você tá vendo algum senhor, rapaz?!
Danilo suspira
aliviado. Aurélio dá uma de suas gargalhadas. Danilo ruboriza, mas fica em
silêncio.
AURÉLIO - (abraça) Eu sou palhaço assim mesmo.
No abraço, Danilo
sorri encabulado. Aurélio o segura pelos ombros e o encara mais uma vez.
AURÉLIO - Vem cá, você não é parente da Júlia?
DANILO - Sou sim. Sou sobrinho dela.
Aurélio se volta pra
secretária.
AURÉLIO - Eu vim buscar um documento que Tércia
deixou aí, Yasmim.
SECRETÁRIA - Claro, seu Aurélio. Tá ali na sala
dela. Vou lá pegar.
A secretária sai.
Danilo arquiva os papéis e se retira. Aurélio o acompanha com o olhar. Corta para:
CENA
14. FACHADA DA CLÍNICA/RUA/CARRO. EXT/INT. DIA
Danilo, munido de uma
pasta, sai do prédio e caminha pela calçada no sentido do ponto de ônibus. Aurélio
sai do prédio logo em seguida. Ele avista Danilo e entra em seu carro, que está
estacionado por ali. Carro vai saindo devagar até alcançar Danilo. CAM
acompanha essa movimentação e a breve conversa deles fora de áudio. Do ponto de
vista de Aurélio, vemos Danilo se aproximar e entrar no carro. O carro de
Aurélio segue adiante e dobra uma esquina. Corta
pro interior: Danilo está pouco à vontade. Aurélio ri.
AURÉLIO - Impressão minha ou você tá tenso?
DANILO - (ri, respira fundo e relaxa) Não, é
besteira minha.
AURÉLIO - (morde o lábio) Sim, sei como é...
Aurélio repousa uma
das mãos na coxa de Danilo, que continua olhando pra frente, mas sorri. CAM
recua do interior do carro. Vemos o carro se distanciando. Corta para:
CENA
15. APTO DE FLÁVIA. QUARTO DO CASAL. INT. DIA
Aurélio
está tomando banho. Flávia fuça nos bolsos das roupas dele. Conversa ao meio.
FLÁVIA - Ah,
mas você sabe como é a Márcia: Ela tem insistido pra gente ir nesse jantar na
casa dela.
AURÉLIO - (off) A
Márcia é chata pra caralho. Se eu não for, você vai e dá uma desculpa qualquer lá.
FLÁVIA - Na
boa, Aurélio, mas você fala isso de todas as minhas amigas. (T) Se não quer ir,
não vamos. A gente fica em casa, inventa alguma coisa.
Som
de chuveiro ligado. Aurélio vem de mansinho saindo do banheiro. Flávia é
flagrada.
AURÉLIO -
(rindo) você continua a mesma, hein?
Reação
de Flávia.
FLÁVIA - (disfarça
o susto) O que é? Eu continuo a mesma, sim senhor.
Ela
se aproxima dele, provocante.
FLÁVIA - Você
sabe que eu sou louquinha por você. Sabe que eu sou capaz de tudo por você, né seu
cafajeste?
Aqui
entra a música “A Maçã” de Deborah Blando, de fundo. Flávia começa a beijá-lo
na boca, no rosto, no pescoço. Sua boca percorre o corpo molhado e nu de Aurélio.
Ela se abaixa diante dele. Do ponto de vista de Flávia, vemos Aurélio sorrir de
um jeito sacana.
Corta
para:
CENA
16. ENTRE SERTÕES. EXT. DIA
Clipe de imagens da
cidade, terminando na fachada do Boteco Cai Duro.
CENA
17. BOTECO CAI DURO. INT/EXT. DIA
Um
dia comum: TV ligada, clientes sendo atendidos por um efusivo Osvaldo e pelos
dois rapazes que o ajudam. Zoraide no caixa. Corte descontínuo: O movimento agora é menor. Do ponto de
vista de Zoraide, vemos Osvaldo de costas pro boteco, em pé na calçada. Ele
observa a rua, as pessoas que passam, se perde em pensamentos. Zoraide vai até
ele, e o abraça. Ele sorri e retribui o abraço.
ZORAIDE - Tudo
bem?
OSVALDO - Tá sim!
Zoraide
desvia o olhar pro outro lado da rua. Corta para Justiano e Amélia, vindos caminhando
na direção do boteco.
ZORAIDE - Espia quem
vem ali!
OSVALDO - (feliz)
Oxente, é painho e mainha!
Justiniano
e Amélia finalmente chegam e são abraçados pelo casal.
OSVALDO - Mas que
coisa boa receber vocês aqui. Painho vem sempre, mas a senhora, mainha! Que
milagre é esse?
JUSTINIANO - Quarenta
e cinco, filhão... Quarenta e cinco anos! Não são dias, né?
Osvaldo
olha surpreso para os pais.
ZORAIDE - De
casados? (Justiniano faz que sim) Mas tudo isso? Será que a gente chega lá, Osvaldo?
AMÉLIA
- O Tino tava querendo que eu fizesse
uma maniçoba e chamasse vocês pra comer lá, pra gente comemorar. Oxe, eu fui é logo
falando que eu queria era comer fora.
Todos
riem.
OSVALDO - Tá
certa, minha véia?
Zoraide
faz sinal pra que eles entrem.
ZORAIDE - Vou
caçar um cantinho pra gente, seu Tino e dona Amélia. Eu e Osvaldo vamos almoçar
com vocês.
OSVALDO - (a um dos
ajudantes) Pega uma breja bem geladinha pra gente! (olha pra mãe) Ah, e um
refrigerante!
Corta
para Zoraide que se aproxima do outro ajudante.
ZORAIDE - O
movimento tá mais fraco agora. Cês dão conta né? (ele faz que sim) Qualquer
coisa, chama a gente!
Zoraide
se vira e observa Osvaldo carinhoso com os pais. Sorri.
Corta
para:
CENA
18. APARTAMENTO DE JÚLIA. SALA DE JANTAR. INT. DIA
Júlia, já de
barrigão, come por dois. Mercedes e Danilo também estão sentados à mesa. Rosana
vem trazendo uma travessa de lasanha.
ROSANA - Vai ficar aí só olhando, Danilo? Quer
fazer o favor de ajudar e pegar os refrigerantes lá na geladeira?
DANILO - (alfineta) Simpática como sempre!
Danilo sai para
buscar os refrigerantes. Todos riem. Clima de alegria, descontração.
MERCEDES - Mas tú sabe que a Júlia não pode nem pensar
em tomar refri, né, Rosana?
ROSANA - E eu não sei? É por isso que o suco
de maracujá dela tá prontinho lá na jarra. Vai lá pegar!
MERCEDES - Aproveita, Júlia, aproveita enquanto tu tá
com esse barrigão. Logo as mordomias vão acabar.
Mercedes
sai. Júlia ri, tocando e olhando para sua barriga.
JÚLIA - Tá vendo como a sua mãe é
querida, filho? Logo, logo cê vai fazer parte de toda essa festa aqui!
Mercedes
e Danilo voltam nesse momento e tomam seus lugares à mesa.
MERCEDES - (a Júlia) Precisa ver como tu baba olhando
pra essa barriga! Ê mãe coruja!
JÚLIA - Sou mesmo! Bem corujona! Não
vejo a hora de ter essa coisinha fofa nos meus braços!
ROSANA - Falando em coisa fofa, o que é que tu
fez do Tico?
JÚLIA - Ele tá passando uns dias com a
dona Aurora, fazendo companhia pra ela, enquanto a Tercia tá viajando. (T) Ai,
agora que você falou, me deu uma saudade dele! Daqui a uns dias eu vou querer o
meu bichinho de volta!
DANILO - Não é querendo cortar esse (faz
biquinho, zoando) clima fofinho, não, mas será que dá pra adiantar logo
o meu lado aqui na lasanha? Tenho hora pra voltar pra clínica!
ROSANA - É, bem? Pois pode ir se servindo, que
eu não sou empregada de ninguém não, tá?
JÚLIA - (ri) Ai, como é bom ter vocês
aqui comigo! Esse daí (aponta Danilo) só veio porque eu disse que teria lasanha
pro almoço.
ROSANA - Fazer o quê? Gente gulosa é assim
mesmo. Só pensa em encher o bucho!
DANILO - Não é todo dia que dá pra vir
almoçar em casa. Mas eu sei que vocês fazem questão da minha presença
arrebatadora!
Risos de todos, que
começam a se servir. Rosana e Danilo brigando pra ver quem se serve primeiro;
Mercedes já saboreando a lasanha: “hum, tá dos deuses!”; Danilo prova: “Humm...
Divina”; Rosana: “Tá muito boa mesmo!”. Júlia bebe um gole de suco, olhando
emocionada para os três.
JÚLIA - Obrigada, gente! Muito obrigada
por vocês fazerem parte da minha vida!
Entra a música “Eu Apenas
Queria Que Você Soubesse” de Gonzaguinha, de fundo. No clima de felicidade
geral, Fusão:
CENA
19. PRAIA. EXT. FIM DE TARDE
Sol se pondo. Som das ondas do mar. Júlia
caminha pela areia da praia. Sorri, tocando e olhando para sua barriga. Para um
pouco. Tempo em Júlia contemplando o horizonte. Ela chora e ri de felicidade. De repente:
ROSA
MARIA - (grita em off) Ei, Júlia!
Do ponto de vista de
Rosa Maria, vemos a reação de Júlia ao reconhecer a sua voz. Rosa Maria corre
ao encontro de Júlia. CAM vai buscar Danilo sorridente a observar o reencontro. Tempo no beijo apaixonado das duas. A música “Primeiros Erros”, de Simonny, de fundo. CAM vem recuando lentamente.Corta para o: