Páginas

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Especial O Astro (Parte I) - Entrevista com Alcides Nogueira e Vitor de Oliveira: "Os Senhores das Onze!"

Comemorando em grande estilo os 60 Anos da Telenovela Brasileira, Sob as bençãos da "Nossa Senhora das Oito", a saudosa Janete Clair, a Globo não poderia ter sido mais feliz na escolha dos responsáveis por atualizar a trama de O Astro. Coube aos autores Alcides Nogueira, Geraldo Carneiro, com a colaboração dos talentosos Vitor de Oliveira e Tarcísio Lara Puiati tal incumbência. A novela das onze chega a reta final. E lógico, os convidamos, e eles nos deram a honra dessa grata entrevista. Confira a 1ª parte com os queridos Alcides Nogueira e Vitor de Oliveira:


 Por Isaac Abda
Ao Alcides Nogueira:

Logo de início você teria rejeitado o título de novela para o projeto de O Astro, preferindo defini-lo como série. No entanto, o público parece ter se apaixonado pela “novela das onze”, e a Rede Globo, sabiamente oportunista, já prepara o lançamento de Gabriela para o mesmo horário. Óbvio, que você tinha em mãos uma excelente proposta da emissora, mas, considerando o horário e o produto, num formato inovador, havia um temor de que pudesse não ser bem sucedido?
Alcides Nogueira - Sempre há esse temor, porque a telinha tem seus mistérios. Mas o desafio é instigante! Geraldo Carneiro e eu tínhamos uma ótima história nas mãos... mas, ao mesmo tempo, sabíamos que não seria fácil revisitar a obra de Janete Clair, a menos que “descobríssemos” uma chave para isso. Optamos pelo despudor, procurando trazer as tramas para os nossos dias, mas com uma pegada “vintage”, que desse ao espectador a sensação de estar assistindo a uma novela do final dos anos 70.


Você acompanha a novela no exato momento em que vai ao ar? Se sim, consegue fazê-lo como um, de milhões que assistem por prazer, ou é tão autocrítico que não abandona o olhar profissional nem por um instante? Permite-se ser influenciado pela audiência minuto a minuto, ao ponto de uma personagem/trama rumar para algo totalmente involuntário?
Alcides Nogueira - Assisto no momento em que vai ao ar. Tenho reações de surpresa, de espanto, e também de curiosidade, como os milhões de telespectadores. É muito bom isso! Mas é claro que existe a autocrítica. Percebo quando uma trama pegou um caminho esquisito. E, sempre depois da exibição do capítulo, converso com Geraldo Carneiro e com os colaboradores Tarcísio Lara Puiati e Vitor de Oliveira, para trocar figurinhas com eles.

Alguma personagem em especial que você lamenta não ter podido, ao longo da história, dar o “merecido”, porém inviável, destaque?
Alcides Nogueira - A mudança de formato (dos 180 capítulos do original ficamos com 64) fez com que várias tramas fossem deixadas de lado... ou não fossem tão coloridas. Uma pena...

O Astro é incontestavelmente um sucesso de crítica e de audiência. Elenco afinadíssimo, belas imagens, agradável trilha sonora, direção em harmonia com a equipe de autores. Mas houve quem estranhasse e até mesmo rejeitasse o ritmo ágil dado à trama. Um autor experiente como você o é, sabe facilmente prevê esse tipo de reação “contrária”.  Em algum momento, com a novela já em exibição, você pensou em amenizar essa característica? Você teve total apoio da emissora para fazer dessa nova versão, “O Astro como você nunca viu!”?
Alcides Nogueira - Realmente o ritmo foi muito ágil. Propositadamente. Geraldo e eu já tínhamos definido isso, quando começamos a escrever a série. A Globo nos deu total liberdade de criação. Além disso, tínhamos o suporte de Roberto Talma, que é genial, e do Mauro Mendonça Filho. Os dois entenderam, desde o início, a nossa proposta. E compraram a nossa ousadia.

Time que está vencendo é preservado. Você pretende ratificar essa afirmativa em seus próximos trabalhos? Obrigado pela atenção ao Blog!
Alcides Nogueira - Tarcísio e Vitor são dois jovens autores muito talentosos e profissionais. Foi uma tranqüilidade trabalhar com eles. Geraldo e eu sempre contamos com os dois. Sem dúvida eu quero que eles estejam comigo em trabalhos futuros. Mas, ao mesmo tempo, torço para que, logo, possam exercitar a criatividade em suas próprias histórias. Eles merecem. Quanto à parceria com Geraldo Carneiro (que foi a segunda – já tínhamos escrito “JK”, com Maria Adelaide Amaral), é sempre uma alegria. Geraldo é maravilhoso! Conseguimos formar um dream team.


Ao Vitor de Oliveira:

Como surgiu o convite para colaborar em O Astro?
Vitor de Oliveira - Depois de passar por todo o processo da oficina de teledramaturgia, fiquei à disposição da emissora para os trabalhos que ela designar. O convite surgiu da própria CGDA (Central Globo de Desenvolvimento Artístico), mas lógico que, assim que soube do projeto fiquei torcendo para ser escalado, afinal seria uma sorte imensa estrear em uma obra de Janete Clair sob a batuta do Tide, que além de ser um grande mestre, é uma pessoa a quem admiro imensamente como profissional e amigo e com quem tenho uma enorme afinidade. Quando soube que meu colega de oficina Tarcísio também estava no projeto, vibrei mais ainda. E Geraldo, além do talento conhecidíssimo, é outro gentleman.  Em suma, acho que a emissora leva muito em conta esses critérios e, principalmente nossa aptidão para determinado tipo de produto. Como durante a oficina, demonstrei muito gosto pelo novelão, acho que juntou a fome com a vontade de comer.

Ser escolhido dentre tantos, desperta também, sentimentos como inveja/despeito? Como você lida com isso?
Vitor de Oliveira - Acredito que sim, mas, sinceramente, não percebo muito isso. Não sou de ficar dando importância a esse tipo de coisa. Acredito que cada um tem sua própria história pra construir e quem fica muito preocupado com o  jardim do vizinho acaba não cuidando bem do seu próprio jardim. O fato é que ter sido escolhido não foi um golpe de sorte, mas sim fruto de muito trabalho e muita seriedade. Não caí de paraquedas: estudei, fiz inúmeros cursos e sou apaixonado por telenovelas desde que me conheço por gente. Portanto, se há alguma inveja, ela nem me afeta, pois nem chego a perceber.

Como colaborador de O Astro, existem personagens/núcleos específicos, sob a sua responsabilidade?
Vitor de Oliveira - Todo mundo acaba escrevendo para todos os núcleos, mas claro que há aqueles em que escrevemos mais. O Tarcísio, por exemplo, escreve com maestria a maioria dos impagáveis diálogos de Pablo e Cleiton e as armações de Neco e Ubiraci. Me dão muitas cenas de amor pra escrever. Eu escrevi muitas cenas de Márcio e Lili, de Márcio e Jôse, algumas de Herculano e Amanda e quase todas de motel Será que pensam que sou tarado? (Risos). Mas tem um núcleo que escrevo bastante e que tenho um carinho todo especial que é do triângulo amoroso Sílvia / Amin / Jamile. O trio de atores é inteligentíssimo e atinge com maestria o objetivo da cena. Também escrevi muitas cenas hilárias de Youssef e Nádia e muitas das conspirações de Samir com os irmãos no escritório. Nos últimos capítulos, tenho escrito muito Assunção também. Tide e Geraldo são generosíssimos e me deram ótimas cenas pra escrever desde o início, sempre com muita liberdade pra criar. Um presentão que me deram foi ter escrito o churrasco de Lili na Mansão Hayalla. Me diverti muito.


Essa cena do churrasco foi muito comentada, inclusive no twitter, onde está concentrado o maior número de críticos “especializados” em teledramaturgia, que se possa imaginar. Houve nela a intenção de homenagear o Alcides Nogueira, em referência à uma cena clássica de Rainha da Sucata, novela também escrita por ele?
Vitor de Oliveira - Claro! Não só uma homenagem ao próprio Alcides, como também à Regina Duarte que em “Rainha da Sucata” oferecia uma linguiça para Laurinha (Gloria Menezes). Desta vez, na pele de Clô, Regina viveu o outro lado quando Cleiton (Frank Menezes) lhe ofereceu a linguiça. Fiquei muito feliz em saber que Regina se divertiu muito com a cena e também adorei toda a repercussão que esse churrasco teve. Esse tipo de referência metalinguística é deliciosa pra quem reconhece e acompanha telenovela. O cinema já faz isso há anos e está mais do que na hora da telenovela reverenciar a si mesma, como fez em “Ti Ti Ti”. Isso só valoriza o próprio gênero.

A interpretação da Regina Duarte foi bastante criticada. Mas, de modo geral, como você lida com as críticas a essa versão de O Astro?
Vitor de Oliveira - Tem um texto que escrevi no melão chamado “O dia em que conheci Clô Hayalla” (leia, aqui) que resume toda a minha admiração por Regina Duarte. Acho que a interpretação dela sempre gera controvérsias porque Regina não é uma atriz que trabalha em sua zona de conforto. Ela não tem medo do risco, sempre procura ir além e, por isso mesmo, nunca passa despercebida. Sua Clô Hayalla é um verdadeiro carrossel de emoções. Clô é exagerada e intensa por natureza e Regina soube traduzir a alma dessa mulher de maneira simplesmente genial. Não consigo imaginar essa versão de “O astro” sem a Clô de Regina Duarte: essa mulher é um gênio e soube imprimir sua Clô de maneira indelével. E ao lado de Rosamaria Murtinho, Regina protagonizou cenas memoráveis. Sou fã absoluto. Quanto às demais críticas, lido com bastante naturalidade, pois sabemos que tudo não vai ser perfeito o tempo todo, mas as qualidades são infinitamente superiores aos defeitos. Acho que Tide e Geraldo sabem muito bem separar aquilo que é construtivo do que tem somente a intenção de ser corrosivo e maldoso. Felizmente, as críticas positivas são a maioria esmagadora.


São meses à frente do computador, criando histórias/diálogos. Como tem sido a sua rotina?
Vitor de Oliveira - Apesar de muito trabalho, é o emprego que sempre sonhei. Tenho um prazo para a entrega das cenas, mas sou eu mesmo quem faço meu horário e adoro escrever de madrugada. Como é um trabalho sistemático, nem sempre a criatividade está a mil, mas é preciso sempre escrever da melhor maneira possível e cumprir o objetivo que é atender a encomenda. Minha rotina consiste em ler atentamente e pensar muito nas cenas antes de escrevê-las. Faço muito isso durante o dia e escrevo de noite. Claro que a vida social diminui drasticamente, mas o prazer de escrever compensa tudo. Sendo muito sincero, é tão bom que nem parece trabalho. Os personagens invadem seu cotidiano completamente e até acho que eles ganham vida própria, ou seja, muitos diálogos pedem para ser escritos. Não vou mentir, é uma delícia.


O que vai fazer após O Astro?
Vitor de Oliveira - Tirar férias (risos). Ir para um lugar bem tranquilo e recarregar as baterias para o próximo trabalho, afinal estou nessa maratona física e emocional desde os tempos da oficina no ano passado.

Projetos à vista? Você mantém contrato com a Rede Globo? Obrigado pela gentileza!
Vitor de Oliveira - Sim, meu contrato não é por obra, portanto estarei à disposição para um próximo trabalho. Ainda não tenho projetos à vista na televisão, mas tem novidades vindo por aí em outras áreas. Assim que se concretizarem, prometo contar tudo (risos). 

Fotos: Globo.com
            Blog Prefiro Melão
            Revista Época
Vídeo: You Tube

9 comentários:

  1. Parabéns Isaac!
    Ficaram ótimas as duas entrevistas!
    E matou algumas curiosidades;;;
    Abração

    Fábio

    ResponderExcluir
  2. Só tenho a agradecer ao Isaac, que já tinha me entrevistado outra vez e agora me dá essa nova oportunidade. Adorei as perguntas, todas inteligentes e pertinentes. "Pode contar comigo" sempre...rs! Abração e sucesso para o blog.

    ResponderExcluir
  3. Maravilha. Faço o Ademir na novela e digo sem medo de errar, Alcides,Geraldo,Vitor e Tarcísio são um veradeiro Dream Time.
    Paulo Ascenção - Ator e Diretor

    ResponderExcluir
  4. Perguntas muitíssimo bem elaboradas, pertinentes, típicas de quem pesquisou a fundo, com seriedade e acompanhou ou, pelo menos, teve uma visão ampla da obra O Astro.
    Alcides e Vitor deram um show de disposição e simpatia na entrevista, pormenorizando tudo aquilo que o leitor queria saber sobre o processo de criação de O Astro e as expectativas dos criadores quanto à reação do público.
    Parabéns ao Alcides Nogueira por estrear com sucesso nessa experiência do horário das 11 e ao Vitor por estrear em grande estilo na colaboração e imprimir sua marca nas ótimas cenas aqui relatadas.
    Esse especial de O Astro promete!

    ResponderExcluir
  5. O Astro é sucesso absoluto: texto bem criado, com ótimas referências literárias, com um toque de humor (especialmente a hilária dupla do salão de beleza)que caiu nas graças do público e da crítica.
    Espero que Gabriela no ano que vem mantenha a faixa das 11 em evidência, assim como O Astro fez.
    Parabéns a Alcides Nogueira, a Vitor de Oliveira, a toda a equipe e O Astro e ao entrevistador.

    ResponderExcluir
  6. Vitor e Tide, dois amigos queridos! esse sucesso é mais que merecido! entrevista deliciosa!

    ResponderExcluir
  7. Essa novela entrou para a história da primeira vez e no meu coração da segunda. Os autores já devem ter ouvido muitos paabéns, mas eu vou fazer diferente vou dizer OBRIGADO, Tide, Vitor, Tarcísio e Geraldo!!! Vocês foram moooonstros!!!

    Parabéns pela entrevista, Isaac! Muito bom, pra variar!

    ResponderExcluir
  8. Parabéns pela entrevista. O Astro é um grande trabalho graças a seu time talentoso de roteiristas.

    ResponderExcluir
  9. "O astro" vai deixar saudades! Folhetim de verdade! Estou de volta ao link antigo! www.cascudando.zip.net

    ResponderExcluir