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domingo, 9 de setembro de 2012

Lauro Cesar Muniz - Ele não é "O Salvador da Pátria"!


Por Isaac Santos

Escutando a trilha sonora de O Salvador da Pátria e pensando em o quanto essa novela representa para a carreira do Lima Duarte, Maitê Proença, como os mesmos já declararam algumas vezes, e também para os demais atores do elenco, para a própria emissora e sua teledramaturgia inconfundível, para nós telespectadores, e principalmente para o autor da trama. O Lauro Cesar Muniz num excelente momento, inspiradíssimo, provocador, escreveu uma novela gostosa de ser curtida no auge do horário nobre da Rede Globo. Bons tempos.


Passados mais de vinte anos o Lauro tem as suas obras apresentadas numa outra emissora. Atualmente na Record, onde está desde 2006, o autor escreve a sua terceira novela desta fase. Máscaras não atingiu as metas estabelecidas pela empresa [sendo por isso escondida num horário ingrato, o que não concordo], o público “não” comprou a idéia do autor, a novela definitivamente não foi bem sucedida [vale ressaltar que, curiosamente, tem alcançado bastante sucesso em Portugal, via Record Internacional] e por isso amarga uma colocação medíocre na audiência. Mas, longe de ser apenas um momento de adversidade para o autor, Máscaras é sentida pelo mesmo como um fracasso (leia aqui), um erro, fazendo-lhe refletir sobre ser esta a sua última feitura na teledramaturgia. Nem preciso dizer que acho um absurdo tal reflexão.


Nenhum autor merece um tratamento indelicado por ter uma obra mal sucedida. Imagine então o Lauro Cesar Muniz. Um cara com registros importantes na história da telenovela não pode ser tratado como um apostador viciado em jogos e que tendo perdido todas as partidas possíveis, fica com saldo negativo, sem crédito algum. Não, não pode.

com os autores Silvio de Abreu e Walter Negrão
Cidadão Brasileiro não bateu recordes de audiência, mas também não decepcionou nesse quesito, não para os padrões da emissora à época, e particularmente, muito me agradou. 


Poder Paralelo foi a responsável por boas críticas da mídia especializada, tendo agradado também a maioria dos noveleiros, e audiência favorável ao horário das dez.


Pode até parecer uma comparação incabível ou desnecessária, mas o fato é que me lembro da esquecível (risos) Sete Pecados, do Walcyr Carrasco, e como está a “moral” do autor na Globo, depois dela?! Emplacando uma novela atrás da outra. Ah! Isso inclui as reprises do Vale a Pena Ver de Novo, onde nem mesmo a citada novela do Walcyr deixou de ser reapresentada.

Tenho a impressão de um retorno do Lauro, o mais breve possível, ao seu antigo reduto. No entanto, caso isso aconteça, que não seja de modo “dado de bandeja”, sem brigar por ele. Espero e torço pela valorização do autor, por parte da Record. Que continuando a ser esta a sua casa por mais alguns anos de contrato, analisem melhor antes de aprovar ou não o seu próximo trabalho, pois assim erram ou acertam juntos, é mais justo.

E não importando a emissora, afinal sou admirador do Lauro independente disso, evidencio aqui o meu querer ver novamente o seu estilo inconfundível de escrita sendo interpretado por grande elenco. Não seria má idéia se numa minissérie de época. Aliás, filão que a Record tem feito com louvor, vide Rei Davi, mas poderia explorar outras épocas, outras histórias, algo que nem mesmo a Globo tem feito ultimamente. Há uma lacuna, portanto. Vida longa ao Lauro Cesar Muniz e suas escritas.          

24 comentários:

  1. Uma pena a Globo não ter produzido A Imperatiz do Café. Fico torcendo pelo sucesso de Lauro em um próximo trabalho, independente da casa.

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    1. não conheço o romance Imperatriz do Café, mas li sobre superficialmente e também acho que seria uma bela adaptação.

      Continuemos torcendo pelo Lauro, Walter. Bom vê-lo por aqui, monstro.

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  2. Realmente é uma pena que um grande autor como Lauro, esteja enfrentando uma crise assim em uma novela. Mas é assim mesmo, você pode acertar sempre, mas basta um erro para esquecerem tudo o que você fez de bom, gente pra elogiar tem poucos agora para criticar tem aos montes. Torço pelo Lauro, pelo grande autor que é, espero vê-lo fazendo grandes trabalhos, quem sabe na globo onde acho que seria melhor valorizado.

    http://brincdeescrever.blogspot.com.br/

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    1. Pois é, Rafa... vamos torcer para que no próximo trabalho ele esteja em plena forma. Valeu pela visita!

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  3. Estou gostando muito dos artigos publicados, principalmente os que remetem aos bons tempos da teledramaturgia...
    Creio que o problema da audiência de grandes autores como Lauro Cesar Muniz é a emissora...
    O público habituou-se a ver novelas na Globo. Aliás, a Globo é sinônimo de teledramaturgia, hoje, dado ao seu grande cacife financeiro...
    A crítica se diz especializada, mas não entendo por que muitas vezes se baseia na audiência para ditar se um trabalho é bom ou ruim. Assim é fácil fazer crítica. Ficar se eximindo de opiniões e jogando a responsabilidade no público, é no mínimo ganhar dinheiro sem trabalhar.
    A audiência tem de ser em primeira instância, analisada, criticada também...
    É preciso conhecer o público de cada emissora para ter uma opinião a respeito do trabalho...
    Por exemplo, na minha opinião, 15 pontos na Record ou no SBT equivalem a 30 na Globo...
    Penso que as avaliações de sucesso devam ser realizadas proporcionalmente ao filão de cada emissora no mercado. Ou, simplesmente, numa comparação de uma emissora com ela própria, e não com outra, ou a crítica acaba sendo desleal.
    O Lauro César Muniz não deixou de ser o grande autor de teledramaturgia que sempre foi só porque não está na Globo. Está entre os melhores. E a própria Record tem de parar de ficar se desvalorizando ao se comparar com outras emissoras. Abraço a todos que gostam de novelas como diversão, como eu, mas também com olhar crítica e técnico.

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    1. Acho ótimo que se produza boa teledramaturgia também em outras emissoras, sou super a favor da concorrência, bom para o mercado. Concordo no que diz sobre "15 pontos na Record ou no SBT equivalem a 30 na Globo.

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  4. Eu só lembro que foi um balde de agua fria Salvador da Patria logo depois da obra-prima Vale Tudo.Esse senhor ja fez coisas maravilhosas,mas acho que é o autor que acumulou mais fracassos e bolas foras na globo.

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    1. Não concordo, bee... o Lauro é um dos meus autores preferidos, admiro muito o seu texto. Mas respeito a tua opinião e fico contente por vê-lo comentando por aqui. Bjs.

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  5. o cara escreve um batalhão de sucessos e faz um fracasso, e todo mundo malha o cara. seu texto é ótimo.

    todo autor de novela tem algum fracasso na carreira: aguinaldo silva (suave veneno), walcyr carrasco (sete pecados) gilberto braga (o dono do mundo), benedito ruy barbosa (esperança), glória perez (remake pecado capital)... e por aí vai.

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    1. é exatamente isso, acho que todos já tiveram alguma obra flopada e ainda assim continuam merecendo o nosso respeito. Valeu!

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  6. Essa história de ser a última é conversa. Todos eles quando chegam aos setenta, falam isso. Aguinaldo Silva é um deles. A carreita do Muniz é incontestável, mas MÁSCARAS é um grande equívoco, resultado de prepotência do autor. Enfim, ele poderia vir com uma novela de época ou minissérie e fechar com chave de ouro sua trajetória, quem sabe?

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    1. ainda bem que ao final da "história", como você diz, eles voltam a trabalhar normalmente... basta que parem de vez quando partirem daqui definitivamente, né? (risos)

      valeu pelo comentário, querido!

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  7. um batalhao de sucessos e um fracasso ? bem vejamos sucesso,sucesso mesmo talvez só As Pupilas,Carinhoso (querendo ser bem generoso) , Escalada e Roda de Fogo (excelente). O Casarão é conceituada mas não foi uma novela popular.Sassa Mutema até pode ter sido bem assistida,afinal foi no auge de audiencia da TV GLOBO em numeros de aparelhos e monopolio Global,apesar que na epoca,a novela que chamava todas as atenções era Que Rei Sou Eu? fora muitos terem torcido o nariz por ter vindo logo apos Vale Tudo.Fracassos ? Bem...Espelho Magico dispencou a audiencia nuns 20 pontos. Os Gigantes as pessoas preferiam cometer auto eutanasia em vez de assistir essa novela.Transas e Caretas fez mais sucesso a musica e a abertura que a novela (tambem logo apos a revolucionaria Guerra dos Sexos).Zazá não precisa nem comentar ne? Querem mesmo contabilizar os fracassos dos outros autores citados? Obvio que o cara é bom,mas diversas vezes equivocado e ainda arrogante.

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    1. bee, o Lauro e tantos outros de seus colegas, realmente foram infelizes em algumas declarações, soaram pedantes, arrogantes, mas é fruto de um ego por vezes inflamado. A gente nem deve considerar.

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  8. Acho que qualquer autor de novela seja ele veterano ou principiante merece ser respeitado...sucesso nem sempre foi questão de qualidade pra mim...por isso que tenho nostalgia dos tempos bons da globo em que vi programas que não foram sucesso absoluto de audiência mas me ajudaram a cultivar uma certa cultura, como os casos especiais que foi sucesos até uma época e os da série Aplauso, o lado fraco das boas audiências dos outros seriados da globo.
    Tomara mesmo que o Lauro venha a escrever outras novelas mas que abandone um pouco esse repertório organização do mal, que já tá enchendo ...ele tem bala na agulha pra escrever algo sobre política legal..pois aquele Brado Retumbante foi um saco( se tivesse sido dele seria um saco ao quadrado, pelo que leio nos veículos). Máscaras teve uma sucessão de erros, um texto hermético por vezes, má escalação do elenco( o Dado Dollabella de adulto indigo nunca esquecerei) e uma lentidão nos primeiros capítulos. Mas Lauro César Muniz é um nome em que ainda confio .

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    1. Pois é, Edu, Máscaras não está entre as melhores, embora isso seja contestável, pois tem um público que pensa contrário. Mas o Lauro "é um nome em que ainda confiamos", sem dúvida.

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  9. O grande problema da Record é querer competir com a Globo. O SBT parou com essa neura e tem tocado sua teledramaturgia sem a pressão do IBOPE. Mesmo o SBT com 4 a 7 pontos, ou 10 a 14 da Record ( são números imaginados), esse público tem de ser levado em consideração, afinal, também é público e merece respeito. A Globo tem apresentado bons resultados em sua teledramaturgia porque mudou sua forma de avaliar o trabalho. Deixou, como disse no comentário anterior, a comparação com as outras emissoras e focou sua avaliação na comparação com seus próprios trabalhos. Disso está resultando essa gama enorme de remakes que vem por aí. É como eu penso.

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    1. Também acho que a Record tem que fazer bons produtos por obrigação, pelo compromisso com o seu público, independente da concorrência. Talvez a partir disso as coisas mudem pra melhor. Valeu, Carlos!

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  10. Isaac,

    Lendo sua postagem sobre o Lauro, me deu uma saudade gostosa de ver "O Salvador da Pátria", principalmente porque essa novela, a princípio, foi um divisor de águas nas minhas pretensões de ser roteirista, Explicando: decidi que queria essa profissão prá mim ao ver pela primeira vez o mega sucesso "Vale Tudo", em 1988. Prá mim era difícil e ainda é qualquer novela bater essa. Então, comecei a ver O Salvador da Pátria com um certo preconceito, principalmente porque nunca gostei de política e esse era o fio condutor da trama. Eu tinha raiva do amor do Lima pela Maitê. Não achava crível aquele romance, mas Lauro com toda sua maestria fez com que o país se rendesse aquela linda história de amor do caipira até então incorruptível e da bondosa e justa professorinha de uma cidade do interior. Não vou dizer que essa novela fez com que eu esquecesse de Vale Tudo, mas serviu para que eu me conscientizasse que a dramaturgia é como o jornal diário. Existem matérias boas até o dia seguinte quando surgirão outras reportagens também instigantes e quem quer escrever tem que estar preparado para novos desafios todos os dias. Não tenho visto Máscaras. Vi apenas um capítulo, mas gostei bastante de Poder Paralelo. Eu amava um dos pares românticos da trama: a Patrícia França e o jovem Guilherme Boury, sem contar outras atuações importantes como de Gabriel Braga Nunes e Paloma Duarte em dois grandes papeis.
    Acho que pela importância de Lauro à dramaturgia brasileira, a TV Record deveria ter dado mais respaldo ao autor. O que talvez prejudicou tanto a novela foi o fato da mídia ter decretado seu fracasso logo nas primeiras semanas sem chance para que ela se recuperasse no IBOPE. Com isso, o público acabou comprando a ideia e desviando-se da novela, sem contar as constantes mudanças de horário. Desejo que o Lauro tenha ainda vida longa na nossa TV.

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    1. André, contente pela tua presença aqui, rapá... boas observações. Volte mais vezes!

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  11. Primeiro, gostaria de dizer que, para mim, ele não é um dos melhores autores. É o melhor! É o único que ousa sair das fórmulas feitas e batidas, criando obras únicas e inesquecíveis como O Casarão, ao mesmo tempo em que sai do “descartável”, que geralmente – e cada dia mais – são as novelas, para nos levar a refletir: quem, por mais que tenha se sentido frustrado com a morte de Renato Vilar (Roda de Fogo) não parou pra refletir sobre o significado dela? Quem assistiu Mar Adentro de Amenábar e não parou pra pensar em quantos anos antes uma novela, propôs o tema? Quantas minisséries transcendem tanto ao personagem retratado que nos permitem mergulhar e se deleitar com todo o universo em que o protagonista estava inserido?
    Desculpem, mas pra mim algumas coisas são tão óbvias que incomodam! Como é possível se jogar um Lauro Cesar Muniz depois de uma Fazenda e esperar sucesso? Será que alguém tem a ilusão que o público de um, possa se interessar pelo outro? Será que as pessoas que se baseiam na audiência para “decretar” se algo foi um sucesso ou fracasso já pararam pra comparar as bilheterias de qualquer Rambo ou Harry Potter com as de Bergman ou Fellini? E nesse caso, a que conclusão chegaram? Não tenho dúvidas que seja muito mais garantido voar baixo (no nível da massa), exemplos não faltam, só me pergunto se não é nossa função tentar levar uma réstia de luz, ao invés de, em nome da bendita da audiência, enterrarmos cada vez mais a todos numa escuridão sem fim.

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    1. Helena, sábias palavras. Muito pertinente o seu comentário. Apareça mais vezes por aqui.

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  12. Li a sua análise e concordo : temos que considerar toda a obra de Lauro César Muniz e não apenas o momento presente. É um grande autor (embora a minha opinião não importe muito, é o meu favorito), e essa idéia de ele achar que essa é a sua última novela já me deixa triste, mas tenho esperanças de que, com o término de Máscaras, daqui a algum tempo ele sinta saudades de escrever. Gostei demais da entrevista que você fez anteriormente com ele. É interessante ver a sinceridade com que ele analisa Máscaras. Já o vi utilizar essa mesma sinceridade em várias outras ocasiões, inclusive em Poder Paralelo, que eu considero um grande momento da televisão. E a sinceridade dele não é aquela que simplesmente sai apontando culpados e sobra pra todo mundo : ele analisa o que está acontecendo, vê que há erros, e vai fazer tudo pra corrigí-los, só não sabe se isso ainda é possível.

    Desejo toda a inspiração do mundo a Lauro César Muniz.

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  13. óbvio que a sua opinião é importante, Beth. Super válida. Obrigado pela visita e comentário. Volte mais vezes!

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