Não é tarde para salvar a Sessão da Tarde

Por Daniel Couri

A Sessão da Tarde está tão incorporada ao nosso cotidiano que parece ter sempre existido, antes mesmo da TV! Tudo bem, estou exagerando. Há várias gerações, desde a década de 1970, crianças, jovens e adultos acompanham os filmes que a Rede Globo exibe nas tardes de segunda a sexta. Durante esse tempo, muitos deles divertiram, empolgaram e emocionaram milhões de telespectadores.

Há alguns meses andei lendo umas especulações sobre o provável fim da Sessão da Tarde, mas não levei muito a sério. De qualquer forma, para mim é como se o fim já tivesse acontecido, só que uns dez anos atrás. Os filmes exibidos antigamente – divertidos, variados e interessantes – foram gradativamente substituídos por filmes bobos e, na maioria, infantis.

Não é difícil deduzir que isso passou a acontecer por dois fatores. Primeiro: as TVs a cabo se popularizaram. Grande parte do público migrou para os canais pagos em busca de uma programação mais variada. O outro fator é a internet, que roubou da TV vários telespectadores. Quando eu era criança, há vinte e poucos anos, a Sessão da Tarde era um programa e tanto. Sozinho ou com os amigos, era uma delícia. Qual a criança que, hoje em dia, assiste a Sessão da Tarde? Ou melhor: qual a criança hoje em dia que sabe o que é a Sessão da Tarde? Pouquíssimas.

Eu costumava ver filmes deliciosos da Disney como Aquele gato danado (That Darn Cat!, 1965), O Tesouro de Matecumbe (Treasure of Matecumbe, 1976), Candleshoe - O segredo da mansão (Candleshoe, 1977), Se eu fosse a minha mãe (Freaky Friday, 1977)... Vários deles protagonizados por uma Jodie Foster ainda adolescente. Sem falar nos filmes do cãozinho Benji. Mas histórias de suspense também tinham vez, assim como dramas, comédias e musicais. E eram filmes bons, entretenimento para ninguém botar defeito. Agradavam a um público vasto, principalmente os jovens.

"Cuidado com as gêmeas" (1988)

"Se eu fosse a minha mãe" (1977)

"Conta comigo" (1986)

Como não lembrar das tantas  tardes em companhia de filmes como O Corcel Negro (The Black Stallion, 1979), A Lagoa Azul (The Blue Lagoon, 1980), Os Goonies (The Goonies, 1985), Curtindo a vida adoidado (Ferris Bueller's Day Off, 1986), Conta comigo (Stand by Me, 1986), Os Aventureiros do Bairro Proibido (Big Trouble in Little China, 1986), Um salto para a felicidade (Overboard, 1987), As Bruxas de Eastwick (The Witches of Eastwick, 1987), Cuidado com as gêmeas (Big Business, 1988), A Volta de Roxy Carmichael (Welcome Home, Roxy Carmichael, 1990), Minha Mãe É Uma Sereia (Mermaids, 1990) e inúmeros outros.

Acho difícil que a Sessão da Tarde perca seu espaço na grade vespertina da Globo. Ainda que a audiência não seja a mesma de 15 ou 20 anos atrás, o programa merece uma turbinada em seu pacote de filmes. O excesso de reprises se deve, principalmente, à Classificação Indicativa. Graças a ela, desde 2008 nenhuma emissora aberta pode exibir filmes nesse horário cuja classificação seja para maiores de 14 anos. A Globo precisou se adequar à nova regulamentação e exibir apenas filmes tem tenham a classificação livre para maiores de 10 anos.

Tudo bem que filmes como Porky's (1980), Tubarão (Jaws, 1975) ou Uma Professora Muito Especial (Private Lessons, 1981) jamais fariam parte da Sessão da Tarde nos dias de hoje. Mesmo assim, tenho certeza que a emissora é capaz de selecionar longas mais interessantes e apropriados para o público em geral. Afinal, o que são os filminhos da Sessão da Tarde comparados a temas tão pesados vistos facilmente na internet e nos jogos de videogame? Fica aqui o apelo. E para os que também se sentem órfãos da Sessão da Tarde, deixem aqui seu recado.