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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Coisas da Vida - 6º Capítulo [Último]

De Leandro Brasil
CAPÍTULO 6 [Último]

CENA 01. ESCRITÓRIO. SALA E ANTESSALA DE ALEX. INT. DIA.

Continuação do capítulo anterior. Abre em Beto, muito assustado com o tiro que acabou de dar. Não vemos Alex. Apenas o ouvimos:

ALEX       -(off) Olha o que você fez, Beto. Olha o que você fez!

Música de tensão cresce. Beto derruba a arma. Tudo muito rápido: Sônia chega com dois seguranças, que vão logo levando Beto. Ele não oferece nenhuma resistência. Está em choque. CAM não mostra a sala. Vemos Beto, Sônia e os seguranças em planos fechados.  Reação de susto de Sônia ao olhar para o chão.

SÔNIA      - Meu Deus do céu!

Corta rápido para:

CENA 02. FRENTE DO PRÉDIO DO ESCRITÓRIO. EXTERIOR. DIA.

Música de tensão. Beto algemado sendo levado por policiais para uma viatura. Foi preso em flagrante. Não oferece resistência nenhuma. Muitos curiosos chegando ao redor do prédio. Observam e cochicham. Beto entra na viatura. Corta para:

CENA 03. ESCRITÓRIO. ANTESSALA DE ALEX. INTERIOR. DIA.

Algum tempo depois. Alex sentado numa poltrona, chorando muito. Sua roupa está vermelha de sangue. Sônia lhe dando um copo d’água. Ele derruba o copo violentamente.

ALEX       - Eu não quero nada!
SÔNIA      - Não há mais nada que nós possamos fazer, Dr. Alex. O senhor precisa se acalmar.
ALEX       -(sem querer aceitar a verdade) Cala a boca! Você não sabe de nada, não sabe!

Nesse momento, dois homens saem da sala, carregando um corpo coberto numa maca. Alex se desespera ainda mais ao ver o corpo sendo levado. Tenta se aproximar, mas Sônia o impede.

ALEX       - Ela não pode ter morrido, Sônia, não pode!

Muita gente do escritório ao redor, observando. Alex chora sem parar. Corta para:

CENA 04. FRENTE DO PRÉDIO DO ESCRITÓRIO. EXTERIOR. DIA.

Música de tensão que começou na cena 01, volta a crescer aqui. Acompanhamos o desespero de Alex vendo o corpo ser colocado numa ambulância. Muita gente ao redor. Todos olham chocados para Alex. Algumas mulheres também choram vendo o desespero dele. Quando a ambulância vai embora, Alex desaba literalmente no chão chorando cada vez mais. Música vai morrendo aos poucos, enquanto CAM vai subindo lentamente até enquadrar Alex do alto caído no chão, com muita gente ao redor. Ouvimos os soluços angustiados dele. 

Corta para:

CENA 05. ÁGUA LINDA. STOCK-SHOTS. EXTERIOR. DIA.

Planos rápidos da cidadezinha. Sem som. Corta para:

CENA 06. CASA DE ARTUR E CIDA. SALA. INTERIOR. DIA.

Cida muito aflita ao telefone.

CIDA       - Como é que é, Judite? (T) Meu Deus! Você tá falando sério?

Corta rápido para:

CENA 07. LANCHONETE. INTERIOR. DIA.

Artur já perplexo diante de Cida.

ARTUR      - Peraí, Cida... Eu... Eu acho que não entendi direito. O Beto... Ele fez o quê?

Corta rápido para:

CENA 08. OFICINA. INTERIOR. DIA.

A notícia se espalha. O novo funcionário da oficina já contando tudo a Tiago. Sem interrupção de ritmo de diálogo entre o final da cena anterior e o início desta.

FUNCIONÁRIO - Matou a moça covardemente!
TIAGO      -(perplexo) Não pode ser! O Beto, o meu amigo Beto... Virou um assassino?

Corta rápido para:

CENA 09. SALÃO DE BELEZA. INTERIOR. DIA.

Não se fala em outra coisa no salão. Kátia conversando com uma amiga manicure.

KÁTIA      -(chocada) Nunca gostei do Beto. A dona Adelaide tava certa de não apoiar o casamento da Camila com ele. Parece que ela já tava adivinhando que tudo ia acabar mal.
MANICURE   - Mas foi a Camila quem causou tudo isso. Onde já se viu, trair o marido com o irmão dele, cunhado dela? Só podia mesmo acabar de maneira trágica.

Corta rápido para:

CENA 10. RUAS DA CIDADE. EXTERIOR. DIA.

Claudete conversando com a mesma amiga do capítulo 1.

CLAUDETE   - Pois eu acho bem feito! Bem feito pro Beto, bem feito pro Alex e bem feito principalmente pra desgraçada da Camila! Bem feito pra todos eles, pronto!
AMIGA      - Que é isso, Clau! O que aconteceu foi uma tragédia! Tu não tem nem um pouco de pena?
CLAUDETE   - E por acaso alguém tem pena da Clauzinha aqui, amor? Pra todo mundo dessa cidade, eu sou a piriguete, a vagabunda, a destruidora de lares. Todo mundo me aponta na rua, me olha de nariz em pé. A Camila mesmo: sempre se achou melhor que eu. O Beto não pensou duas vezes antes de me trocar por ela. E o que ele ganhou com isso? Um par de chifres! Bem feito! Agora todo mundo tá sabendo quem é a verdadeira vadia dessa história!
AMIGA      - E a dona Adelaide? Como será que ela tá?

Corta rápido para:

CENA 11. CASA DE ADELAIDE. QUARTO DE ADELAIDE. INT. DIA.

Abre numa foto de Camila sorrindo. Adelaide olha a foto chorando, sofrendo muito. Ela vai olhando várias fotos de Camila e sofrendo cada vez mais. Por fim, uma grande fúria toma conta de Adelaide e ela vai rasgando as fotos furiosamente, espalhando os pedacinhos em cima da cama. Por fim, ela não aguenta mais e cai na cama, por cima das fotos rasgadas, chorando cada vez mais. Um tempo no sofrimento de Adelaide e Corta para:

CENA 12. CEMITÉRIO. EXTERIOR. DIA.

Em takes rápidos e bem à distância, acompanhamos um enterro. Música instrumental triste. Poucas pessoas, o que significa que apenas os mais íntimos da família foram convidados. Não precisamos identificar ninguém, basta transmitir o clima de desolação em que todos se encontram. Último plano da cena é de Artur e Cida, caminhando juntos, bem atrás dos outros, muito consternados. Corta para:

CENA 13. RUA PRÓXIMA AO CEMITÉRIO. EXTERIOR. DIA.

Alex ansioso em algum ponto da rua esperando alguém. Do ponto de vista de Alex, vemos Cida e Artur saindo do enterro. Alex se aproxima dos pais, cauteloso.

ALEX       - Pai, mãe.

Reações. Cida muito séria. Artur com ódio.

ARTUR      - Como é que você ainda tem coragem de se dirigir a nós depois do que fez?
ALEX       - Eu também tô sofrendo muito, pai.
ARTUR      -(grita furioso) Não me chame de pai! Eu não sou seu pai! Essa não é mais a sua família! Aliás, essa família não existe mais! E foi você quem a destruiu!
ALEX       - Mãe, eu/
ARTUR      -(corta, gritando) Nunca mais nos procure! Nunca mais! Vamos, Cida!

E Artur vai puxando Cida, sem olhar para Alex. Cida ainda se vira para o filho, dividida entre a mágoa que sente dele e o sofrimento de estar abandonando-o para sempre. Cida e Artur entram no carro. Alex olha muito triste o carro que se afasta. Corta para:

CENA 14. DELEGACIA. CELA. INTERIOR. DIA.

Beto dividindo uma cela com vários presos. Cida e Artur visitando o filho. Conversam através das grades.

BETO       - Eu não queria que vocês me vissem aqui.
CIDA       -(chorando) O quê que você foi fazer da sua vida, filho?
ARTUR      -(sofrendo muito) O nosso filho sempre foi um bom homem, Cida. A culpa dele ter agido assim, por impulso, foi do Alex e da... da Camila. (pausa) Você já sabe quando vai ser transferido pra penitenciaria, Beto?
BETO       -(triste) Não. Mas não tô nem aí pra isso.
ARTUR      - Você não pode se entregar assim, filho. Nós tamos do teu lado. Vamos lutar pra você conseguir responder em liberdade, afinal você não tinha antecedentes criminais e/
BETO       -(corta) Não precisa se preocupar com isso, pai. Eu tenho que pagar pelo que eu fiz. Não tô nem aí pro que vai me acontecer.

Cida e Artur sofrendo muito ao ver o filho assim. Na tristeza de Beto, Corta para:

CENA 15. CASA DE ARTUR E CIDA. EXTERIOR. DIA.

Plano de localização. Corta para:

CENA 16. CASA DE ARTUR E CIDA. SALA. INTERIOR. DIA.

Cida e Artur acabaram de chegar em casa. Estão cansados.

ARTUR      - O Beto se entregou completamente. Desistiu de viver. Parece até outra pessoa.
CIDA       - A gente tem que ser forte pra enfrentar tudo isso ao lado dele, Artur.

Nesse momento Judite entra, vindo da cozinha.

CIDA       - Já voltou, Judite?
JUDITE     - Cheguei agora de manhã.

Artur é tomado de verdadeira fúria ao ver Judite.

ARTUR      - O que é que você tá fazendo aqui?

Reações assustadas de Cida e Judite.

CIDA       - Como, o que ela tá fazendo aqui? Ela mora aqui, Artur!
ARTUR      - Não mora mais!
CIDA       - Que é isso, Artur? Você tá falando sério?
ARTUR      - E você acha que o momento é pra brincadeiras, Cida? Ela é tão culpada quanto o Alex. Se não tivesse ido lá destilar o veneno dela, isso não teria acontecido!
JUDITE     - Mas foi o Beto quem me chamou!
ARTUR      - E você adorou ir lá se meter na vida deles, já que a sua é uma merda de tão monótona e você não se conforma de ver ninguém feliz! Você é uma invejosa! Anda, Judite! Pode arrumar as suas coisas e sair daqui agora!
CIDA       - Artur, por favor, não faça isso!
ARTUR      - Não se meta, Cida! Se for defender a Judite, pode ir com ela!
JUDITE     - O senhor não pode fazer isso comigo, pai! Eu não tenho pra onde ir!
ARTUR      - Que vá para o diabo que a carregue, mas aqui você não fica mais! Sai, Judite!
JUDITE     -(atrevida) Não saio! Essa casa também é minha e daqui ninguém me tira!
ARTUR      - Não sai, é? Vamos ver se você não sai!

E Artur pega Judite pelos cabelos e começa a arrastá-la à força para fora de casa. Ela grita de dor. Cida tenta intervir. Falam ao mesmo tempo.

JUDITE     - Ai, tá me machucando!
ARTUR      - Você vai sair de qualquer jeito!
CIDA       - Para com isso, Artur!

Seguem falando ao mesmo tempo, com falas improvisadas até a porta. Corta rápido para:

CENA 17. RUAS. FRENTE DA CASA DE ARTUR E CIDA. EXT. DIA.

Abre em Judite caindo no chão, empurrada violentamente por Artur. Pessoas que passam na rua param para olhar. Corte descontínuo. Artur jogando as roupas e a mala de Judite no meio da rua. Agora muitas pessoas olham.

ARTUR      -(grita furioso) Vai embora daqui e não se atreva a voltar! Nunca mais!

Cida chora e ainda tenta ajudar Judite, mas Artur a leva para dentro. Chorando, muito envergonhada, Judite começa a apanhar suas roupas e vai guardando na mala, enquanto todos a olham. Corta para:

CENA 18. RIO DE JANEIRO. STOCK-SHOTS. EXT. NOITE/DIA.

Passagem de tempo. Dias depois. Corta para:

CENA 19. PENITENCIÁRIA. SALA RESERVADA. INTERIOR. DIA.

Beto é trazido algemado por um policial. Alex espera por ele. Beto não demonstra nenhuma reação ao vê-lo. Alex sofre ao ver o irmão assim. O policial sai. Os dois ficam sós.

ALEX       - Eu... Eu nem sei o que dizer.
BETO       - Nada que você diga vai mudar o que aconteceu. Nem devia ter vindo. Eu só topei te receber pra te pedir pra não voltar a me procurar.
ALEX       - Você deve tá me odiando, né?
BETO       - Não mais do que a mim mesmo! Eu nunca vou me perdoar pelo que eu fiz.
ALEX       - Mas a culpa disso tudo é minha. Eu causei tudo isso, eu dei em cima da Camila, fiz ela te trair/
BETO       -(corta) Mas eu não tinha o direito de agir como agi. Eu sou um criminoso, um assassino!
ALEX       - Eu só quero que você saiba que eu nunca tive raiva de você, Beto. Se eu dei em cima da Camila, foi porque eu realmente gostava muito dela, desde a época em que a gente namorou. Eu até tentei esquecê-la, porque eu não queria enganar meu próprio irmão, mas a paixão falou mais alto e/
BETO       -(corta) Eu não quero falar sobre isso! Vai embora. E por favor, não volte mais.
ALEX       - Será que um dia você vai conseguir me perdoar?

Beto olha para Alex, sem responder.

ALEX       - Eu nem devia ter te perguntado isso. Se eu mesmo não me perdoo pela forma como agi! Acredite, Beto: ninguém tá sofrendo mais do que eu, com tudo isso. Nunca mais eu vou botar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilo depois de tudo o que eu causei.
BETO       - Você pelo menos não matou ninguém. O peso que eu carrego é muito maior que o seu. Mesmo depois de cumprir pena, mesmo que eu viva mil anos, a culpa e o peso na consciência vão me acompanhar pra sempre.

Policial entra informando que a visita acabou.

BETO       - Adeus, Alex.

Beto sai acompanhando o policial. Close de Alex muito triste. Corta para:

CENA 20. RUAS DE ÁGUA LINDA. EXTERIOR. NOITE.

Já é tarde da noite. Abre em dois pés de mulher andando apressada. CAM abre aos poucos até revelar Camila, muito tensa e ansiosa. Corta para:

CENA 21. CASA DE ADELAIDE. INTERIOR/EXTERIOR. NOITE.

Adelaide na sala, assistindo TV. Corta para Camila batendo na porta, do lado de fora. Surpresa e um pouco assustada, Adelaide se aproxima da porta. Camila continua batendo.

CAMILA     - Mãe! Mãe!

Reação de susto de Adelaide. Nina se aproxima da mãe.

NINA       - É a Camila, mãe?
ADELAIDE   -(baixo) Shhh! Cala a boca!
CAMILA     -(off) Mãe! A senhora tá aí? Nina!
NINA       -(aflita) Abre a porta pra ela, mãe!
ADELAIDE   - Vai pro seu quarto agora, Nina, se não quiser apanhar!

Nina sai quase chorando. Camila continua batendo.

CAMILA     - Por favor, mãe, me deixa entrar!

Adelaide chora silenciosamente, encostada à porta. Camila continua batendo e chamando a mãe. Mesmo sofrendo muito, Adelaide não responde e não abre a porta. Depois de um tempo, Camila desiste e vai embora, triste. Fusão lenta:

CENA 22. CASA DE ADELAIDE. INTERIOR. DIA.

Abre em Adelaide entrando no quarto de Nina.

ADELAIDE   - Nina, você vai se atrasar pra/

Adelaide estranha ao ver que Nina não está no quarto.

ADELAIDE   - Nina! Onde é que você tá?

Adelaide começa a procurar a filha pelo quarto. Ao abrir o armário, ela leva um susto ao ver que nenhuma das roupas de Nina está lá. Desesperada, Adelaide sai do quarto. Em Cortes descontínuos rápidos, ela percorre todos os cômodos da casa chamando pela filha. Corta rápido para:

CENA 23. RUAS DE ÁGUA LINDA. EXTERIOR. DIA.

Cada vez mais desesperada, Adelaide procura a filha pelas ruas da cidade. Cresce música triste. Em Cortes descontínuos fora de áudio, ela pergunta pela filha a três ou quatro pessoas diferentes, mas ninguém viu Nina.

ADELAIDE   -(grita desesperada) Nina!!!!

Em slow motion, acompanhamos o desespero de Adelaide a procura da filha. Um tempo no sofrimento dela. No close de Adelaide chorando muito, fusão lenta:

CENA 24. RIO DE JANEIRO. STOCK-SHOTS. EXTERIOR. DIA/NOITE.

Música triste vai diminuindo lentamente, enquanto vemos imagens da cidade. Alguns dias depois. Corta para:

CENA 25. CALÇADÃO DE COPACABANA. EXTERIOR. NOITE.

Movimentação habitual de Copacabana à noite. Em travelling, acompanhamos pessoas passando, gente animada, casais de namorados etc e também várias garotas de programa e travestis que fazem ponto no calçadão, todos procurando clientes. Em determinado momento, CAM acompanha uma das garotas que se dirige ao carro de um homem. Não mostramos o rosto, só o belo corpo dela, que usa uma roupa curtíssima, mostrando bastante coisa. Finalmente ela chega ao carro.

HOMEM      - Quanto é o programa, gata?

Só então, CAM revela que a mulher é Judite, linda, toda maquiada, parece até outra pessoa.

JUDITE     - 100 reais a hora!
HOMEM      -(tenta negociar) Não tá muito caro, não?
JUDITE     - Meu cacife é alto! É pegar ou largar. Se não quiser, tem um monte na fila.
HOMEM      - Será que você vale tudo isso?
JUDITE     - Quer pagar pra ver? Até hoje ninguém reclamou no Procon.
HOMEM      -(ri) Entra aí, vai!

E Judite entra rindo no carro, que se afasta, levando-a para se entregar aos prazeres da carne. Corta para:

CENA 26. PENITENCIÁRIA. PÁTIO. EXTERIOR. DIA.

Dia de visita. Vários presos recebendo a família. Em meio a todos eles, vemos Camila sentada num banco. Tempo. Beto vai se aproximando dela, muito sério. Camila esboça um sorriso, mas fica séria ao ver que ele não retribui. Ela ainda tenta abraçá-lo, mas ele rejeita.

BETO       - Quê que você veio fazer aqui?
CAMILA     - Eu achei que te devia uma explicação.
BETO       - Você não me deve explicação nenhuma. Eu já entendi tudo o que aconteceu.
CAMILA     - Não entendeu, não. Você acha que eu sou uma vadia que sai metendo chifre no marido. Puta, foi como você me chamou, não é? Mas as coisas não são assim, Beto. Eu te amava. Ou pelo menos achei que te amava. Por isso eu casei contra a vontade da minha mãe, perdoei a sua traição e abri mão de tudo pra ficar com você. Eu não tô reclamando, não, porque você é um homem maravilhoso. Mas o meu desejo pelo Alex falou mais alto e/
BETO       -(corta) Desejo, não! Desejo é o que eu sentia pela Claudete. Você ama o Alex!
CAMILA     -(admite) É verdade. Eu amo ele. Sempre amei, desde a nossa época de namoro.
BETO       - Pois agora vocês podem ficar juntos e viver o grande amor de vocês! Não é isso que você tanto quer?
CAMILA     - O que eu quero é que você tente me entender e não sinta tanta raiva de mim, porque eu gosto muito de você e só quero a sua felicidade.
BETO       -(exaltado) E você acha que eu ainda vou conseguir ser feliz depois do que fiz? (T) É melhor a gente encerrar essa conversa. Eu não tenho raiva de você, Camila. Pode acreditar. Nem de você nem do Alex. Eu olho pra vocês dois e não sinto nada. Absolutamente nada. Só indiferença. Vai lá, fica com o Alex, faça bom proveito dele. Eu quero que vocês se danem. (definitivo) Tchau, Camila. Não me procura mais.

Beto se afasta. Camila o observa, triste. Corta para:

CENA 27. RIO DE JANEIRO. STOCK-SHOTS. EXTERIOR. TARDINHA.

Imagens bonitas da cidade. Corta para:

CENA 28. PEDRA DO ARPOADOR. EXTERIOR. TARDINHA.

Camila triste sentada na pedra do arpoador, olhando o mar. Sol quase se pondo. Barulho das ondas do mar. Clima de solidão. Um tempo e Alex chega até ela. Senta-se também.

ALEX       - Oi.
CAMILA     - Oi. (T) Faz dias que eu tento falar com você. Não respondeu as minhas ligações...
ALEX       - Desculpa. Eu precisava de um tempo sozinho. Um tempo pra refletir antes de ter essa conversa definitiva com você.
CAMILA     - Conversa definitiva?
ALEX       - É. (T) Como é que você tá?
CAMILA     - Não posso dizer que eu tô bem, né? Minha irmã desapareceu, minha mãe me odeia...
ALEX       - Sinto muito.
CAMILA     - Eu deixei o apartamento. Tô morando agora numa pensão simples na Tijuca. A dona é legal e me deixou ficar em troca de ajuda nas tarefas domésticas até que eu consiga um trabalho.
ALEX       - As coisas também não tão fáceis pra mim. Fui demitido do escritório e depois desse escândalo vai ser difícil conseguir outro emprego.

Os dois ficam em silêncio. Tempo.

ALEX       - Sabe, Camila? Naquele dia, quando a Lígia flagrou nós dois juntos e brigou comigo, eu tive uma reação que eu nunca imaginei: fiquei com muito medo de perdê-la, me senti sem chão, sem rumo, com a possibilidade dela me abandonar.

Durante essa fala de Alex, inserir takes rápidos de Lígia flagrando ele e Camila se beijando, Lígia brigando com Alex e Alex dirigindo triste (cenas 22, 24 e 26 do capítulo 5).

ALEX       - E foi aí que eu me dei conta do quanto eu a amava, do quanto ela era importante pra mim. Eu não podia ficar sem ela.

Camila sofre com o que ele diz.

CAMILA     - E você chamou ela pra conversar no escritório, é isso?
ALEX       - Foi.

Corta para:

CENA 29. ESCRITÓRIO. SALA DE ALEX. INT. DIA. FLASHBACK.

Lígia e Alex conversando fora de áudio. Ela demonstra mais calma. Ouvimos voz de Alex em off:

ALEX       -(off) Eu pedi perdão a ela, disse que a amava muito, que o que tinha acontecido entre eu e você foi uma loucura e implorei por uma nova chance. E ela... Ela me perdoou, porque também me amava.

Corte descontínuo. Lígia e Alex de pé, próximos à mesa dele. Ela de costas para a porta.

LÍGIA      - Lembra que eu disse uma vez que só amando muito pra perdoar uma traição? Pois eu acabei de descobrir que te amo de verdade, Alex, porque vou te dar mais uma chance. Só espero que você saiba aproveitar bem.
ALEX       - Eu prometo que nunca mais vou te decepcionar.

Lígia e Alex dão um beijo rápido e se abraçam. Lígia sempre de costas para a porta.

ALEX       -(off) Foi quando tudo aconteceu.

No momento em que os dois estão abraçados, Beto empurra a porta já atirando. O tiro atinge Lígia no peito esquerdo. Em slow motion, expressão vidrada de Lígia ao receber o disparo. Alex chocado. Volta à imagem normal.

ALEX       - Não!!! Olha o que você fez, Beto! Olha o que você fez!

Chocado ao ver que atirou em Lígia, Beto deixa a arma cair. Enquanto Sônia chega com os seguranças que levam Beto, vemos o que estava acontecendo enquanto a música crescia na cena 01: Lígia já caída no chão, sangrando muito. Alex tentando animá-la, sujando sua roupa de sangue. Reação de susto de Sônia:

SÔNIA      - Meu Deus do céu!
ALEX       -(desesperado) Lígia, por favor, fala comigo, Lígia!

Lígia já está em choque. Alex se desespera ainda mais.

ALEX       - Por favor, não faz isso comigo, Lígia! Não me abandona, meu amor! Lígia, fala comigo!

Música cresce, enquanto Sônia tenta ajudar Alex. Um tempo no desespero de Alex tentando reanimar Lígia e Corta para:

CENA 30. PEDRA DO ARPOADOR. EXTERIOR. TARDINHA.

Alex e Camila muito tristes.

ALEX       - Aquele tiro era pra você ou pra mim, Camila. E quem acabou pagando pelos nossos erros foi a Lígia. Eu sou o culpado da morte dela. Nós somos.
CAMILA     - E você acha que não dá pra gente tentar recomeçar depois disso?
ALEX       - Eu amava a Lígia. Precisei perdê-la pra perceber que o que eu sentia por você era só desejo, atração. E mesmo que fosse amor, você acha que nós poderíamos ser felizes juntos depois do que aconteceu? Às custas da destruição da vida da Lígia, do Beto, de tanta gente? (T) Não, Camila. O melhor que nós fazemos é tentar reconstruir as nossas vidas, longe um do outro. (pausa) Me perdoa, por favor. Me perdoa por te causar tanto sofrimento. E... Se for possível... Tenta não sentir raiva de mim.
CAMILA     -(sofrendo) Eu não tenho raiva de você. Pelo contrário, eu te amo. Te amo muito.
ALEX       - Tenta me esquecer, Camila. Vai ser melhor pra você. Eu não presto. Só trago desgraça e sofrimento a quem se aproxima de mim.

Alex beija Camila no rosto e levanta.

ALEX       - Tchau. Eu desejo do fundo do meu coração que você reconstrua a sua vida ao lado de outra pessoa e volte a ser feliz.
CAMILA     - Tchau, Alex. Tudo de bom.

Alex e Camila sorriem um para o outro, cheios de tristeza. Closes alternados. Tristeza, solidão. Os dois parecem querer falar alguma coisa ainda, mas desistem, pois sentem que não há mais nada a ser dito. Alex vai se afastando lentamente. Camila olha o lindo e melancólico pôr do sol com os olhos cheios d’água. Música triste. CAM vai recuando devagar até vermos de longe Camila olhando o pôr do sol e Alex indo embora e se afastando cada vez mais dela. Nenhum dos dois olha para trás. Fade out.

FIM.

2 comentários:

  1. A história começa com ares de trama das seis da tarde, mas depois vai tomando proporções de novela das dez/onze, rs...Muito bom poder acompanhá-la!

    Coisas da Vida tem um texto envolvente, emocionante, adulto, sem perder a leveza.

    Parabéns, Leandro Brasil.

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  2. Muito legal, amei a trama do triângulo amoroso muito bem, amarrado sem perder o fôlego e a cada capítulo uma surpresa!

    Parabéns, Leandro Brasil.

    Ainda quero ver você escrevendo para televisão.

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