Há muitas pessoas ignorantes, preconceituosas contra toda e qualquer teledramaturgia fora da Rede Globo. Fato lamentável. No entanto, com felizes exceções.
Pedi ao querido Pedro Arthur que relembrasse a novela Paixões Proibidas. Ele prontamente aceitou o convite. Desde já o agradeço pela solicitude. Confira!
A
teledramaturgia não é o ponto forte da Band. Uma prova disso é ver que,
atualmente, a emissora não disponibiliza nenhum horário para produções de
novelas, minisséries ou seriados próprios. No entanto, houve uma época em que a
emissora produziu várias novelas de qualidade, principalmente na década de 80,
como “A Deusa Vencida”, “Meu Pé de Laranja Lima”, “Os Imigrantes” e “Ninho da
Serpente”. Em 1983, todavia, a emissora abandonou esse filão após estrear duas
novelas no mesmo dia – Braço de Ferro e Maçã do Amor – e ambas apresentarem
baixa audiência.
A
Band iria retornar na década seguinte com “A Idade da Loba”, uma co-produção
com a TV Plus, com Betty Faria no elenco. O projeto também não deu certo e
outras dos anos 90 como “O Campeão” e uma novela versão de “Meu Pé de Laranja
Lima” também ficaram aquém do esperado. Nessa época a emissora era considerada
o canal do esporte, então as novelas destoavam do restante da grade de
programação.
Na
década de 2000, o canal de Saad resolveu voltar a apostar em teledramaturgia e
com uma parceria com a RGB produziu com relativo sucesso a novelinha teen “Floribella”,
em 2005. No ano seguinte, a emissora surpreendeu ao exibir chamadas da reprise
de “Mandacaru”, uma novela da extinta rede Manchete. A emissora pretendia,
nitidamente, alcançar o mesmo êxito que o SBT obteve com a reprise de “Xica da
Silva” - também da Manchete – e conseguiu. Mandacaru era uma novela forte e com
cenas ousadas de sexo, por isso a Band resolveu resgatar um projeto engavetado
e investir em uma trama adulta para substituí-la.
O
projeto era uma adaptação do livro Amor de Perdição, escrito pelo autor
português Camilo Castelo Branco. O diretor Herval Rossano havia sido contratado
em 2005 e ele deu início a este trabalho, mas não foi adiante por causa de um
desentendimento com a roteirista da adaptação, Ana Maria Moretzsohn. Foi em
2007 que a Band retomou o projeto, dessa vez com o diretor Ignácio Coqueiro e
com o autor Aimar Labaki. Além de Amor
de Perdição, Aimar resolveu incluir mais duas obras de Castelo Branco para
sustentar a história: Mistérios de Lisboa e O Livro Negro de Padre Diniz. Então
nasceu “Paixões Proibidas”.
Antes
da estreia oficial, numa terça-feira, a Band apresentou uma pré-estreia, com os
bastidores da novela, uma bela amostra de que seria uma produção pomposa. E
realmente foi. A estreia foi marcada com um capítulo ágil, direção segura,
cenografia realista e atores que mesclavam novos talentos com veteranos
consagrados.
Merece
um parágrafo à parte para o texto, afiadíssimo e muito bem amarrado, resultado
de um bom trabalho de Aimar Labaki e dos seus colaboradores Mário Viana e Fabio
Torres. Como pequena demonstração, logo no primeiro capítulo, por exemplo, o
mocinho da história, Simão, foi apresentado em uma caliente cena de sexo com
uma espanhola, e após ser flagrado por
Mateus, seu melhor amigo, ele falou: Isso são horas?! Não pode mais um homem
gozar... de um pouco de privacidade? E quando o Mateus contou-lhe que veio para
contar que o poeta Bocage havia falecido, Simão soltou: Tão pouca gente de
valor nesta terra, e morre logo um poeta!
Isso
era só o começo! Não poderia deixar de destacar, também, as cenas incríveis que
envolviam a duquesa de Ponthieu (São José Correia) e Alberto/Leopoldo (Felipe
Camargo). Eu considero a cena em que um desmascara o outro na frente de toda a
corte portuguesa uma das melhores da teledramaturgia brasileira. “Este
homem, senhoressss, é um pãrata!". E que baita atriz portuguesa, hein?
Ao lado dela, Felipe Camargo teve a chance de fazer o seu melhor papel nas
novelas. A propósito, a mistura de sotaques de portugueses e brasileiros dava
um charme delicioso à trama.
Apesar
dos elogios apresentados aqui, Paixões Proibidas fracassou. A escolha para o
dia da estreia, por exemplo, só comprovou que a Bandeirantes, apesar de ser uma
das mais emissoras mais antigas da TV brasileira, entendia pouco de estratégia
de programação. A novela foi ao ar às 22h e, neste mesmo horário, a Record
apresentava os últimos capítulos de Cidadão Brasileiro. O resultado do primeiro
capítulo, então, foi decepcionante: 3 pontos de média, ante os 7 pontos
esperados. Uma pena porque o texto era muito bom e alguns atores deram um show
à parte (casos de Virgílio Castelo, Suzy Rego, Flávio Galvão, Antonio Grassi,
Julianne Trevisol, Erom Cordeiro). E o que dizer do personagem de Marcos Breda,
Baltazar? Até hoje ainda não vi um personagem sarcástico em telenovela tão bem
escrito e interpretado de forma espetacular.
Com
isso, após a decepção com o resultado da estreia, a BAND, misteriosamente,
largou mão da novela. Não existiam chamadas na grade, os atores não
participavam dos programas da casa como forma de divulgação e o pior de tudo: a
trama não era exibida às quartas-feiras por conta do futebol! Devido à baixa
audiência, mais uma estratégia mirabolante foi lançada pela emissora: a novela
foi remanejada para o horário das 17h30. Isso mesmo! Uma trama forte e com
potencial, teve que ter seu texto adaptado para o novo horário, sem cenas de
sexo e violência.
Contudo,
mesmo com tantos erros de estratégia de programação, “Paixões Proibidas”
conseguiu ser uma excelente novela, provando que pode ser feito um trabalho de
qualidade fora da Rede Globo. É sempre bom lembrar que audiência e qualidade
nem sempre caminham juntos. Apesar da novela
não ter sido sucesso aqui no Brasil, obteve uma boa aceitação em Portugal e já
foi vendida para diversos países. No You Tube, para quem se interessar, a
novela está na íntegra com áudio em espanhol e também está disponível no canal
NOW da NET. Vale a pena conferir!
* Pedro Arthur é formado em Ciência da Computação pela UESC.
Fã de carteirinha do SBT, o moço é um dos responsáveis pela manutenção do site SBTpédia.
Já está mais do que provado... não é a qualidade artística e o alto padrão que fazem da única Globo a maior produtora de teledramaturgia do país... todos temos as mesmas possibilidades, todos nós, profissionais do ramo, temos os mesmos potenciais... Pedro Arthur, colocou bem... estratégia de programação e garantia de retorno para a Emissora, produtora e exibidora... ou seja faturamento... Agora pra faturar... aí sim, é que é preciso "tutano" e um bom trato... Na Band e outras Emissoras ainda não se deram conta... Band desde 1967 e pouco ou quase nada saiu das dezena em ibope...
ResponderExcluirMauro Gianfrancesco
Eu lembro que assistia todos os dias e fiquei bastante desapontado com a pouca repercussão pois a novela foi feita com esmero. Mas foi começar a 'adequar-se' aos padrões vigentes que deixei de acompanhar pois julguei inadmissível o que fizeram com a obra para exibí-la à tarde. Não gostei do resultado. Prediria mil vezes o texto rebuscado, audacioso, afrontando a falsa moral, a produção caprichadíssima como figurinos, cenários e direção de arte e as cenas realistas de violência e deliciosamente ousadas, porém exuberantes e plásticas, de sexo. Fiquei triste com a mudança e deixei de lado. Lembro-me bem também que a audiência não só não melhorou, como afundou de vez com a pasteurização. Uma pena.
ResponderExcluirAlexandre Altomare
Triste mesmo é ver que a novela só pode ser achada em espanhol...
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