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terça-feira, 10 de setembro de 2013

Vilões com um "punhado" de coração

por Thiago Andrade Martins

De uns anos para cá, a história da dramaturgia tem experimentado uma inversão de valores no que diz respeito aos seus personagens. A linha que separa os vilões dos mocinhos tem ficado cada vez mais tênue, tornando os primeiros, seres incrivelmente populares. Inclusive, aqueles que praticam a vilania têm conquistado, e muito, a preferência do público, cansado do tipo bonzinho e sofredor.

O fato é que ninguém é só bondade e, tampouco, só maldade. E os autores já captaram essa mensagem num esforço de humanizar os seus personagens com a ideia de torná-los mais próximos da nossa realidade.

Os vilões saem em vantagem no sentido em que apresentam uma gama maior de facetas. Muitos deles são resultados de problemas sociais que fazem parte do nosso cotidiano. Não que isso justifique jogar alguém no lixão ou executar quem ouse cruzar o seu caminho. No entanto, isso conta pontos na hora de criar empatia ou até mesmo causar identificação com alguns traços de uma personalidade não tão “correta”.

Hoje, é raro as novelas apresentarem um vilão que desperte o ódio e a rejeição do público. Taí a dona Carmem Lúcia, vulgo Carminha, que não me deixa mentir. Contudo, para qualquer autor é um desafio escrever uma trama, com mais de uma centena de capítulos, em que o desfecho seja a vitória do mal sobre bem. Isso, na maioria das vezes, seria inconveniente, principalmente, num país que sofre tanto pelas suas mazelas.


Então, qual seria o melhor tratamento narrativo possível para essas figuras, que, ao longo dos meses, aprendemos a compreender e até a amar? Na minha humilde opinião, como telespectador, a resposta se encontra na redenção desses personagens. E já vimos isso, com muito sucesso, em vários folhetins relativamente recentes.

A própria Carminha, em Avenida Brasil é um exemplo disso. Ela foi capaz de roubar o companheiro, mandar a enteada para o lixão, separar um casal, seduzir o jogador de futebol rico, dar o golpe da barriga grávida de outro, chantagear, desviar dinheiro da caridade, manter um caso com o concunhado, maltratar a filha acima do peso, matar, enfim... No fim, se redimiu pelos seus pecados, pagou sua pena e abdicou de uma vida de luxo para voltar ao lixão, ganhando o respeito, inclusive, da sua maior rival, Nina.


A atual novela “das sete”, Sangue Bom, já esboça a redenção de um de seus principais vilões, o Fabinho, vivido pelo ator Humberto Carrão. Depois de aprontar todas, o bad boy foi parar na rua, passou fome, frio, se feriu e perdeu tudo. Mas a compaixão de sua conhecida de infância, que o levou para casa e passou a cuidar dele, despertaram sentimentos nobres no rapaz que pediu perdão à sua madrasta e prometeu levar uma vida diferente.


Outra vilã que aprendeu que a maldade não compensa foi a caricata Chayene, ou Chay para os íntimos. A “ brabuleta”, no final de Cheias de Charme, fez até show com as Empreguetes, recontratou a Socorro como sua personal colega e, ainda, fez um turnê infantil com o seu affair midiático, Fabian. O sucesso foi tanto que as personagens até fizeram uma participação no especial Roberto Carlos, que você pode conferir logo abaixo:


Em Passione, Mariana Ximenes, fez jus à fama de ser uma das melhores atrizes de sua geração. Além de roubar a cena, mostrou o que o amor por um ente querido é capaz de fazer. A vilã enganou o ingênuo do Totó, casou com ele por interesse, ajudou o seu comparsa em diversos crimes, mentiu, enganou, seduziu, matou. Fez e aconteceu. Mas foi capaz de rever suas atitudes e tentou se tornar uma pessoa melhor para cuidar de sua irmã caçula, Kelly, conquistando, inclusive, a torcida do público para que ela tivesse um final feliz.


Juvenaldo foi um dos vilões que pagou caro por ter Duas Caras. Em pleno horário nobre, pudemos acompanhar a trajetória do homem que fingindo ser Adalberto Rangel, seduz e tira tudo da rica e órfã Maria Paula. Depois de se tornar milionário, assume a identidade de Marconi Ferraço, sem saber que a sua vítima tinha ficado grávida de seu único filho. A descoberta desse filho modifica os rumos do personagem que vai se regenerando e reconquistando o amor de Maria Paula durante a drama.


Esses são apenas alguns dos vilões que se tornaram exemplo pela sua redenção. Particularmente, acredito que esse tipo de desfecho representa um olhar esperançoso sobre o ser humano. Afinal, todos já passamos por momentos de transformação na busca da melhoria do nosso estilo de vida, personalidade, caráter e da percepção que as outras pessoas têm de nós. Acreditar na evolução e no amadurecimento de cada indivíduo é também projetar um mundo mais sensível, compreensivo e amável.

E você, acredita que um vilão pode, definitivamente, mudar?

6 comentários:

  1. Muito lúcida a análise.

    Mônica Franco

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  2. Adorei, o povo criticou muito a Carminha ter ficado boa no final, mas não entendem que até aquela pessoa ruim, horrível, tem no fundo um pouco de bondade...

    Anderson Nascimento

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    1. Isso mesmo, Anderson. A Carminha é resultado de uma série de fatores sociais e familiares. Acredito que ela não tinha o desejo de ser assim. Só precisa de um empurrão pra poder se encontrar.

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  3. Gosto de vilões humanizados, mas bem que curto aqueles caricatos que são pura maldade. rs

    Maurício de Castro

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    1. Eu também gosto muito, Maurício. Principalmente aqueles de novelas mexicanas... Paola Bracho e Soraia Montenegro que digam...rs

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