Filme é uma declaração de amor do diretor Claude Lelouch pelo cinema dentro e fora da tela
Em sua primeira
cena, “Esses amores” releva o tom pessoal de Lelouch. A sequência abre a
projeção com imagens que fazem alusão ao cinema mudo, mostrando um homem com um
cinematógrafo semelhante ao dos irmãos Lumière. O filme francês lida às vezes
com temas pouco confortáveis como os horrores da Segunda Guerra, mas ele é a
síntese sobre coragem e amor e suas consequências. Ilva Lemoine (Audrey Dana) é
uma bela mulher com o defeito de “se apaixonar rápido demais” - como afirma a
própria personagem - e acaba pagando caro por isso. A vida dela é contada desde
adolescência, no começo da guerra, até ser julgada por um crime ocorrido
durante a ocupação nazista na França. O filme é uma grande narrativa em flashback e, a partir desse julgamento, a
história vira, então, uma coleção de memórias d’esses amores.
Por Túlio Vasconcelos
O melodrama “Esses amores” (Ces Amours-là, França, 2010) de Claude Lelouch é uma declaração de amor ao cinema. Este realizador francês despontou para uma carreira internacional com a obra-prima “Um homem, uma mulher” em 1966, ganhando a Palma de Ouro do Festival de Cannes e lotando salas de cinema mundo a fora. Lelouch é um dos principais expoentes da Nouvelle Vague ao lado de outros grandes nomes como Alain Resnais, Jean-Luc Godard e François Truffaut.
Ilva é filha de
uma ex-prostituta e vive aos cuidados de Maurice, seu amoroso padrasto. Ela é
lanterninha do cinema onde ele trabalha como projecionista. Acusado de integrar
a resistência francesa, ele é capturado. Tentando evitar que o padrasto seja fuzilado
pelas tropas inimigas, Ilva recorre a um oficial alemão, que salva a pele de
Maurice. A jovem troca o seu jovem namorado francês pelo militar alemão. Anos
depois quando os aliados conseguem libertar a França do domínio inimigo, ela é
vista como suspeita.
Quando é quase
presa, Ilva é resgatada por dois soldados americanos Jim e Bob e termina se
apaixonando por ambos. A decisão com quem ela irá se casar sai, então, de um cara
ou coroa. Jim, entretanto, assassina Bob, sem que a moça saiba. Ilva se casa
com o homem errado e eles vão morar nos Estados Unidos. O casal não vive bem e,
por isso, ela pede o divórcio ao marido, voltando sozinha para Paris. Na
tentativa de salvar o casamento, Jim vai ao encontro de Ilva, mas, por acidente,
ela o mata.
No cinema, como
em outras artes, não importa o tema escolhido. Na verdade, o mais importante é
a forma como ele é tratado. Lelouch aborda em seu filme uma das épocas mais
áridas da humanidade, mas, mesmo assim, ele consegue oferecer à plateia uma projeção
forte e poética. Vez por outra, o diretor intercala a fala dos personagens em
cena com trechos de filmes clássicos como “E o Vento Levou” e “Águas
Tempestuosas” no cinema onde Ilva trabalha. A mise-en-scène
(disposição dos elementos visuais no quadro) é organizada em cada cena com
habilidade. O cineasta consegue retratar Paris - onde maior parte do enredo
se desenrola - durante a época que o filme cobre de forma convincente. Há quase
um abandono pela música não diegética (ouvimos na maior parte do longa-metragem
canções produzidas pelos personagens, em especial o advogado no piano e o
oficial alemão com uma escaleta).
A fotografia e a direção de arte estão notáveis,
somando-se à qualidade da direção de Claude Lelouch, além de um elenco
impecável. Às vezes, temos a impressão de que não há ninguém dirigindo os
atores. Destaque para Audrey Dana e Laurent Couson, nos papéis de Ilva e Simon,
respectivamente. A cena final tem
grande importância para explicar os 50 anos de carreira do realizador francês,
como ele faz questão de ressaltar no início da trama.
Esses Amores (Ces Amours-là, França, 2010)
Direção: Claude Lelouch
Elenco: Audrey Dana, Dominique Pinon, Anouk Aimée
Elenco: Audrey Dana, Dominique Pinon, Anouk Aimée
Duração: 120
minutos
Gênero: Drama