quinta-feira, 27 de março de 2014

Esses Amores

Filme é uma declaração de amor do diretor Claude Lelouch pelo cinema dentro e fora da tela 

Por Túlio Vasconcelos

O melodrama “Esses amores” (Ces Amours-là, França, 2010) de Claude Lelouch é uma declaração de amor ao cinema. Este realizador francês despontou para uma carreira internacional com a obra-prima “Um homem, uma mulher” em 1966, ganhando a Palma de Ouro do Festival de Cannes e lotando salas de cinema mundo a fora. Lelouch é um dos principais expoentes da Nouvelle Vague ao lado de outros grandes nomes como Alain Resnais, Jean-Luc Godard e François Truffaut.  



Em sua primeira cena, “Esses amores” releva o tom pessoal de Lelouch. A sequência abre a projeção com imagens que fazem alusão ao cinema mudo, mostrando um homem com um cinematógrafo semelhante ao dos irmãos Lumière. O filme francês lida às vezes com temas pouco confortáveis como os horrores da Segunda Guerra, mas ele é a síntese sobre coragem e amor e suas consequências. Ilva Lemoine (Audrey Dana) é uma bela mulher com o defeito de “se apaixonar rápido demais” - como afirma a própria personagem - e acaba pagando caro por isso. A vida dela é contada desde adolescência, no começo da guerra, até ser julgada por um crime ocorrido durante a ocupação nazista na França. O filme é uma grande narrativa em flashback e, a partir desse julgamento, a história vira, então, uma coleção de memórias d’esses amores.

Ilva é filha de uma ex-prostituta e vive aos cuidados de Maurice, seu amoroso padrasto. Ela é lanterninha do cinema onde ele trabalha como projecionista. Acusado de integrar a resistência francesa, ele é capturado. Tentando evitar que o padrasto seja fuzilado pelas tropas inimigas, Ilva recorre a um oficial alemão, que salva a pele de Maurice. A jovem troca o seu jovem namorado francês pelo militar alemão. Anos depois quando os aliados conseguem libertar a França do domínio inimigo, ela é vista como suspeita.

Quando é quase presa, Ilva é resgatada por dois soldados americanos Jim e Bob e termina se apaixonando por ambos. A decisão com quem ela irá se casar sai, então, de um cara ou coroa. Jim, entretanto, assassina Bob, sem que a moça saiba. Ilva se casa com o homem errado e eles vão morar nos Estados Unidos. O casal não vive bem e, por isso, ela pede o divórcio ao marido, voltando sozinha para Paris. Na tentativa de salvar o casamento, Jim vai ao encontro de Ilva, mas, por acidente, ela o mata.

No cinema, como em outras artes, não importa o tema escolhido. Na verdade, o mais importante é a forma como ele é tratado. Lelouch aborda em seu filme uma das épocas mais áridas da humanidade, mas, mesmo assim, ele consegue oferecer à plateia uma projeção forte e poética. Vez por outra, o diretor intercala a fala dos personagens em cena com trechos de filmes clássicos como “E o Vento Levou” e “Águas Tempestuosas” no cinema onde Ilva trabalha. A mise-en-scène (disposição dos elementos visuais no quadro) é organizada em cada cena com habilidade.  O cineasta consegue retratar Paris - onde maior parte do enredo se desenrola - durante a época que o filme cobre de forma convincente. Há quase um abandono pela música não diegética (ouvimos na maior parte do longa-metragem canções produzidas pelos personagens, em especial o advogado no piano e o oficial alemão com uma escaleta).

A fotografia e a direção de arte estão notáveis, somando-se à qualidade da direção de Claude Lelouch, além de um elenco impecável. Às vezes, temos a impressão de que não há ninguém dirigindo os atores. Destaque para Audrey Dana e Laurent Couson, nos papéis de Ilva e Simon, respectivamente. A cena final tem grande importância para explicar os 50 anos de carreira do realizador francês, como ele faz questão de ressaltar no início da trama.

Esses Amores (Ces Amours-là, França, 2010)
Direção: Claude Lelouch
Elenco: Audrey Dana, Dominique Pinon, Anouk Aimée
Duração: 120 minutos
Gênero: Drama

domingo, 23 de março de 2014

3 anos de blog - Eles também passaram por aqui



Ainda como parte da comemoração de aniversário, conheça a postagem mais acessada de cada colaborador que passou pelo blog nesses 3 anos:

por Ana Paula Calixto, em 15/06/2012

por André Araújo, em 26/06/2013

por Antenor Azevedo, em 23/04/2012

por Autran Amorin, em 16/03/2013  

por Bernardo Dugin, em 27/06/2012

por Breno Ribeiro, em 01/05/2013

De cigana à Pombagira - Merimée por Glória Perez
por Brunno Duprat, em 05/10/2011

Minha novela favorita: História de Amor

por Denis Pessoa, em 23/10/2011

Gabriela: um clássico em progresso
por Eduardo Vieira, em 30/11/2011 

por Emerson Felipe, em 03/06/2013

por Fábio Leonardo, em 17/03/2012

O Astro, um verdadeiro novelão
por Glauce Viviana, em 14/08/2011

por Júlio César Martins, em 21/01/2013

por Júlio Damásio, em 08/03/2012

por Júnior Bueno, em 04/08/2011

por Jurandir Dalcin, em 02/08/2013

por Marcelo Ramos, em 08/08/2012

por Mateus Peres, em 01/08/2011


por Paulo Lannes, em 10/10/2012

por Rafael Tupinambá, em 20/01/2012


por Romulo Barros, em 31/03/2012

por Serginho Tavares, em 02/02/2013


por Thiago Ribeiro, em 10/08/2011

Obrigado a todos! 

quarta-feira, 19 de março de 2014

Assédio

Com ótimos desempenhos do elenco, Bertolucci cria estória de amor que parece impossível


Por Túlio Vasconcelos

O filme Assédio (Besieged, Itália, 1998) de Bernardo Bertolucci é a estória de um homem e uma mulher que não parecem ter nada em comum. Na bagagem, este realizador italiano carrega filmes como Último Tango em Paris - referência da erotização na sétima arte - e La Luna, uma das projeções mais bonitas da história do cinema. Em 1987, com O Último Imperador, Bertolucci abocanhou nove Oscars, incluindo melhor diretor e melhor filme. Assédio marca o retorno de Bertolucci à boa forma.
               
O longa-metragem começa apenas embalado por um canto africano com uma espécie de sacerdote. A sequência é interrompida e retorna junto com a música, numa relação perfeita com o som diegético da cena. Esse é o ritmo imprimido por Bertolucci nesse filme, sempre alternando o som africano com música erudita. Ainda na África, somos apresentados à Shandurai - vivida por Thandie Newton – que trabalha com menores deficientes. Não há uma só palavra nessa sequência.  Nada é dito, mas supomos que as crianças que estão aos cuidados dela tenham sido vítimas de alguma guerra entre tribos ou minas. O país (que o diretor não deixa claro qual é) vive um regime ditatorial. O marido de Shandurai, que é professor, é contra o regime. Na presença da esposa, ele é levado da sala de aula pela força truculenta pelos militares, que o levam para um lugar ignorado. Durante o primeiro e o segundo ato, destaca-se a ausência de diálogos – sua marca registrada - e, apesar disso, a estória não é comprometida em momento algum. Além disso, o realizador italiano opta por cores mais fortes para criar um clima de tensão maior. Através dos detalhes visuais, consegue-se compreender a projeção sem problemas.

Após a sequência, vemos Shandurai em Roma, na Itália, morando num pequeno quarto. Ela sobrevive do trabalho de faxineira. Além dessa tarefa, a africana dedica parte do seu tempo estudando medicina. Como boa parte dos imigrantes, Shandurai não foi bem recebida na Europa. Ela trabalha na mansão de inglês Kinsky, que é interpretado por David Thewlis.  Ele passa o dia nesse imóvel - doado pela sua tia - onde passa o dia tocando o piano. O músico fica apaixonado por ela e parece não se importar que seja casada e que o marido dela está preso na África, correndo risco de vida.  Ele é o patrão e ela, a empregada. Depois eles passam a apenas amigos que se admiram para, por fim, apaixonados. O amor de Kinsky por Shandurai faz com que ele se desfaça do que considera mais importante: o seu lindo e envernizado piano.

A mise-en-scène (organização dos elementos visuais em cena) adotada por Bertolucci tem um estilo diferenciado. As suas decisões contribuem para a qualidade superior do filme. A escada é umas das personagens mais importantes do filme. Kinsky mora na parte superior da mansão, enquanto ela, por sua vez, vive na parte inferior, o que representa a disparidade entre os protagonistas, explicitando as diferenças sociais e culturais existente entre eles. É também na escada onde se desenrolam as cenas mais relevantes do filme. Bertolucci, sabiamente, usou esse elemento arquitetônico a seu favor.

A atuação dos atores, neste caso, é essencial para o sucesso da película. Thandie Newton e David Thewlis estão impecáveis. Bertolucci consegue extrair o máximo dos atores. Ele nos mostra que não é considerado um grande cineasta à toa. À medida que a câmera se aproxima dos personagens, o diretor a movimenta criando um clima emocional, utilizando, o recurso da câmera na mão em boa parte de Assédio. O tom visual torna-se mais ameno quando a estória passa para a capital italiana.

O diretor flagra a Itália das periferias e a sua luta contra a convivência de raças no País, que já parece inevitável. Aqui, o diretor não utiliza nenhum discurso ou posicionamento. Assim, ele contempla essa riqueza étnica, sem lançar questionamentos. Observa apenas. O amor do pianista e da faxineira torna-se uma interrelação de raças sem parecer piegas ou forçado. O resultado é uma demonstração cabal da qualidade desse cineasta genial.

Assédio (Besieged, Itália, 1998)
Direção: Bernardo Bertolucci
Elenco: Thandie Newton, David Thewlis
Duração: 94 minutos


domingo, 9 de março de 2014

3º Aniversário do blog: Rememore com a gente



Há 3 anos estreávamos.
Somos gratos aos leitores, aos blogueiros convidados, aos entrevistados, aos autores que passaram por aqui, aos que continuam somando... Obrigado! 
  
Em comemoração, relembraremos postagens de convidados do blog. Confiram:

pelo saudoso Rogério Sabath, em 01/04/2011 

por Walter de Azevedo, em 15/04/2011

por Silvestre Mendes, em 18/04/2011  

por Marcos Silvério, em 10/05/2011

por Celso Garcia, em 19/08/2011

por Adilson Oliveira, em 22/08/2011

por Silvestre Mendes, em 29/08/2011

por Aladim Miguel, em 01/10/2011

por Antônio Costa, em 19/03/2012

por Marcelo Ramos, em 08/04/2012

por David Oak, em 22/06/2012

por Marcelo Ramos, em 30/06/2012

As novidades na telinha e o frescor dos "novos velhos"
por Warney Oliveira, em 04/08/2012

por Robério Silva, em 26/09/2012

por Dan Vícola, em 12/10/2012

por Robério Silva, em 07/11/2012

por Marcelo Alves, em 27/02/2013

por Renato Coelho, em 29/03/2013

por Aladim Miguel, em 15/06/2013

por Pedro Arthur, em 12/09/2013

por Bruno Fracchia, em 15/09/2013

por Murilo Pitombo, em 18/09/2013

por Duh Secco, em 24/09/2013

por Adilson Oliveira, em 03/01/2014
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