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domingo, 15 de junho de 2014

O que tiver de ser - capítulo 4


O QUE TIVER DE SER

CAPÍTULO 4

WEB NOVELA DE
LEANDRO BRASIL


ESCRITA COM A COLABORAÇÃO DE:

ISAAC SANTOS
RAFAEL BARBOSA
RAUL FELIPE SENNGER


CENA 01. APTO JÚLIO E LETÍCIA. SALA. INTERIOR. NOITE.
Continuação imediata. Letícia assustada.
LETÍCIA            - Que é isso, Júlio? Que pergunta! É claro que eu não sinto mais nada pelo Gustavo. Nada. A não ser ódio... Raiva! E essa história que eu coloquei a Sofia contra ele e contra a tal fulana (pausa, passa a mão na cabeça) é tudo... Tudo uma grande mentira, ouviu?!
JULIO               - (Calmo, voz tranquila) Eu não sou bobo, Letícia. Sabe, até agora eu tentei mascarar as coisas, fingir pra mim mesmo que tá tudo bem, que você tá completamente apaixonada por mim, mas no fundo eu sabia que alguma coisa ainda tá mal resolvida nisso tudo. E agora eu percebi, tive certeza que você ainda não esqueceu o teu ex-marido. Pelo menos não totalmente. Esse comportamento de ficar colocando a sua própria filha contra o pai é/
LETÍCIA            - (corta) Eu não fiz isso!
JULIO               - Não precisa dizer mais nada, Letícia. Eu só vou te falar uma coisa: eu gosto muito de você, gosto muito mesmo. E tô disposto a fazer com que você me ame também, que me ame da mesma forma e com a mesma intensidade com que amou o Gustavo. Eu desejo muito que a nossa relação dê certo e tenha futuro, mas se você demorar muito para resolver se fica ou se volta, eu posso acabar me cansando e ir embora.
Júlio sai, sério. Em Letícia pensativa, corta para:

CENA 02. APTO ROSÁLIA. SALA. INTERIOR. NOITE.
Rosália, entre um gole e outro de vinho, dança freneticamente ao som de “sei que eu sou bonita e gostosa”. Corte descontínuo. Rosália sentada no sofá, pensativa, pega o telefone e disca.
ROSÁLIA         - (ao telefone) Alô, é da agência H? (pausa) Ah, desculpe. (disca novamente) Alô, boa noite. (pausa) Sim, é com vocês mesmo que eu quero falar. (pausa) Meu nome? Rosália Almeida. (pausa) Já, eu já tenho cadastro aí. Mande o rapaz mais atraente que vocês tiverem. (pausa) Ok, eu aguardo. Obrigada.
Rosália desliga o telefone e fica pensativa. Corte descontínuo. Rosália, vestida numa camisola vermelha. Campainha toca. Rosália vai atender. Ela abre a porta e vê um garoto de programa bonito e saradão.
GAROTO DE PROGRAMA           - Dona Rosália? (ela diz que sim) Eu sou da agência/
ROSÁLIA         - (corta) Entre e feche a porta, rapaz. (sensual) Eu sou toda sua. Quero me divertir muito essa noite!
O rapaz pega Rosália no colo e a leva para o quarto. Corta para:

CENA 03. SÃO PAULO. STOCK-SHOTS. EXTERIOR. DIA.
Imagens aceleradas de diferentes pontos da cidade, de modo a deixar claro que se passaram alguns dias. Termina na fachada da casa de Paola. Corta para:

CENA 04. CASA DE PAOLA. SALA. INTERIOR. NOITE.
Abre na TV ligada em um desenho animado. Lucas assistindo com ar desanimado. Rubens e Marcelo entram fazendo barulho e falando alto, ambos bem tensos. Lucas se assusta.
MARCELO       - Tá se preocupando à toa, cara!
RUBENS         - À toa? É no meu pescoço que tá a corda, meu bom!
Rubens se irrita ao ver Lucas, vai até o sofá, pega o controle de cima dele e desliga a TV.
RUBENS         - Dá licença, garoto, que eu preciso conversar aqui com meu amigo.
LUCAS             - (emburrado) Mas eu tava assistindo.
RUBENS         - Não interessa. Vou levar um papo aqui que não é pra criança. Vai pro seu quarto.
LUCAS             - Mas/
RUBENS         - Vai logo, moleque!
Lucas lança um olhar enfurecido para Rubens e sai pisando duro.
MARCELO       - Relaxa Rubens, você anda muito tenso, cara. Tem que pensar de cabeça fria.
RUBENS         - (bastante nervoso) Como, cabeça fria? O Airton não tá pra brincadeira. Ele me deu um prazo pra quitar a dívida e se eu não pagar... Você sabe o que ele pode fazer. Conhece a fama do cara.
MARCELO       - Ele te ameaçou então?
RUBENS         - E eu vou estar assim, por quê? É claro que ele me ameaçou. O cara não tá pra brincadeira. Se eu não conseguir levantar essa grana...
Rubens encara Marcelo e parece ter uma ideia. Durante o diálogo a seguir Paola vai surgir e escutar parte da conversa.
RUBENS         - Tem como descolar uma grana lá com a tua perua? Ela é viúva de um velho cheio da nota, você podia tentar...
MARCELO       - Esquece, não vou pôr a perder meu lance com a Soninha, não agora.
RUBENS         - (preocupado) Merda!
MARCELO       - Ainda acho que você tá sofrendo cedo demais. (meio sussurrando) Tem aquela mercadoria pra chegar, coisa grande, que dá dinheiro e eu não tô falando de pouco. Os fornecedores já tão pra entregar. Você vai conseguir levantar a grana do Airton fácil.
Paola adentra de vez a sala. Marcelo emudece e Rubens a encara tentando disfarçar sua tensão.
PAOLA             - Do que é que vocês estão falando?
RUBENS         - Nada demais. Negócios, problemas com fornecedor, contas pra pagar. Probleminhas de sempre.
Rubens vai até Paola e lhe dá um beijo carinhoso.
RUBENS         - Boa noite, meu amor.
PAOLA             - Tem certeza que não é nada sério? Vocês me pareceram bem nervosos.
RUBENS         - já disse que não é nada com que você tenha de se preocupar. Deixa que eu cuido dos negócios , ok?
PAOLA             - (desconfiada) Tudo bem!
MARCELO       - O Rubens é fera na administração da boate, ele vai resolver o... Probleminha.
Rubens e Marcelo se olham cúmplices. Paola intrigada.  Corta Para:

CENA 05 . APTO SONINHA. SALA. INTERIOR. NOITE.
Marcelo e Soninha saindo de um beijo. Ela levanta e vai até a estante com bebidas. Marcelo vai pegar um porta retrato do falecido Giácomo durante a conversa.
SONINHA        - Vou servir mais um uisquinho pra gente!
MARCELO       - (já com o quadro na mão) Vem cá, como você conseguiu ser casada com esse velhote, hein?
Soninha o encara, incomodada. Larga a garrafa na estante e se aproxima tirando o porta retrato da mão de Marcelo.
SONINHA        - Não fala assim! Não gosto que se refiram ao Giácomo desse jeito. Ele foi uma das pessoas mais importantes da minha vida.
MARCELO       - Vai me dizer que amou ele agora, é?
SONINHA        - (pensa, um pouco culpada) Gostaria de ter amado mais, amado pra valer. Mas sempre tive um grande carinho por ele. Aquele jeito fofo, aquele sotaque italiano, o bom gosto... Tudo nele era encantador. (tempo, sente saudade) Acho que talvez ele tenha sido a pessoa que mais me amou nessa vida. Nenhum dos outros maridos que eu tive chegou aos pés do Giácomo. Ele me deu tudo, sabe? O que eu sou, o que eu tenho... Eu devo tudo a ele, tudo. Se hoje nós estamos aqui tomando essa bebida cara, nesse apartamento confortável, luxuoso, é graças a ele. Eu até me sinto um pouco culpada porque... Eu gostaria de ter sido mais carinhosa, mais amorosa com ele. Tadinho. Não tinha família, era tão solitário! (T) Mas apesar de tudo eu acho que eu fiz ele feliz. E ele também me fez. Nós tivemos grandes momentos juntos. (abraça o porta retrato, carinhosa) Eu sempre vou lembrar do Giácomo com muito carinho. E se você quer continuar numa boa comigo, acho bom respeitar a memória dele.
Soninha sorri carinhosa para o retrato de Giácomo e o devolve à mesinha onde estava. Marcelo a olha meio constrangido.
MARCELO       - Desculpa, eu não queria ter falado daquele jeito, eu só/
SONINHA        - Magina, eu entendo.
Marcelo coloca a mão no bolso e olha para Soninha com ar de mistério e com um sorrisinho de canto de boca, meio malandro e sedutor.
SONINHA        - Que foi? Quê que tá me olhando desse jeito, hein?
MARCELO       - Eu tenho uma coisa pra te dar.
SONINHA        - (curiosa) Ah é, o que será?
MARCELO       - É simples, mas é de coração.
Marcelo leva a mão ao bolso e tira de lá uma caixinha. Ele a abre e vemos um anel simples, mas bonito.
SONINHA        - (leve emoção) Nossa!
MARCELO       - Eu não posso te dar tudo que o vel... Quer dizer, o que o Giácomo te deu. Mas eu também posso te fazer muito feliz e ser tão importante como ele foi. Será que você me dá a chance de ser o seu próximo marido e te fazer feliz como nenhum dos outros conseguiu?
SONINHA        - (agora bastante emocionada) Tá falando sério?
MARCELO       - Quer casar comigo?
SONINHA        - E você ainda pergunta?
Marcelo pega a mão dela e vai colocando o anel em seu dedo. Depois eles se beijam novamente.  Corta para:

CENA 06. FRENTE DA BOATE. EXTERIOR. NOITE.
Rubens chegando à boate. Imagem estática. Alguém não identificado o fotografa enquanto ele sai do carro e se dirige à boate. Vários flashes são tirados. Em uma das fotos de Rubens entrando na boate, Corta para:

CENA 07. APTO JÚLIO E LETÍCIA. SALA. INTERIOR. DIA.
Com o uniforme da escola, Sofia termina de colocar os livros na mochila. Letícia a ajuda.
SOFIA               - Ah, mãe, não esquece, viu, de ligar pro papai e avisar que a minha peça vai ser hoje, tá?
LETICIA            - Eu sei, filha. Pode ficar tranquila, que eu e o teu pai estaremos lá.
Close de Letícia maliciosa, planejando algo. Corta para:

CENA 08. CASA DE PAOLA. SALA. INTERIOR. DIA.
Paola abrindo a porta e dando de cara com um oficial de justiça. Ele está com uma papelada na mão. Paola estranha.
PAOLA             - Posso ajudar?
OFICIAL           - Dona Paola Lemos?
PAOLA             - Sim, sou eu.
OFICIAL           - Eu sou oficial de justiça e tenho uma notificação para a senhora. 
Na forte reação de Paola, já imaginado do que se trata, Corta rápido para:

CENA 09. APTO JÚLIO E LETÍCIA. SALA. INTERIOR. DIA.
Paola já discutindo sério com Júlio.
PAOLA             - (furiosa) Você não podia fazer isso, Júlio/
JÚLIO               - (cortando) Tanto podia que já fiz: dei entrada no pedido da guarda de Lucas, sim! Quero o meu filho aqui, junto comigo e bem longe de você!
PAOLA             - Mas Júlio, será que você não percebe que o melhor pruma criança é estar perto da mãe? Tá querendo traumatizar o Lucas?
JÚLIO               - Traumatizado ele vai ficar se continuar vivendo com o Rubens! O Lucas já me falou várias vezes que gostaria de morar comigo e eu vou conseguir a guarda dele! Nem tente me fazer mudar de ideia, Paola. Você não vai conseguir!
Paola olha para Júlio, como quem vai falar alguma coisa, mas desiste e vai embora, furiosa. Corta para:

CENA 10. ESCOLA SOFIA. ANFITEATRO. INTERIOR. DIA
Crianças no palco. Cortina ainda fechada para a plateia. Professora organizando as crianças em seus respectivos lugares.
PROFESSORA - (para todos) Ótimo. Nós ensaiamos bastante, tenho certeza que vocês vão arrasar. (para Sofia) Você é a chapeuzinho mais linda que eu já vi!  
Professora sai. Da coxia, a professa acena, dando o sinal de que as cortinas serão abertas. Cortinas se abrem. Visão da plateia. Quase todas as poltronas estão ocupadas por pais. Close de Sofia, que procura por Gustavo entre os presentes ali sentados. Ao avistar apenas Letícia, Sofia se entristece. Câmera vai até Letícia, que pega o celular e começa a discar. Corta para:

CENA 11. ESCRITÓRIO. SALA DE GUSTAVO. INTERIOR. DIA.
Gustavo em sua mesa, bastante ocupado examinando um projeto. Seu celular toca umas duas ou três vezes. Meio sem paciência ele o pega, reage mal ao constatar que é Letícia quem liga, mas atende.
GUSTAVO       - Fala, Letícia, aconteceu alguma coisa com a Sofia? (pausa. Gustavo reage, surpreso) Como é que é? (irritado) E você só me diz isso agora? (pausa) Tá. Tá bom, Letícia, me espera. Eu tô indo praí.
Gustavo desliga o celular e sai, muito apressado.  Corta para:

CENA 12. FRENTE DA ESCOLA DE SOFIA. EXTERIOR. TARDE.
Letícia indo para o carro com Sofia, que está muito triste.
LETÍCIA            - Não fica assim, filha. A peça foi linda, você arrasou.
SOFIA               - Você ligou pro meu pai?
LETÍCIA            - Claro que liguei. Avisei pra ele que a data da peça tinha mudado, que em vez de amanhã seria hoje.
SOFIA               - E por que foi que ele não veio? Poxa, eu contava tanto com a presença dele!
LETÍCIA            - Seu pai é muito ocupado, Sofia! Vai ver ele teve algum outro compromisso mais importante e não pôde vir, mas fica tranquila, que eu filmei tudo e tirei um monte de foto pra você mostrar a ele depois.
SOFIA               - Não é a mesma coisa.
Câmera sai delas e vai até o carro de Gustavo, que está chegando naquele momento. Ele estaciona e sai do carro, apressado. Ao vê-lo, Sofia entra no carro de Letícia, muito irritada. Gustavo vai até elas.
GUSTAVO       - (bate na porta do carro) Sofia, querida, não deu pra vir antes. Por favor, não fica zangada comigo.
Dentro do carro, Sofia está emburrada, sem nem olhar para o pai.
GUSTAVO       - Fala comigo, Sofia. Eu não tive culpa. (T) Olha, eu prometo que/
LETÍCIA            - (corta) Melhor deixar pra conversar com ela depois. Ela tá muito triste por você não ter vindo. Insistir agora só vai piorar as coisas.
GUSTAVO       - (irritado) Mas eu não tive culpa, Letícia! Eu achava que a peça seria só amanhã! (T) E você?! Por que deixou pra me ligar em cima da hora, quando a peça já tinha começado? Aposto que você fez de propósito!
LETÍCIA            - (“indignada”) Como é que é? Gustavo, você acha que eu teria coragem de deixar a minha filha triste desse jeito por causa de um capricho bobo? Eu não tenho culpa se a sua namorada não te deu o recado e/
GUSTAVO       - (corta, surpreso) Como assim? O que é que a Andréa tem a ver com isso?
LETÍCIA            - (cara de pau) Ué, eu liguei de manhã cedo pro seu apartamento, falei com ela e pedi pra ela te avisar que a peça da Sofia ia ser hoje. (ri) Bom, pelo visto ela esqueceu, não é?
Em Gustavo muito surpreso, Corta rápido para:

CENA 13. APTO GUSTAVO E ANDRÉA. QUARTO. INTERIOR. NOITE.
Abre em Andréa furiosa diante do Gustavo. Os dois discutem.
ANDRÉA         - Mentira dela, Gustavo! Você acha que eu ia esquecer de dar um recado tão importante?
GUSTAVO       - Mas ela me garantiu que ligou pra cá, falou com você e/
ANDRÉA         - (corta) E eu já disse que ela tá mentindo! Essa mulher tá completamente desequilibrada, não se importa de magoar os sentimentos da própria filha em nome dessa obsessão doentia que ela tem por você! Se você não tomar nenhuma providência, a Letícia vai acabar dando um nó na cabecinha da Sofia, vai deixar a garota baratinada com tantas histórias!
Furioso e meio desorientado, sem saber direito o que fazer, Gustavo dá um grande murro na parede. Corta para:

CENA 14. APTO ROSÁLIA. SALA. INT. NOITE.
Rosália abrindo a porta para outro garoto de programa, que está de saída. No hall estão Soninha e Marcelo, que já iam tocar a campainha. Rosália leva um susto e faz sinal para que o rapaz saia depressa. O rapaz passa por Soninha e Marcelo.  Soninha o encara dos pés a cabeça. O rapaz toma o elevador. Soninha e Marcelo se aproximam.
ROSÁLIA         - (sem graça) Acredita que aquele formo deu problema antes da garantia? Mandaram um técnico.
SONINHA        - Ah, claro. Técnico à essa hora, mamãe? E as ferramentas dele: onde estavam, que eu não vi?
Sem jeito, Rosália já vai inventar uma desculpa, mas Soninha a interrompe.
SONINHA        - Você viu, Marcelo, como esse técnico tava usando um uniforme bem informal, justíssimo? E ele é tão musculoso...  (rindo, para Rosália) Não precisa se explicar, dona Rosália! A senhora ainda dá um caldo daqueles! Tem mais é que aproveitar os franguinhos e fazer canja um dia sim e o outro também.
Rosália constrangida. Corte descontínuo. Todos sentados no sofá tomando alguma bebida. Soninha e Marcelo de mãos dadas.
ROSÁLIA         - Bom, mas eu tô estranhando essa visita de vocês tão tarde. Sem querer ser mal educada, mas vocês podiam deixar pra vir aqui amanhã.
Soninha           - (feliz) Mas é que nós temos uma grande notícia, daquelas que não dá pra esperar. Se eu não te contasse hoje, mãe, eu ia explodir. (olha para Marcelo) Eu e o Marcelo... Nós... Nós vamos nos casar!
Em Rosália surpresa, corta para:

CENA 15. RUAS. CARRO DE SONINHA. EXT. NOITE.
Acompanhamos o carro andando pelas ruas de São Paulo. Soninha dirigindo. Ela e Marcelo rindo muito.
SONINHA        - Chega, Marcelo. Se eu rir mais um pouco, eu vou passar mal.
MARCELO       - Se me contassem eu não acreditaria. Tua mãe é uma bela de uma sonsa, viu? Bancando a senhora cheia de moral, palmatória do mundo e aprontando às escondidas.
SONINHA        - Ah, não fala assim, não... Deixa a coroa curtir a vida.
Corte descontínuo. Carro parado numa sinaleira. Soninha feliz.
SONINHA        - Claro que eu topo, amor.
MARCELO       - Que bom. Eu pensei que você não fosse gostar da ideia.
SONINHA        - Assim, casar numa boate é diferente, não é comum... (ri) Mas quem disse que eu sou uma pessoa comum?
MARCELO       - (ri) A gente casa e já continua a festa no mesmo espaço. (T) O quinto casamento de Soninha Bassan! Já pensou? Vai ser uma promoção e tanto pra boate!
SONINHA        - Eu me casaria onde você escolhesse, amor.
Os dois dão um selinho. Sinal abriu. Ouvimos buzinas de carros empatados pelo carro de Soninha. Marcelo e Soninha riem da situação. Na movimentação do carro de Soninha, corta para:

CENA 16. APTO JÚLIO E LETÍCIA. SALA. INTERIOR. NOITE.
Sala escura. Júlio e Letícia sentados no sofá vendo um filme na TV. Júlio assiste com atenção, parece gostar muito do filme. Letícia cochila com a cabeça encostada no ombro dele.
JÚLIO               - Linda essa cena da senhorita coração solitário, não é? (percebe que Letícia cochila e mexe com ela) Letícia...
LETÍCIA            - (acordando) Oi, desculpa, Júlio. Eu tô achando esse filme um porre, não faz o meu estilo.
JÚLIO               - (ri) Não diz isso. “Janela Indiscreta” é um dos maiores clássicos da história do cinema.
LETÍCIA            - Pode ser, mas eu não tenho o menor saco pra filme antigo, não suporto mesmo. Que graça tem a história de um desocupado que fica bisbilhotando a vida dos vizinhos? Coisa mais deprimente!
JÚLIO               - Mas ele não faz isso porque quer. É a única maneira que ele encontrou de passar o tempo enquanto fica bom da perna quebrada. (T) Agora, deprimente mesmo é quando uma pessoa sadia, normal, deixa de aproveitar a sua vida pra viver em função da vida de outra pessoa...
LETÍCIA            - (irritada) Olha aqui, Júlio, eu já disse que o Gustavo/
JÚLIO               - (corta) Quem é que tá falando em Gustavo? Eu não me referia a você, Letícia. (ri) Mas pelo jeito a carapuça serviu direitinho, não é?
Letícia já vai responder irritada quando toca a campainha. Júlio levanta com preguiça, acende a luz e vai atender. Ele fica surpreso ao ver Paola.
JÚLIO               - Quê que você quer?
PAOLA             - (séria) Eu preciso conversar com você.
JÚLIO               - A gente não tem mais nada pra/
PAOLA             - (corta) Por favor, Júlio, me escuta. É importante.
De má vontade, Júlio faz um sinal para Paola entrar. Ela entra e cumprimenta Letícia.
PAOLA             - (para Letícia) Boa noite.
LETÍCIA            - Oi. (para Júlio) Eu vou ver a Sofia. Podem conversar à vontade.
PAOLA             - Obrigada.
Letícia beija o rosto de Júlio e sai. Júlio continua irritado com Paola.
JÚLIO               - Olha, Paola, se você veio falar sobre o Lucas eu aviso logo que você tá perdendo o seu tempo.
PAOLA             - (nervosa) Você precisa me escutar, Júlio. Por favor, desiste de pedir a guarda do Lucas. Não faz isso comigo.
JÚLIO               - Eu já disse que não vou deixar o meu filho à mercê daquele psicopata. (Tom) Se era só isso, pode ir embora.
PAOLA             - As coisas não são tão simples como você pensa. (suplica) Desiste, Júlio, por favor. Vai ser melhor pra todo mundo.
JÚLIO               - Não, Paola! Eu já me decidi. Eu só vou sossegar quando o meu filho estiver morando aqui comigo.
PAOLA             - (já perdendo a calma) Você não pode fazer isso, entendeu? Você não tem esse direito!
JÚLIO               - (irritado) Como, não tenho direito? E o direito de pai?
PAOLA             - (explode, descontrolada) Acontece que o Lucas não é seu filho!
Reação de susto e surpresa de Júlio. Ele encara Paola, chocado.
JÚLIO               - O quê? Acho que eu não ouvi direito/
PAOLA             - (firme) Você escutou muito bem! O Lucas não é seu filho! O pai dele é o Rubens!
Júlio fica ainda mais atônito. Olha para Paola sem saber o que dizer. Ela o encara, séria. Na perplexidade de Júlio,
Corta.

FIM DO CAPÍTULO 4.

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