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terça-feira, 8 de julho de 2014

Ei, Júlia - capítulo 2

Perdeu o capítulo anterior? Confira aqui.

EI, JÚLIA
CAPÍTULO 2

WEB NOVELA DE
ISAAC SANTOS

ESCRITA COM A COLABORAÇÃO DE:

ALEX SPINOLA
LEANDRO BRASIL
RAFAEL BARBOSA
RAUL FELIPE SENNGER

CENA 1. CASA/QUARTO DE OSVALDO. INT. NOITE
Osvaldo e Zoraide deitados. Ela dorme. Ele permanece acordado e se vira de um lado para o outro, sem conseguir dormir. Zoraide acaba despertando.
ZORAIDE        - Quê que foi? Tá sem sono?
OSVALDO       - (irritado) Me deixa, Zoraide. Dorme e me deixa em paz.
ZORAIDE        - Ih, tem que dar patada, né? (senta na cama e encara o marido) Te conheço, Osvaldo. A mim tu não engana. Eu sei por que é que tu tá assim. (T) É por causa da tua irmã, né?
Osvaldo não responde, mas o sofrimento por tudo que aconteceu está estampado em seu rosto.
ZORAIDE        - Pra mim tu não precisa se fazer de durão, Osvaldo. Eu sei quando tu tá com alguma coisa martelando na cabeça. Tu fica assim, aéreo, distraído... Deixou até o Danilinho dormir na casa dos teus pais, sem nem chiar!
OSVALDO       - (reage) Eu não, VOCÊ deixou!
ZORAIDE        - E tu concordou. Eu é que num ia ser besta de contrariar uma ordem tua. De jeito nenhum!
Osvaldo não consegue conter um sorriso. Zoraide também sorri. Os dois se olham, com carinho, num clima de cumplicidade e de companheirismo.
OSVALDO       - É... Acho que tu me conhece melhor do que eu mermo.
ZORAIDE        - (ri) Fica assim não, Val. Ficar remoendo coisa que já aconteceu não é bom, não. Agora já foi. Quem sabe tudo isso num vai ser melhor pra Júlia, hein? Quem sabe num é lá em Salvador que tá a felicidade dela?
Osvaldo sorri, mais conformado. Zoraide o beija no rosto.
ZORAIDE        - Agora tenta dormir, vai. Amanhã é segunda, tem muito serviço esperando a gente.
Osvaldo sorri para ela. Os dois se deitam e Zoraide logo pega no sono, mas Osvaldo continua muito pensativo. Fusão:

CENA 2. CASA/QUARTO DE JÚLIA. INT. NOITE
Júlia e seu cachorrinho Tico estão deitados. Danilo deitado num colchão ao lado da cama. Danilo e Júlia conversam baixo. 
JÚLIA               - Eu sei que fiz muita besteira, Danilo. Não tô negando isso. Mas é que dói, o jeito como me trataram, sabe?
DANILO           - Eu sei, tia. Eu também tô chateado.
JÚLIA               - Minha vontade é de não falar mais com o teu pai.
Danilo se apressa em suavizar o clima.
DANILO           - E como será lá, hein? Tomara que a gente continue se falando, se vendo de vez em quando... Vou morrer de saudade, tia.
JÚLIA               - Eu também! (T) Lembra quando a gente ficava dublando as cantoras? A tua preferida era a Rosana...
DANILO           - Lembro. Você dava um show imitando a Madonna. A gente fazia isso escondido, porque a vó dizia que era coisa do mundo e não queria saber daquilo na casa dela.
Danilo consegue arrancar um riso de Júlia. Corta:

CENA 3. ENTRE SERTÕES. STOCK-SHOTS. EXT. DIA
Imagens da cidade amanhecendo, terminando na frente da casa de Júlia, onde estão os personagens da cena seguinte. Corta para:

CENA 4. FRENTE DA CASA DE JÚLIA. EXT. DIA
Danilo está guardando as malas de Júlia no carro. Júlia está se despedindo de Amélia. Ambas emocionadas. Lourdes, com o cachorrinho Tico no braço, Zoraide e Justiniano estão à parte, conversando em off.
JÚLIA               - Não fique assim, não, mainha.
AMÉLIA           - Minha menina... Promete que não vai pensar bobagem nessa cabecinha?
JÚLIA               - Eu vou ficar bem. E quero que a senhora se cuide também!
AMÉLIA           - Eu vou estar sempre orando por você, filha. Deus não vai te desemparar.
JÚLIA               - Me abraça, mainha!
As duas se abraçam. Justiniano se aproxima.
JUSTINIANO  - Eu também quero um abraço, filha.
Júlia se desfaz do abraço com Amélia e abraça o pai.
JUSTINIANO  - (voz embargada) Você sabe que teu pai te ama e só quer o teu bem, né?
Júlia nada responde.
LOURDES      - (suave) Será que já podemos ir, mocinha?
ZORAIDE        - E eu e seu sobrinho não ganhamos um abraço, não?
JÚLIA               - Sua boba!
Júlia e Zoraide se abraçam.
ZORAIDE        - Ó, não fica com raiva do teu irmão, não. Essa noite ele nem conseguiu dormir direito. Vai com Deus!
Lourdes entra no carro. Amélia chama Justiniano à parte.
AMÉLIA           - Desiste dessa ideia, Tino. Ainda dá tempo!
JUSTINIANO  - Tem que ser assim, Amelinha.
AMÉLIA           - (firme) Eu só espero que você não se arrependa tarde demais.
CAM volta pra Júlia, que agora está se despedindo de Danilo.
DANILO           - Tô tentando nem imaginar como serão os dias daqui pra frente, tia. Mas eu vou torcer muito pra que a senhora dê a volta por cima.
JÚLIA               - Eu também tô tentando nem pensar nisso. (T) Mas é impossível, né? Dá cá um abraço na tia!
DANILO           - Como é mermo que a senhora costuma falar pra mim?
JÚLIA               - Que eu te “lovo”?
DANILO           - Eu também te “lovo”, tia!
Danilo e Júlia se abraçam. CAM vai recuando. Vemos Osvaldo, escondido atrás de uma árvore, observando tudo de longe. Do ponto de vista de Osvaldo, vemos Danilo abrindo a porta do carro pra Júlia. Ela entra. Carro começa a se afastar. Então vemos, do ponto de vista de Júlia, que olha pela janela do carro, a sua família ficando distante. Close de Júlia desiludida. Fusão:

CENA 5. RODOVIA BAIANA/CARRO DE LOURDES. EXT/INT. DIA
Abre nas belas paisagens que margeiam a rodovia. Vemos o carro de Lourdes passando por ali. Corta pro interior do carro: Lourdes está dirigindo. Júlia, com o cachorrinho Tico no colo, olhando para o horizonte pela janela do carro. Lourdes puxa conversa.
LOURDES      - Não tá nem um pouco ansiosa pra ver as praias mais bonitas do Brasil?
Júlia não responde. Está distante. Lourdes insiste.
LOURDES      - Tenho certeza que vai adorar as praias de Salvador.
JÚLIA               - (desanimada) Meu pai já me levou algumas vezes.
LOURDES      - Ah, mas agora é diferente, né? Em pouco tempo você se acostuma. Você vai ver!
Julia se ajeita no banco. Lourdes percebe sua inquietação.
LOURDES      - Bom, eu não quero bancar a chata. Eu fico aqui puxando conversa o tempo todo, né? Não precisa conversar sem querer. Pode ficar à vontade, Júlia.
Júlia percebe que está sendo indelicada com Lourdes.
JÚLIA               - É que... eu... eu não me vejo numa cidade como Salvador. Trabalhando na casa dos outros. A senhora me entende?
LOURDES      - Distante da família, dos amigos. (T) É claro que eu te entendo. Mas eu tenho certeza que você e o seu cãozinho vão acabar se acostumando.
JÚLIA               - Isso também me preocupa, dona Lourdes.
LOURDES      - O quê? O seu bichinho? (Júlia faz que sim) Não, eu imagino que a Flávia não vai botar dificuldade nisso, não. Pode deixar que quem vai conversar com ela sou eu.
JÚLIA               - Não quero ficar longe dele, não. Ele é a única lembrança que eu tô levando de minha cidade.
LOURDES      - (entusiasta) E a escola, hein! Já imaginou? Vai conhecer gente nova, fazer novas amizades. A Flávia vai procurar uma escola bem bacana pra você. Há boas escolas públicas lá em Salvador. Cê vai tirar sua carteirinha de meia passagem pros ônibus. Lá em Entre Sertões era pertinho de casa, né?
Corte descontínuo: Júlia já se mostra mais disposta, interessada na conversa, que está ao meio.
LOURDES      - Eu era novinha na época. Devia ter um pouco mais idade do que você. Eu fui com minha família passar o são joão lá em tua cidade. Aí conheci o Roberto. Ele já era homem feito. O meu pai era muito amigo do pai dele. Aí não deu outra (ri): a gente começou a namorar, depois noivou, casou... tamo até hoje. (T) Eu nasci em Salvador. Então logo que a gente casou, meus pais montaram uma casa pra gente, mas aí o pai dele faleceu, ele é filho único, herdou a fazenda e resolveu voltar pra cuidar de tudo pessoalmente. Isso já faz uns dezoito anos.
JÚLIA               - E a senhora não chorou de ter que largar sua família?
LOURDES      - Na frente dele, não. Eu queria me fazer de forte. Mas eu vivia chorando. Até que um dia a ficha caiu, eu percebi que o tempo tava passando e eu me entregando a uma tristeza. Dei uma basta! Nem distante é, uma cidade da outra.
Na imagem do carro se distanciando, Corta para:

CENA 6. ENTRE SERTÕES. STOCK-SHOTS. EXT. TARDE/NOITE
Imagens de diferentes pontos da cidade: Sol se pondo e a lua nascendo sobre Entre Sertões. Música “Luar do Sertão”, de Maria Bethânia, de fundo. Termina na praça onde estão Rosinha e Danilo. Corta para:

CENA 7. ENTRE SERTÕES. PRAÇA. EXT. NOITE
Danilo e Rosa Maria sentados num banco. O lugar está praticamente vazio. Apenas algumas crianças brincando por ali.
ROSA MARIA - Eu não consigo acreditar.
DANILO           - Eu também não. Parece até mentira.
ROSA MARIA - Ontem a gente tava bem aqui, conversando.
Instantes na tristeza de Rosinha.
ROSA MARIA - Eu não sei se vou segurar essa barra.
Danilo, acanhado, tentando confortar Rosinha. Corta para:

CENA 8. SALVADOR. STOCK-SHOTS. EXT. NOITE
Imagens bonitas de Salvador, terminando na fachada do prédio onde moram Flávia e Aurélio.

CENA 9. APTO DE FLÁVIA E AURÉLIO. QUARTO DE JÚLIA. INT. NOITE
Júlia acabou de sair do banho. Ainda está de toalha, secando os cabelos, pensativa. Quarto pequeno, mas bem arrumado e confortável. Júlia se prepara para se vestir, quando ouve batidas na porta e vai abrir. A patroa, Flávia (40), uma mulher bonita, de andar e gestos elegantes, entra no quarto.
FLÁVIA            - (sorri) Vejo que já está acomodada. Gostou do quarto?
JÚLIA               - Muito! É melhor do que eu imaginei.
FLÁVIA            - Fico feliz que você tenha gostado. Espero que nós possamos nos dar muito bem.
JÚLIA               - É o que eu também espero, dona Flávia.
FLÁVIA            - (gentil, mas firme) Hoje eu pedi uma pizza pro jantar. Seu Aurélio deve chegar daqui a pouco. Você serve a gente lá na sala e come a sua na cozinha, tá bom?
JÚLIA               - Claro! Como a senhora quiser.
FLÁVIA            - Sabe, Júlia, eu costumo ser muito generosa com os meus empregados, trato todos muito bem, mas eu sou um pouco exigente. Gosto de serviço bem feito. Acho que é o mínimo que qualquer patrão deve esperar dos empregados, não é?
JÚLIA               - A senhora tem toda razão. De minha parte eu prometo fazer tudo da melhor maneira possível. Não quero dar motivo pra senhora se queixar de mim.
FLÁVIA            - Ótimo. Ah, não esqueça de passar sempre as roupas do seu Aurélio. Ele é um homem bom, mas sai do sério quando vê que suas roupas estão amassadas.
JÚLIA               - Eu prometo ficar atenta.
FLÁVIA            - Você tem um cachorrinho, não tem?
JÚLIA               - Tenho, o Tico. Algum problema pra senhora?
FLÁVIA            - Não. O seu Aurélio é que não gosta muito de bichos, mas desde que você o mantenha sempre aqui, eu não vejo problema nenhum. (lembra de repente) Você costuma levantar à noite pra tomar água?
JÚLIA               - (meio incomodada com o interrogatório) Às vezes, quando eu tô com muita sede.
FLÁVIA            - Nesse caso é melhor você ter sempre uma jarrinha com água ao lado da sua cama. Concorda comigo?
JÚLIA               - Concordo.
Flávia já vai saindo, mas lembra de algo e se volta para Júlia.
FLÁVIA            - Outra coisa. Eu não acho conveniente que você fique circulando muito pela casa, a não ser, é claro, quando estiver fazendo o seu serviço. (T) É o seu Aurélio, sabe? Ele não gosta muito que os empregados tomem certas liberdades. Você entende, não é?
JÚLIA               - Claro. Pode ficar tranquila, dona Flávia. Tudo será como a senhora e o seu Aurélio querem.
FLÁVIA            - Bom, agora eu vou deixar você se trocar em paz. Daqui a pouco eu chamo você quando o seu Aurélio chegar.
Flávia sorri para Júlia e sai do quarto. Júlia observa o ambiente ao seu redor, ainda com certa tristeza no olhar, mas ao mesmo tempo, com um ar resoluto de quem está decidida a se adaptar às novas circunstâncias. Corta para:

CENA 10. LITORAL DA BAHIA. RESORT IMBASSAÍ/RESTAURANTE. EXT/INT. NOITE
Cena começa sob a legenda: Meses depois. Ambiente bastante luxuoso. Somente pessoas de alto poder aquisitivo. Uma banda toca um jazz suave. Garçons andam de um lado ao outro servindo as mesas. Em uma mesa muito bem posicionada estão Flávia e Aurélio. Aurélio beberica uma taça de vinho. Flávia bastante entusiasmada toca as mãos dele sobre a mesa.
FLÁVIA            - Dez anos juntos! (sorri) Nosso aniversário de casamento não poderia estar sendo melhor. Ainda nem acredito que a gente conseguiu esse final de semana livre pra poder comemorar, nesse lugar maravilhoso.
AURÉLIO        - (bem menos entusiasmado) A gente teve sorte! Eu não tinha nenhum show agendado!
O gerente do restaurante do resort se aproxima.
GERENTE       - Espero que estejam tendo uma excelente noite.
FLÁVIA            - Está tudo ótimo, de muito bom gosto. O jantar estava uma delícia. Obrigada!
AURÉLIO        - (finge falar sério) A gente ficou sabendo que é um oferecimento do resort. Obrigado mesmo!
Flávia sorri, tentando disfarçar um leve constrangimento pela brincadeira do marido.
AURÉLIO        - (percebendo) Brincadeira!  
GERENTE       - Com licença!
O Gerente se afasta. Flávia sorri para Aurélio que segue tomando seu vinho. A banda encerra uma música. Aplausos dos hóspedes. Um dos integrantes acena para Aurélio. Flávia percebe.
FLÁVIA            - Você conhece?
AURÉLIO        - Claro, é o Otávio, já nos apresentamos juntos várias vezes. Só um instantinho, vou lá ver o que ele quer comigo.
FLÁVIA            - Não demora, amor.
Aurélio vai. Flávia fica incomodada na mesa. Sorri para algum conhecido que está numa outra mesa. Corte descontínuo: Aurélio já de volta diante de Flávia. Conversa ao meio.
AURÉLIO        - É só uma música. Eles insistiram, não deu pra fugir dessa!
FLÁVIA            - (carinhosa) Tudo bem! Vai lá, vai ser um prazer ver o meu músico predileto se apresentar, ainda mais nessa data. Vou ficar aqui te esperando
AURÉLIO        - (Dá um selinho nela) Já volto!
Aurélio se junta aos músicos, senta à frente de um piano e começa a se apresentar. Flávia assiste admirada a apresentação com os olhos fixos no marido. Ela nota que ele começa a fitar algo ou alguém e olha na mesma direção que ele. Vê que é uma mulher bonita e bastante atraente que não tira os olhos de Aurélio e ainda sorri sedutora para ele. O ciúme toma conta de Flávia que encara o marido. Closes alternados de Flávia e Aurélio. Corta para:

CENA 11. SALVADOR. APTO DE FLÁVIA E AURÉLIO. QUARTO DE JÚLIA. INT. NOITE
Júlia está arrumada como se fosse sair. Se olha no espelho, passa um discreto batom nos lábios, ensaia um sorriso. O cachorrinho está por ali. Ela sai do quarto, ele a segue. Música “True Colors” de Cyndi Lauper, de fundo. Corta rápido para:

CENA 12. SALVADOR. APTO DE FLÁVIA E AURÉLIO. COZINHA. INT. NOITE
A música “True Colors” continua de fundo. Abre em um pequeno bolo de cobertura de chocolate na mesa. Uma vela de aniversário indica que Júlia está completando 18 anos. Ela acende a vela. Instantes. Ela apaga a vela. Close de Júlia triste.  Corta para:

CENA 13. LITORAL DA BAHIA. RESORT IMBASSAÍ. SUÍTE DE FLÁVIA E AURÉLIO. INT. NOITE
Aurélio entra no quarto seguido de Flávia. Ambos já bastante alterados. Discussão intensa. Durante o diálogo, Aurélio vai até um armário, pega sua mala e começa a juntar suas coisas. Ritmo:
AURÉLIO        - Você conseguiu! Conseguiu estragar o final de semana com esse ciuminho ridículo e sem fundamento. Na frente dos outros ainda por cima, o maior constrangimento.
FLÁVIA            - (histérica) Sem fundamento? Aquela mulher tava te comendo com os olhos e você estava correspondendo, tava gostando. Parecia que o show era pra ela não pra mim, sua mulher.
AURÉLIO        - Você tá ficando louca! É o meu trabalho. São várias as mulheres que olham pra mim enquanto eu me apresento. Não significa que eu vá dormir com elas. Aliás, você fala de um jeito como se eu só me apresentasse pra mulheres. 
FLÁVIA            - (grita) Você não tem o menor respeito por mim.
AURÉLIO        - (grita mais) Chega! Eu não vou mais discutir!
Flávia vendo que ele fecha a mala disposto a ir embora, apela.
FLÁVIA            - (T) O que é isso, aonde você vai?
AURÉLIO        - Já deu pra mim. Você estragou o nosso aniversário de casamento, você estragou tudo. Não tenho mais saco pra continuar aqui, não vou nem conseguir encarar as pessoas amanhã depois do seu ataque no restaurante.
Flávia corre até ele e o puxa pelo braço.
FLÁVIA            - Você não vai fazer isso comigo. Eu posso ter exagerado, eu bebi um pouco demais, mas tenta me entender/
AURÉLIO        - (corta) Não dá pra te entender, esse teu comportamento é incompreensível, me irrita, me sufoca. 
FLÁVIA            - Me perdoa, meu amor, não sai daqui assim, me perdoa/
Aurélio se desvencilha de Flávia, pega as chaves do carro numa mesa.
AURÉLIO        - Tô indo embora.
Aurélio já vai saindo. Flávia se coloca na frente dele.
FLÁVIA            - Me espera, eu arrumo as minhas coisas rapidinho e vou com/
AURÉLIO        - (corta) Nem pensar, eu vou sozinho. Sem condições de dirigir com você do meu lado.
FLÁVIA            - E eu faço o quê? Você vai me deixar aqui sozinha?
AURÉLIO        - Isso é problema seu. Fica aí aproveitando o resto do fim de semana, ou, se quiser ir embora, pega um táxi!
Aurélio sai do quarto batendo a porta. Flávia, chorando muito, se joga na cama e fica lá encolhida. Corta para:

CENA 14. SALVADOR. FACHADA DO PRÉDIO DE FLÁVIA E AURÉLIO. EXT. MADRUGADA
Vemos o porteiro abrindo o portão do estacionamento. Carro de Aurélio entra.  Corta para:

CENA 15. APTO DE FLÁVIA E AURÉLIO. QUARTO DE JÚLIA. INT. MADRUGADA
Júlia deitada, pensativa. O cachorrinho Tico dorme ao seu lado na cama. De repente, ela se assusta ao ouvir um barulho no apartamento. Levanta devagar, temerosa, e vai ver o que está acontecendo. Sai do quarto. Corta para:

CENA 16. APTO. CORREDOR / SUÍTE DE FLÁVIA E AURÉLIO. INT. MADRUGADA
Júlia se aproxima da porta entreaberta do quarto de seus patrões. Entra no quarto e vê as roupas e sapatos de Aurélio pelo chão. Escuta barulho do chuveiro ligado e percebe que ele está no banho. Júlia resolve voltar para o seu quarto, mas acaba batendo sem querer em um jarro, que cai no chão, espatifando-se e fazendo muito barulho. Júlia fica muito assustada.
AURÉLIO        - (off) Quem tá aí?
Aurélio aparece com uma toalha enrolada no corpo. Sorri ao ver Júlia, que ainda está assustada.
AURÉLIO        - Ah, é você, menina.
JÚLIA               - Me desculpe, seu Aurélio. Eu ouvi um barulho e vim ver o que era.
AURÉLIO        - (olha o jarro quebrado) E pelo visto andou fazendo arte.
JÚLIA               - Eu juro que foi sem querer, seu Aurélio. Eu tava saindo, acabei tropeçando e/
AURÉLIO        - (corta, voz calma, mas em tom de chantagem) A Flávia não vai gostar nada disso. Ela adorava esse jarro...
JÚLIA               - Eu falo com ela. Vocês podem descontar do meu salário.
AURÉLIO        - (rindo) Não seja boba, menina. Você tem noção de quanto custa um jarro como esse? (T) E depois, a Flávia não é tão boazinha como parece. Ela já deve ter te falado que não admite falha dos empregados.
JÚLIA               - É, ela me falou, sim.
AURÉLIO        - Se você contar que quebrou esse jarro, ela não vai perdoar. A Flávia já botou empregada na rua por muito menos. (T) Fique tranquila. Eu digo a ela que fui eu quem quebrou. Não vai dar nenhum problema pra você.
JÚLIA               - (surpresa) Eu prometo que vou ser mais cuidadosa. Muito obrigada, seu Aurélio. Eu nem sei como agradecer o senhor.
AURÉLIO        - Pois eu sei.
Aurélio sorri com cara de tarado e se aproxima de Júlia, que se assusta.
AURÉLIO        - (passa a mão nela) É só você ser boazinha comigo.
Júlia se afasta de Aurélio, bastante irritada.
JÚLIA               - Eu não sou esse tipo de moça que o senhor tá pensando, não.
AURÉLIO        - Que é isso, menina! Eu não vou te tirar nenhum pedaço. Só tô te propondo uma brincadeirinha. Que tal a gente aproveitar que a Flávia ainda não chegou, pra se divertir um pouquinho?
E continua se aproximando de Júlia, que se afasta, muito assustada.
JÚLIA               - Se o senhor tentar alguma coisa, eu vou gritar.
Aurélio a agarra nesse momento, à força.
AURÉLIO        - Vem cá, vem!
Júlia tenta se soltar desesperadamente.
JÚLIA               - Me larga, me larga!
Mas Aurélio é mais forte e a segura com força. Fala com a boca próxima ao rosto dela, de maneira bem asquerosa. Júlia tem nojo dele.
AURÉLIO        - (louco de desejo) Você é linda, linda!
Júlia continua tentando se soltar, desesperada. Aurélio começa a beijá-la à força, na boca, no rosto, no pescoço. Flávia chega nesse momento e leva um choque ao presenciar a cena.
FLÁVIA            - Mas o que é isso?
Aurélio para de agarrar Júlia. Flávia furiosa encarando os dois. Em Júlia muito assustada,
Corta.



FIM DO CAPÍTULO 2

Confira o capítulo 3.

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