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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

As faces da psicopatia em Avenida Brasil.


Por Ana Paula Calixto
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De antemão, deixo claro que fui uma telespectadora que passei boa parte longe da trama. Mas, nas duas últimas semanas, devido a comentários de humor, o que me atrai bastante, me interessei em acompanhar a novela. Ao contrário do que antes me causava, admito sem nenhum constrangimento, a novela é um sucesso e muito bem escrita! Contudo, sua densidade é o que mais me atraiu e o que mais a empaca, a meu ver.

Carminha é uma típica bandida no sentido popular e, de modo científico, apresenta um quadro que não seria difícil em diagnosticar como TASP (Transtorno Antissocial de Personalidade – DSM IV), acompanhada de seu amante. Dissimulada, o personagem consegue desempenhar até uma excelente arte cênica na ficção. [risos...] Iguais a ela já vimos muito outros em novelas diversas e não vou me dispor a elencá-los aqui, até mesmo porque seria enfadonho. Contudo, as características são as mesmas, o mesmo modus operandi, Carminha é uma Suzane Von Richthofen, com seu amante “Cravinho”. Mas e Nina? Que efeitos maléficos a persona dessa madrasta-monstro causou em sua psique?!

Ora, vingança é um sentimento normal em seu contexto existencial. Mente quem diz que nunca sentiu vontade de revidar a uma ofensa, de dar um tapa na cara de quem lhe ofendeu profundamente, de até dar um tiro ou aniquilar a quem tenha destruído sonhos e prejudicado de imediato maleficamente sua vida. Mas, estamos falando do universo íntimo, mental que não sofre influência somente de tais sentimentos para nosso pensar. Sofremos influência de nossos valores, nossas regras morais, nossos “nãos” que nos freiam a não fazermos tudo o que brutalmente possamos desejar. Mas e Nina: onde estão seus “freios”?!

Avenida Brasil é uma trama onde vejo uma vilã sendo tipicamente vilã e má e com características psicopatas, e uma mocinha má e com características psicopatas, também. O que me leva a ver um duelo entre o mal e o mal disfarçado de bem.

Nina possui uma capacidade de premeditação que chega a dar medo. Sim, eu teria medo em conviver com essa moça! Ela usa a capa de uma injustiça cruel (que realmente ocorreu) sofrida por ela na infância (que, realmente foi dura) para justificar uma série de comportamentos tão antissociais quanto de sua algoz! E ela NÃO PARA! Mais uma característica: a obsessão e a compulsão á repetição.

Há muito, Nina deixou de ser uma mocinha sofredora na trama, em minha opinião. Isso, em absoluto, justifica os atos atrozes da vilã Carminha, com dever de ser punida e responder pelos seus atos criminosos, cruéis, que fique muito bem entendido! Porém, Nina, a vítima, mesmo tendo tido a oportunidade de acolhimento de outra pessoa que, dentro de suas possibilidades, lhe deu carinho e proteção, além de um novo lar confortável, com figuras paternas salutares, as marcas dos maus tratos e da violência doméstica não se superaram e configuram um caso da cronificação delas. O que não é incomum em vítimas, mas, quando a esse nível... Essa mocinha já não é mais uma mocinha da novela, entendem? O seu foco, hj, é Carminha, mas ela já tem potencial criminógeno em seu comportamento! E, nem a morte de Carminha fará compensar o vazio dessa garota.

Um bom desfecho para Nina, em minha humilde opinião, com a complexidade psicológica desse personagem (que conseguiu dissimular outro personagem, como muito bem faz sua algoz, vale relembrar!), seria, após a morte ou prisão de Carminha, Nina se tratar seriamente. Quem sabe, a personagem tenha uma crise nervosa e seja levada ao internamento, uma sugestão, mas não deixem essa moça solta e a toa no mundo, por favor![risos...]

O fato é que a novela retrata ficção, óbvio! Nunca vi um caso assim na vida real, com todos os detalhes idênticos, onde a mocinha sai de seu atual conforto e volta numa estratégia minuciosamente premeditada para se vingar, fingindo-se de empregada doméstica de sua algoz e tal qual é a trama de Avenida Brasil. Contudo, essa inversão de papéis onde a vítima se torna um futuro agressor é muito mais real e recorrente no nosso cotidiano extra-televisivo que se pode imaginar.



E foi esse aspecto retratado na novela que me chamou atenção e à reflexão: como estamos tratando de nossas crianças vítimas?! Como será?!

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Beijos e cuidem [de si e dos seus], caros leitores.

12 comentários:

  1. Eu sinceramente,se fosse dar uma moral pra historia faria as duas se darem mal.

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    1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkk... O negócio ficou pesado nessa trama, num foi, Davi?! Mas, olha q coisa, hj soube q o autor fez isso intencionalmente de construir uma mocinha com "ares de vilã". Bem, a estória da moça justifica o perfil atual da personagem, então... Ele acertou.
      E, por mim, as duas se dão mal no final, concordo!risos...

      Beijos.

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    1. Muito obrigada, Warney! Bondade sua. *.*
      E eu que agradeço a presença aq no blogue.

      Beijos.

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  3. Ótimo perfil comportamental das duas grandes atrações de Avenida Brasil, hein Ana Paula?! Parabéns!!
    E por mim, essas duas, com tanta mania de perseguição entre elas e ambas com traços maquiavélicos, poderiam ter um final trágico juntas: uma matando a outra.

    Parabéns!!!!!!!!!!!!!!!

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    1. kkkkkkkkkkkkkkkk... Me divertindo com a criatividade de vcs! Gente, que crueldade com as bichinhas! [Blargh!] Por mim, elas morrem ou vão juntas pro isolamento: uma vai pro "xilindró" e a outra pro "manicômio".

      Obrigada pelas palavras gentis, Emerson. Gentileza sua! :)
      Beijos.

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  4. Faço coro aos meus companheiros, sugiro um fim trágico pra ambas.

    Bela análise, Ana Paula... Até a próxima!

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    1. O povo quer ver saaaaaaaaaaaaaangue então, hein!risos...
      Mas, já pensou, Isaac: num é que uma mocinha construída com características sociopatas e tão chata conseguiu provocar RAIVA, ANTIPATIA no público MESMO?! E o autor, eu soube, deu uma entrevista para a Veja (a qual, nem OLHO) afirmando q essa era a intenção dele. Bem, conseguiu, né? kkkkkkkkkkkkkkk...

      Obrigada, tb. Vc é o anjo-chefe de todos nós. :)
      Beijos.

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  5. Não assisto essa novela então não posso comentar como gostaria. Mas particularmente acho bem mais interessante uma mocinha assim do que aquelas meladas e sofredoras que, vamos e venhamos, na vida real é difícil de ver. Pq alguém que toma paulada a vida inteira e continua meiga e docinha é raridade... hahahahaha. Adorei o texto! Vindo de ti só podia mesmo ser super bem escrito.
    Bjossssss

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    1. Eu sempre desconfiei que Nina, ao contrário, lhe causasse simpatia, Anne!kkkkkkkkkkkkk... Suas mocinhas-vilãs dos jogos não negam!risos... Na ficção eu concordo com vc, mas na vida real, REALMENTE, a maioria de nós "mocinhas" não chega a esse extremo. Mas... pode chegar! Aliás, tem gente que chega: vide noticiários daqueles do tipo Datena. Tem muita mulher Carminha q, foi Nina no passado, hein! Sei não...

      Obrigada pelos elogios! Sou sua fã e nem chego perto dos seus textos maravilhosos, baby!
      Beijos, amora.

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  6. Ana Paula, que texto bom! Muito interessante a sua análise, e eu não poderia concordar mais: não sei, me pareceu um erro de cálculo do autor, mas eu não consigo sentir um pingo de empatia pela Nina por conta de sua vingança: ela vive em função da Carminha, e se acha uma vítima por exemplo, quando o Jorginho desconfia dela. Ao mostrar a vingança como entretenimento, o autor da novela acaba esquecendo de enfatizar as consequências e do que a protagonista está abrindo mão para viver em função de sentimentos tão negativos. Parece que com histórias como em Insensato Coração, Revenge e agora em Avenida Brasil, estamos aprendendo a justificar crimes cometidos em pró da desforra. A Nina, acreditando que é melhor que a vilã, já cometeu falsidade ideológica, se apropriou de dinheiro roubado, entre outras coisas. "Devolver" o dinheiro, como ela mencionou em um capítulo não é o suficiente. Se essa história se trata de justiça, Nina deveria pagar por seus crimes tal qual Carminha: na cadeia. A novela, no entanto, não deixa de ser um marco, e que a Nina seja a primeira de muitas protagonistas mais "ativas" na novela, o que não significa que para isso, devam se igualar as vilãs!

    Parabéns, Ana!

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    1. Obrigada, Denis! Eu, francamente, não consegui ver de outra forma o [pro]fundo dos personagens. É isso MESMO! Esses dias fiquei refletindo: "o povo brasileiro tá com sede de vingança![?]". Novela é ficção que é uma caricatura da REALIDADE. Então, o Real não poderia deixar de estar no Simbólico e isso... risos... Ah, daria um extenso Artigo com direito a menção a Lacan e outros em prato cheio!kkkkkkkkkkk... Enfim, o riso ocorre, mas a coisa é séria: essa tendência de "VINGAR COM AS PRÓPRIAS MÃOS EM NOME DE ALGUM MOTIVO 'NOBRE'" já é uma "contaminação" no lado Oriental do planeta e acaba conflitando com o lado Ocidental, parece estar se propagando nas entranhas de cada sociedade. Ômi, paro por aq pq minha imaginação é fértil. risos...

      Beijos e obrigada pela gentileza, amore!

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