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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Raio Laser - 3º Capítulo



RAIO LASER
NOVELA DE DAVI VALLERIO E ALEX SPINOLA
ESCRITA POR ALEX SPINOLA
CAPÍTULO 03

CENA 01. FACHADA DA PREFEITURA. ESCADARIA. EXT. DIA NEGRO

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior.  O dia continua negro. Lauro a encarar Eva, pronto para explodir toda a verdade. Ela, compenetrada no olhar ameaçador dele, não percebe que Sidney acordou de seu desmaio.

CORTA PARA:

CENA 02. RUA DA PREFEITURA. EXTERIOR. DIA NEGRO

Sebastião por ali, acompanhando o desenrolar dos acontecimentos, assim como a corja de curiosos, que já conta com um número bem menor de integrantes. João do Facão, tendo nas mãos o objeto que lhe serve de alcunha, não hesita: avança feito um celerado na direção de Lauro. Lídia, desesperada, tenta escapulir da caminhonete preta.

JOÃO DO FACÃO: Eu te mato, seu maldito! E o desgraçado do seu pai também!

CORTA PARA:

CENA 03. FACHADA DA PREFEITURA. ESCADARIA. EXT. DIA NEGRO

João do Facão avança pela escadaria, vai degolar Lauro. Sidney se atraca com o facínora. Eva em estado de choque, não consegue reagir. Lauro vai à defesa do amigo.

CORTA PARA:

CENA 04. RUA DA PREFEITURA. EXTERIOR. NOITE

Embate físico de Sidney e João do Facão. A corja de curiosos se afasta. Sebastião vai intervir, mas hesita. Lauro vai interferir. Não há tempo. João empunha alto seu facão. Sidney se agarra nele. A tormenta se acirra. Descargas elétricas fortíssimas. Na caminhonete preta, Lídia encontra um machado sob uma lona. Não pensa em mais nada: arrebenta a porta traseira do veículo e foge.  Uma formação poderosa de raios precipita-se do céu, e atinge, em cheio, o facão de João. Os corpos de Sidney e João são arremessados para longe, completamente carbonizados. Uma pesada massa de água começa a cair e, aliada à forte ventania, torna o dia mais negro do que já estava, a ponto de ninguém mais conseguir enxergar um palmo diante o nariz. GRITOS e VOZES são abafados pelo som da tormenta.

CORTA PARA:

CENA 05. CIDADE DE TORRENTES. EXTERIOR. DIA NEGRO. NOITE

Um dilúvio de proporções bíblicas desaba sobre a cidade. Assim como o dia negro, a tormenta se encontra com a noite, perdurando até a madrugada.

CORTA BRUSCO PARA:

CENA 06. FAZENDA DOS JUAREZ. CASA. VARANDA. EXT. AMANHECER

No horizonte, o sol avermelhado desponta, iluminando a paisagem encharcada. Lídia, que acabou de desabar num dos bancos da varanda, chora. Sequer teve forças para tirar o vestido do dia anterior. Suas lágrimas rolam como gotejar residual da chuva, que despenca do telhado da varanda. Amanda se aproxima da amiga, carinhosa.

AMANDA: Vem, amiga, trocar de roupa. Seu Sebastião e Dona Eva já foram pra cidade, pra cuidar do enterro.

CORTA PARA:

CENA 07. CEMITÉRIO DA CIDADE. EXTERIOR. DIA

Tristeza. População da cidade comparece em peso. Lídia amparada por Amanda. Padre Manoel diz algumas palavras. Eva, desesperada e tomada pela culpa, se atira sobre o caixão de Sidney, à medida que os COVEIROS e Beto o baixam na sepultura. Neco e Sebastião por ali, observam a comoção dos moradores. Astuto, Sebastião comenta com Neco:

SEBASTIÃO: Meu filho morreu como um mártir! Um mártir!

Neco concorda. Um sorriso tímido brota de seus lábios, pois entendeu o oportunismo das palavras de Sebastião. Tempo na dor de todos. Beto faz sinal para Amanda, que se afasta. Discretamente, ele entrega um pequeno pedaço de papel a ela. Neco percebe.

BETO: Pra Lídia, é do Lauro. Não entrega agora.
AMANDA: (curiosa) E cadê o Laurinho?
BETO: Ele tá escondido. Coitado do meu amigo, nem pode ir ao enterro do pai, senão acabam com a raça dele.

CORTA PARA:

CENA 08. PREFEITURA. SALÃO. INTERIOR. DIA

Velório de Orlando Vianna.  Dona Sofia chega toda esbaforida. Olha a meia dúzia de gatos pingados ao redor do caixão, a grande maioria composta por funcionários públicos, morador da cidade mesmo, só um ou outro. Ela se aproxima de uma MULHER SOFRIDA, que está atracada com um pratinho repleto de salgados.

SOFIA: Tô chegando agora da igreja. Tava preparando tudo pra missa urgente que o Padre Manoel vai fazer. Menina, mas isso aqui tá de dar dó! Só isso de gente?
MULHER SOFRIDA: Ora, tá todo mundo lá no enterro do Sidney, coitado! Eu tô aqui só por causa da comida. Olha (aponta) minhas crianças tão tirando a barriga da miséria!

Sofia vê um bando de CRIANÇAS maltrapilhas se acotovelando diante uma mesa repleta de quitutes. Ela faz uma cara de engulho para a mulher sofrida e sai.

CORTA PARA:

CENA 09. PREFEITURA. BANHEIRO. INTERIOR. DIA

Sofia entra e tranca a porta. Abre a torneira da pia e molha o rosto. Tira da bolsa um lenço bem dobrado, ele guarda algo. Sofia mira-se no espelho, ergue uma das mãos, que trás na ponta dos dedos, como quem segura com nojo, uma das reluzentes e barulhentas pulseiras de Eva.

SOFIA: (para o espelho) Você tá nas minhas mãos, Eva Juarez!

CORTA PARA:

CENA 09. FAZENDA DOS JUAREZ. CASA. SALA. INTERIOR. TARDE

Amanda serve café para Sebastião e Neco. Oferece para Eva, que recusa, está mortificada.

NECO: (para Sebastião) Maldito Lauro Vianna!
SEBASTIÃO: É, meu Sidney se tornou um mártir!
EVA: (pensa) “Seu desgraçado! Você deixou meu Sidney morrer! Você podia ter impedido, mas não impediu!”.
NECO: Sei que não é hora pra tocar no assunto, mas sua candidatura a prefeito é coisa certa. O povo tá só falando nisso!
SEBASTIÃO: (sonso) Não tenho nem cabeça pra isso, Neco.
NECO: Eu sei, mas o senhor pode contar comigo. Ando meio mal das pernas, mas meu sobrenome ainda vale muito por essas bandas. Brandão ainda é tradição nessa cidade.

Sebastião assente com a cabeça. Neco continua com sua prosa cheia de segundas intenções.

NECO: O senhor e a dona Eva também sabem que eu sempre guardei um sentimento pela Lídia, e a menina não pode ficar mal falada, não é?

Amanda, de antena ligada, fingi que não ouviu nada e vai saindo de fininho. Eva percebe e chama por ela.

EVA: Vamos pra cozinha. Vou te ensinar a fazer uma canja que preste. A Lídia tá muito abatida.

CORTA PARA:

CENA 10. CASA DOS JUAREZ. QUARTO DE LÍDIA. INT. TARDE

Amanda, um tantinho estranha, serve a canja para Lídia.

AMANDA: Você ouviu o que eles conversaram lá na sala?
LÍDIA: Ouvi. Querem me casar com o nojento do Neco Brandão. Já esperava isso do Sebastião. Eu cresci no meio dessas cobras. Minha mãe é outra.
AMANDA: (murmura) E como é.
LÍDIA: Mas eles não perdem por esperar! Meu Deus, e o Lauro? Ninguém me deixa sair daqui! Você ouviu alguma coisa?
EVA: (do lado de fora) Amanda!

Amanda retira o bilhete do decote do vestido, joga no colo de Lídia e sai correndo.

CORTA PARA:

CENA 10. CIDADE DE TORRENTES. EXTERIOR. ANOITECER. NOITE

Passagem de tempo tocando "SAPATO VELHO" de Roupa Nova. Durante o anoitecer, ouve-se o som do sino da Igreja da Salvação. Os fiéis rumam para a missa do Padre Manoel. Sofia Emerenciana está entre eles, disfarça certa ansiedade. Cai a noite. Alguns moradores a espiar o buraco feito pelo raio na rua defronte ao prédio da prefeitura. Aos poucos eles debandam. As ruas da cidade ficam vazias com o passar das horas. A madrugada chega.

CORTA PARA:

CENA 11. CEMITÉRIO. MADRUGADA

Um cavalo parado entre os túmulos. Lauro chora compulsivamente diante a sepultura de seu pai. Beto está por ali, dando apoio moral ao amigo. Não há o que dizer.

CORTA PARA:

CENA 12. CASA DOS JUAREZ. QUARTO DE LÍDIA. INT. MADRUGADA

Lídia abre a janela, com cuidado, e pula.

CORTA PARA:

CENA 13. CASA DOS JUAREZ. VARANDA. EXTERIOR. MADRUGADA

Lídia sai. Desaparece na escuridão.

CENA 14. CASA DOS JUAREZ. QUARTO DE AMANDA. INT. MADRUGADA

Amanda chora. Eva, armada com seu revólver, olha pela janela.

EVA: O Neco me passou o serviço, e se você não tivesse me deixado ler aquele maldito bilhete, você sabe não estaria viva agora, não sabe?
AMANDA: Sei sim, senhora.
EVA: E você só continua trabalhando nessa casa, porque eu tenho dó de gente que foi enjeitada pela mãe! Eu te dei um teto, nunca me obrigue a ter que cavar a sua cova. E nem pense em contar nada pra ninguém.
AMANDA: O que senhora vai fazer com o Laurinho?
EVA: (debochada) Eu? Nada! Quem vai fazer vai ser você!

CORTA PARA:

CENA 15. CEMITÉRIO. INTERIOR. MADRUGADA

Lauro ainda diante a sepultura do pai. Beto consulta seu relógio de pulso.

BETO: Tô indo, Lauro! Vou buscar a Lídia no lugar combinado.

Eles se abraçam. Beto monta em seu cavalo e sai em disparada.

CORTA PARA:

CENA 16. MATAGAL. TRILHA. EXTERIOR. MADRUGADA

Lídia chega arfante no lugar combinado. Ela está apreensiva, mas confiante.

CORTA PARA:

CENA 17. FAZENDA DOS JUAREZ. PASTO. EXT. MADRUGADA

Eva pisa firme no mato encharcado, com suas botas de fazendeira. Amanda vem patinando na lama. Elas se aproximam da caminhonete preta de Sebastião.

EVA: Anda logo, sua lesma! Não sei até quando aquele porco do Sebastião vai dormir com o suco batizado que você levou pra ele! A Lídia já deve estar na tal trilha do bilhete! Nós vamos pela estrada fora da fazenda! Corre!

Elas entram na caminhonete. Eva dá partida e sai a toda velocidade.

CORTA PARA:

CENA 18. MATAGAL. TRILHA. EXTERIOR. MADRUGADA

A cavalo, Beto segue pela trilha, dando sinais breves com uma lanterna de mão.

CORTA PARA:

CENA 19. CEMITÉRIO. INTERIOR. MADRUGADA

Amanda aproxima-se. Com a escuridão, Lauro a confunde com Lídia. Ele sorri, mas essa alegria se desfaz quando ele entende o engano.

LAURO: Amanda? O que você tá fazendo aqui? Pensei que fosse a Lídia!
AMANDA: (arfante, nervosa) Ela não vem Lauro!
LAURO: O quê?!
AMANDA: Ela rasgou o bilhete, disse que você acabou com a vida dela, com a vida do Sidney, ela não quer te ver nunca mais!
LAURO: (desesperado) Não! Isso não é verdade!
AMANDA: É sim! Nem era pra eu ter vindo te avisar, ela me proibiu! Só vim porque escutei uma conversa dos peões lá da fazenda, dizendo que iam te caçar, que iam acabar com a sua raça, porque você não presta! A cidade inteira tá contra você!
LAURO: Não, eu não acredito! Eu vou lá na fazenda! Ela vai ter que dizer tudo isso na minha cara!
AMANDA: Não! Tá tudo cercado! Foge, Lauro! Eu sei que você tá com os seus documentos, que o Beto te emprestou dinheiro! Foge, pelo amor de Deus!
LAURO: Não!!!
AMANDA: Vai!!! Corre, nem olha pra trás, nem conta nada pra ninguém, senão eles me matam se ficarem sabendo que eu te contei! Que eu te protegi!

Tempo. Ele hesita. Lágrimas rolando.

AMANDA: (desesperada) Vai, Lauro!!!

Lauro foge. Corre. Amanda cai de joelhos, crise histérica, sente-se mal, vomita.

CORTA PARA:

CENA 20. AVENIDA DESERTA DA CIDADE. EXTERIOR. MADRUGADA

Lauro em fuga alucinada aproxima-se do trevo de saída da cidade.

CORTA BRUSCO PARA:

CENA 21. TREVO DE SAÍDA DE TORRENTES. EXT. MADRUGADA

Nome da cidade num LETREIRO de alvenaria. Lauro se aproxima da rodovia que corta Torrentes. Vai atravessar. Uma caminhonete preta avança, freia brusco e o atinge.

CORTA PARA:

CENA 22. CASA DOS JUAREZ. QUARTO DE LÍDIA. INT. MANHÃ

Lídia inconsolável. Amanda por perto.

LÍDIA: E eu lá, naquele cemitério, esperando feito uma idiota! O Beto viu, ele me enganou, me iludiu com aquele bilhete! Pra quê, Amanda?
AMANDA: (destruída, culpada) Não sei amiga. Vai ver aconteceu alguma coisa...
LÍDIA: Aconteceu o quê?! Ninguém sabe dele na cidade, nem o Beto!
AMANDA: Eu não sei, amiga, eu não sei.
LÍDIA: (secando as lágrimas) Mas eu não vou ficar parada aqui, esperando que me empurrem pro bronco do Neco! Homem nenhum mais vai se enfiar na minha vida! Ninguém vai querer se casar com uma louca!
AMANDA: Hein?

CORTA PARA:

CENA 23. FAZENDA DOS JUAREZ. PASTO. EXT. MANHÃ

Amanda e Lídia colhendo cogumelos fresquinhos.

AMANDA: Lídia, o que você vai fazer com esses trecos?
LÍDIA: Ficar louca pra sempre!

AMANDA: Mas pega bem o da bosta da vaca?

LÍDIA: São esses que deixam a gente doidona, você vai ver. Falando em doidona, cadê Dona Eva?
AMANDA: Foi com o Bastião pra uma tal de... (procura a palavra, não lembra) ah, sei lá, alguma coisa de política, mas os capangas da fazenda tão todos aí, de butuca!
LÍDIA: Nem eles vão conseguir me segurar!

CORTA PARA:

CENA 24. FACHADA DA SEDE DO PARTIDO POLÍTICO. EXT. DIA

Sebastião e Neco recebendo felicitações dos correligionários. Eva afastada, Sofia à sua frente, balançando as pulseiras reluzentes e barulhentas.

SOFIA: São suas sim! Eu sei que são! Eu vi você passando em cima daquele cavalo, possuída pelo demônio, uma noite antes de acontecer tudo aquilo com o Lauro! Sei da sua fama, só juntei os pontos! A campanha do seu marido começou de vento em poupa, veio até deputado. Você vai deixar tudo isso escorrer pelo ralo? Claro que não!

Sofia monta em sua mobilete e sai. Eva ali, a morder os lábios e rogar pragas na velha chantagista.

CORTA PARA:

CENA 25. CIDADE DE TORRENTES. EXTERIOR. DIA. NOITE

Passagem de tempo. Dias e noites a marcar a rotina da cidade.

CORTA PARA:

CENA 26. QUARTO EM LOCAL IGNORADO. INTERIOR. DIA

Lauro estirado sobre uma cama. Começa a despertar de um sono profundo. Ele olha ao redor. Visão turva. Ele vê ALGUÉM sentado numa poltrona diante à cama. Lauro esfrega os olhos, seu ponto de vista nos mostra os pés dessa pessoa, calçados por botas estilo cowboy, cano alto com salto carrapeta. Num pulo, Lauro põe-se sentado na cama, com uma expressão de puro pavor.

CORTA PARA:

FIM DO CAPÍTULO 03


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2 comentários:

  1. Oh God, quem será que está com Lauro???? E a Lidia, tadinha, quanto sofrimento!
    Mais um dia de muita curiosidade, esperando ansiosamente pelo capítulo de amanhã! <3

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    1. Grandes surpresas para o nosso casal de pombinhos, Luciana!

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