sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Amor ao talento e amor à causa!

Por Flávio Michelazzo

Deixei a data de hoje para falar do trabalho impecável - o que não me surpreende - de um dos melhores atores de toda história de nossa teledramaturgia. Não é uma homenagem tardia. É uma homenagem justa. E todos os elogios são pouco! 
Mateus Solano é um ator com longa formação no teatro. Anos a fio de dedicação e agora colhe os louros de seu empenho. Ganhou projeção nacional ao interpretar o compositor Ronaldo Bôscoli na minissérie "Maysa: Quando Fala o Coração" após ter feito breves participações em obras como "JK" e "Paraíso Tropical". O papel de Bôscoli era para Rodrigo Lombardi, ator pelo qual Gloria Perez não abria mão para ser a ponta do triângulo amoroso em sua "Caminho das Índias". Bom para os dois lados!
Após Mateus estourar como Bôscoli, veio o desafio duplo: os gêmeos Miguel e Jorge em "Viver a Vida". O trabalho era mais complexo pelo fato de não serem gêmeos estereotipados: Ambos eram bons e isso aumentava o desafio de convencer tanto como um quanto como o outro. Lembro perfeitamente de pessoas, na época, pensando se tratar de dois atores!


Em "Viver a Vida", o sucesso de Miguel e Jorge foi tão grande que o ator chegou a roubar a cena dos protagonistas José Mayer e Thiago Lacerda. A trama da disputa dos gêmeos pelo coração da ex-modelo Luciana (Alinne Moraes) se tornou mais interessante que o triângulo amoroso entre pai e filho de Mayer, Lacerda e Taís Araújo (Helena).
Depois, vieram os personagens Ícaro e Mundinho Falcão, nas novelas "Morde & Assopra" e "Gabriela". 
A parceria com Walcyr Carrasco parece ter agradado o ator, que, em sua terceira parceria com o escritor, alcançou todas as glórias na pele do administrador malvado Félix Khoury, que, graças a interpretação sensível do ator, foi levando o personagem para um outro caminho, alcançando a redenção e um final feliz para seu personagem que outrora tentava destruir a vida dos que lhe pareciam ameaça.

O personagem fazia tudo para chamar a atenção do pai, César (Antonio Fagundes) que, envergonhado da homossexualidade do filho, fez de tudo para esconder o fato da família e da sociedade, chegando a arrumar uma mulher para o filho casar. Ao ter seus crimes descobertos, Félix cai num pesadelo sem fim, e acaba indo vender hot-dog ao lado de Márcia (Elizabeth Savalla) na 25 de Março. Ele faz de um limão uma limonada e tira bom proveito das experiências ruins que passa e cresce como homem e ser humano, se tornando uma pessoa melhor, e despertando o amor do empresário Niko (Thiago Fragoso), fazendo criar uma torcida pela felicidade do casal no Brasil inteiro, que parece ter esquecido que a trama é sobre a história de amor dos picolés de chuchu Paloma (Paolla Oliveira) e Bruno (Malvino Salvador)!!! 

Até agora, Mateus levou todos os prêmios que foi indicado, merecidamente. E muitos outros devem vir. E o Brasil espera que outros papéis memoráveis passem pelas mãos de Mateus. E o público gay torce para mais abordagens tão precisas e sensatas, tão necessárias, nas novelas e séries do canal de maior audiência do país! Parabéns ao autor Walcyr Carrasco  - que junto com Gilberto Braga, Silvio de Abreu e Gloria Perez - por ter tanto respeito aos gays, diferente de João Emanuel Carneiro, que deve ter algo contra os gays e sempre os casa com mulheres, ridicularizando os homossexuais. Amor à Vida termina cheia de idas e vindas que podem não ter agradado, mas com certeza fez um grande serviço político e social aos homossexuais. A novela marcou época sendo a primeira do horário nobre da Rede Globo a exibir o beijo entre dois homens. Um grande passo para a sociedade brasileira, dado por Walcyr através da atuação impecável de Mateus e Thiago Fragoso.  Mais uma vez, palmas!


Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) se beijam em 'Amor à vida' (Foto: Reprodução)


domingo, 12 de janeiro de 2014

Um Beijo Para o Recalque


Por Henrique  Melo

Agora que 2013 chegou ao fim,  as festividades se encerraram, e você sobreviveu às piadas do pavê e às perguntas de sua tia solteirona, eis a hora de retirar os enfeites de Natal da sala e aquela linda guirlanda com neve artificial da porta. Vou pular o discurso otimista característico desta época, porque todos já o conhecem por ouvi-lo de janeiro a janeiro, como diria a música do Nando Reis. Porém relembrar é viver, por isso falarei aqui sobre o “Ano do Recalque”... Você está se perguntando o “porquê” do apelido. Porque em 2013 este termo foi repetido como nunca, quase à exaustão.

No dicionário Aurélio, recalque tem o seguinte significado:

 “s.m. O mesmo que recalcamento. / Psicanálise: Processo inconsciente pelo qual uma idéia, sentimento ou desejo que o indivíduo tem por repugnante é por este excluído de admissão consciente  mas persiste na vida psíquica, causando distúrbios mais ou menos graves. (Deve-se a Freud a teoria do recalque.) (Sin.: censura.)”


Deu para entender que, literalmente falando, a palavra recalque se relaciona aos processos de Engenharia Civil, como é o caso da Torre de Pisa, que é toda trabalhada em cima do recalque...

 O Recalque Diferencial é o fenômeno que ocorre ao famoso monumento italiano, cujo solo sob o qual foi erigido sofreu um adensamento. Então não se preocupe, pois até a Torre de Pisa é recalcada!

E também no momento “Freud explica” desta postagem, o pai da Psicanálise classificou o recalque como aqueles pensamentos que são rejeitados por nós e ficam no nosso inconsciente, mas sempre acabam voltando para nos infernizar.  Eu, você, e a torcida da Seleção Brasileira sofremos de “recalque” alguma vez na vida. 


Mas o significado que foi estabelecido o “oficial” da palavra foi o de inveja. Isso mesmo, um dos setes pecados capitais ganhou um novo sinônimo, que procura abranger não só o sentimento de inveja em si, como toda a inferioridade, complexidade e humilhação que este pode conferir ao sujeito que o possui. Fazendo uma retrospectiva geral do ano que se retirou, podemos citar diversas situações em que o recalque deu o ar de sua graça, de um jeito ou de outro.


Máfia “Brindada”


Religiosamente, como em todos os anos, o Big Brother Brasil ganhou mais uma edição. E logo no início, uma das participantes, a recepcionista Aline, mostrou que não iria se deixar abalar diante do “recalque”. Em uma discussão com o “repetente” Kléber BamBam, a sister mandou logo que tinha o corpo “brindado” contra pragas e seus derivados. Porém, sua auto-confiança (e personalidade fortíssima) não ajudaram a evitar a evidente eliminação logo no início do programa.


Glória Perez se revolta contra o Bonde do Recalque



O ano não começou muito bem para a novelista Glória Perez, pois sua novela “Salve Jorge” não agradou ao público e recebeu muitas críticas negativas do na Internet. Cansada de tanta humilhação em rede social, Glória  resolveu ensinar O Bonde do Recalque a usar o controle remoto, em um dos tweets mais geniais que eu já vi. 


Pi Pi Pi Pi Olha o recalque...


Glória não só mandou indiretas para os recalcados nas redes sociais. Através da personagem Maria Vanúbia, um dos seus maiores acertos na novela, ela muitas vezes dava alfinetadas certeiras no Bonde do Recalque. A periguete tinha até um sensor para detectar quando alguém com este sentimento se aproximava, e lançava logo o seu “Pi Pi Pi Pi Olha o recalque...”. Isso é que é poder!


Um exemplo Neozelandês de Recalque


Em 2013, a cantora neozelandesa Lorde deu muitas declarações polêmicas sobre outras colegas e coisas do mundo Pop. Sempre destilando seu “veneninho”, a estrela de “Royals” alfinetou Britney Spears, Selena Gomez, Lana Del Rey, Miley Cyrus... Enfim! Tanta crítica pode ser um pouquinho de recalque, não, Lorde? Pois é... Muitas fãs bases iradas trataram de dizer que o que ela não passa de uma RECALCADA!


Mais amor, menos recalque!


O falecido funkeiro MC Daleste, que Deus o tenha, pediu mais amor e menos recalque. Apesar da morte precoce, é bom que ele tenha deixado como legado uma mensagem tão positiva e altruísta de que as pessoas devem alimentar sentimentos bons em detrimentos dos ruins. A música é adorável, então pegue o seu fone de ouvido e dê o play.

O Recalque nas redes sociais


As redes sociais também foram lugar para as pessoas expressarem seu desconforto com o recalque alheio em 2013. Uma overdose de postagens e frases durante o ano revelaram o quanto os usuários repudiam este sentimento tão destrutivo. Basta dar uma olhada para verificar o tamanho da febre “anti-recalque”, inclusive no perfil de algum amigo seu. 


Oi Oi Oi


Ninguém esperava que Lado a Lado saísse vitoriosa na premiação do Emmy 2013. Muito menos os fãs absolutos de Avenida Brasil, que ficaram indignados com a derrota. Como diria Maria Vanúbia, aceita que dói menos e para de recalque!


Beijinho no Ombro


“Pro recalque passar longe...” Foi com essa trilha sonora funk/pop luxuosa que 2013 chegou ao fim. Surpreendendo a todos, pela qualidade da produção, coreografia, fotografia, cenário, letra e música de seu mais novo sucesso, a funkeira Valesca Popozuda colocou as inimigas no chinelo, fazendo referência clara à divas como Beyoncé no clipe de “Beijinho no Ombro”. Em um ano onde não se falou em outra coisa além do famigerado “Recalque”, a cantora soube (inteligentemente) usar isto a seu favor. Para aqueles com auto-estima lá em cima e que gostam de repelir a energia negativa dos inimigos, soa quase como um hino.

Depois deste retrospecto, basta esperar que em 2014 sentimentos mais positivos imperem nos corações das pessoas!

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Uma história de rainha, fada e Mara Maravilha

Por Adilson Oliveira

Era uma vez, num tempo em que i-pods, i-peds, tablets, notebooks, celulares e outras ferramentas essenciais de comunicação não existiam, as pessoas comunicavam-se, quase sempre, face a face. Eram tempos difíceis! Como não havia internet residencial, as TVs reinavam absolutas na sala de estar e as famílias reuniam-se diante delas no horário nobre para assistirem às novelas e aos telejornais. De dia, as crianças, quando não estavam na escola, tinham um encontro com rainhas, fadas e bruxas. Eram tempos de conto de fadas. Na TV, os papéis já estavam pré-determinados: Xuxa era a rainha absoluta das manhãs da Globo e Angélica,  a fada loira da Manchete. 
No SBT, Mara Maravilha assumia o papel de vilã, pois não tinha a aparência destinada pela mídia às heroínas das histórias maravilhosas. As crianças não podiam torcer pela bruxa e era papel das mães zelarem pelos bons costumes dos seus filhos, afastando-os das más influências. A mídia cumpria autoritária e religiosamente o seu papel, destacando nas revistas e jornais as benemerências das heroínas televisivas. Quanto à outra? Xiiiiii! - advertiam as mães - cuidado, ela é uma feiticeira malvada, que vive sempre ao lado de uma mãe maquiavélica.
Não sei bem o porquê,  mas, contrariando a ordem institucionalizada,  eu me identificava com aquela moça de cabelos negros (como a asa da graúna), de olhos negros e de fala nordestina. Era uma espécie de Iracema do tão-tão distante século XX. Mas ela é tão perigosamente brasileira? As crianças não podem gostar dela! Eu gosto. Respondia aos porquês incrédulos de todos. Gosto e ponto final. Não preciso dizer os motivos pelos quais eu torço por aquela que é representada como a arqui-inimiga das princesas blondies.
Essa criança precisa ser castigada, diziam - face a face - os adultos. Como pode romper com o senso comum? Veja as provas:
- "A guerra pelos baixinhos da Xuxa" (Contigo!).
- "Nunca fiz feitiçaria" (Contigo!).
- "Mara acusada de ter feito magia negra" (Contigo!).
- "Mara e Angélica caem nas teias da magia negra" (Contigo!).
- "Angélica em risco de vida - Mara acusada de ter feito magia negra" (Contigo!)
- "Globo recusa a voz de Mara para cantar tema de Salomé (Amiga).
- "Macumba de Mara complica vida de mãe-de-santo (Amiga).
- "A baianinha Mara declara guerra à Xuxa" (Folha da Tarde).
- "Angélica acusa Mara de plágio" (Amiga).
- "Arrogância de Mara e sua mãe tirou baianinha do SBT" (Diário popular).
- "Mara Maravilha volta a xingar e agredir jovens" (Diário popular).
- "Mara é acusada de agressão" (Folha da Tarde).
- "Mara pode pegar até um ano de prisão" (Contigo!).
- "Mara é acusada de roubar amigo cego" (Notícias Populares).
- "Mara ameaçada de sequestro" (Amiga).
- "Mara Maravilha ameaçada de morte" (Contigo!).

Não havia, naquele tempo, i-pads, i-pods, celulares, tablets, notebooks, mas havia a interação face a face. Pena que os mais fracos (como crianças) nem sempre eram ouvidos, pois havia uma bruxa má de boca grande - chamada Mídia - que engolia aqueles de quem ela não gostava.
Eram tempos difíceis, mas, pelo menos, eram tempos de rainhas, fadas e de Mara Maravilha. Eram tempos de criança.


Adilson Oliveira é professor universitário, roteirista, poeta e apaixonado por corujas.


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