quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Qual o sentido da falta de sentido?

por José Vitor Rack

            Antes de a telenovela brasileira ser real e genuinamente um produto nacional, as trilhas sonoras de novelas eram músicas retiradas de filmes, quase sempre orquestradas e sem vocal. Não havia cuidado especial com o que era veiculado tampouco havia lançamento de discos, salvo raras exceções.


Aí a TV Tupi veio com BETO ROCKFELLER trazendo Beatles, Jorge Ben, Bee Gees, Erasmo Carlos... E as novelas descobriram o maravilhoso mundo da música popular. Mais ou menos na mesma época Nelson Motta começou a produzir as trilhas das novelas da TV Globo para a Philips. Em 1971 a Som Livre de João Araújo profissionalizou o negócio e criou-se uma invejável indústria que unia o maior divertimento do povo com o melhor da música.


Na década de 1970 foram criadas pérolas como as trilhas de O Bem Amado, Gabriela, Selva de Pedra, O Grito, O Primeiro Amor, O Rebu, O Bofe, compostas especialmente por gente do calibre de Roberto Carlos, Raul Seixas, Vinícius de Moraes, Dorival Caymmi, Victor Assis Brasil, etc. Era o auge da criatividade na telenovela, incluindo-se aí a sonoplastia.

Vieram as décadas seguintes e o conceito de trilha sonora exclusiva se perdeu. Ainda assim, os discos de novela traziam grandes nomes da música nacional e internacional e, em sua maior parte, refletiam o gosto musical da época com competência e algum bom gosto.

Veio a internet, a indústria fonográfica desabou, o Plano Real colocou uma televisão de 42 polegadas em cada cômodo de cada casa desse país. A transformação foi intensa e causou uma enorme e devastadora diarréia mental nas cabeças pensantes da televisão. Criou-se a máxima de que tudo que é bom deveria ser cortado para que as telenovelas atraíssem essa nova leva de consumidores. E as trilhas sonoras vieram ladeira abaixo.


O auge desse conceito novo de vender música via novela foi a bem sucedida Avenida Brasil. O oi-oi-oi tomou conta do país. Às nove da noite a luz azulada das televisões levou aos lares do país inteiro as delícias poéticas de Michel Teló, Luan Santana, Lucenzo e congêneres. Marisa Monte e Rita Lee eram constrangedoramente exceções no repertório da novela.


Na Record o conceito logo foi copiado. Em sua delirante Balacobaco, artistas como Lady Lu, Amado Batista e inúmeras duplas de sertanejo universitário fazem da trilha sonora da novela um bom substituto de qualquer laxante.

Voltando a TV Globo, Salve Jorge parecia que mudaria o panorama. Glória Perez sempre influiu positivamente na trilha sonora de suas tramas incluindo samba, Nana Caymmi e muita (verdadeira) MPB. Mas o que se vê no ar é um espetáculo dantesco.

Ao fim de um capítulo qualquer outro dia, vi uma cena muito bem escrita por ela que terminou num clímax de suspense muito bem urdido. Fechando a cena no clima tenso, vieram os créditos finais ao som de um funk de letra absolutamente debochada e de mau gosto.

Nada contra funk debochado e de mau gosto. Mas combina com a cena? A sonoplastia de cena também anda de uma pobreza atroz. A música simplesmente toca ao fundo. Clímax, corte, usar a letra da música para dar dimensão ao que a tela mostra, nada disso mais é utilizado de modo competente.

Parece que desaprenderam a fazer algo que antes era tão simples e usual. Qual o sentido de se colocar música popular que não combina com a obra? Sentido ainda é um critério para quem faz TV?

Qual o sentido de tamanha falta de sentido?

Quem souber que me conte. 

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Trinta anos de novelas no SBT - Parte I


Por FÁBIO COSTA

Após ganhar a concessão de cinco canais da extinta Rede Tupi de Televisão e dar início enfim ao Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) em agosto de 1981, Silvio Santos pôs no ar uma programação popular, com atrações de auditório, animadores e formatos já consagrados como Moacyr Franco, Airton e Lolita Rodrigues, Raul Gil e J. Silvestre, além do Programa Silvio Santos e de diversas séries, filmes e desenhos animados estrangeiros. A intenção era ser uma alternativa popular à pasteurizada e carioca grade da Rede Globo.

Essa filosofia chegou também às telenovelas da emissora, que em verdade já produzia teledramaturgia havia alguns anos, tendo exibido O Espantalho (1977), de Ivani Ribeiro, e Solar Paraíso (1978), de Luiz Quirino. Mas o marco das telenovelas no SBT se deu em 1982, com a estreia de duas produções no mesmo dia (5 de maio) e com uma estratégia que foi mantida ao longo dos anos: Destino foi adaptada por Raimundo Lopes do original de Marisa Garrido, gravada aqui com atores brasileiros; Os Ricos Também Choram foi a primeira novela mexicana exibida dublada no Brasil, e ainda hoje é um dos maiores sucessos desse gênero.

Destino era a história dos problemas da vida de um casal, Glória (Ana Rosa) e Fernando (Flávio Galvão), em meio ao desaparecimento de um dos filhos e à presença de Lorena (Tânia Regina), antiga paixão de Fernando. Elenco pequeno, original latino, história concentrada em poucos personagens, sem tramas paralelas, poucos capítulos (apenas 55, mais ou menos como as “novelas das onze” de hoje), a novela representou uma volta às origens do gênero no Brasil no início dos anos 60, quando as primeiras produções da Tupi e da Excelsior eram nessa linha.

Enquanto Os Ricos Também Choram apresentou sua trama meses a fio, no outro horário a TVS exibia uma nova história após outra, a cada dois ou três meses. A segunda produção nacional foi A Força do Amor, também de Marisa Garrido e também adaptada por Raimundo Lopes. Os protagonistas eram Suzy Camacho, Paulo Castelli e Angelina Muniz vivendo um triângulo amoroso embalado pela música-tema cantada por Adriano: “Com a força do amor/Tudo fica possível/O desejo que for/Nada mais é impossível...”.


Aliás, triângulo amoroso foi o que não faltou nos dramalhões latinos adaptados e/ou traduzidos pelo SBT.

Maria Estela foi a protagonista de A Leoa, a terceira produção. Alice é uma mulher que abandona o marido e a filha e vai à luta para dar à menina tudo que o pai desocupado e malandro sempre prometera. Em seguida mais uma vez Ana Rosa protagonizava, como Andréa em Conflito, novela que tratava de sua luta para ser aceita pela família do marido Eduardo (Wilson Fragoso), os ricos Altamirano, e tendo de enfrentar o cunhado Gustavo (Jonas Mello), que se interessa por ela.

O ano de 1983 se inicia com a estreia da quinta novela, Sombras do Passado, cuja adaptação fora assinada por Tito di Miglio, o argentino que dirigira a primeira telenovela diária brasileira 2-5499 Ocupado (1963), na TV Excelsior. O pintor Reinaldo (Fausto Rocha) perde a memória e vai viver junto aos integrantes de uma trupe de circo, envolvendo-se com a trapezista Isa (Thaís de Andrade). Ao recuperar a memória retoma também sua vida normal e inicia um romance com sua prima Laura (Annamaria Dias), mas Isa emprega-se como modelo para seus quadros e resolve conquistá-lo uma segunda vez. Das primeiras produções do SBT, Sombras do Passado foi uma das mais bem-sucedidas, e seu tema de abertura era cantado por Luiz Ricardo – “Debaixo do pano da vida/Há uma verdade escondida/E as sombras do passado impõem/As regras do jogo...”.


Um segundo horário (20h50) teve início com Acorrentada, estrelada por Denise Del Vecchio na pele de Laura, jovem que teve uma vida de contratempos e passou alguns anos num hospício. Após ser enganada por Maurício (Jonas Mello), interessado apenas em sua fortuna, a jovem enfim conhece o verdadeiro amor ao lado do médico Carlos (Hélio Souto). Simultaneamente às 19h ia ao ar A Ponte do Amor, com Selma Egrei dividindo-se em duas personagens (Ângela e Mireya) que tumultuavam a vida do diplomata Carlos (Fábio Cardoso).

Em seguida vieram às 19h Pecado de Amor, novamente com Denise Del Vecchio dando vida à protagonista sofrida e que se vinga de todos que a maltrataram vida afora, e às 20h50 A Justiça de Deus, com as trajetórias da rica Adriana (Thaís de Andrade) e da pobre Alice (Ana Rosa) entrelaçadas para sempre graças às duas terem os filhos trocados quando bebês. Em meados de 1983 estrearam Razão de Viver, com os dramas da atriz Olívia Rinaldi (Kate Hansen) com a doença da filha Ester (Tetê Pritzl/Valéria de Andrade) e Anjo Maldito, que trazia Elaine Cristina como Débora, a personagem-título, que não hesita em prejudicar quem quer que seja em seu plano de ascensão social e de tomar posse do patrimônio do milionário Thomás (Tony Ferreira), com quem se casa, roubando-o da irmã Laura (Reny de Oliveira).


Em novembro de 1983 a emissora voltou a produzir apenas uma novela (embora os capítulos fossem exibidos em dois horários), e estreou Vida Roubada, uma das histórias mais famosas da época no gênero. Suzy Camacho vivia Alice, que é metida numa intriga pela amiga de internato Hilda (Eliane Giardini). Hilda foge com um amante e assume a identidade de Alice, enquanto esta é obrigada a assumir a identidade de Hilda e ir viver junto a seus familiares numa fazenda, onde todos sentem ódio e ressentimento pelas maldades que a jovem cometera no passado. Quando se faz respeitar e inicia um romance com Carlos (Fausto Rocha), o administrador das terras, Alice é desmascarada pela volta da verdadeira Hilda em busca de seu lugar.

Em junho de 1984 entrou no ar outro marco da produção de teledramaturgia do SBT: Meus Filhos, Minha Vida, de Ismael Fernandes, Crayton Sarzy e Henrique Lobo. Mirian Pires interpretava a sofrida Dona Luzia, viúva que vivia em nome dos filhos André (Dênis Derkian), que renega a origem humilde ao se casar com a milionária Olga (Sônia de Paula); Mário (Raymundo de Souza), que anda metido com más companhias; e Pedro (Carlo Briani), o único que lhe dá orgulho. Como era uma novela alternativa ao padrão global já mais que estabelecido na época e pensada para o público da casa, o sucesso foi além do esperado e levou a um esticamento da história.

Com Jerônimo, resgate da série radiofônica Jerônimo, o Herói do Sertão, de Moysés Weltman, foi novamente aberto um segundo horário de teledramaturgia, desta vez dedicado ao público infantojuvenil e também aos mais velhos que conheciam a história do rádio. O protagonista era Francisco di Franco, que vivera o herói também na versão da TV Tupi nos anos 70, e tinha a seu lado aqui Suzy Camacho, Eduardo Silva, Jofre Soares, Marcos Caruso, Jussara Freire Felipe Levoto e Annamaria Dias, entre outros.


Em 1985 astros globais foram contratados pelo SBT e uma novela encomendada ao dramaturgo Aziz Bajur, ainda na animação com os bons resultados de Meus Filhos, Minha Vida. Jorge Dória, Rosamaria Murtinho, Ilka Soares, Kito Junqueira, Thaís de Andrade, Jonas Mello e Monique Lafond viviam os papéis principais de Jogo do Amor, que teve direito a tema de abertura cantado pelos Fevers. Era a história do empresário Otávio (Dória), que ao firmar um acordo comercial com Jeffrey (Jonas), proprietário de uma agência de turismo, ressuscita seu nebuloso passado graças às presenças de Neide (Rosamaria) e Suzana (Thaís) na agência; a primeira é um amor do passado que o abandonara e levara consigo um filho do casal, enquanto a segunda é filha de um vigia assassinado durante um assalto a banco do qual Otávio fora o mentor intelectual e que o tornou rico.

Em seguida estreou Uma Esperança no Ar, novela que teve vários percalços em seu decorrer devido à troca de autores – inicialmente Dulce Santucci e Amilton Monteiro, depois Ismael Fernandes. Promissora, a história de Rui (Celso Frateschi), rapaz que fica cego e paralítico após sofrer um acidente e tem a noiva Ana (Angelina Muniz) apontada como a responsável por tudo, o que a obriga a fugir da cidade onde vivem no interior – a pequena Tamandaré, comandada pelos inescrupulosos Francisco (Elias Gleizer), o prefeito, e Daniel (Edney Giovenazzi), um empresário mau-caráter. Ainda no elenco Mário Cardoso, Eliane Giardini, Cleyde Yaconis, Geórgia Gomide, David Cardoso, Martha Overbeck, Percy Aires e Antônio Petrin, entre outros.

Em fevereiro de 1986, com o término de Uma Esperança no Ar, o SBT encerraria temporariamente a produção de telenovelas, mantendo apenas as mexicanas dubladas, e durante algum tempo até o início dos anos 90 sequer exibiria novelas, somente enlatados americanos como As Lendas do Macaco Dourado e Carro Comando. Apenas em 1990 haveria uma retomada do setor. Mas essa é outra história, que conto no próximo post. Até lá!

domingo, 27 de janeiro de 2013

Decifrando Carlos Lombardi

“Sou uma espécie de candidato a miss que leu Proust e fica todo mundo falando o tempo todo: ‘Mas eu vi você com o Pequeno Príncipe na mão”.

                                                                                                                                   
 Por Daniel Pilotto

Eu confesso para os leitores que sempre tive vontade de escrever sobre o autor.

Vontade de me aprofundar sobre o seu estilo, sua estética e seu universo tão particular, que sempre soaram para mim como um rompimento ao que era estabelecido como novela sem deixar de ser a própria.

Mas não queria apenas uma descrição de sua carreira, novelas e roteiros, estes dados biográficos que sempre vemos aos montes em todos os sites relacionados à tv. O que mais me interessava era analisar os efeitos que o autor e suas tramas causam nos telespectadores.

Com a idéia na cabeça saí em campo buscando as mais diferentes notas, matérias e postagens pela internet e me surpreendi com a diversidade de opiniões e idéias, muitas delas pré-concebidas, diga-se de passagem, sobre a obra do autor. No que tange à novela o brasileiro pode ser bastante conservador. É como se para alguns telespectadores a simples utilização de recursos tão próprios de seu estilo já causassem a recusa e viessem antes de qualquer idéia dramatúrgica que ele tente expressar, aliás, estas ficam em segundo plano na visão dos mesmos.

Para outros, o autor trouxe novidade ao veículo, revolucionando e introduzindo uma linguagem única. Sem contar uma expectativa que gera cada vez que se anuncia sua volta às telinhas, já que cada novela que escreve é tão ou mais aguardada que uma temporada de série ou filme americano.

Carlos Lombardi teve um começo de carreira bastante interessante, foi professor universitário, autor de livros românticos (destes de bancas de revistas, que até serviram de inspiração para o autor escrever os delírios românticos da personagem de Viviane Pasmanter, a Maria João em UGA UGA, que vivia sonhando e entrando dentro das tramas destes livros. Tal e qual Daniele Winitz, a Bárbara do seriado GUERRA E PAZ, que além de autora dos mesmos, vivia sempre na mesma confusão entre realidade e ficção) e como escritor de programas de Telecurso o que inevitavelmente o levou para trabalhar efetivamente na tv. 
Só para recordar também foi colaborador de dois dos maiores autores do horário das sete, autores que imprimiram a comédia definitivamente no gênero novela: Cassiano Gabus Mendes e Sílvio de Abreu. Mas como bom discípulo ele soube assimilar o que era mais importante na maneira de cada novelista criar e incorporar ao seu próprio, sem desvirtuar ou comprometer o que já pretendia fazer como autor solo.

Mesmo reconhecendo seu estilo em alguns personagens e situações de GUERRA DOS SEXOS (como não acreditar que a fascinação de Roberta pela tatuagem no torso nu de Nando não tenha surgido das idéias de Lombardi?) e na sua novela de estréia VEREDA TROPICAL (escrita quase em totalidade com a parceria de Sílvio de Abreu), não considero estas como tramas em que vi o autor surgir de fato.

A minha grande surpresa em relação a Carlos Lombardi veio mesmo com BEBÊ A BORDO (1988). Esta trama foi uma verdadeira revolução no gênero, pois não se apresentava apenas como mais uma comédia, trazia em sua estrutura uma anarquia, um subverter de regras que foram muito bem vindos na tv. Não era possível enquadrar a novela no estilo de nenhuma outra, a sua trama tinha um ritmo e uma agilidade fora do habitual, diálogos rápidos, precisos e irônicos, e uma linguagem mais próxima das histórias em quadrinhos e do videoclipe. Isto sem falar nos personagens, tão complexos que a primeira vista era impossível decifrá-los.



Está bem, sei que muitos irão dizer que não viram nada disto. Para uma grande parte dos telespectadores era apenas uma novela confusa onde ninguém se entendia e ponto. E é aí que quero chegar, o interessante é saber ler o que há por trás de cada novela do autor, existe muito mais além das aparências e quem souber ultrapassar esta fronteira vai se surpreender.

Um exemplo claro do que digo é que por trás deste estilo o autor costuma sempre trabalhar com as relações familiares, e esta parece ser sua maior obsessão. Relações conflituosas entre pais e filhos, entre irmãos, a estrutura familiar assim como é estabelecida em suas novelas está sempre desestruturada.

Em BEBÊ A BORDO era possível perceber isto em diversos núcleos, aliás nesta trama este era o mote principal. Ana (Isabela Garcia) era uma jovem que vivia à margem da sociedade por conta de um passado de abandono, ela era filha de Laura (Dina Sfat), e não queria cometer o mesmo erro da mãe em se separar de sua filha. Laura por sua vez vivia uma relação de amor e ódio com o sogro, Nero (Ary Fontoura) com a filha Raio de Luar (Sílvia Buarque) e com os dois enteados. Na mesma trama ainda existiam os irmãos, Rico (Guilherme Leme) e Rei (Guilherme Fontes) que sofriam por conta de um pai agressivo, inconstante e ausente, e só encontravam um pouco de consolo e amizade na presença de Branca (Nicette Bruno) que assumia a figura de uma mãe para os dois, mesmo tendo em sua casa uma relação bastante complicada com seus próprios filhos. Isto sem falar nos tantos outros núcleos onde sempre a figura pai/ mãe ausente ou displicente se faz presente.

No final das contas a idéia que fica é que no meio de tanto conflito, são pessoas tentando acertar, tentando mudar seus erros e prosseguir da melhor maneira possível diante dos problemas e da vida que tem.

A partir de PERIGOSAS PERUAS sua novela seguinte eu senti que o autor tentava manter o mesmo estilo de BEBÊ A BORDO, mas algo estava mudado. Era como se tivesse que pegar mais leve desta vez. Não na trama em si e sim no que tinha surpreendido tanto, aqui a anarquia ainda existia, mas estava mais contida. A trama era mais, digamos assim, tradicional e o drama familiar era mais forte. A história de Cidinha (Vera Fischer) Leda (Silvia Pfeiffer), Belo (Mario Gomes) e Tuca (Natália Lage), a filha que Cidinha julgava ser sua e que na realidade era da amiga foi o conflito familiar da vez. Em meio a isto uma turma de policiais tentando desbaratar uma família de mafiosos davam o tom mais ágil e cômico. Enfim uma novela de transição para a próxima trama.



A aceitação definitiva veio mesmo em QUATRO POR QUATRO, e acredito que aqui o autor soube incorporar tudo o que era necessário para atingir o público, manteve seu estilo, tinha cara de novela (estruturada nos moldes que os puristas consideram como o ideal) e personagens bastante reconhecíveis e identificáveis em novelas. Bruno (Humberto Martins) era um homem preso a um passado trágico que volta para recuperar o amor da filha, deixada aos cuidados de um tio ambicioso e inescrupuloso. Some-se a isto a vingança atrapalhada de quatro mulheres que se sentiam prejudicadas por seus homens e temos um grande sucesso do horário.



Nas novelas seguintes Lombardi trabalha com os mais diferentes temas, entretanto é latente em cada uma das obras os dramas familiares que já citei acima. VIRA LATA, UGA UGA, O QUINTO DOS INFERNOS, KUBANACAN e PÉ NA JACA trouxeram em sua estrutura personagens que buscavam recuperar algo que haviam perdido, um momento que lhes foi interrompido, precisando resgatar no passado o que os impede de viver bem o presente, seja por uma tragédia, seja por um mistério ou por fatos históricos. 



Até mesmo em tramas que não são suas e que é chamado para recuperar a história e a audiência (sim, ele conseguiu recuperar novelas fadadas ao fracasso como CORAÇÃO DE ESTUDANTE e BANG BANG), o autor consegue destrinchar o psicológico de cada personagem e criar uma trama mais envolvente e cheia de nuances.

Tudo a princípio parece ser complicado, e nem sei se me fiz claro durante todo o meu texto, sabem como é, o fã pode sempre soar exagerado. Mas de uma coisa tenho a certeza, é mais fácil procurar e encontrar tudo o que descrevi dentro de uma novela de Carlos Lombardi do que a classificação simplista que sempre fazem dele, como o “autor dos descamisados”. Classificação bastante provinciana já que a nudez ou a insinuação de nudez em suas obras nada mais é do que o retrato de nós mesmos, basta citar os desfiles de Carnaval e o Big Brother como exemplo, corpos nus não faltam. E como ele mesmo espirituosamente já disse: “Não são meus personagens que usam pouca roupa. São os das outras novelas que usam demais.”



Que Carlos Lombardi continue assim, sarcástico, divertido, anárquico e tocante. Sorte a ele na nova casa, e que se mantenha fiel ao estilo que o consagrou, mesmo que uns amem e outros odeiem, assim é a vida.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

De Lucy Jordan a Ivan Novaes: três décadas em busca da beleza no horário nobre


Por Marcelo Ramos
  
Uma falta que noto em muitas pessoas que pretendem circular pelo mundo da publicidade e das celebridades é não compreender que a agência de publicidade trabalha, necessariamente, com outras empresas do ramo da comunicação e da moda, que são as produtoras de vídeo e as agências de modelos. Um estudante de Comunicação demora um pouco para entender bem como funciona esse interrelacionamento entre esses três tipos de empresas, pois o espectador médio não consegue discernir o que foi realizado numa empresa e o que foi realizado em uma outra. É bem verdade que no meio da Comunicação esses setores não são tão rigorosos como em outras empresas de ramos diferentes. O trabalho da agência de publicidade pode se confundir – ou mesmo, mesclar - se – com o trabalho da produtora de vídeo ou com o trabalho da agência de modelo. Vou tentar definir de grosso modo, para que possamos entender bem a questão que apresento agora com as personagens de duas novelas do Horário nobre: ‘Pecado capital’ (1975), de Janete Clair e ‘Paraíso tropical’ (2007), de Gilberto Braga.  Trinta e dois anos separam as duas novelas. Analisemos a evolução da agência de publicidade nessas três décadas.

Os protagonistas da novela eram: o taxista José Carlos Moreno, o ‘Carlão’ (Francisco Cuoco), sua namorada e vizinha do bairro do Méier, Lucinha (Betty Faria) e Salviano Lisboa (Lima Duarte), o empresário para o qual Lucinha e sua irmã mais nova, Emilene (Elizângela) trabalhavam. Em 1975 era comum que lojas de departamento trabalhassem diretamente com a produção dos tecidos (ou ‘indústria têxtil’), pois era mais comum o cliente comprar o tecido e mandar fazer na costureira ou ‘modista’ de sua preferência. Como estou me propondo a analisar como se deu a passagem do modelo-fábrica para o modelo-empresa, usando personagens da narrativa seriada televisiva e como esse tipo de análise ainda não foi feito, fica a nosso cargo observar as personagens da novela e perceber o funcionamento da produção da celebridade de revista e televisão nos dois períodos diferentes (no caso desse texto) e, mais tarde, analisar o trabalho de outros profissionais da publicidade e da propaganda em outras novelas e minisséries.

   
Na cena acima (aos 06:49), o dono da agência de publicidade ‘Cítara’, Nélio Porto Rico (Dennis Carvalho) acompanha, pessoalmente, o cameraman durante a gravação das imagens da empresa de Salviano Lisboa, a ‘Centauro’, uma ,loja de departamentos. Podemos notar que Nélio tem conhecimentos de câmera, de filmagem, de direção. O filme publicitário que vai divulgar o trabalho de seu cliente (no caso, a ‘Centauro’) mostra o interior da fábrica de tecidos e pega de relance Lucinha e Emilene trabalhando nas máquinas de costura e as máquinas que produzem o tecido usado nas roupas vendidas pela Centauro. Após terminar a filmagem daquele setor, Nélio passa por Lucinha – que está sentada na máquina de costura ao lado da irmã. Lucinha é uma carioca típica, muito alegre e extrovertida e não esconde sua curiosidade sobre a gravação que havia sido feita durante aquele dia de trabalho no departamento onde Lucinha e Emilene trabalhavam. Nélio, o diretor da agência ‘Cítara’ é bastante simpático com a funcionária de seu cliente Salviano, explica em linhas gerais o que estava fazendo com o cameraman, revela que é um filme publicitário para divulgar os produtos da fábrica e ainda dá um cartão pessoal para a costureira, dizendo que Lucinha é muito fotogênica e poderia procurá-lo para ser modelo de futuras campanhas da ‘Cítara’. Lucinha fica contente pelo elogio de tão belo rapaz mas não se deslumbra. Guarda o cartão de Nélio no bolso da camisa e diz pra Emilene que não sabe se vai procurar pelo publicitário. Só que Lucinha o procura – e esse é o ‘pecado capital’ de Lucinha. A partir do momento em que ela se envolve com o mundo das celebridades e se torna uma celebridade, deixa seu namorado do Méier (que naquela época era considerado um subúrbio na Zona Norte do Rio, distante do centro da cidade) e sobe na vida, conquistando o coração do dono da empresa onde trabalha, a ‘Centauro’. Normalmente, apenas o taxista Carlão é apontado pelos telemaníacos como sendo o protagonista e dono do título da novela, mas as chamadas de estréia da novela deixam claro que Lucinha também comete seu ‘pecado capital’ ao aceitar ser uma modelo fotográfico famosa, muda de estilo de vida, adota o nome artístico de Lucy Jordan, toma um banho de loja e torna-se esposa do industrial Salviano.


         Passemos agora para o Rio de Janeiro do século XXI. Em 2007, Ivan Novaes (Bruno Gagliasso) é o modelo fotográfico da vez. A diferença é que Ivan foi escolhido pelo que chamamos de ‘olheiros’ – profissionais da área da publicidade e da moda. Ivan está correndo na praia de Copacabana quando encontra seu colega Mateus Vilella (Gustavo Leão), um rapaz carioca que fora criado em Vitória, no Espírito Santo mas, pelas voltas que a vida dá, retorna à cidade natal para morar com os avós Hermínia (Débora Duarte) e Clemente (Reginaldo Faria) no tradicional bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro. O bairro de Copacabana é o grande protagonista de ‘Paraíso tropical’ que, por um bom tempo, teve o nome do bairro como título provisório. Antes de assistirmos à cena escolhida para ilustrar o tema do texto, vamos falar sobre Ivan. Filho de mãe solteira, Ivan nunca soube quem é seu pai e, por isso é chamado ironicamente por seu irmão mais velho, Olavo (Wagner Moura) de ‘bastardinho’. Enquanto seu irmão trabalhava na presidência do Hotel Duvivier, na Avenida Atlântica (beira-mar), Ivan alugava guarda-sol e cadeiras de praia para os turistas de Copacabana, na praia, como profissional liberal. Por esse motivo – o da competição acirrada que o irmão faz – Ivan é revoltado com a condição socioeconômica em que vive. Olavo é mau, elitista e não perde uma oportunidade de tripudiar sobre a situação deprimente de Ivan, que vive um inferno em casa. A mãe dos dois rapazes, Marion Novaes (Vera Holtz) é uma promotora de eventos trambiqueira e desonesta. Marion veio de Minas Gerais, deixando pra trás uma família que rejeitava, pois só traziam desgosto e problemas para ela. Marion esconde de toda a alta sociedade carioca suas origens e a guerra constante que vive em casa com os filhos, com quem mantém uma relação perigosa de lua de poder, ironias e discussões ácidas. Ivan não estuda, tem um trabalho ‘mixo’, segundo o ponto de vista da mãe e do irmão mais velho, não sabe quem é seu pai mas, como o típico brasileiro, sonha com uma oportunidade de sair desta situação num golpe de sorte. E a sorte bate na porta dele num dia de sol, quando conversa com seu novo amigo Mateus na areia da praia. Zélia (Júlia Spadaccini) e Fabrício (Rodrigo Ceva Nogueira) são, respectivamente, produtora de moda e fotógrafo de uma agência de modelos que está fazendo uma campanha para uma griffe masculina de moda praia na beira da piscina do Hotel Duvivier. Nesse instante, a produtora de moda e o fotógrafo não estão necessariamente cumprindo seus papeis mas sim estão servindo de ‘olheiros’ da agência.


O ‘olheiro’ é aquele profissional que sai às ruas em busca de pessoas que se adequam a um determinado perfil exigido pela agência de modelos para servir a determinada campanha que determinada agência de publicidade está promovendo. Ivan aceita o convite de pronto, ao contrário de Lucinha, que enfiou o cartão de Nélio Porto Rico no bolso e deu pouca atenção ao convite.

Agora, vamos à questão que apresento nesse texto: seria possível, em 2007, um diretor / dono de uma agência de publicidade sair pelas ruas da cidade como ‘olheiro’, buscando pessoas com perfis adequados à demanda de suas campanhas? A resposta é não. Atualmente, com a “setorização” das empresas, com os recursos de RH, com a divisão de tarefas, as agências de publicidade não são mais responsáveis por seleção de modelos nem de manequins de passarela. Isso fica a cargo das agências de modelos. Os ‘olheiros’, atualmente, servem às agências de modelo e não às agências de propaganda. Ficou claro, pelas cenas e pela análise dessas cenas que nos 32 anos decorridos entre ‘Pecado capital’ e ‘Paraíso tropical’, as agências de publicidade se organizaram, cresceram conforme os parâmetros das outras empresas de outros setores e tornaram-se bem mais complexas? Espero ter contribuído – por ora – para uma reflexão a respeito do processo de seleção de pessoal para campanhas publicitárias e para sublinhar a diferença entre os procedimentos realizados por uma agência de publicidade em 1975 (onde o diretor e dono da agência de publicidade fazia o trabalho de cameraman, de diretor de filme publicitário e de ‘olheiro’ – tudo ao mesmo tempo e como, na atualidade, o trabalho dos publicitários se dividem em categorias mais complexas e também se divide com as agências de modelos e produtoras de vídeo. Se ainda não ficou claro, não tem problema, Estamos caminhando.

No mês que vem, eu retornarei ao tema da publicidade e da propaganda nas narrativas seriadas da tv e vamos seguindo analisando os publicitários da ficção em novas situações. Agradeço aos amigos Gesner Avancini, Eduardo Vieira e Júlio César Martins a amizade e o auxílio voluntário neste meu projeto junto ao blog ‘Posso Contar Contigo’ de tratarmos da publicidade na teledramaturgia. Espero que seja do gosto dos leitores.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

“Rainha da Sucata” faz a festa dos saudosistas no Canal Viva!

Lambada tempera a rivalidade entre a noveau rich cafona e a aristocracia decadente na Era Collor!

Glória Menezes, Tony Ramos e Regina Duarte
por Júlio César Martins

Nesta segunda, 21 de janeiro, o Canal Viva recicla na tela da TV a fábula da sucateira e sua corte. Exibida originalmente em 1990 pela Rede Globo, “Rainha da Sucata” reuniu um elenco estelar, nunca antes visto em uma mesma novela. Lançada em meio às comemorações dos 25 anos da emissora, foi a primeira trama das oito escrita pelo então rei da comédia, Sílvio de Abreu. Repetindo a consagrada parceria com o diretor Jorge Fernando, a intenção era importar um pouco do clima do horário das sete para o horário nobre, pegando carona no êxito do bom humor explorado pela antecessora, “Tieta”. Apesar de ser lembrada nos dias de hoje como um grande sucesso, “Rainha da Sucata” enfrentou alguns percalços que reverberaram na audiência ao longo da exibição original.

A trama gira em torno de Maria do Carmo (Regina Duarte), uma mulher de origem pobre, filha de portugueses, mas com excelente faro para negócios e que acaba enriquecendo. Apesar de ser uma empresária bem-sucedida, não consegue o status social que deseja e recorre a socialite Laurinha Albuquerque Figueiroa (Glória Menezes), que, apesar de falida, ainda frequenta as colunas sociais. Uma vai usar a outra para alcançar seus objetivos. O elo entre as duas é Edu Figueiroa (Tony Ramos), enteado de Laurinha e grande paixão de Maria do Carmo na juventude. Ele é um playboy internacional que, inconformado com a falência da família, tenta o suicídio. Logo se promove um casamento de fachada entre Edu e Maria do Carmo, para satisfazer o jogo de interesses.

Pego de surpresa pelo Plano Collor às vésperas da estréia, o autor Sílvio de Abreu teve que reler 900 páginas dos 30 primeiros capítulos já escritos para refazer cenas e diálogos, contextualizando a novela de acordo com a situação econômica no país no momento. Assim, a empresária de sucesso aparece afogada em desconfortos provocados pelo recente baque econômico: a drástica redução no consumo por conta dos confiscos afetou a venda de carros de sua concessionária, a Do Carmo Veículos, instalada num luxuoso prédio na Avenida Paulista - o coração econômico de São Paulo. Para driblar as circunstâncias, ela inaugura a “Sucata”, uma casa de shows no último andar do prédio de sua revendedora - mais tarde transformada numa lambateria para ricos.

Banner promocional do Canal Viva, divulgando a reprise de "Rainha da Sucata"
Sílvio de Abreu contou com a assessoria de texto da socialite Danuza Leão, que sugeria situações e até frases para os personagens ricos da novela, garantindo a coerência nos costumes e deslizes dos personagens deste universo. A partir do capítulo 36, Sílvio escreveria "Rainha da Sucata" em colaboração com José Antônio de Souza, porém, a necessidade de reescrever os capítulos iniciais fez com que o autor perdesse a frente de capítulos. Acostumado a escrever capítulos de novelas das sete, Sílvio estava entregando scripts mais curtos do que o de costume para o horário, justamente quando a Globo tinha intenção de conter a ascensão progressiva de audiência da novela da concorrência, “Pantanal”. A estratégia era esticar o Jornal Nacional e “empurrar” os capítulos de “Rainha da Sucata” para que terminassem um pouco mais tarde, levando as duas novelas a concorrer por algum tempo. Posteriormente, a novela passou de 45 para 60 minutos diários.

Capa ilustrando a predileção da imprensa especializada por "Pantanal"
Gilberto Braga, colega de profissão e amigo pessoal de Sílvio de Abreu, soube por acaso que, exatamente neste período, o irmão de Silvio estava muito doente e que os capítulos da novela estavam atrasados. O próprio Gilberto esclareceu: “- Liguei para ele, que me disse que o irmão estava em fase terminal. Sílvio acordava, ia para o hospital, ficava um pouco com o irmão, voltava para casa, escrevia a novela, ia ao hospital de novo. A vida dele estava um caos, e a novela, atrasada. Eu me ofereci para ajudá-lo e trabalhei com ele durante duas semanas. Novela é feita em blocos de seis capítulos, e o Silvio fez um resumo de história para um bloco, que eu peguei para escrever. Ao mesmo tempo, ele escrevia o bloco seguinte. Conseguimos fazer 12 capítulos, e botamos a novela em dia.”

Após a participação do amigo, Sílvio contou com a colaboração de Alcides Nogueira, até o final. Na guerra pela audiência, foi constatado que o horário das 20h não se adequava tão bem a comédia e o autor converteu a história em um grande drama, com toques de suspense, recheado de referências cinematográficas.

Para reforçar a direção da novela, entraram Mário Márcio Bandarra e Fábio Sabag.  Em depoimento ao “Memória Globo”, Sabag declarou: “- Eu entrei em uma época de crise na novela, quando o “Pantanal” começou a querer aparecer. O Daniel Filho me chamou primeiro, porque queria que eu modificasse algumas coisas da novela. Ele disse assim: ‘A Regina Duarte tem que aparecer nos finais dos blocos, início de blocos. Temos que mexer nisso. Algumas coisas são muito arrastadas, são lentas.’ Então, eu pegava o capitulo, lia, pegava o capítulo montado e, na minha sala, eu ia marcando, cronometrando, tirando. Às vezes, eu tirava até oito minutos de coisas, de pausa, mudava as posições das cenas da Regina. Ela sempre fechava bloco, abria o bloco. Isso criou um problema sério com o Silvio de Abreu, porque ele me telefonava irritado. Claro, como autor, ele tem o seu direito. Eu dizia: ‘Fala com o Daniel, porque eu estou atendendo a uma recomendação dele.’ É muito simples pegar um trabalho feito e dizer onde está um pouquinho demais, onde deve mudar, porque você está vendo. Você não dirigiu, você está assistindo. E criticar é muito mais fácil.”


 Chamada do quarto capítulo da novela, anunciando a exibição meia hora mais tarde

Causou burburinho também a cena em que Cláudia Raia, fora de forma, aparece nua, segurando um peixe. A imprensa acusou a Globo de tentar pegar carona na onda de nudismo que alavancava a audiência de "Pantanal". A atriz foi vítima de bullying por parte dos jornalistas, que debocharam por considerá-la gorda para a cena.

“Rainha da Sucata” exibiu ainda o que foi considerado o primeiro suicídio explícito da TV brasileira. O tema, considerado tabu, até então era habitualmente tratado de forma velada no horário nobre da TV. Várias vezes sugerido, mas até então nunca retratado abertamente pelas câmeras. Após discutir e arrancar os brincos de sua rival Maria do Carmo, Laurinha Figueiroa se joga do prédio e sela com a morte sua derrocada amorosa e financeira. “Coisas de Laurinha”. Antológico.

Aracy Balabanian marcou época com sua inesquecível dona Armênia, que para provar sua autoridade como proprietária do terreno onde está a “Sucata”, promove sua implosão. E todo o Brasil riu com seu hilariante bordão "quero ver a prédio na chon".

Estreia às 0h15m, com reprise ao meio-dia.
Direção de Jorge Fernando, Jodele Larcher, Fábio Sabag e Mário Márcio Bandarra

domingo, 20 de janeiro de 2013

"O Rei Leão" e a família


Por Flávio Michelazzo

Especialista em contos de fada e tramas com finais felizes, penso que os Estúdios Disney, ao levar a história de "O Rei Leão" para as telas, pensaram em criar uma trama extremamente realista, mas, para não ficar diretamente chocante para o público infantil. a trama contou com uma família de leões em vez de seres humanos.

Ignorando os boatos (ou fatos) de que o desenho é plágio de um desenho japonês, gostaria de fazer uma breve análise sobre a trama. O pequeno Simba nasce com o compromisso de ser o futuro rei, pela linha de sucessão do trono animal. Seu tio, Scar, irmão mais novo de seu pai, Mufasa, repudia o nascimento da criança, pois até então tinha esperanças de assumir o trono após a morte de Mufasa. Scar, então, planeja friamente a morte de seu irmão e a de seu sobrinho no meio de um estouro de uma manada de antílopes organizado por ele e seus comparsas, as hienas, a quem promete recompensas caso tenha sucesso e venha a ser rei.

Scar é bem-sucedido em seus planos: Mufasa morre pelas suas mãos ao despencar de um desfiladeiro, enquanto que a morte de Simba fica a cargo das hienas. Simba, porém, consegue fugir, sentindo-se culpado pela morte do pai. Culpa plantada pelo próprio Scar, que aproveita da inocência do sobrinho para persuadi-lo de algo que não fez e se assume como novo rei.

Simba, em exílio, passa a ser criado pelos companheiros Timão e Pumba, que lhe ensinam a ver o lado bom da vida. Os anos passam e Simba reencontra sua amiga Nala, que o coloca a par do terrível governo de Scar. É então que Simba se encontra com o sábio Rafiki, que o faz ter um encontro com Mufasa, que pede para que ele assuma seu lugar no reino. O jovem leão resolve voltar e enfrentar seu tio, e contará com a ajuda de seus amigos do presente e passado.

A história é extremamente pesada, envolve inveja, disputa de poder e destruição de uma família. Se fossem usados homens, provavelmente seria um filme, não um desenho. Por isso creio que a intenção dos criadores foi passar uma mensagem para as plateias, de que família são aqueles que estão sempre ao nosso lado, e que nos ajudam a conquistar nossos objetivos, e que mesmo dentro de casa devemos tomar cuidado com quem ouvir e em quem confiar, e creio que tenham sido bem-sucedidos, pois o filme é um dos maiores sucessos deste encantador estúdio, que tanta alegria traz para crianças de ontem, hoje e sempre. Após O Rei Leão, tivemos mais tramas fortes, como Pocahontas e O Corcunda de Notre Dame. Uma prova de que a Disney também amadureceu.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Smallville, eu curto!


Por Christian Henrique

A série conta a trajetória de Clark Kent (Tom Welling), um adolescente quase comum, se não fosse pelos seus poderes especiais. A ideia central da série é mostrar como seria a vida do homem de aço e toda a sua trajetória se a sua nave tivesse caído na Terra nos tempos atuais, mesclando a modernidade do século XXI com elementos e valores antigos, já conhecidos por todos, referente ao universo do Superman. Tom Welling (Clark Kent), Kristin Kreuk (Lana Lang), Michael Rosenbaum (Lex Luthor), Eric Johnson (Whitney Fordman), Sam Jones III (Pete Ross), Allison Mack (Chloe Sullivan), Annette O'Toole (Martha Kent), John Schneider (Jonathan Kent) e participação especial de John Glover, interpretando Lionel Luthor, pai de Lex Luthor.

No Brasil, a série é transmitida pelo canal a cabo Warner Channel e pela rede de televisão aberta (SBT), que já exibiu as oito primeiras temporadas da série.

O SBT Confirmou a exibição da 9ª temporada inédita para o segundo semestre.

A série é uma das que mais me interessam, por reunir ação, aventura, ficção cientifica, heroísmo  vilania, comédia, romance. O que me faz lamentar bastante o fato de ter tido um fim. A série terminou na 10ª temporada, Então, essa postagem é apenas para evidenciar o meu carinho pelo seriado e convidar aos fãs para que assistam na TV aberta (SBT) a penúltima temporada. Vamos prestigiar, pessoal!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Uma Moderníssima Sátira de Capa e Espada!


Por Emerson Felipe

Hoje chega ao fim, no Canal Viva, a reprise de uma das mais criativas novelas já realizadas: Que Rei Sou Eu?, de Cassiano Gabus Mendes, folhetim de capa-e-espada  sobre a luta pelo poder entre o povo e a nobreza em Avilan, um país do século XVIII marcado pela corrupção e injustiça social. Reunindo elementos de novela de época e dados da atualidade, Que Rei Sou Eu? subverteu a linguagem televisiva, virando mania nacional, sucesso de crítica e marcando uma geração.

Que Rei Sou Eu? mostrou-se uma novela extremamente moderna, antenada com o efervescente momento que o Brasil atravessava em 1989, fazendo do Reino de Avilan uma paródia do que aqui acontecia: caos social; instabilidade financeira; desvalorização monetária (o ducado se transformando em duca e perdendo dígitos); escândalos financeiros (Ravengar chega a citar algo similar ao escândalo da mandioca em Avilan); a altíssima dívida externa; a precariedade dos serviços públicos (a guilhotina de Avilan jamais funcionava nas execuções!), e a população suportando todos os encargos. Ponto para Cassiano Gabus Mendes ao fazer de uma novela de época algo contemporâneo, inovando o gênero.

Pichot: de mendigo a rei.
Algumas referências de Que Rei Sou Eu?, por estarem atreladas à específica conjuntura de 1989, inexoravelmente soam datadas, servindo mais de curiosidade, como o já supracitado Escândalo da Mandioca e o selo que o Conselho Real ordenou colar às testas dos cavalos nas estradas de Avilan - numa clara alusão ao selo-pedágio da época - , por exemplo. A grande maioria, porém, continua assustadoramente atual: as falcatruas dos corruptos Conselheiros Reais - que desviavam verbas públicas em licitações fraudulentas e obras inacabadas (como a Trans Avilan!) - e o nepotismo na máquina administrativa (Vanolli empregando o seu sobrinho no Conselho sem prévio preparo) - , por exemplo, práticas ainda usuais no Brasil contemporâneo.

O demoníaco bruxo Ravengar
Mas não só de humor-denúncia viveu Que Rei Sou Eu?: Cassiano Gabus Mendes teceu um charmoso novelo repleto de drama, aventura e romance ao longo de 185 capítulos. O público foi fisgado pela emocionante luta do legítimo herdeiro do trono de Avilan, Jean Pierre (Edson Celulari), pela coroa, dominada pelas corruptas figuras da Rainha Valentine (Teresa Rachel) e do bruxo Ravengar (Antônio Albujamra), que tansformaram o mendigo Pichot (Tato Gabus Mendes) em rei para manter-se no poder. E, em meio à guerra entre rebeldes e tropas reais, a disputa entre duas mulheres pelo amor de Jean Pierre: a destemida companheira de batalhas, Aline (Giulia Gam), e a frágil Suzanne (Natália do Valle), obrigada a um casamento infeliz com o cruel Conselheiro Real Vanolli (Jorge Dória). 

O herói Jean Pierre
Que Rei Sou Eu? manteve-se instigante do primeiro ao último capítulo com toos esses entrechos românticos, humorísticos e dramáticos, reunidos num texto pautado por ganchos atraentes e nenhum resquício de marasmo ou barriga. A direção de Jorge Fernando, embora soe um tanto “fake” em certos aspectos, mesmo para a época (a cenografia visivelmente artesanal e tosca em alguns ambientes), deu um certo charme ao ousado texto, conferindo um tom teatral à novela. A maquiagem de Eric Rzepecki foi uma atração à parte, especialmente as caracterizações do bobo da corte Corcoran (Stênio Garcia).

Aline e Jean Pierre
O elenco de Que Rei Sou Eu?, magistralmente escalado, interpretou com vigor o excelente texto de Cassiano. Os Conselheiros Reais, cada qual com sua personalidade, renderam ótimos momentos: o cruel e perigoso Vanolli (Jorge Dória), que dominava o Conselho e oprimia severamente a sofrida esposa Suzanne; o fraco Bidet (John Herbert), sempre passado para trás pelos colegas nas negociatas escusas; o bronco e grosseiro Gaston (Oswaldo Loureiro); o sofisticado e mulherengo Crespy (Carlos Augusto Strazzer); e Gerard (Laerte Monrrone), que se fazia de valentão perante todos, mas não passava de um capacho da adúltera esposa Lucy (Ísis de Oliveira), incapaz de satisfazê-la sexualmente.


Álbum de figurinhas da novela
A geração mais nova também brilhou: Edson Celulari defendeu com elegância o herói Jean Pierre; Tato Gabus Mendes convenceu na transformação do mendigo Pichot no insano Rei Petrus III (apesar de certos momentos de canastrice, exagerando no levantar da sobrancelha); Cláudia Abreu emprestou a necessária graça à esperta e romântica Princesa Juliette; e Giulia Gam deu um show como a destemida e cheia de personalidade Aline (inclusive ganhando a torcida do público no tocante ao seu romance com Jean Pierre). A sensualidade madura de Ítala Nandi caiu como uma luva na carismática cigana Lou Lou Lion; Marieta Severo brilhou como a feminista Madeleine; e Stênio Garcia arrasou na pele do rebelde espadachim Corcoran, que se infiltra no palácio como bobo da corte e desperta a paixão de Valentine.

Os corruptos Conselheiros Reais
Antônio Albujamra, em irretocável composição, imortalizou o demoníaco Ravengar, uma espécie de Rasputin de Avilan que exerce forte influência sobre o Reino (a sua paixão não correspondida por Madeleine gerou momentos arrepiantes, ao hipnotizá-la). Mas o grande nome de Que Rei Sou Eu? é o da escandalosa e inesquecível Rainha Valentine: impossível não se render aos hilários trejeitos e à atuação over da veterana Teresa Rachel. Trabalho este merecidamente contemplado com o Troféu Imprensa de melhor atriz pela deliciosa caricatura que emprestou à alienada e devassa monarca.

A histriônica e divertida Rainha Valentine
Ao unir elementos de época e crítica social numa irresistível história de capa-e-espada, Que Rei Sou Eu? quebrou paradigmas e, merecidamente, inseriu seu nome no rol de clássicos da teledramaturgia. Agora, só nos resta deliciarmos com os últimos momentos das aventuras no Reino de Avilan e gritar com emoção "Viva o Brasil!" com Jean Pierre durante a cena final! E viva Que Rei Sou Eu?, viva Cassiano Gabus Mendes!

Elenco de Que Rei Sou Eu?
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