terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Retrospectiva e Expectativa - Parte 1



Por Leonardo Mello de Oliveira

Chegamos a mais um final de ano, momento para recapitularmos o que aconteceu neste 2014 e analisarmos as promessas para 2015. Nesta postagem especial em duas partes, faremos um balanço das novelas deste ano e as expectativas para as que nos aguardam ano que vem. Como não assisti a novelas de outras emissoras que não da Globo, não vou me ater a estas, de modo a evitar críticas e comentários rasos e sem uma boa base. Lembrando que iremos desconsiderar novelas que tenham iniciado em 2013, que são Amor à Vida, Joia Rara, Além do Horizonte e a temporada anterior de Malhação.
         Depois de um 2013 difícil, tanto em termos de qualidade quanto de audiência, a Globo iniciou 2014 com a missão de se reerguer. A emissora tinha planos ousados, entre eles novelas pretensiosas e diferentes. Apesar da mesma não ter conseguido chegar nem perto do auge que conseguiu em 2012, pode-se dizer que o ano que passou foi mediano para a teledramaturgia global. Em termos técnicos, não temos muito que reclamar. A “Vênus Platinada” conseguiu recuperar alguns pontos sim, mas ainda está em sinal de alerta.


             A primeira estréia do ano foi a de Em Família, em fevereiro. Anunciada como sendo a última novela de Manoel Carlos, a trama prometia trazer novamente o estilo de Maneco, que marcou tanto a nossa teledramaturgia, principalmente nos anos 90 e início dos 2000. Infelizmente, o “bom velhinho do Leblon” não conseguiu fechar sua carreira com chave de ouro. Em Família penou para conseguir alguns índices, e apesar de contar com histórias supostamente envolventes e dramas polêmicos, a novela não conseguiu agradar nem público, nem crítica. Maneco trazia de volta personagens de difícil aceitação, tais como a mimada Luiza (Bruna Marquezine); a apática Helena (Júlia Lemmertz); o egoísta e perturbado Laerte (Gabriel Braga Nunes); e o “banana” Virgílio (Humberto Martins). Nota-se que houve diversos problemas, principalmente na condução e desenvolvimento dos personagens, além de uma direção mediana de Jayme Monjardim, que já fez bem melhor do que mostrou aqui. Apesar de tudo, a novela teve seus êxitos: os diálogos de Maneco são uma atração à parte em qualquer novela, e o elenco estava afiadíssimo, pode-se dizer que eram os atores que faziam da novela uma atração “assistível”. As primeiras fases foram também um acerto, o que só piorou a sensação de decepção ao criar tanta expectativa para o que viria depois.


          Substituindo a meia-boca (porém bem produzida) Joia Rara, Meu Pedacinho de Chão estreou em abril trazendo novos ares (novos até demais) para o horário das 18h. Longe de ser uma novela convencional, a fábula de Benedito Ruy Barbosa e Luiz Fernando Carvalho continha personagens exagerados, com hábitos esquisitos, roupas extravagantes, feitas de papel, plástico e sucata, e uma história linda com um bonito toque infantil. Foi uma das poucas vezes em que se viu uma obra em que tudo se encaixou perfeitamente: direção, texto, elenco e produção, todos juntos, trabalhavam em harmonia para fazer uma das melhores novelas dos últimos anos. Analisando, se vê que, caso um desses fatores não estivesse bem, toda a novela se comprometia. Infelizmente, não obteve números de audiência muito significativos, mantendo, mais ou menos, o que sua antecessora havia conseguido. Também vale elogiar a Globo, que se arriscou ao apostar em um tipo de produção extremamente diferente de tudo o que já se produziu no meio.


           A estréia de Geração Brasil foi anunciada com pompa e circunstância pela emissora, deixando claro que a novela era dos mesmos autores de Cheias de Charme, Filipe Miguez e Izabel de Oliveira. As chamadas traziam boas expectativas, tudo indicava que a Globo conseguiria restaurar o decadente horário das sete. Tudo não passou da expectativa. O que se recebeu foi uma trama bagunçada, cheia de personagens sem utilidade e mal-desenvolvidos, com uma direção convencional e abordagem de temas que nada combinam com o estilo folhetinesco. Além disso, a novela passou as dificuldades de não ser exibida no período da Copa do Mundo, o que criou esperanças de que voltasse melhor do que antes. Porém, não se conseguiu notar praticamente nada de diferente. O elenco tinha seus ganhos, como a presença de Leandro Hassum e Luís Miranda em bons personagens. Mas todos pareciam perdidos em uma produção que tentava se provar novela. Obviamente, houve muitos equívocos, ao meu entender, principalmente por parte dos autores. Uma pena, pois, de certa forma, a ideia original de Geração Brasil era boa, simplesmente foi mal-desenvolvida.


                   Novamente, a Globo voltava a apostar em Malhação nos finais de tarde. A nova temporada trouxe mais uma vez a equipe da bem aceita temporada de 2012: Rosane Svartman e Paulo Halm como autores titulares, Glória Barreto, desta vez, na supervisão de texto, e Luiz Henrique Rios e José Alvarenga na direção. O resultado é satisfatório: tentando fugir dos clichês óbvios de Malhação e se aprofundando mais em dramas do universo jovem (diferentemente da temporada anterior, que mostrava jovens em dramas adultos), a atual temporada tem conseguido manter a audiência do horário e vem sendo comentada pelo seu público alvo. Focando em temas já até explorados pela “soap opera”, como a música e as artes marciais, porém com abordagem diferenciada, a novelinha mostra que, nas mãos certas, ainda consegue manter seu espaço na grade. Vale ressaltar o bom elenco, tanto de jovens quanto de veteranos, contando com nomes como Eriberto Leão, Odilon Wagner, Marcelo Faria, Felipe Camargo e Patrícia França, voltando a Globo depois de praticamente 10 anos fora da emissora.


                 Mais um remake marcava presença no horário das 23h. Desta vez, a atualização de O Rebu, novela inovadora de Bráulio Pedroso dos anos 70, tentava a sorte no horário alternativo de teledramaturgia. A bela produção também trazia uma equipe já prestigiada da casa: George Moura e Sérgio Goldenberg, que já haviam feito um sucesso tremendo com Amores Roubados no início do ano, no texto e direção com Walter Carvalho e José Luiz Villamarim. A novela tinha ares cinematográficos, tanto no tema do qual tratava quanto na direção. Além disso, os diálogos e situações não cronológicas muito bem estruturadas pelos autores enchiam os olhos dos apreciadores do gênero. Grandes destaques no elenco, com pesos pesados interpretando personagens fortes e enigmáticos. Se O Rebu teve defeitos, apenas a confusão que poderia causar no telespectador menos atento. Pode-se dizer que foi uma das mais caprichadas produções da Globo dos últimos tempos.


           Aguinaldo Silva retornava ao horário nobre com a promessa de um novelão clássico: sua Império teria que fazer com que os telespectadores que haviam abandonado a TV durante Em Família voltassem para a emissora. Porém, mais uma vez, Aguinaldo entregou bem menos do que prometeu (como já comentou diversas vezes o crítico de telenovelas Nilson Xavier). A começar pela sua tão aguardada vilã Cora (Drica Moraes), que demorou capítulos e mais capítulos para mostrar alguma característica genuína de vilã. No entanto, o autor conhece as manhas de se escrever para as 21h, e conseguiu criar uma trama até certo ponto envolvente e popular, que fisgou o público o suficiente para se manter estável na audiência e na repercussão. Vale ressaltar a grande evolução do núcleo de Rogério Gomes na direção, mostrando uma grande maturidade em relação às demais novelas às quais ficou responsável anteriormente, dando novos ares às obras de Aguinaldo Silva, que vinham contando com a direção mais “tradicional” de Wolf Maya há 10 anos. O elenco é equilibrado, visto que não há um número considerável de personagens fortes para os atores se aprofundarem. Uma notável surpresa foi o casal formado por Zezé Polessa e Tato Gabus Mendes, concebido para ser um mero alívio cômico, mas que ganhou destaque pela excelente performance dos atores.


             A segunda novela das 18h do ano, Boogie Oogie criou expectativa nos saudosistas de plantão. Trazendo os anos 70 como pano de fundo, a novela do autor iniciante Rui Vilhena (já experiente em Portugal, onde morou por muitos anos) divide opiniões. Entre os adoradores de teledramaturgia, faz um considerável sucesso e é frequentemente elogiada pela crítica. Porém, não segura audiência, apresentando número instáveis. Também não gera tanta repercussão quanto sua antecessora cheia de atrativos. O autor português utiliza diversos clichês já manjados do grande público, e escolhe seguir uma linha de texto mais exagerado, cheio de comparações estranhas e forçando um ar irônico. Apesar de tudo, deve-se elogiar a agilidade da trama. Rui consegue intercalar bem as cenas e conduzir bem os dramas, de modo que a novela poucas vezes se torne cansativa. Discordo daquilo que muitos especialistas já declararam: não há a sensação de confusão caso você perca um capítulo. Isso porque pouco da história principal foi resolvido até agora. A direção é neutra: ao mesmo tempo em que mostra inovações, segue uma linha tradicional, talvez para lembrar novelas mais antigas. Também pode-se responsabilizá-la por algumas incoerências de cenário, figurino e penteado, que não condizem totalmente com a época retratada. Aliás, Boogie Oogie transmite isso: tirando a discoteca e os hábitos das crianças, a história poderia se passar em qualquer época. Não há um laço muito grande com os anos 70.


         Alto Astral é a mais nova aposta para reerguer o horário das 19h. A Globo foi esperta, e decidiu seguir uma linha extremamente despretensiosa, apresentando uma novela tradicionalíssima. Também do estreante Daniel Ortiz, com base em uma sinopse escrita por Andrea Maltarolli, a comédia romântica tem tudo o que uma novela das sete clássica tem: um mocinho corajoso, uma mocinha ingênua (até demais para uma jornalista), um vilão inescrupuloso que conta com a ajuda da secretária (também inescrupulosa) e diversos alívios cômicos, entre eles uma vilã atrapalhada. Depois de 3 novelas supostamente revolucionárias (duas grandes fracassos de audiência), a emissora via no convencional uma chance de voltar aos tempos áureos. Alto Astral cumpre razoavelmente sua missão. Mas o direcionamento, que utiliza clichês e situações já desgastadas, tira a identidade da obra. O elenco é enxuto e bem escalado. Destaque para Sérgio Guizé, Christiane Torloni e Claudia Raia (apesar de seu desempenho dividir opiniões, a atriz cumpre o que sua personagem pede). A direção, outrora inovadora, de Jorge Fernando, dá ainda mais o clima de tradicionalismo à novela: tudo nela já foi visto diversas e diversas vezes, desde a fotografia até o encadeamento da trilha sonora. Apesar de tudo, a novela está há pouco tempo no ar, então ainda tem muito a mostrar.
           2014 foi um ano de produções que se neutralizam: ao mesmo tempo em que tivemos novelas inovadoras nas mais diversas áreas, também vimos obras que seguem o estilo clássico de se fazer teledramaturgia. Vale ressaltar e elogiar a Globo pelo seu esforço na iniciação de novos autores, necessários à nossa TV. Sem grandes sucessos, o ano acaba com o clima de dúvida: quais caminhos a Globo vai seguir a partir de agora? O que fará para não cometer os mesmos erros e manter a fórmula dos sucessos? Com os 50 anos da emissora em 2015, espera-se ver cada vez mais produções caprichadas e surpreendentes. Mas falaremos mais disso na segunda parte desta postagem, com as expectativas na área de teledramaturgia para o ano que vem.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Êxodo: Deuses e Reis - Exuberância, Luta e Morte


Por Henrique Melo

Não sou crítico de cinema.  Sou apenas um espectador que gosta de assistir a um bom filme e comentar o que achou a respeito. Pois bem, o longa metragem Êxodo: Deuses e Reis, de Riddley Scott, nos remete a toda a suntuosidade do Egito antigo com belas tomadas panorâmicas da cidade de Memphis. A caracterização e fotografia também não ficam para trás. Tudo é muito exuberante e caprichado, embora se torne um pouco exaustivo devido a sua longa duração.

Christian Bale dá vida a Moisés, herói do Velho Testamento bíblico, sem exagerar nas tintas e/ou cair na pieguice. Seu Moisés é mais sensível e humano, demonstrando nuances interessantes dentro do enredo; inicialmente renegando sua origem hebreia até passar, gradativamente, para o lado do povo escravizado pelo Egito. Embora a atuação de Joel Edgerton como Ramses não tenha sido bem recebida pela crítica, considero que ele conseguiu cumprir bem o papel de dar vida ao faraó tirano e inseguro.


O filme conta também com várias mensagens que criticam claramente o cristianismo. A começar pela personificação de Deus na pele de um garotinho. Eis a metáfora de que Ele é, na visão de Riddley Scott, como uma criança mimada, vingativa e impiedosa. Há outro momento em que este posicionamento fica ainda mais explícito quando Ramses, diante da praga que tirou a vida de todas as crianças egípcias incluindo o seu filho, pergunta a Moisés: “Que povo é este tão fanático a ponto de idolatrar um Deus assassino?”.



Visualmente falando, é um filme agradável. Há erros e acertos em sua execução, mas quem for ao cinema irá sair da sessão satisfeito. Vencendo as comparações com o terrível “Noé”, Êxodo consegue aproveitar bem as passagens bíblicas como as pragas que assolaram o Egito e a travessia do Mar Vermelho. Acredite, são os melhores momentos deste épico. 
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