Por Daniel Pilotto
Márcia Maria foi uma das grandes atrizes brasileiras que
abrilhantaram a tv com seu talento e carisma, mas que hoje em dia,
infelizmente, apenas um público saudoso se recorda. Por isto há algum tempo
sentia uma vontade de escrever e falar um pouco sobre ela, contar um pouco da
carreira linda que ela teve na televisão e sobre as minhas impressões da pessoa
interessante que era.
Eu conheci a atriz num projeto no qual estávamos envolvidos
no ano de 2010, ela como atriz e eu como roteirista. A primeira vista eu fiquei
impressionado com a simplicidade e a discrição dela, e uma grande simpatia e
receptividade com os que ainda não eram do meio. Neste curto tempo que
convivemos pude presenciar suas lembranças, suas recordações de momentos
preciosos da tv e das novelas, tudo contado com sua linda voz e com a segurança
e a postura que só uma grande atriz possui.
Márcia como grande parte das atrizes de sua geração começou
a carreira no rádio, a bela voz garantiu um emprego como locutora na Rádio
Nacional e tempos depois como garota propaganda na TV Record. Como atriz sua
primeira aparição acontece na série de humor CEARÁ CONTRA 007 como Sílvia, ao
lado de Jô Soares que parodiava James Bond com o seu Jaime Bonde.
Em novelas sua estréia foi em 1968 em A ÚLTIMA TESTEMUNHA de
Benedito Ruy Barbosa, como Anita. No ano seguinte teve um papel de mais
destaque, Lene, em outra trama de Benedito ALGEMAS DE OURO.
Com Altair Lima e Lolita Rodrigues em ALGEMAS DE OURO
Entretanto o grande destaque mesmo só aconteceu em 1970 com
a consagrada AS PUPILAS DO SENHOR REITOR, adaptação de Lauro César Muniz da
obra de Júlio Diniz. Márcia deu vida a Guida (personagem feita por Deborah
Bloch no remake do SBT) que era uma das pupilas do Senhor Reitor (Dionísio de
Azevedo) e apaixonada por Daniel (Agnaldo Rayol). Nesta trama Márcia conheceu o
êxito por um trabalho realmente impecável e com grande requinte para a época.
Com Dionisio de Azevedo e Georgia Gomide em AS PUPILAS DO SENHOR REITOR
Por conta do sucesso da Margarida em PUPILAS a atriz ganhou
de Lauro César Muniz o principal personagem feminino em sua novela seguinte OS
DEUSES ESTÃO MORTOS (1971), como Veridiana. A novela de grande sucesso resultou
numa continuação mostrando o passar dos anos na família da trama, e em QUARENTA
ANOS DEPOIS a Veridiana agora estava mais velha e tinha uma neta, interpretada
também por Márcia Maria. A esta altura a atriz já era um dos principais nomes
da Record.
Com Fúlvio Stefanini em QUARENTA ANOS DEPOIS
Contudo em 1972 Márcia Maria foi contratada pela TV Tupi, e
estreou em grande estilo ao lado do novato Antonio Fagundes em BEL AMI de Ody
Fraga e Teixeira Filho.
Com Adriano Reys e Elaine Cristina em BEL AMI
No ano seguinte a consagração numa antagonista marcante em
MULHERES DE AREIA de Ivani Ribeiro. Nesta trama Márcia deu vida a Andréia (que
foi interpretada no remake por Karina Perez) a jovem que viu seu noivado ruir
por conta da presença de Ruth e Raquel (Eva Wilma) na vida de Marcos (Carlos
Zara).
Em MULHERES DE AREIA
Com a interpretação marcante ela conseguiu estar presente em
outra trama de grande sucesso de Ivani, OS INOCENTES (1974) como um dos
“inocentes” do título. Ela vivia Marina, uma jovem que era neta de um dos
desafetos de Juliana (Cleyde Yáconis), que voltava à cidade para se vingar do
passado.
Com Tony Ramos, Laura Cardoso, Elaine Cristina e Luis Gustavo em OS INOCENTES
Em 1975 Márcia Maria veio a iniciar uma parceria que seria
marcante em sua trajetória. Na novela O MEU RICO PORTUGUÊS ela se transformou
numa das atrizes preferidas do autor Geraldo Vietri.
Com Jonas Mello em O MEU RICO PORTUGUÊS
Nesta trama ela vivia Walquíria que se apaixonava pelo
português do título, Severo (Jonas Mello). Aqui começa também uma das parcerias
românticas bem famosas em novelas dos anos 70, a de Márcia Maria e Jonas Mello.
No mesmo ano a atriz ainda faz uma participação na segunda
parte da novela de Ivani Ribeiro A VIAGEM. Ela era do núcleo do Outro Lado da
trama, e interpretava um dos espíritos que estavam em aprendizado. A personagem
Carlota era uma dama do Brasil colonial que não se conformava por ter morrido.
Em 1976 e 1978 ela volta a trabalhar com o autor Geraldo
Vietri e como par do ator Jonas Mello em OS APÓSTOLOS DE JUDAS (onde vivia a
ambiciosa Marina) e em JOÃO BRASILEIRO, O BOM BAIANO (como a sofrida enfermeira
Júlia).
Com Jonas Mello em OS APÓSTOLOS DE JUDAS
Com Jonas Mello e Nair Bello em JOÃO BRASILEIRO, O BOM BAIANO
Após o fechamento definitivo da Tv Tupi, Márcia inicia uma
nova fase na Rede Bandeirantes. Entretanto sem a continuidade de trabalhos da
emissora anterior, fazendo ali apenas duas novelas, A DEUSA VENCIDA (1980) como
Sofia no remake da própria autora Ivani Ribeiro do seu antigo sucesso na
Excelsior e em O CAMPEÃO (1982) novela de Jaime Camargo e Marcos Caruso, como
Dora.
Com Altair Lima em A DEUSA VENCIDA
Volta às novelas em 1990 na novela do SBT BRASILEIROS E
BRASILEIRAS e durante esta década participa de outras produções, sempre com
personagens pequenos e muito aquém do talento que possuía, como POR AMOR E ÓDIO
(1997) na Record, O DIREITO DE NASCER (2000) e AMOR E ÓDIO (2001) no SBT.
É claro que durante este tempo ausente das novelas a atriz
trabalhou em cinema, teatro e até como apresentadora de um programa femino.
O mais importante nisto tudo que escrevi é perceber que nem
sempre o talento significa uma permanência efetiva na carreira. Márcia era um
exemplo de atriz perfeita, tinha todas as qualidades indispensáveis, mas, como
algo que não se explica a tv não a manteve atuante.
Eu e Márcia Maria em 2010
Durante os ensaios, na leitura do meu roteiro ela realmente foi surpreendente. Mesmo sem conhecer completamente a história ou as minúcias da personagem, ao ler eu pude ver que ela havia percebido tudo, o texto fluiu com uma naturalidade e a personagem soou tão viva ao meu lado. Durante todo o resto da noite fiquei a refletir sobre o como ser ator é fascinante e que o verdadeiro talento não desaparece com a ausência ou afastamento. A atriz esteve sempre nela, pena que não foi reconhecida por mais tempo. Pena que a tv não fez durar mais o brilho desta atriz para que as novas gerações também tivessem o privilégio que tive, mesmo que por pouco tempo.
Márcia faleceu em Fevereiro deste ano e deixou muitas saudades.
Que texto lindo, Daniel. Sempre sonhei em ver essa atriz atuando em um grande papel. Minha mãe e meu irmão mais velho, nunca conseguiram esquecer essa grande e lindíssima atriz. Nota 10 !!!!
ResponderExcluirA Márcia Maria foi uma grande atriz pouco reconhecida. Ela fez grandes trabalhos na TV, mas infelizmente por não ter estrelado uma novela global acabou ficando esquecida nas últimas décadas. Maravilhoso resgate de sua memória. Parabéns Daniel.
ResponderExcluirOi Daniel que lindo!!! Márcia Maria lembra as grandes musas antigas, linda e estilosa.
ResponderExcluirParabéns pela sua matéria.
Obrigado Luciano, obrigado Serginho e obrigado Sibely!!!!!
ResponderExcluirPois é Márcia foi uma das atrizes mais queridas por quem assistiu as novelas da Tupi, além de linda era super talentosa!!!!!
Fico muito feliz que tenham gostado de ler e comentar sobre ela!!!!!!!!
Um brilhante texto e um resgate maravilhoso de uma atriz e de uma mulher que foi além do seu tempo. Márcia tinha uma visão da vida como poucos e sempre dizia que nessa sua passagem por esta vida tinha que deixar algo mais do que o seu talento como atriz. Solidária, ajudou muita gente do meio artístico nos seus áureos tempos, pena que muitos deles não retribuiram com a mesma solidariedade quando, nos ultimos anos, lutando bravamente com sérios problemas no coração, Marcia tinha muita vontade de voltar à TV. Mas ela deixou indiscutivelmente a sua marca na teledramaturgia brasileira e não será esquecida pelos brilhantes trabalhos que fez e pelos amigos e fãs que angariou em tantos anos de trabalho.
ResponderExcluirParabéns mais uma vez Daniel e a nossa amiga lá em cima vai ficar muito contente com essa homenagem.
Linda e talentosa. Mas apesar de em todo o post você ter falado sobre ela, em vida. Sobre tudo o que fez, sobre o amor, admiração e respeito que conquistou... O que me pegou mesmo foi o final: faleceu em fevereiro e deixou muitas saudades. Talvez porque, eu esteja passando por um momento assim, de saudades, de lamentar por uma perda. Por mais de uma, na verdade. E é triste quando alguém nos toca e se vai, não é? Bem, espero que você pretenda continuar por aqui e continuar, a seu modo, nos tocando.
ResponderExcluirAbraço,
Débora.
Rodolfo querido amigo, como te agradecer este carinho da tua postagem, muito obrigado mesmo!!!!! Você mais do que eu conviveu bastante com a Márcia e sabe mais do que ninguém tudo o que esta grande atriz representou, e o quanto era querida!!!!! Obrigado de coração!!!!
ResponderExcluirObrigado querida Débora!!!
ResponderExcluirÉ muito triste realmente, e acho que o texto ficou assim pois para mim estes atores, estas atrizes nunca morrem, são eternos e sempre presentes, talvez por isto eu tenha sentido que devia escrever como uma homenagem em vida!!!
Obrigado pelo seu comentário!!!
a Márcia Maria me surpreendeu muito num filme brasileiro em que ela faz uma lésbica possessiva...ela tá além de sempre linda muito segura no papel....lembro dela em algumas novelas, como figura de boa moça e sempre achei e constatei a boa educação que tinha essa atriz. Sonhava com a volta dela em aguma novela na record ou na globo....que pena que nomes como ela, a Elaine Cristina, Norma Blum que são ou foram grandes não ocupem espaço na nossa tv. Que linda amizade de vcs, Daniel....quero saber sobre esse roteiro. Linda homenagem.!!!!
ResponderExcluirObrigado Edu!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirPois é, que pena que a tv foi se esquecendo destas atrizes que estiveram presentes em sua fase mais importante, a fase de consolidação da teledramaturgia nacional!!!!!!
Este filme ela fazia com a Helena Ramos, né!? É forte, mas bastante interessante!!!!!!
Pode deixar, depois te conto tudo em detalhes!!!!! Rsss...
Só agora fiquei sabendo do falecimento da Márcia Maria. Sempre foi um sonho de criança conhecê-la pessoalmente. Mas que bom que você a conheceu Daniel. Pena ela não ter ido para a Globo, após o fechamento da Tupi, como fizeram muitos atores. Infelizmente, das atrizes que eu mais gostava: Márcia, Maria Izabel de Lizandra, Elaine Cristina e Eva Wilma, somente a Eva continuou como grande estrela. Humberto (DF)
ResponderExcluirNao sei nem o que dizer, pois eu era fa quando crianca e jovem. Espero encontra la um dia no plano espiritual. Parabens por esse trabalho que acabei de ler.
ResponderExcluirObrigada, foi muito relembrar os velhos e bons tempos da Rede Tupi. A audiência era o triplo da globo de agora, é uma pena muitas pessoas não terem alcançado os anos dourados da tupi.
ResponderExcluirSe os tempos voltassem, você saberiam o que uma televisão que sabia fazer novela e tudo mais.
Grande atriz, merece sempre ser lembrada.
ResponderExcluirASSITI TODAS AS NOVELAS COM MARCIA MARIA ,FOI MUITO BOM RELEMBRAR ATRIZ MARAVILHOSA,ADMIRAVA MUITO ELA.
ResponderExcluirUma grande e linda atriz. Marcou minha infancia e pré-adolescência. Quantas saudades! O Brasil é realmente um país injustos com seus artistas. Márcia era uma diva!
ResponderExcluirHoje pela manhã , não sei porque, estava caminhando e me lembrei dessa atriz e resolvi pesquisa, quer dizer matar a saudade vendo registros de seus trabalhos na Internet. Muito Obrigado, Daniel. Belo texto. Matei a saudade!!!
ResponderExcluirLinda, fiz um curso de teatro com ela em 2001 e apresentamos uma peça maravilhosa no Teatro. Foi um ano de muito aprendizado e descobertas. Não conhecia os trabalhos dela na época mas era visível o talento. Márcia deixou muita saudade
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