por José Vitor Rack
Antes de a telenovela brasileira ser real e genuinamente
um produto nacional, as trilhas sonoras de novelas eram músicas retiradas de
filmes, quase sempre orquestradas e sem vocal. Não havia cuidado especial com o
que era veiculado tampouco havia lançamento de discos, salvo raras exceções.
Aí
a TV Tupi veio com BETO ROCKFELLER trazendo Beatles, Jorge Ben, Bee Gees,
Erasmo Carlos... E as novelas descobriram o maravilhoso mundo da música
popular. Mais ou menos na mesma época Nelson Motta começou a produzir as
trilhas das novelas da TV Globo para a Philips. Em 1971 a Som Livre de João
Araújo profissionalizou o negócio e criou-se uma invejável indústria que unia o
maior divertimento do povo com o melhor da música.
Na
década de 1970 foram criadas pérolas como as trilhas de O Bem Amado, Gabriela,
Selva de Pedra, O Grito, O Primeiro Amor, O Rebu, O Bofe, compostas
especialmente por gente do calibre de Roberto Carlos, Raul Seixas, Vinícius de
Moraes, Dorival Caymmi, Victor Assis Brasil, etc. Era o auge da criatividade na
telenovela, incluindo-se aí a sonoplastia.
Vieram
as décadas seguintes e o conceito de trilha sonora exclusiva se perdeu. Ainda
assim, os discos de novela traziam grandes nomes da música nacional e
internacional e, em sua maior parte, refletiam o gosto musical da época com
competência e algum bom gosto.
Veio
a internet, a indústria fonográfica desabou, o Plano Real colocou uma televisão
de 42 polegadas em cada cômodo de cada casa desse país. A transformação foi
intensa e causou uma enorme e devastadora diarréia mental nas cabeças pensantes
da televisão. Criou-se a máxima de que tudo que é bom deveria ser cortado para
que as telenovelas atraíssem essa nova leva de consumidores. E as trilhas sonoras
vieram ladeira abaixo.
O
auge desse conceito novo de vender música via novela foi a bem sucedida Avenida
Brasil. O oi-oi-oi tomou conta do país. Às nove da noite a luz azulada das
televisões levou aos lares do país inteiro as delícias poéticas de Michel Teló,
Luan Santana, Lucenzo e congêneres. Marisa Monte e Rita Lee eram
constrangedoramente exceções no repertório da novela.
Na
Record o conceito logo foi copiado. Em sua delirante Balacobaco, artistas como
Lady Lu, Amado Batista e inúmeras duplas de sertanejo universitário fazem da
trilha sonora da novela um bom substituto de qualquer laxante.
Voltando
a TV Globo, Salve Jorge parecia que mudaria o panorama. Glória Perez sempre
influiu positivamente na trilha sonora de suas tramas incluindo samba, Nana
Caymmi e muita (verdadeira) MPB. Mas o que se vê no ar é um espetáculo
dantesco.
Ao
fim de um capítulo qualquer outro dia, vi uma cena muito bem escrita por ela
que terminou num clímax de suspense muito bem urdido. Fechando a cena no clima
tenso, vieram os créditos finais ao som de um funk de letra absolutamente
debochada e de mau gosto.
Nada
contra funk debochado e de mau gosto. Mas combina com a cena? A sonoplastia de
cena também anda de uma pobreza atroz. A música simplesmente toca ao fundo.
Clímax, corte, usar a letra da música para dar dimensão ao que a tela mostra,
nada disso mais é utilizado de modo competente.
Parece
que desaprenderam a fazer algo que antes era tão simples e usual. Qual o sentido
de se colocar música popular que não combina com a obra? Sentido ainda é um
critério para quem faz TV?
Qual
o sentido de tamanha falta de sentido?
Quem
souber que me conte.
Novela é um produto bastante popular e os chefãos musicais das emissoras sabem disso. Mariozinho Rocha na Globo e o Marcos Camargo na Record. Ignorar uma grande massa que consome e curte funk e seus derivados, é fechar a porta para a entrada de dinheiro e o dinheiro, é o sentido de tudo, meu caro.
ResponderExcluirNão tenho contra dinheiro. Muito pelo contrário. Só acho que a cena tem que combinar com a música. Façam novelas de funkeiros e sertanejos, então.
ExcluirTriste ver que as emissoras só se interessam pelo money dessas pseudomúsicas...
ResponderExcluirLucas - www.cascudeando.zip.net
eu já critiquei em rede social o fato das músicas forrozentas universitárias ou funkeiras acabarem com o clímax de uma determinada cena, mais em Avenida Brasil mesmo em que havia uns ganchos interessantes. Mas tb acho que as trilhas hoje em dia respeitam também o mercado e que se não fosse determinados autores a escrever, nomes como Nana Caymmi, Célia e Emilio Santiago não teriam mais vez...eu gosto da mistura francamente falando, pois Bethânia, Adriana Calcanhoto, Celso Fonseca já transformaram música bem subestimadas em algo bem legal...sei que o post não é só sobre qualidade, tem a ver com adequação tb....acho que as trilhas ainda vão por um bom caminho...e prefiro as músicas mais povão do que essa coisa jeca de brasileiro cantando em inglês sempre.
ResponderExcluirÉ a busca por agradar a famigerada classe C que está afetando as trilhas. O povão gosta de sertanejo universitário, funk, pagode e etc. Eu tiro pela minha vizinhança, é Valeska Popozuda, Mc não sei do que, tchu tchá o dia inteiro rsrsrs. As telenovelas tentam se adequar a estes gostos tbm, mas que fica estranho isso fica.
ResponderExcluirAbraços
A questão dinheiro é bastante relativa, pois estas trilhas são vendidas por 24, 25 reais nas lojas e não são consumidas pelas classes a que se destinam, pois quem não tem grana vai comprar o pirata por 5 reais no camelô!
ResponderExcluirQuem curte trilha sonora mesmo e que tem o poder aquisitivo par adquiri-las está extremamente incomodado com a falta de gosto e a queda de qualidade das mesmas, vejo por mim que há quase trinta anos coleciono trilhas e nunca vi repertórios tão ruins como os de agora.
Ótimo análise José Vitor Rack!!!!!!!